Anacrônico, mas Revolucionário

Por Ben Hur

O XXXV Encontro Nacional de Estudantes de Radiofísica Social (ENERS 2005) propõe, desta vez, o tema: Trinta e cinco anos de movimento estudantil de Radiofísica Social". É o momento, como propõem todos os congressos, encontros e simpósios de apelo histórico, de refletir acerca das atitudes, caminhos e descaminhos do passado.

            Muito se fala, se escreve ou se cochicha acerca da "crise do meio estudantil", suas contradições, seus eternos anseios e eternos inimigos. Rios de lágrimas ideológicas escorrem pelas vielas frígidas das diversas posições, anteposições e tendências no seio do movimento estudantil (chamo-o assim por fraqueza e por apelo didático). É de fácil percepção, no momento atual, o caráter tipicamente institucional que adquiriu o movimento estudantil que, em tempos não muito distantes, fora considerada a "idéia mais perigosa" em diversos âmbitos de análise.

            De voz impedida de ecoar, de clandestinidade, sub-mundo teórico; o movimento estudantil converte-se, neste momento, a uma instituição tão fixa e legalista quanto os clubes sociais, os diversos sindicatos (seja de grandes empresários ou de proletários endividados), partidos políticos, grupos paroquiais. Núcleos sociais participantes de um sistema equilibrado e ordeiro, cujos limites já foram delimitados no momento de sua institucionalização, ou seja, desde quando passou a possuir sua carta de "existência social", com lugar reservado nas mesas de negociações sociais e cerimônias públicas. Tornou-se uma instituição regular.

            A instituição é, por si só, a legitimação de toda a "ordem" instituída. Ela só se faz instituição porque foi aceita frente às outras, como num clube de fraternidade. Ela é aceita, neste sentido, a partir do momento em que os "irmãos" julgam-na inofensiva, enquadrada e "bem-vinda".

            No cintilante espectro da necessidade de se criar o glorioso mercado dos encontros nacionais, diluem-se as discussões válidas, as verdades e mentiras não-ditas. E os dias se passam e terminam na nada menos gloriosa atividade artística da noite voraz, onde extravasamos nossas angústias em doses ou dosagens de qualquer droga barata.

            É hora de tentarmos discutir e construir algo a mais que um ato público, que, independente do tema que abordará, no caso do ENERS deste ano, já está marcado (mesmo que certas pessoas não se sintam à vontade em participar de um ato público cuja ideologia de "luta" será montada às vésperas deste).

            Chegamos , assim,a um momento, em que não há novidade teórica alguma. São as mesmas reproduções e referências. Um produto com um ótimo sistema de propaganda e adequado às necessidades do mercado. Nada de reflexões, incômodos ou riscos. São trinta e cinco de anos de estaticidade e de um longo processo de institucionalização. O movimento estudantil tornou-se anacrônico, mas sente-se feliz em criar condições teóricas (por vezes místicas e religiosas) de continuar revolucionário, ou, pelo menos, se sentindo assim: anacrônico, mas revolucionário...

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