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Gaspar Silveira Martins "Conselheiro Gaspar"

                                                       Roberto Ferracini Filho
                                                                                     Cadeira Nº 13

Pesquisar sobre a vida do meu Patrono, é tão confuso quanto foi o dia da Proclamação da República. Em minhas buscas, procurei organizar uma seqüência de datas para um maior esclarecimento. Se, hoje achamos nosso dia-a-dia muito agitado, podemos tranqüilizar-nos, basta acompanhar os sessenta e sete anos vividos por...

GASPAR SILVEIRA MARTINS

                                  (Conselheiro Gaspar)

Estávamos visitando nossos parentes em Bagé. Minha mãe resolveu encontrar minha tia, irmã dela, que lecionava em um Grupo Escolar. Para poderem conversar, deram-me uma folha de papel e um lápis para que me distraísse. Embora ainda não estivesse na escola, mostrei orgulhoso o desenho: uma boina. Há alguns anos, revirando antigos documentos, encontrei a obra que minha mãe havia guardado. Não foi preciso muita análise para ver que a tão caprichada boina na verdade parecia uma luva com seis dedos. Para quem gosta de desenhar como eu, foi uma decepção. Mesmo sabendo que não tinha mais que quatro anos de idade na época, guardava na lembrança a certeza de que a boina, tão usada pelos meus parentes paternos, ficara perfeita.

Sempre que vou a Bagé, ao passar pela Avenida Sete de Setembro, a principal, olho para o Grupo Escolar Silveira Martins, e lembro com carinho de minha mãe que nos deixou para sempre quatro anos depois daquele momento.

Talvez por isto tenha tido sempre a curiosidade de conhecer mais sobre a vida deste ilustre brasileiro e grande maçom.

Tendo sido indicado para a Academia, foi-me sugerido pelo meu padrinho, escolher como patrono ninguém mais que Gaspar Silveira Martins. Surgiu então, a oportunidade de conhecer o “Sansão do Império” como o chamava Joaquim Nabuco.

                     Pelotas 11 de setembro de 1920.

O Congresso dos Veneráveis das Lojas da Jurisdição do Grande Oriente do Rio Grande do Sul, reunido em Abril do corrente ano, tendo tomado conhecimento de que se cogitava da repatriação dos despojos do Ilustre e Poderoso Irmão Dr. Gaspar  Silveira Martins, Grau 33, o qual em 1883 exerceu o alto cargo de Grão Mestre da Ordem, deliberou por unanimidade, que as Lojas das localidades por onde passassem tão venerados despojos, prestassem à memória do ilustre maçom e patriota as homenagens que costuma a Maçonaria tributar aos seus vultos de destaque.

“O Templário”, órgão oficial da Maçonaria rio-grandese, honrou suas páginas com o retrato do Poderoso Irmão,e como homenagem à sua memória, transcreveu da “Aurora Escosseza”, a comunicação de sua posse no Grão Mestrado.

A Maçonaria gaúcha é fértil em nomes de relevo. Entretanto, nenhum atingiu as alturas em que viveu Gaspar Silveira Martins.

Nasceu na Serra do Aceguá, município de Bagé, antiga Província Cisplatina, a 5 de agosto de 1834, nas vésperas da Revolução Farroupilha. Filho de Carlos Silveira de Moraes Ramos e de dona Maria das Dores Martins, foi batizado na Paróquia N.S. do Pilar em São Rafael do Cerro Largo, hoje cidade de Melo, no Uruguai. Freqüentou uma escola primária em Cerro Largo, estudando, em seguida, em Pelotas.

1844 - Com a permissão dos pais, aos dez anos de idade, Gaspar segue para o Maranhão, onde cursa um colégio. Naquele tempo o Maranhão detinha o “primado intelectual”.

Aos treze anos, está no Rio de Janeiro, em busca de um educandário para continuar seus estudos, matriculando-se no Colégio Vitório. Perguntando-lhe o Professor Vitório o que pretendia ser na vida, respondeu que queria ser Ministro de Estado e que, então, faria o Professor Conselheiro de S. M. o Imperador.

1852 - Completando o curso de humanidades, segue para Recife, matriculando-se na Faculdade de Direito, onde cursou até o segundo ano.

1854 - A conselho médico, Gaspar segue para São Paulo, matriculando-se na Faculdade de Direito daquela cidade.

1856 - Formando-se Bacharel em Direito, foi trabalhar no Rio de Janeiro, no escritório de advocacia do Dr. Júlio de Freitas Coutinho.

Neste ano, Gaspar casa-se com D. Adelaide Augusta de Freitas Coutinho, filha do Dr. Júlio. Tendo feito amizade com o Visconde de Muritiba, este oferece a Gaspar o cargo de juiz municipal.

1861 - Eleito Deputado Provincial pelo Rio Grande do Sul, abandona a magistratura, onde a sua consciência de juiz íntegro o colocava constantemente em choque com os poderosos, inclusive os próprios ministros. Disse certa vez: “Perante nós, o réu, o potente e o ilustre desaparecem para surgir apenas o portador do direito. A nomeação do juiz é como a ordenação do sacerdote”.

1872 - É eleito Deputado na Assembléia Geral pelo Partido Liberal da Província do Rio Grande do Sul. Em 26 de dezembro daquele ano, estréia no parlamento brasileiro, respondendo ao discurso que o Barão de Rio Branco pronunciara, na véspera, em revide ao orador fluente que era Paulino Soares de Souza, do Partido Conservador. A sua sinceridade incomum, aliada aos arroubos de uma eloqüência agressiva, à qual não faltava uma lógica implacável, faziam dele um adversário temível.

1875(25/6) - Dirigindo-se ao Marechal Caxias, no dia de sua posse como Presidente do Conselho de Ministros, Silveira Martins o adverte com a sua desassombrada franqueza: “Vossa Excelência tem todos os títulos ao nosso respeito e à nossa consideração; mas não é o homem próprio para resolver os problemas cuja solução o país instantemente reclama, para poder elevar-se a altura de um povo livre”. O Duque de Caxias pertencia ao Partido Conservador.

1878(5/1) - Organiza-se o gabinete liberal, sob a presidência do Visconde de Sinimbú, Gaspar é chamado para assumir a pasta da Fazenda.

“Na primeira reunião, de que era a maior figura, propôs que fosse concedido o título de Conselheiro ao Professor Vitório da Costa e foi, pessoalmente, levar ao antigo mestre o título que havia lhe prometido quando estudante”.

1878(16/11) - Um decreto imperial regulariza o serviço de loterias da Corte, permitindo que os bilhetes pudessem ser divididos em décimos, com os mesmos dizeres e características dos bilhetes inteiros, de onde surgiu o vocábulo popular “gasparino”.

1879(8/2) - Acompanhado pelo Barão de Vila Bela, apresenta a sua renúncia, em caráter irrevogável, de Ministro da Fazenda, porque o ministério pôs de lado o compromisso assumido da elegibilidade dos acatólicos.

Em 5 de julho de 1880, toma posse de sua cadeira no Senado pela Província do Rio Grande do Sul. O ambiente de desinteresse e melancolia na Câmara vitalícia lhe faria dizer mais tarde: Parece-me ter vindo cedo demais para o Senado.

1882(1/4) O Senador Gaspar Martins, Grau 33 do Grande Oriente Brasileiro primitivo, filia-se na Loja Aurora Escocesa do Gr.:Or.: do Brasil Unido, pois não se conformava com a união dos Grandes Orientes dos Beneditinos e Lavradio realizado pelos Conselheiros Saldanha Marinho e Francisco Cardoso Junior. Encabeçou movimento que resultou na fundação do Gr.:Or.: Irregular pois o primitivo deixara de existir. O novo grêmio instalou-se no Rio de Janeiro, oferecendo o cargo de Gr.: Mestre ao Senador Gaspar e, tinha como programa a extinção da escravidão no Brasil. Depois do juramento, discursou:

“Satisfeito de mim e de meus  caríssimos irmãos, passarei o Primeiro Malhete deste Gr.: Or.: a outras mãos mais dignas de empunhá-lo, no dia em que no Império do Brasil ficar abolida a escravidão”.

“Temos independência política, mas não se pode considerar livre um país onde há uma raça escrava. Prossigamos, pois, nos esforços patrióticos dos nossos antecessores, envidemos todas as nossas forças para a conclusão desta grande obra, começada pela sabedoria, patriotismo e denodo dessas brilhantes colunas de Maçons leais, dignos, merecedora da mais saudosa recordação...”

A Loja Aurora Escocesa filiou-se ao Gr.:Or.: do Brasil em 21 de dezembro de 1887, extinguindo-se o Gr.: Or.: Brasileiro, fundado de maneira tão irregular.

Em 1º de maio de 1889 Silveira Martins é distinguido, por decreto, com o título de Conselheiro de Estado Extraordinário.Tendo recusado com altivez o título de Visconde, recusa também este.

Naquele ano, em 12 de julho, foi nomeado Presidente da Província do Rio Grande do Sul.

Mas, em 6 de novembro, passa o governo ao 1º vice-presidente, embarcando para o Rio, a fim de ocupar sua cadeira no Senado. A sua popularidade era algo fora do comum, sendo designado rei do Rio Grande do Sul e cantado pelos poetas.

Três dias depois, ao chegar a Desterro, recebe um telegrama do Visconde de Ouro Preto, convidando-o para assumir a presidência do Conselho de Ministros. Ao mesmo tempo o Governo Provisório da República mandava ordem para prendê-lo.

Chegando ao Rio, a bordo da corveta Parnaíba, é preso, sob palavra, em sua residência.

 

          O Outro Lado da Proclamação da República

 

Em 15/11/1889, sem qualquer participação popular ou da grande parte da elite, proclama-se a república.

Desde o período colonial, nenhuma ordem do Papa vigoraria no Brasil sem a aprovação do Imperador. Os Bispos D.Vidal e D.Macedo, de Olinda e Belém, resolvem seguir as ordens de Pio IX, punindo religiosos ligados à Maçonaria. D.Pedro II, influenciado pelos Maçons, solicitou  aos Bispos que não fizessem tais punições. Com a recusa destes, o Imperador os condenou a 4 anos de prisão em 1872. Com a intervenção do D. de Caxias, os Bispos receberam perdão imperial. Contudo, houve estremecimento entre a Igreja e o Império.

Hoje, melhores relatos históricos, contam que naqueles dias confusos, Deodoro da Fonseca, tido como fiel a D.Pedro, pretendia derrubar o Visconde de Ouro Preto, chefe do Gabinete Imperial (o equivalente hoje a um ministro).

Segundo farta documentação, a decisão para a derrubada do Imperador, aconteceu na madrugada do dia 15 de novembro, quando o Major republicano Frederico Sólon Sampaio Ribeiro, comandante das tropas do cerco, convenceu Deodoro a proclamar a república. Esse militar teria dito ao Marechal que o novo presidente do Conselho de Ministros, supostamente indicado pelo Imperador, seria Silveira Martins, seu inimigo mortal.

Deodoro e Silveira se rivalizavam na disputa amorosa pela Baronesa do Triunfo, viúva muito bonita e elegante, que sempre preferiu Silveira Martins ao Marechal. Na verdade o novo Presidente do Conselho seria José Antônio Saraiva.

Disse-lhe também Sólon que uma suposta ordem de prisão contra seu chefe havia sido expedida pelo Governo, versão que convenceu o velho Marechal a proclamar a República no dia 16 e a exilar a Família Imperial as sombras da noite.

O Decreto nº 71 da República, liberta o Conselheiro, com a obrigação de residir em qualquer país do continente europeu. No dia seguinte embarcou para Londres e, durante sua permanência visitou Paris, Berlim, Madri, Bruxelas, Roma e Lisboa.

Em 19/11/1890, o decreto nº 1037, revoga o ato que desterrava Silveira Martins. Ele ficou, porém, na Europa por mais um ano, em peregrinação pelas bibliotecas e universidades.

“Não trazia ódios, nem ressentimentos. Quando retornou, trazia o sonho da república parlamentar”.

Em 21/2/1892, chegando a Porto Alegre, Silveira Martins é recebido com uma apoteose sem precedentes na história política do Rio Grande do Sul. Em março daquele ano, o Congresso de Bagé declara que a constituição do Estado, que era comtista, devia ser substituída  por outra, calcada nos princípios parlamentaristas. O Congresso, denominado gasparista, celebrou-se sob a presidência do General Joca Tavares, de 78 anos, que aclamou Presidente do partido federalista Gaspar Martins.

No mesmo ano, em 17 de junho, irrompe em Porto Alegre a revolução castilhista, repondo Castilhos no governo, sob as vistas do governo federal.

Castilhos nomeia Vitório Monteiro com Vice-Presidente e passa-lhe o governo. Pelotas telegrafa a Joca Tavares, em Bagé, transmitindo-lhe o governo e nomeando-o segundo Vice-Presidente. Entre os castilhistas militavam correligionários de Floriano, e, entre os federalistas, reuniam-se todas as facções contrárias, sob a chefia de Silveira Martins.

Tavares reunira em Bagé ponderáveis elementos, mas aproximando-se a força federal teve de ceder aos conselhos de Gaspar: “Como chefe do partido, aconselho; como correligionário, peço; como riograndense, suplico: guerra civil, não”.

Perdendo posições no Rio Grande, em janeiro de 1893, refugiado na cidade de Melo, no Uruguai, Tavares telegrafa a Silveira Martins: ”Impossível conter forças, amigos Estado reúnem-se. Para evitar imediata invasão, marquei dia 5, dando tempo virem vossas instruções, Se puderdes, vindes...”

Pressionado pelos partidários, o General Tavares, lança proclamação, concitando seus conterrâneos a pegarem em armas. Gaspar não pôde evitar o movimento e foi por ele envolvido.

Com o desenvolvimento da revolução anti-florinista, as forças revolucionárias passaram a chefia ao Almirante Saldanha da Gama. Silveira Martins fixa residência em Montevidéu não podendo se ausentar sem a permissão do governo Uruguaio.

Mas, em 28 de novembro, cercado pelos revolucionários, o General Isidoro Fernandes, comandante das tropas do governo central, é aprisionado, julgado e condenado à morte. Informado casualmente deste fato, Gaspar apresenta-se ao exército revolucionário que sitiava Bagé, e salva do fuzilamento o General. Pelo gesto humanitário e a falta do compromisso assumido, Silveira Martins é expulso do Uruguai, e transfere sua residência para Buenos Aires.

Em 1895, assinada a paz entre o governo Central e os revolucionários, na presidência de Prudente de Morais, Silveira Martins retorna a Montevidéu. No final do ano volta pela segunda vez a Europa onde residia sua família.

No dia 23 de julho de 1901, tendo marcado uma entrevista com o General Hipólito Ribeiro, Gaspar Silveira Martins deveria seguir para Paso de los Toros, quando a morte o surpreendeu, fazendo-o faltar pela segunda vez ao compromisso assumido. Desaparecia assim do cenário político do Brasil este homem realmente extraordinário.

                       Porto Alegre, 25 de novembro de 2006.

 

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