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Da Discussão

Longe de dar-me a socióloga política de primeiro mundo que analisa o terceiro, vou aqui discutir eleições no seio estudantil duma universidade pública brasileira. O que mais detesto – e, no entanto o que mais acho intrigante – é a existência de eleições para entidades “representativas” (que não representa) e a candidatura de estudantes que mal entendem teórica e praticamente o que é entidade estudantil e representação. Não vou me ater a dizer que estes estudantes têm interesses particulares e que precisam da entidade representativa para aumentar seu STATUS na universidade. Não posso mais entender que em sua maioria todos são POLITIQUEIROS ou funcionários de PARTIDOS. Mas infelizmente devo admitir que começo a acreditar que há algo mais. Algo pior.

 

Da União

É verdade que a união apenas de grande parte dos explorados não é suficiente para vencer a exploração. E como se deter os meios de produção não bastassem, o capitalismo também encontrou outras formas de alienação e exploração: a comunicação, o belicismo, a especialização, a democracia. Todos esses mecanismos lutam contra a união dos explorados, uns com a força de amas, outros com a sutileza das ciências. Mas nada supera o potencial da democracia de fazer os explorados disputar por migalhas (focos de poder) em vez de se unir contra o mal maior (o capital). Hoje o palco da disputa é a luta entre facções (ideologias, partidos e teóricos) para saber quem vai liderar os explorados. O capital conseguiu vencer uma grande preocupação do Sr. Karl Marx: “Proletário de todo o mundo, uni-vos”. No geral, onde há exploração, há disputa pelo poder de representar os explorados: sindicatos, agremiações estudantis, cooperativas, colônias...  O objetivo que devia ser a união se torna agora à disputa, à eleição.

 

Da Desunião

Todos os anos, em todas as universidades públicas existem eleições para representação discente. Esse é o palco anual da desunião estudantil. Longe de dizer que devemos nos unir diante duma bandeira única, ou dum partido único, acredito que necessariamente não podemos mais lutar uns com os outros. Bem, mas não é isso que acontece. Os anseios de cada coletivo de estudantes, e diria mais, o anseio de cada estudante parece não permitir que não haja lutas para tomar o pequeno poder das entidades de base (CA/DA) ou gerais (DCE). O que está em jogo nunca é a melhor dinâmica do movimento estudantil ou mesmo novas batalhas, mas a garantia de estar no centro dum mísero poder. Durante todo o ano, a maior parte dos estudantes parece estar bem coesos num interesse único: se formar o quanto antes. Estes estavam tão coesos que mal ligaram para o Movimento Estudantil ou pra vida POLÍTICA da Universidade. Mas é só chegar às eleições e começam a aparecer situação, oposição, pré-candidatos, pós-candidatos... É só chegar o período de eleições que quase todo mundo vira politizado e disposto a lutar por “dignos interesses”.

 

Da Concorrência

E aqueles estudantes que durante todo ano não souberam o que é assembléia, o que é movimento estudantil, reuniões, discussões e práticas, agora estão aptos a se lançar freneticamente neste portal das fantasias políticas. Há outros estudantes também que tentaram se juntar ao movimento, mas seus anseios politiqueiros não foram contemplados, e logo abandonou os companheiros. E estes também são grandes candidatos. Eles vão entrar em uma batalha insana jogando sempre contra e a favor de cada ideologia ou de cada indivíduos que militou seriamente, sempre conforme sua necessidade. Vão esquecer do objetivo de unir o coletivo de estudantes para praticar e discutir e vão usar esse coletivo para se elegerem. Vão correr e CONCORRER para fragmentar os estudantes e isolá-los em seus mundinhos.

 

Da Cultura Política

O que faz os estudantes lutarem contra si? Unicamente a comercialização das idéias democratistas? Neste caso penso que não. Penso que há mais. Há mais mediocridade, há mais alienação, há mais afeição ao sistema opressivo. Em todo caso há a legitimação do foco de poder. A conservação deste foco de poder é que fará os próximos estudantes também lutarem por ele invés de se unir. Vai entrar ano e sair ano, e sempre vai haver a necessidade de disputar por este espaço. Daí, imagino que não podemos utilizar nosso conhecimentos para a manutenção (conservação) desta cultura política que nos oprime, nos põe todos contra todos. E não podemos entender que reformas de estatutos mudam essa cultura, pois o cerne desta sempre é mantido: o INSTRUMENTO DE DESUNIÃO, à ELEIÇÃO.

 

Da Necessidade

REVOLUCIONAR. Não no sentido estilístico do termo, mas no sentido da poesia romântica real. Mudar não as estrutura erigida sob o cerne da desunião, mas destruir este cerne. Talvez um coletivo que coubesse todas as facções. Talvez um coletivo que não coubesse nenhum. De qualquer forma a participação total dos estudantes nas entidades representativas poderia acabar com as disputa. Se todos se sentissem CA/DA, muito provavelmente aqueles que não ligam nenhum pouco para as questões triviais do movimento, não poderiam querer ser coordenador de estudante. Se todos esquecessem as merdas das eleições e se comprometessem seriamente a lutar por algo que é seu, ai talvez começaríamos a criar um movimento que teria como produto o acumulo de nossas críticas e insatisfações, teórica e praticamente.

 

Ralidjha Isabeli, 27 de novembro de 2005

Num domingo nublado

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Ver também: Experiência de pico do Centro Acadêmico, Seio estudantil  e Anacrônico, mas revolucionário.

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