A criação  (In)Humana

Capítulo 3: Confronto


Shinji ouvia seu SDAT. Uma fita antiga tocava, uma das que ele não ouvia há muito tempo. Talvez ele já estivesse se acostumando com aquela de sempre, porque já ficava difícil ignorar a realidade quando ele a ouvia. Isso já tinha acontecido antes. Então, bastava ouvir alguma coisa diferente para que ela voltasse a funcionar. 

- “Bloquear a realidade. Sim, isso é o que importa. Não esse programa ridículo de TV que a Asuka finge estar assistindo”. 

O jovem pensava, entre um acorde e outro das músicas com quase uma centena de anos. Seus olhos apontavam para as imagens, mesmo sem entendê-las. Não era difícil ignorar a ruiva que ele sabia estar deitada nas almofadas fora de seu campo de visão. Porém, era possível ver um reflexo rubro de um dos grampos de sincronização que Asuka jamais deixava de usar. Ele fechou os olhos por alguns momentos, pois percebeu que estava há algum tempo sem piscar. Quando os abriu novamente, percebeu dois vultos no limite de seu campo de visão.Por alguns instantes, ele piscou repetidamente, duvidando da aparição súbita. Se convenceu da realidade quando ouviu um berro agudo acima do volume de seu SDAT. Viu que Asuka tinha pulado na direção oposta à dos inesperados visitantes. Foi só então que se assustou. Goten e Trunks estavam sujos, com roupas rasgadas, pareciam abatidos e cansados. Sentaram-se no chão quase ao mesmo tempo, como que à beira de um desfalecimento.

- Ei, vocês quase me matam de susto! - gritou Asuka. - Como vocês aparecem assim no meio do nada?

- Esse... é o teletransporte. - explicou Trunks, um pouco ofegante - Precisamos localizar uma pessoa para ele funcionar. Como passamos mais tempo com vocês, foi mais fácil localizá-los para sair do apuro.

- E mais fácil ainda porque vocês aparentemente estão sempre juntos - alfinetou Goten, provocando um breve rubor nas jovens faces.

- “Tenho que me livrar desse molóide” pensa Asuka.

- O q-que aconteceu? - perguntou Shinji.

- Fomos enfrentar Cell. Mas ele estava estranho. Tinha uma parede invisível em volta dele, e dava muito trabalho atravessar...

- Cell? Parede? Teletransporte? Do que vocês bocós estão falando?

Os cansados saiyajins resumiram em poucas palavras as experiências na NERV, o filme apresentado e quem foi o Cell que eles conheceram. Mas esse, apesar de não ser tão forte quanto Majin-Boo tinha um campo de força muito forte. Essa foi a causa de seu fracasso.

- Tivemos que fazer a fusão Metamoru para que Gotenks lutasse. Mas mesmo sendo Super-Saiyajin nível 3 era difícil atravessar a barreira...

- Espera um pouco: - Asuka interrompeu - quando vocês tentavam atravessar a barreira aparecia uma luz laranja?

- Sim! - Em uníssono responderam.

- Era um campo AT! - voltou-se para Shinji - Viu só, Baka! Eles dizem que conseguem atravessar um campo AT sem um EVA!

- Então eles enfrentaram um Anjo? - o jovem piloto engoliu em seco - Temos que falar com a Misato!

- Ei, garotos - interrompe Goten - Tem alguma comida? Estamos morrendo de fome!

Uma grande gota de suor apareceu nas frontes de Shinji e Asuka.

 

Lanchonete da Nerv. Misato coloca sua bandeja na mesa onde Ritsuko já saboreia um café com pães de queijo.

- Desculpe o atraso - diz Misato.

- Tudo bem. Desde aquela hora em que perdemos o sinal daqueles meninos eu estou mais é de sobreaviso.

- Que bom! Já eu não agüentava mais aquela papelada. Precisava de um tempo!

- Eu queria que aqueles meninos estivessem aqui... para eu poder estudá-los!

- Credo! Eles são meninos, não cobaias!

- Desculpe, me expressei mal. É que suas células... quase não têm diferenças para as humanas. E assim mesmo, veja o que eles fazem! Deixei o Magi fazendo o seqüenciamento do DNA deles pra ver que genes eles têm.

- Pra mim ainda parece que você tá falando de bichos, e não desses adoráveis meninos - disse, apontando para um sorridente Goten. Só então se deu conta que não havia ninguém antes ali, e gritou - AAAAAAAhrg! O que vocês estão fazendo aqui?

Ambas viram Goten, Trunks, Shinji e Asuka, parados no meio do refeitório e olhando para elas.

- Localizamos você, sra. Misato, e nos teleportamos. Queremos falar com você.

Já refeita do susto, Misato suspendeu sua incredulidade com aquele papo de teletransporte e lhes falou:

- Bem, sou toda ouvidos!

- Misato, esses dois aí - Asuka apontou, com desdém - tiveramacoragemdedizerqueatravessaramocampoATdeumanjosemaju...

- Peraí! - Goten interrompeu a ruiva -AgentenfrentôoCellenãonenhumtipodeAnjo!

- Um-de-cada-vez! - berrou Misato. 

Os dois adolescentes se encaravam como se fossem pular no pescoço um do outro 

- Que história é essa de Anjo? Não houve nenhum alerta por aqui!Enquanto Asuka e Goten ainda rosnavam um para o outro, Shinji resolveu sintetizar os fatos:

- Eles apareceram de repente lá em casa depois de lutarem com sei-lá-quem e o dito-cujo tinha um campo AT.

- O Cell, sra. Misato! - Trunks acrescentou - O mesmo bicho feio que vocês mostraram pra gente naquele filme amador!

- E como você sabia disso e não falou pra gente? - Asuka interpelou, zangada - E ainda mostrou pra esses... novatos? HUMPH!

- Ahn, ... bem... Ritsuko. - virou-se para a amiga, uma gota de suuor pendente na nuca - Você pode me ajudar aqu.... - mas ela não estava lá. - Ritsu? Cadê você?Adiante, nas sombras, um reflexo nos óculos revelou a presença da cientista loura na penumbra, baixando lentamente o celular que estava na sua orelha.

- O comandante Ikari quer falar com esses meninos. Agora.

 

 

Alguns minutos depois, um carro rasgava as largas ruas de Tokyo-3, deixando pedestres e outros motoristas num misto de pavor e indignação. No seu interior, Shinji não tinha o que vomitar, pois não tinha comido; Asuka vociferava um discurso interminável sobre como tinha sido deixada de lado, e que não acreditava que Shinji não soubesse de nada, etc; Misato fazia o possível para ignorar o vozerio esganiçado e prestava, portanto, mais atenção que de costume ao trânsito.

- Asuka, se eu explicar tudo agora você CALA ESSA BOCA? - Misato perdeu a paciência.

- HUMPH, pode começar! - cruzou os braços, fazendo pirraça.

- Bem - Misato começou - tudo começou com aquele alarme falso de Anjo na China. Na verdade é um tipo de Anjo que tem a capacidade de se esconder de nossos sensores. Talvez nem seja bem um Anjo, mas é como pretendemos tratá-lo. Ele tem se deslocado lentamente por terra, na nossa direção. Aí o Goten e o Trunks apareceram, em plena sexta-feira. Vocês os conheceram ontem de manhã e os levaram pra casa. Acontece que as pesquisas da Nerv compararam o DNA deles com os vestígios do monstro lá da China, e detectaram que eles têm um parentesco próximo.

- Então eles são Anjos? - perguntou um assustado Shinji. - isso explica aqueles... poderes! - falou baixinho

- Não. Mesmo podendo fazer coisas incríveis, eles são humanos. Bem, mais ou menos: eles são alienígenas, de outro planeta ou outra dimensão, ou seja lá o que Ritsuko tenha tentado me dizer. Mas continuando, temos uma teoria, segundo a qual um monstro com a mesma origem dos meninos foi parar na China, e lá ele enfrentou um Anjo de verdade. Ele o venceu e tomou seu lugar. Acredito que, se isso for comprovado, nós venhamos a precisar da ajuda deles. Deve ser isso que o comandante quer dizer a eles. Uma pausa se seguiu, enquanto o veículo se aproximava do edifício onde moravam, na periferia de Tokyo-3. As Crianças desceram, Asuka se foi pisando forte e desapareceu depois da entrada. Shinji se despedia de Misato:

- Obrigado pela carona... e desculpe por incomodar...

- Que nada! Vocês me fizeram um favor... Assim pude fugir um pouco daquela papelada! Mas agora tenho que voltar. Não sei a que horas eu volto. Tcháau! - Pneus cantaram, e logo o carro estava fora do alcance da visão.

Gendo aguardava, na penumbra de seu imenso escritório. Sua mente revisava todas as informações sobre os aliens, dadas por Fuyutsoki e Akagi, traçando os caminhos que levariam à conclusão de seu plano. Seu aparente devaneio foi interrompido pelo surgimento de uma janela de comunicação diante de sua mesa. O ícone “Sect. 2, Sound Only” falou:

- Eles chegaram, senhor.

- Mande-os entrar.

A porta se abre, com um ruído seco. Os saiyajins entram, com passos decididos e olhares cautelosos. Até Goten estava mais contido. O comandante estava sentado em sua cadeira, atrás da mesa. Cotovelos apoiados nela, mãos entrelaçadas diante do nariz. A Posição Gendo(tm).

- Sei que são de outro planeta ou outra dimensão. Quero que saibam que esta organização dispõe da mais avançada tecnologia do planeta. Podemos ajudá-los a retornar para seus pontos de origem, ou empreender todos os esforços para que isso aconteça. O que me dizem?

O brilho nos olhos de Goten era visível mesmo para quem não tivesse a percepção de Gendo. Trunks, por sua vez, ainda estava desconfiado.

- E, suponho, isso tem um preço, não? - disse, acentuando a palavra preço.

- A única coisa que peço em retorno é a cooperação total de vocês para a destruição daquele monstro que veio também de seu mundo.

- E quem decidirá o que é “cooperação total”?

- Eu. - Gendo moveu uma mão para reposicionar os óculos sobre seu nariz - Essa é a melhor proposta que vocês terão.

Um silêncio opressivo se tornava, a cada segundo, mais palpável. Inesperadamente, Trunks falou, diante de um espantado Goten:

-Certo. Vamos colaborar, porque queremos derrotar aquela coisa tanto quanto vocês. Mas a colaboração tem que ser de mão dupla! - depois de poucos momentos, o comandante reposiciona novamente os óculos e disse:

- Concedido. Todas as informações não-confidenciais serão postas à disposição de vocês.

- Parece bom...

- Certo. Dispensados.

Em poucos segundos, os jovens perceberam que já podiam ir embora. Foi o que fizeram.

Asuka tinha várias maneiras de extravasar sua raiva. Várias delas se davam atrás da porta fechada de seu quarto. “Muralhas de Jericó”, foi como ela se referiu pela primeira vez àquela barreira que a isolava de Shinji. Outras maneiras, porém, envolviam manifestações ruidosas e, às vezes, dolorosas para Shinji. Ele logo percebeu que a tarde seria muito longa.

- POR QUE VOCÊ NÃO ME CONTOU NADA????- E-Eu não sabia de n-nada, Asuka! - EU NÃO ACREDITO QUE O QUERIDINHO DA MISATO NÃO SABIA DE NADA!

- Ah! Não me chama assim!

-AH! VOCÊ NÃO GOSTA QUE EU TE CHAME DISSO, NÉ? Pensa que eu não sei que VOCÊ me chama de DEMÔNIO pelas COSTAS?

- Isso é coisa do Touji, não minha.

-SEU amigo! Ai! Nem sei por que eu perco meu tempo falando com VOCÊ! - a fúria da ruiva ia e vinha, sempre vitimando o pobre Shinji.

- Vou te dar o que você merece! POW! - uma pezada bem dada no queixo do rapaz.

O treinamento de quedas e rolamentos evitou males maiores decorrentes daquele chute. Shinji foi para a cozinha pegar um pouco de gelo para pôr no rosto. Enquanto fazia a compressa fria, apareceu Asuka com uma lata de cerveja na mão.

- Shiiiinjiii! Olha só o que eu vou fazer! - Abriu a lata e derramou todo o conteúdo goela abaixo.Ficou bem claro que aquela não tinha sido a primeira lata. Ainda com o gelo no rosto, Shinji se levantou.

- Asuka, você está bem?

- CLARO QUE SIM, IDIOTA!

Outro soco. E com ele se foi a última gota de paciência de Shinji (que não é de ferro).Ignorando os brados da garota, Shinji foi para seu quarto, se arrumou e saiu (sem conseguir evitar mais uma ou duas pancadas).

Livre dos berros, Shinji aproveitou o silêncio quebrado apenas pelo farfalhar das folhas movidas pelo vento. “O que deu nela? Parecia um animal enjaulado! Ficava me chamando toda hora!” pensava o rapaz. Andando sem rumo, se deu conta que tinha se dirigido ao conjunto de prédios onde Ayanami morava. Enquanto digeria essa informação, percebeu que já tinha subido as escadas e estava diante da porta 402. Pensou um pouco e decidiu bater na porta. Silêncio. “Talvez ela não esteja em casa” pensou, e ia se virando quando a porta se abriu. Lá estava Rei com o uniforme da escola.

- Ikari-kun.

- O-oi, Rei. É que eu ia passando por aqui, e... pensei em chamar você pra... hum... treinar comigo. - falou desajeitadamente. - “Até domingo ela usa essa roupa?” - pensou.

Rei inclinou a cabeça, como se decidisse algo.- Sim. Vamos. - Fechou a porta atrás de si e ficou encarando Shinji. Sem esperar uma reação dessas, o rapaz levou alguns segundos para reagir.- V-vamos.

Caminharam lado a lado na direção da entrada mais próxima do Geofront. Durante a caminhada silenciosa, Shinji se questionava sobre o conforto inexplicável que sentia perto de Rei. Era como se fossem velhos conhecidos, ou parentes, ou algo assim. Nem mesmo os parentes de verdade lhe causavam essa sensação. Mas contemplar aqueles cabelos azuis e olhos vermelhos, sentir o seu cheiro, um bem-estar tão grande o acometia... Tinha vontade tanto de se aconchegar quanto de proteger. Enxotou essas matutações. Ao interromper essa linha de pensamento, mais uma vez Shinji enterrava seus sentimentos.No ginásio que a Nerv tinha para treinamentos como o de Artes Marciais, o jovem casal se separou para trocarem de roupa. Novamente reunidos, já com os dogis* que ficavam ali guardados, fizeram um rápido aquecimento e começaram o treino de combate corpo-a-corpo. Com movimentos circulares, Rei escapava graciosamente dos ataques de Shinji. Alternando-se no ataque e defesa, ambos treinavam os movimentos ensinados pelos vários mestres que tiveram. Um ou outro golpe causavam dúvidas, prontamente sanadas por Rei. No meio do automatismo, Shinji se perdeu em pensamentos. Durante sua vez de se defender, lembrou-se da luta com Asuka. Quando percebeu, tinha prendido Rei numa chave de braço. E ela já tinha batido no tatame umas três vezes.

- Desculpe - Shinji soltou rapidamente a alva mão.“Será que eu estou só descontando em Rei a raiva que eu tenho da Asuka? Por que não lutei com ela lá em casa?” Um turbilhão de pensamentos varou a mente de Shinji, espalhando a culpa por machucar Rei. 

- Você está bem? - perguntou a ela.

- Sim. - respondeu, sem aparentar mudança em sua face.

- Algo o preocupa, Ikari-kun? - sentados no tatame, olharam-se mutuamente. Shinji não sustentou o olhar. Dentre suas inúmeras dúvidas, selecionou uma qualquer para disfarçar seu embaraço.

- Rei, hum... quem você considera a pessoa mais forte que você conhece?

- O comandante. - respondeu sem pestanejar.

O semblante de Shinji ficou carregado. Tristeza? Rejeição? Raiva? Ódio? Não. Não ódio. Apesar de tudo, ele não odiava seu pai. Mas a confusão de sentimentos era quase paralisante.O resto do treino se deu em silêncio.

Segunda-feira, escritório do Comandante Supremo da NERV. A diretora da divisão técnica apresentava seu relatório para seu superior:

- Depois que as Crianças trouxeram aqueles garotos de volta à central, eles foram alimentados e examinados. O seu testemunho coincide com os registros que obtivemos através dos satélites estacionados sobre a China. Realmente aquela coisa tem um campo AT relativamente forte. O mais impressionante foi que eles o atravessaram com poucas dificuldades...

- Doutora, está me dizendo que é possível atravessar um campo AT sem usar outro para anulá-lo?

- Na verdade, nossos exames também revelaram que esses meninos possuem um campo de força semelhante a um campo AT, mas nossos sensores não reconhecem nem padrão laranja, nem azul. Eles são capazes de manipular grandes quantidades de energia e resistiram a várias agressões simuladas que nós os convencemos a suportar... como um jogo. Eles não temem o perigo e parecem ser motivados pela expectativa de lutar. - deu uma pausa retórica - Caso o senhor autorize, podemos fazê-los atravessar um campo AT na nossa frente... - o comandante pareceu ponderar a idéia entre as inúmeras que parecem nunca livrá-lo de seu ar de eterno pensador. Finalmente, disse:

- Autorizado. Usem a cela 4.

- Por falar em cela 4... Já cadastrei no Magi uma solicitação de reparos nas celas 3 e 4.

- O que houve? - perguntou, como se fosse algo sem importância.

- Bem... Os meninos se empolgaram um pouco. Eu sugiro usarmos o Geofront.

Uma pausa breve, e o Comandante não se mexeu, como sempre. O reflexo frio nas lentes rubras continuava intenso quando ele respondeu.

- Autorizado. Dispensada.

Ritsuko meneou a cabeça e saiu para preparar os exercícios. Só então surgiu uma enorme gota de suor na testa de Gendo.

Os testes de sincronização terminaram. O sabor familiar de LCL já não permeava sua boca. Mentira. Dessa vez ele não escovou os dentes tantas vezes. Ele só queria sair de lá. Andar pra longe dela. A loucura do dia anterior parecia ainda estar a afetando.Shinji caminhava a esmo pelo Geofront. Acima, a curvatura esférica tinha uma coloração azulada, que podia ser confundida com o céu. “Mas no céu não há prédios pendurados.”, ele pensou. Lembrou-se das aulas de história, de quando as pessoas pensavam que a terra era chata, e o céu era exatamente como a abóbada sobre sua cabeça. Se estivesse um pouco mais alegre, teria rido da ironia do destino, que séculos após provar que esta concepção não correspondia à realidade, faria uma cidade se encaixar justamente naquela descrição antiga.Olhou novamente para o “céu”. Nele viu uma estrela escura. “Mas o que é aquilo?”-Apertou os olhos para tentar identificar o objeto que agora crescia rapidamente em sua direção. “Quê?” - pensou, seu rosto refletindo o espanto... e algo mais.

- Esse lugar é demais! - falou um Goten que quase explodia de tão alegre.

- Goten! - respondeu Shinji, quando voltou a respirar - Nunca mais me assuste assim!

- Foi mal...

Goten pousou ao lado do outro jovem e com ele caminhou um tempo, ainda maravilhado com aquele mundo subterrâneo.

- Quer dizer que além de se teletransportar à vontade você ainda voa?

- Claro!

Shinji balançou a cabeça. “Devo estar me acostumando com coisas incomuns no meu dia-a-dia. Pilotar um robô enorme não é mais comum que voar, se teletransportar e destruir jaulas de Evas” - pensou.

- Cadê o Trunks?

- Acho que ele tá grudado naquele pessoal que trabalha com a loura. Eles falam de um monte de coisas que eu não entendo... Acho que ele puxou à mãe pra ter interesse nisso! - uma nuvem de preocupação pareceu se dissipar da fronte do piloto.

- Eu vi como vocês deixaram as celas de teste lá em baixo... - disse Shinji, com uma despreocupação calculada.

- É...acho que exageramos um pouco... - Goten coçou a nuca.

- Por que vocês são tão fortes? - tanto eu quanto o Trunks treinamos desde criancinhas - começou, com um ar nostálgico - minha mãe me ensinou os primeiros golpes. - deu uma risadinha - Ainda me lembro da cara que minha mãe fez quando eu virei Super Saiyajin pela primeira vez na frente dela!

- O que é um Super Saiyajin?

- Bem, a história toda é que nossos pais vieram de outro planeta. Meu pai chegou aqui...quer dizer, na minha Terra, quando era criança. Tinha sido mandado para conquistar o planeta. Mas acabou sendo criado como humano, aprendendo a lutar com um grande mestre da época. Já o pai do Trunks era o príncipe dos Saiyajins! Filho do rei!Goten pareceu se entristecer ao se lembrar de algo.

- Meu pai e Vegeta quase mataram um ao outro. Acho que ele ainda tem vontade de matar meu pai...

- Gomen... - um envergonhado Shinji se adiantava - Não precisa dizer, se não quiser... 

- Tá tudo bem... - Goten já parecia mais alegre - O que quero dizer é que a gente é forte principalmente porque nossos pais são fortes!

Shinji baixou os olhos, sua mão direita tentava se fechar em punho, aparentemente sem sucesso. Pai. Essa palavra trazia muitas emoções ao seu coração cansado. Emoções múltiplas, simultâneas e em sua maioria, extremamente negativas.

- Eu...Eu queria ser forte. - disse, com voz embargada - Mas não quero ser como meu pai...Duas mãos amigas seguraram com força os ombros de Shinji. Surpreso, ele olhou para Goten.

- Olha aqui, eu nem te contei que meu pai era mais fraco que você! - Seu olhar duro se suavizou - Mas ele treinou com humanos muito fortes. Ele eventualmente passou eles, e virou um dos mais fortes do Universo. Ele treinou muito. Você também pode treinar e ficar forte. Mas se compare apenas com você! - A brisa do Geofront não era artificial. Era fresca e suave. Trazia uma versão suave, bem suave do aroma que saía dos lagos Ashino, nos arredores da cidade. O sol, esse sim feito pelo homem, já deitava seus últimos raios do dia. O falso céu se tingia de belas tonalidades rosadas, só perturbadas pelo reflexo prateado de uma ou outra parede de aço de algum prédio em manutenção.Shinji estreitou os olhos para logo depois abri-los, quando teve a idéia.

- Você... Pode me treinar?Goten olhou para o piloto. Seu olhar refletia a surpresa pela pergunta.

- Enquanto estiver por aqui... Por que não? - olhou Shinji de cima até embaixo - você já treina Artes Marciais?

- S-sim - gaguejou Shinji - mas só um pouquinho. Comecei pouco tempo depois de chegar aqui, pra poder lutar melhor no Eva.

- Bem, vou te avisando, isso não vai ser mole. O treinamento é... digamos, doloroso. 

Shinji pestanejou, já meio arrependido. “NãoPossoFugirNãoPossoFugirNãoPossoFugir” - pensava.

-Mas a gente vai se divertir pacas! - Goten piscou, rindo - Agora vamos sair daqui antes que alguém pense mal da gente nesse cenário romântico!

- O-o quê? - Shinji ficou vermelho só de pensar.- Vambora!

 

 

O ambiente era escuro, poucas pessoas atentas à mudança de turno, nenhum transeunte naquele trecho do Dogma Central. Se houvesse, veria um certo homem com rabo-de-cavalo se esgueirando entre as grades que separam os canos de água e esgoto dos conduites da rede de computadores. Debruçado sobre um notebook ligado clandestinamente a esses conduites, Kaji prestava toda a atenção possível aos dados, mas ainda tão atento ao ambiente ao redor que nosso transeunte imaginário dificilmente viveria para denunciar o acesso não autorizado.Entre milhares de trechos de DNA e RNA aparentemente aleatórios, uma coisa fazia ainda menos sentido. 

- “Como diabos encontraram vestígios de LCL naquele laboratório, se não pertencia à NERV nem a SEELE?” - se perguntou o espião. - “Traços de LCL nas roupas das pessoas desaparecidas na China? Eu, hein?” - Fez uma cópia do achado para seus discos e desconectou o poderoso microchip cracker do maquinário à sua volta. Poucos minutos e um ajuste de cabelos depois, Riouji caminhava tranqüilamente pelos corredores, como se nada tivesse acontecido.

 

 

Na tarde seguinte, enquanto as Crianças faziam seus testes de sincronização, os técnicos da NERV instalavam cabos umbilicais de EVA no “teto” do Geofront. Os testes de esforço dos cabos se prolongaram noite adentro, bem além do horário em que uma certa ruiva gritava para a porta do vestiário masculino:

- Anda logo, molóide, temos que dormir pra amanhã eu dar uma surra em você lá no Geofront! - Asuka batia impacientemente o pé no chão, com as mãos nos quadris. 

-SHINJI! SAI DAÍ!Touji sai calmamente com a mochila nas costas, fingindo ignorar o olhar fulminante da Segunda Criança. Alguns passos mais tarde ele se atreveu a falar:

- Shinji está no ginásio.  Foi pra lá que nem um foguete. Disse pra você não esperar.

- “Como ele se atreve! Devia ter me avisado pra eu não ficar perdendo meu tempo aqui!”- Ela pensou. Os passos rápidos para a saída, porém, começavam a ser contidos pela curiosidade. “O que aquele baka está fazendo? Ele disse que treinou ontem!”. Mudou a direção dos passos para ver o que o palhaço estava tramando.Ao sentir uma presença conhecida se aproximando, Goten aperta seu “discípulo”:

- Shinji, você está perdendo a concentração. Não use só a força, use a cabeça também. Bata nesse outro saco de areia agora. - Goten posicionou-o de forma a ficar de costas para a porta.Asuka fez o possível para não ser vista bisbilhotando o ginásio. Viu dois garotos treinando... Não, era um treinando e outro só olhando. E Shinji é que estava pingando de suor, alternando dois chutes e dois socos, um de cada lado de um grande saco de areia. Tinha faixas amarradas nos tornozelos e nos pulsos, e seguia um ritmo forte. O espantoso era a disparidade entre a aparente suavidade dos golpes e o efeito que tinham no saco de pancadas.

- Amanhã vamos pôr mais areia nos seus pesos. - disse Goten - Que tal cinco quilos em cada braço e dez em cada perna? - Shinji apenas resmungou algo. Asuka estava perplexa. 

- “Esse baka pensa que vai ficar forte assim?”

- Calma! - tranqüilizou o saiyajin - É só você se lembrar do treinamento, que tudo vai dar certo! - deu uma risada e um tapinha nas costas dele, elevando um pouco a voz - E depois você vai poder bater em qualquer um que passar por aquela porta... ou ficar atrás dela bisbilhotando! - Asuka deu um pulo para trás, pensando ter sido vista. “Não, não é possível” pensou “E pra quê eu me importo, afinal de contas? Ele tem mesmo que treinar muito para chegar no meu nível!” Com um muxoxo, se virou e saiu.

- Shinji, pode parar agora. Vamos treinar sua concentração de Ki agora.

- Mas estou tão cansado!

- É por isso mesmo! Cansado é que os erros aparecem. 

Conformado, Shinji sentou-se no chão, com as pernas cruzadas. Goten fez o mesmo à sua frente. Ambos colocaram as mãos em concha e se concentraram. Após alguns minutos, surgiu entre as mãos de Goten um minúsculo ponto brilhante. Já as mãos de Shinji emitiam clarões breves e silenciosos. Uma luz difusa preencheu o espaço de sua concha até se tornar também um ponto de luz, mas apenas por alguns instantes antes de desfalecer. Goten o amparou.

- Ok. Beba água agora. Depois você tenta de novo.

- Pra que serve isso? Por que cansa tanto?

- Ora, deixe de reclamar! Minha cunhada levou dez dias pra dominar essa técnica, e ela treinava Artes Marciais desde criança! Você está progredindo rápido, pra quem não conhece quase nenhuma técnica de luta. Parece se concentrar com facilidade. E isso é o que permite você ter um desempenho aceitável com esses pesos amarrados em você.

-É mesmo? - Shinji olhou para seus pulsos, um pouco surpreso. 

- Já estava me esquecendo deles...

- Espera só até você tirá-los! - piscou - Agora vai beber água, resmungão!

 

 

No dia seguinte, dois titãs estavam em pontos opostos do Geofront, um vermelho, outro púrpura. Um de frente para o outro.

- Ouçam bem! - a voz de Misato se fazia ouvir pelo comlink - Nesse exercício, a Unidade 1 expandirá seu campo AT e caminha na direção da Unidade 2. Goten e Trunks, vocês vão atacar a Unidade 1 . Asuka, você fica esperando e ataca depois. - O painel da ponte exibia os rostos de Shinji e Asuka, mais dois quadrados pretos: AUX-1 e AUX-2: Sound Only. Haviam sido dados aos saiyajins adolescentes dois comunicadores auxiliares de áudio, para que eles pudessem se comunicar e receber as orientações.

- Isso não é justo - reclamou Asuka - Aquele pateta vai se divertir sozinho? Que tipo de exercício é esse?

- Asuka, você está aí para entrar em ação caso algo dê errado. - Misato encarava duramente a ruiva - Se você ativar seu campo AT, pode anuular o da Unidade 1 e estragar todo o experimento.

- Então estou aqui apenas pra limpar a sujeira que aqueles palhaços vão fazer? - A Segunda Criança levantou o nariz, em desprezo - Eu sei que sou a melhor. Eu é que devia tomar a frente nesse exercício. Não é só porque o pateta me passou uma vez que ele pode tudo...

- Shinji! - A voz de Goten saiu de AUX-2:Sound Only - Como é que você agüenta essa chata todo dia?

- Parem com isso! - Misato berrou - Essas são as ordens, e vocês pilotos têm que obedecer ou ir pra cadeia. Fui clara? - O quadrado da Unidade 2 passou para “Sound Only”. Ritsuko baixou a cabeça. Misato se voltou para todos os quadrados. - Todos entenderam o exercício?

- Hai! - as vozes masculinas responderam. Um grunhido rancoroso de uma voz aguda foi ouvido em seguida.

A Unidade 1 deu um passo. Durante uma fração de segundo, o ar pareceu se dividir e embaçar. Um vento devastador se afastou de seus pés, varrendo do chão as ervas soltas e uma árvore infeliz que não podia ser evitada. A tormenta aparente deu lugar a uma perfeita calma após poucas dezenas de metros, e o ar do Geofront voltou a cercar, límpido, o gigante roxo.Shinji olhava pelos olhos de seu EVA, vendo dois minúsculos humanóides no centro da grande esfera, tendo ao fundo um olhar irritado de quatro olhos em uma face vermelha. Mesmo não sendo tão aterrorizantes quanto o monstro às suas costas, os dois pontos que agora se elevavam à sua frente não deveriam ser subestimados. 

- “Lutar com a cabeça... Lutar com a cabeça... Aumentar o Ki”. 

Shinji pensava em seu treinamento com Goten enquanto aguardava o ataque. Com um grito de guerra os dois meninos voadores se lançaram pelo ar em direção à Unidade 1. Primeiro Trunks, seguido por Goten, ambos explodiram num hexágono laranja ao baterem no campo AT. Repelidos, passaram por uma transformação, apresentando cabelos louros e um brilho dourado ao redor de seus corpos. Enquanto Trunks ficava no chão, intensificando o brilho que o cercava, um deslocamento de ar provocou um vento que saía de onde ele estava. Apenas a Unidade 1 ficou incólume, entre fragmentos de galhos e pequenas pedras que voavam em todas as direções. Mesmo a Unidade 2 precisou se ajoelhar para não ser empurrada para a parede alguns metros às suas costas. O controle automático de volume compensou o intenso ruído que era o grito de batalha. A tripulação da ponte percebeu com espanto que os cabelos louros pareciam crescer um pouco. As íris pequenas adquiriram uma coloração azul celeste. E o seu halo se tornou um clarão cegante logo antes do raio ser disparado.

- Céus! O que esses garotos são? - Asuka pensou em voz alta. Sua mente passou pelos eventos inacreditáveis presenciados durante os últimos dias: garotos aparecendo do nada e a levando para a cantina do quartel-general num passe de mágica; os mesmos garotos voando e disparando raios de energia com as mãos; e Shinji treinando como se sua vida dependesse disso. É mais do que ela podia suportar. A energia fantástica do Super-Sayajin-2 fez um barulho de vidro trincado ao ser defletida pelo campo AT. A Unidade 1 deu um passo para trás ao sentir a pressão. O relâmpago desviado atingiu uma das paredes blindadas do Geofront, a qual não teve a mesma sorte da Unidade 1.

- Sete camadas de blindagens foram penetradas. - Shigueru falou, profissional (embora assustado) - A oitava está registrando superaquecimento. Iminência de fusão. Nona e décima com temperatura acima das especificações. - Quase que passou despercebida a manobra de Goten, mergulhando no oceano de energia que jorrava de Trunks. Como um míssil, ele foi disparado em direção à Unidade 1. O espanto foi geral quando uma cabeleira loura foi vista dentro do campo AT.

- Campo AT ... penetrado - Maya não disfarçava a incredulidade. Goten avançava pouco a pouco, como se vencesse uma ventania. Se aproximava lentamente da Unidade 1, que permanecia à sua frente, imóvel. Ele mal viu a mão púrpura que se chocou contra ele com uma força inacreditável, lançando-o com um tapa no buraco cavado pelo raio de Trunks. Na sala de comando, Fuyutsuki foi o único a perceber, durante um breve instante, os lábios do comandante se dobrarem para cima, num sorriso mal disfarçado.A bola de fogo que agora era Trunks se movia confiantemente através da barreira. Seu avanço era tão lento quanto tinha sido o de Goten anteriormente. Mais uma vez a lentidão tornou o atacante um alvo fácil para as gigantescas mãos do EVA.Em recuperação rápida, os saiyajins se encontraram no centro do Geofront, a pouca distância um do outro. Apontaram os braços em direções opostas, e em três passos estavam ao alcance de um toque. Num gesto rápido, concluíram a cerimônia estranha, dando lugar a uma esfera de energia cujo brilho preencheu todo o ambiente. O ar trepidava em um vento de tempestade, e todo o geofront tremeu. Seguiu-se um trovão, após o qual o brilho diminuiu de intensidade, permitindo que todos vissem um único ser, de cabelos longos, no lugar onde estavam os garotos. Misato olhou para seu console, apenas para ver dois quadrados negros onde se lia AUX-1: Offline. AUX-2: Offline.

- Sempai! - Maya gritou, sem tirar os olhos do monitor - o gráfico de campo deles se inverteu momentaneamente! Os sensores detectaram um tipo estranho de campo AT invertido, ou coisa parecida. Fuyutsuki olhou significativamente para o comandante. “Um campo anti-AT?” - pensou. Se ficou espantado com alguma coisa, o velho Ikari não demonstrou. Como sempre.

O guerreiro que no centro do Geofront se encontrava vestia uma jaqueta curta e calças folgadas. Uma faixa larga servia de cinto. Botas reluzentes cobriam os pés. Shinji piscou. “Quem é esse sujeito? Cadê os garotos?”.

- Shinji! - Veio uma voz forte e estranha do ambiente externo - Lembre-se do treinamento! Faça o melhor que puder! - o guerreiro deu um sorriso de desdém.O piloto arregalou os olhos. “Goten! Será que ele e Trunks se transformaram nesse cara que tá aí?”A nova bola de fogo se ergueu no ar. Os exaustores do Geofront quase não davam conta do aumento da pressão atmosférica.

- Eu sou Super Gotenks! Vou te dar uma lição! Gotenks partiu em direção à Unidade 1. O titã se preparou para repelir o ataque com as mãos, como tinha feito antes. Embora o atacante tenha sido retardado pelo campo AT, Shinji não antecipou que ele seria mais rápido que os anteriores. A mão socou o ar por onde Gotenks passou há poucos décimos de segundo. 

- Há, - exultou Gotenks - sua barreira não é tão forte quanto a do bicho feio! - Gotenks deu uma seqüência de socos na cabeça da Unidade 1. Shinji fazia o possível para se livrar do “mosquito” que tanto incomodava. Mas como era rápido! O poderoso Gotenks ainda desceu até o chão, aparando com as mãos o pé gigantesco que dava um passo. Ergueu no ar o monstro e arremessou contra uma das paredes curvas do Geofront.

- Parem com isso! - Misato gritou pelo ComLink. - Interromper teste!

- Nada disso! Só eu posso bater assim nesse idiota! - A Unidade 2 se ergueu, expandindo seu campo AT.

- Desliguem a Unidade 2 - Misato disse para a tripulação da ponte.

- Ignorem essa ordem - a voz fria do comandante Ikari ecoou inesperadamente.

Misato fechou a mão em punho e, mordendo os lábios, olhou para os monitores e assim acompanhar a luta.

- Ikari, o que você pretende? - Fuyutsuki falou-lhe em particular.

- Você entende o que acabamos de presenciar, não? - sua voz era quase de desafio -Vamos ver até onde isso pode ir.

Super Gotenks desapareceu do ponto onde estava, para o qual já corria Asuka. A ruiva olhava espantada para a frente, quando sentiu uma pontada no pescoço de seu EVA.

- Você também não consegue lutar com um inimigo forte que seja tão menor! - O gigante vermelho foi erguido pelo pescoço no ar e arremessado em outra parede, depois de um “passeio” de 360 graus.O super-saiyajin 3 gargalhou em triunfo, até perceber que havia um buraco raso na parede onde devia estar a unidade 1. Foi quando uma mão gigante o agarrou. Com pouco esforço, Gotenks já estava solto. Dessa vez, porém, o robô se mexia mais rápido. Mas apesar da graça e leveza conquistados, que faziam dos membros roxos meros borrões a olho nu, o pequeno e poderoso saiyajin ainda estava um “passo” à frente sem muito esforço. Porém, ao se esquivar de um chute alto, não percebeu o enorme braço que se aproximou à toda velocidade. Mais inesperado foi o golpe furioso dado por outra mão vermelha.Quando parecia que o exercício tinha se transformado em um inusitado pingue-pongue entre os EVAs, usando Gotenks como bola, o jogo foi subvertido pelo pequeno alvo, que parou no ar próximo ao pulso da Unidade 1 e, agarrando-o, jogou o EVA em cima da Unidade 2.

- Sai já de cima de mim, baka!

- ...Vaiseferrarsuachata - murmurou baixinho o piloto.

- O QUÊ?

- N-nada, Asuka!

- Exercício encerrado. Objetivos alcançados. - A voz de Ritsuko ecoou pelos alto-falantes do Geofront.

- Que pena! - disse a voz ainda estranha de Gotenks. - Estava ficando divertido! Pena que não consigo achar o Ki do bicho feio!

 

 

Em outro lugar, bem longe dali, um pé de três dedos pisava uma rocha à beira-mar. Aquela região especificamente não costumava ter litoral. Agora tinha, por cortesia do Segundo Impacto. 

- “Mar ou terra? Ar ou fogo? Por que minha mente está tão dividida?” As águas tépidas lambiam os dedos verdes a cada onda. O outro pé, ancorado firmemente no solo, parecia querer impedir o progresso do monstro. Milhares de pensamentos passavam pelos olhos mentais da criatura. Milhares de vidas tiradas à força passavam à sua frente, causando uma agonia que ele não fora criado para sentir... “Divisão... Tenho que acabar com a divisão... Decisão... Como tomar alguma? Como acabar com a dúvida se os pequeninos soltam suas almas?” Nem ele mesmo compreendia as próprias palavras. Uma percepção de seus aguçados sentidos (ou de nenhum deles) interrompeu o diálogo interno. Por longos minutos, o olhar aguçado penetrou o vazio do mar à sua frente, como ele se deliciasse em lembranças.

- “Que força impressionante” - pensava o monstro - “e está bem perto das grandes presenças. Todos os meus objetivos estão no mesmo lugar. Essa força tem que ser minha! A dúvida acabou. Já sei para onde ir agora!” - O pé que o ancorava no continente relaxou. E uma força oculta se pôs em movimento.


Capítulo 4

Capítulo 2

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