O uso pedagógico das modernas tecnologias

Luiz Carlos Neitzel
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Vivemos numa época de intoxicação informacional, em meio a um turbilhão de informações que não cessam de se proliferar. Nos deparamos com o uso cada vez mais assíduo do computador nas esferas trabalhista, escolar e doméstica, o que nos leva a refletir sobre a comunicação, como ela vem se processando tendo o homem como centro desse processo.

A informática é um campo vasto e riquíssimo que pode ser aproveitada para fins pedagógicos. Podemos utilizá-la como instrumento de comunicação, de pesquisa, de produção de conhecimento, explorando sua interface ideográfica, característica das linguagens simbólicas. Através da informática podemos renovar a forma como a pesquisa vem sendo efetuada no sistema educacional. Voltaríamos, assim, a ter na escola, um ambiente rico de informações, de assuntos históricos e atuais, com capacidade de atender ao anseio natural que todo ser humano possui de buscar o novo.

Há a necessidade de escaparmos de visões extremamente utilitárias, que vêem no computador somente um veículo de disseminação de informações, e pregam a sua utilização restrita como máquina de ensinar, uma instrução programada. Não podemos olhá-la somente como um banco de dados cujo saber é utilizável por um usuário. Não pode ser o uso do computador pelo computador. Esses meios são ferramentas de aperfeiçoamento que, ao serem inseridas no ambiente educacional, visam a qualidade do ensino e a ampliação dos referenciais de mundo dos usuários.

Com essa ascensão da tecnologia, tornou-se imprescindível a introdução da informática nas redes de ensino. As escolas da rede particular investiram, nos últimos anos, na implantação de salas de informática, e as escolas da rede pública não acompanharam essa evolução. Atualmente, o nosso educando ainda chega às instituições educacionais e encontra um ambiente pouco atrativo, preto e branco, enfrenta longas horas de oratória e vislumbra a sua frente um enorme quadro negro contrastando com o mundo lá fora, colorido, atrativo, sedutor.

Temos movimentos isolados de equipes que concentram esforços em modernizar suas unidades com retro-projetores, vídeos cassetes, televisões, parabólicas. Há, inclusive, muitas escolas públicas estaduais bem equipadas. Entretanto, paira ainda um desencantamento pela forma como nela se processa o ensino-aprendizagem. O que nos falta então? Um ensino centrado na produção e não no próprio ensino. O aluno necessita tornar-se construtor de sua aprendizagem, autor de seu tempo. Precisamos renovar, principalmente, a forma como a pesquisa vem sendo conduzida no sistema educacional.

Como existe uma resistência por parte do professor em utilizar a tecnologia em sala de aula, mesmo porque ele não a domina, O Ministério da Educação e Cultura toma como uma das prioridades a introdução da informática nas escolas de rede pública. Para deflagrar esse processo, o MEC está implantando o ProInfo — Programa Nacional de Informática na Educação, oficialmente lançado em 10 de abril de 1997.

Entre os objetivos desse programa está o de preparar professores para usarem as novas tecnologias da informação, visando a transformação de sua prática pedagógica. O Programa Nacional de Informática na Educação visa melhorar a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, possibilitando a criação de uma "ecologia cognitiva" nos ambientes escolares, mediante incorporação adequada das novas tecnologias da informação pelas escolas. Ele quer também propiciar uma educação voltada para o desenvolvimento científico e tecnológico e educar para uma cidadania global, numa sociedade tecnologicamente desenvolvida.

O MEC sabe que o êxito desse programa depende essencialmente da capacitação dos recursos humanos envolvidos com a sua operacionalização. Essa inserção do computador no contexto educacional gera polêmicas; a aparição dessa nova tecnologia, com certeza, modifica as normas de aquisição do conhecimento. Com a sua incorporação os paradigmas educacionais são questionados, pois a informática educativa redesenha o ensino.

Precisa-se, por isso, repensar o papel do aprendiz e do professor. O primeiro estará diante de uma diversidade de opções e será ele quem selecionará essas informações numa aprendizagem mais independente. Como usuário, desenvolverá algo a partir do momento que aprender a manipular essas informações, ampliando seus domínios, instaurando-se, assim, um "aprendizado-através-do-fazer".

Como um dos multiplicadores do NTE-Joinville – SC - Núcleo de Informática e Tecnologia Educacional, traço como objetivo, no decorrer do mestrado, pesquisar como o professor pode incorporar as possibilidades de trabalho/estudo que a informática oferece ao espaço escolar, bem como, o uso que o aluno e professor podem fazer do hipertexto em sala de aula. Além disso, como um dos multiplicadores que ministra capacitação aos docentes na área da informática educacional na rede pública, pretendo acompanhar e avaliar todas as etapas da implantação do projeto ProInfo nas unidades escolares que receberam laboratórios.

Este projeto já está em andamento, e as primeiras turmas já foram capacitadas nos meses de setembro e outubro, e irá estender-se até novembro, quando terminaremos a primeira fase de capacitação. Estiveram envolvidos 562 professores da rede escolar de ensino, atingindo 83 Unidades Escolares.

O mundo mágico da informática com seus conteúdos atraentes, ambiente multimídia, global e interdisciplinar, instiga o aluno ao desejo de investigação, de descoberta do novo, além de aumentar suas possibilidades de pesquisa. Retomamos a questão do prazer, do reencantamento da universo escolar, quando esse novo mundo de possibilidades diversas se abre.

A informática favorece diferentes maneiras de se relacionar com o outro e com o conhecimento. Ao contrário do que muitos pensam, ela não oportuniza a "robotização" do ser humano ao eliminar a mediação humano no contexto, pois isto o livro, o jornal, a revista já o fazem. Ao usá-la, estamos promovendo mais um meio de contato social com outras pessoas, que desafia, exige e estimula o intelecto. O uso do computador, especificamente da Internet, requer operações intelectuais que vão desde o uso da palavra, da escrita, capacidade de comparar e diferenciar, atenção, abstração, e passa para formas de organizar o pensamento e a ação.

Não podemos perder de vista que o computador não é uma máquina inserida numa sociedade abstrata, mas que existe além dessa rede digital uma rede humana que opera essa máquina, pessoas que possuem valores e são agentes de seu meio, pois nada acontece fora das sociedades já organizadas. A informática abriu possibilidades de novas relações entre os homens, e estes estão inseridos numa ordem social. Estamos numa rede de comunicação em que o homem é o centro do processo e a palavra continua sendo sua ferramenta básica.

A pedagogia que encontramos na Internet, por exemplo, não é mais da instrução direta e explícita via professor, pois a sua utilização altera a rotina escolar e os métodos de organização de trabalhos. Ela é uma rede potencialmente infinita de comentários e debates.

O estudo auxiliado pela informática não é somente dirigido pelo professor nem centrado no ensino, pois a pesquisa ocupa o centro deste. O professor terá como preocupação se lançar aos desafios que essa nova tecnologia lhe propõe, os quais devem ser estendidos aos aprendizes, para que eles se apropriem desses conhecimentos, numa interação adequada. Não há uma diminuição do seu papel, mas um deslocamento, o professor não é mais o detentor do saber, mas um facilitador do processo de desenvolvimento intelectual do sujeito.

Esse processo de aprendizagem ocorre sem que haja um ensinamento explícito. Não há mais o controle de aprendizagem pelas mãos do professor, mas este está nas mãos do aprendiz, havendo a liberdade para explorar e errar, sem punições. A sala de aula passa assim, a um espaço de maior prazer, pois a multimídia interativa favorece uma atividade exploratória e lúdica. Temos amostras de riqueza e criatividade, e porque não dizer de fantasia se dele jorram riquíssimas invenções? O conteúdo não é esvaziado de significado como geralmente ocorre na imposição do conhecimento sistematizado. O conhecimento passa a formas de acesso e apropriação que possibilitam ao sujeito assimilá-los plenamente e praticá-los ao longo de sua vida.

O sujeito não só coleta informações, via rede, mas também as dissemina. Assim, o processo exploratório, viabilizado pelo manuseio do computador, gera o processo construtivo. Falamos de internalização do saber através da construção, o que implica em modificação do indivíduo com o seu grupo. Uma prática cujo princípio norteador seria a interatividade, pois não falamos de um sujeito passivo, mas ativo, construtor. Milhões de pessoas entram em rede não só para visitar sites, mas também para escrever, comentar textos, interagir. Temos com a Internet uma dinâmica diferente daquela que se apresenta nos livros, pois ela é determinada pela mutabilidade, pela agilidade, pela interatividade.

O computador torna-se assim, mais um dispositivo técnico — como o vídeo, a televisão... — pelo qual podemos perceber o mundo que nos cerca. Mais uma forma de repensá-lo e de debater o uso da comunicação em geral, mais uma tentativa de inserir a instituição educacional no mundo ou vice-versa, tornando-a um espaço vivificante, que prepara o indivíduo para a vida e não prioriza o mero acúmulo de informações.

Bibliografia básica

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 Publicado em 23/07/1999

Última atualização: 09/03/07 15:52:41

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