Visconde de Rio Branco (José Maria da Silva Paranhos)
Carlos Alberto Teixeira Paranhos
Cadeira Nº 5
Antecedentes
.
A
Família
Silva Paranhos vem
para
o Brasil
pela
mão
do Capitão-Mór
Antônio da Silva
Paranhos,
natural
do
Porto
, Portugal, na
Freguesia
que
hoje
ostenta o
nome
–
Freguesia
de Paranhos.
Solteiro
, traz
consigo
dois
sobrinhos
– João e Agostinho –
que
são
quem
iniciam a
família
no Brasil, a
partir
de
Salvador
, na Bahia,
onde
se radicou o Capitão-Mór.
Nascido em Salvador em 16 de março de 1 819, José Maria da Silva
Paranhos, já órfão de pai e mãe, é
trazido para o Rio de Janeiro em 1 836, com 17 anos de idade, pela mão de um
tio materno – Cel. Eusébio Gomes Carreiro --, uma vez que os Paranhos, mercê
da solidariedade que mantiveram com o General Madeira, em 1 822, ficaram no
ostracismo.
O Estudante.
Moço pobre, revelou-se com propensão singular para as matemáticas e
para as letras, tornando-se um afanoso estudante, que logo sobressaiu entre os
demais, o que fez durante toda a vida. Muniz
Barreto, mais tarde, proferindo
diante do Imperador o “ Elogio Histórico “ do Visconde, foi muito feliz ao
afirmar que “ era de se perguntar, acompanhando-lhe a ascensão na escala
social, se aquele homem estudava para subir ou subia para estudar “.
Em março de 1 836, matricula-se na ESCOLA DE MARINHA, onde, como
Guarda-Marinha, tem sua matrícula transferida para o 2°. Ano da ESCOLA
MILITAR, já em 1 841. Em 1 843 é promovido a 2°. Tenente do CORPO DE
ENGENHEIROS.
O Professor.
Ingressa no magistério militar como lente nas cadeiras balística e
catedrático de artilharia e fortificação ( 1 848). Daí para o magistério
civil, como professor de mecânica ( 1856), catedrático da cadeira de economia
política, estatística e direito administrativo
( 1 863).
O Jornalista.
Na cátedra, já despontava seu talento de orador, com extrema facilidade
no uso da palavra. Aberto, pois, como conseqüência, o ingresso no jornalismo,
isto em 1 844, contando 25
anos, no periódico “Novo Tempo”, depois no “Correio Mercantil” e, mais
tarde (1 851), já
consagrado no periodismo, vai para o “Jornal do Comércio” . Nesta
atividade, entre outros escritos, produz um texto de autêntica configuração
maçônica, ei-lo:
“Quereis a prosperidade da Nação ?...
Derramai o bálsamo da
conciliação; por vossos atos inspirai ao país a maior confiança possível
no seu futuro; franqueza e justiça para todas as opiniões, a par de fortaleza
para com o delírio das facções; alargai a esfera dos cidadãos que podem
tomar parte nos negócios do Estado; proscrevei o exclusivismo, que manda dar
somente importância a um limitado número de pessoas; usai da clemência para
com o vencido; economizai o suor da nação; estendei afoitamente a espada da
Justiça até os lugares onde empregados dilapidadores estragam a riqueza pública;
fazei com que as Câmaras sejam realmente a expressão do país inteiro e não
comissões de certas potestades. Assim conservareis à Coroa todo o seu brilho e
majestade; a Constituição deixará de ser uma quimera; a vertigem dos
revolucionários desaparecerá, como as névoas da madrugada, ao primeiro clarão
do oriente.”
Esta vertente da sua personalidade – o jornalismo – não
o abandonou até o fim da vida, haja vista o episódio acontecido quando
se encontrava em Paris, a passeio, tomou conhecimento de artigo publicado na
imprensa londrina pelo Cônsul britânico no Rio de Janeiro, assoalhando a
iminente bancarrota do Brasil. Preso da mais legítima indignação, escreve por
longas sete horas sucessivas uma alentada refutação, versada para o inglês e
publicada na mesma imprensa londrina, desfazendo a má impressão do artigo
anterior.
O Tribuno.
Seus dotes de tribuno não são menores, valendo aqui a transcrição do
seu perfil, feito por Afonso de Carvalho:
“ Paranhos, na tribuna, era um ponto natural da convergência de todos
os olhares. Esbelto, de estatura elevada, rosado, sangüíneo, suíças à
inglesa e calva luzidia, o Visconde se impunha ao apreço e à admiração de
todos e sabia levar para o fogo da tribuna a serenidade do diplomata.”
Na mesma linha, Taunay:
“... como orador parlamentar, era o Visconde eminente, e bem vivas estão
ainda as recordações dos seus triunfos. Assim como nos escritos, procurava
ser, sobretudo, claro, incisivo, embora com isso se tornasse prolixo. Na tribuna
era de admirável compostura, para o que lhe ajudavam a fisionomia tão serena
nos debates calmo, quanto iluminada nos tumultuosos, a presença altiva e nobre,
a gesticulação sóbria e calculada.”
O Político e Diplomata.
Na política partidária é elevado às mais altas posições, dentro seu
Partido – o Conservador. Com 27 anos torna-se Vice-Presidente do Estado do
Rio, a cujo governo assume efetivamente em maio de 1 847.
Eleito para o Parlamento imperial, no mesmo ano ( 1 847 ), perdeu o
mandato em 1 848, com a dissolução da Câmara, voltando, então, à Escola
Militar. Em 1 851, acompanhou Honório
Hermeto Carneiro Leão – Marquês de Paraná – em sua viagem ao Prata, como
Secretário Plenipotenciário da Missão Diplomática, valendo esta comissão o
seguinte registro do General Mitre:
“ Paranhos foi a alma dessa Missão e desde então tornou-se um homem
identificado com as questões do Rio da Prata.”
Em 1 852, foi nomeado Ministro residente em Montevidéu, concluindo um
acordo com encerrou a questão de limites entre o Brasil e o Uruguai.
Graças a sua atitude, adversou a posição do comissário Oriental, que
queria considerar o Pontal Paraguaio como o de S. Miguel, no Rio Grande do Sul,
o que eqüivaleria à perda, para o Brasil, e em especial para o Rio Grande,
de todo o território compreendido entre a Lagoa Mirim e os passos gerais
dos arroios Chuí e S. Miguel, além de grande parte da margem oriental da
referida Lagoa. Fica, portanto, o
Rio Grande devedor de considerável parte do seu território ao descortino do
grande estadista.
Em 1 853 regressa ao Brasil e assume a Pasta da Marinha no Gabinete de
Paraná, passando, depois, para a dos Estrangeiros. Com a morte de Paraná e a
assunção de Caxias à Chefia do Gabinete, voltou à Pasta da Marinha, onde
ficou até 1 857, para ser nomeado Ministro Plenipotenciário no Prata e no
Paraguai.
Sucessivamente depois de terminada esta comissão, retorna à Pasta dos
Estrangeiros, depois da Fazenda, em o novo Gabinete Caxias. Senador pelo Estado
do Mato Grosso, em 1 862, voltou à diplomacia durante a Guerra do Paraguai e em
1 868 assume pela terceira vez a pasta dos Estrangeiros, no Gabinete do Marquês
de Itaboraí, onde assinou o Tratado de Paz com o Paraguai. Vê-se investido em
nova e mais importante tarefa : organizar o novo Governo Provisório da nação
paraguaia, desorganizado pela guerra. Traslada-se para ASSUNÇÃO e igualmente
nesta tarefa sai-se briosamente. Tais cometimentos valeram-lhe estrondosas
manifestações populares a-quando do seu regresso à Pátria e o galardão de
Visconde, outorgado pelo Imperador, ademais da nomeação para o Conselho de
Estado.
Em 1 871, chega à Presidência do Conselho de Ministros,
cargo do qual pediu demissão em 1 875, voltando ao Senado e ao Conselho
de Estado. Ademais de ter sido o Gabinete de mais longa duração –
mais de quatro anos – sua gestão foi uma das mais profícuas : reforma
do judiciário; ampliação do habeas
corpus; instituição da fiança provisória; primeiro recenseamento do
Brasil; regulamentação do registro civil e reorganização da Escola Militar
como Escola Politécnica, entre outras.
Data deste período outra maiúscula realização deste inesquecível
brasileiro – A APROVAÇÃO DA LEI DO VENTRE LIVRE,
de sua autoria, e segundo a qual, a partir de sua vigência, ninguém
nasceria mais escravo no Brasil. Durante sua tramitação, de penosa e longa
duração, Rio Branco chegou a pronunciar 21 discursos no Parlamento.
Aliás, a orientação contra a escravatura era uma bandeira maçônica,
na qual se inseriu o Visconde, fazendo coro com os demais IIr\
O Maçom.
A vida maçônica do Ir\
Paranhos, elidida a fase do simbolismo, pode ser melhor apreciada na sua atuação
na Presidência da Obediência e do Supremo Conselho.
Cedamos a palavra ao Ir\
Castellani :
“Naqueles dias agitados que vivia o Grande Oriente (1 870) do Brasil
, uma comissão de notáveis havia sido designada para tentar encontrar
um nome aglutinador e experiente para dirigir a Obediência e o Supremo Conselho
do Rito Escocês Antigo e Aceito. Inicialmente,
foi indicado o Conselheiro José Tomás Nabuco de Araújo, que acabaria
por não aceitar a indicação, fazendo com que se fixasse a sua preferência no
nome de José Maria da Silva Paranhos, que receberia o título de Visconde do
Rio Branco, em junho de 1 870. Tal indicação provocou rejeições, pois a
oposição alegava que ele, não sendo membro efetivo do Supremo Conselho, não
poderia ser candidato ao cargo de Soberano Grande Comendor. Essa objeção só
foi superada, quando o Grande Oriente resolveu considerar elegíveis todos os
portadores do 33°. Grau, para os cargos de Soberano Grande Comendador Grão-Mestre
e de Lugar-Tenente Comendador Grão-Mestre Adjunto.”
Eleito, não pôde tomar posse de imediato, graças a comissão no
Exterior, fato que só foi ocorrer em março do ano seguinte – 1 871.
Enfrentou, como Chefe do Gabinete Ministerial, quanto como Chefe dos Maçons,
a desgastante pseudo questão religiosa, que na verdade era somente político-administrativa,
quando a Igreja ordenou que um dos seus religiosos –
Pe. José Luís de Almeida Martins –, autor de um discurso proferido
em sua Loja
, na qualidade de Orador, exaltava a Maçonaria e o Grande Oriente do Brasil,
deixasse a Ordem. Manifesto de Saldanha Marinho aumentou o tamanho da fogueira e
acabou sendo atribuído ao Visconde, na qualidade de chefe dos Maçons. O que se
viu foi que a Maçonaria serviu de pretexto para a rebeldia do alto-clero contra
o Estado. O Conselho de Estado ficou
do lado da Ordem e determinou aos Bispos D. Vital e Macedo Costa o levantamento
do interdito aos religiosos, fato que provou o não cumprimento da ordem por
parte destes e suas prisão e condenação a trabalho forçados por quatro anos,
depois anistiados. O Boletim Oficial do Grande Oriente do Brasil, criado na gestão
do Ir\ Paranhos, publicou fartamente a contenda.
Eis aí, em apertada síntese, um pouco da história deste grande Maçom
que fez História, razão pela qual, se outras mais não bastassem, escolhi para
patronear a Cadeira que ocupo, certo de que a Academia estará fazendo Justiça
à sua memória e a mim especial mercê.
Porto Alegre, 31 de março de
2 001.
Ac. C.A. TEIXEIRA PARANHOS
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