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Consciência

                                                                               Vladimir D. Dias@

                                                          Autor de Genealogia da Liberdade 

Introdução.

 

Escolha da abordagem :  Consciência é tema complexo, com muitas possibilidades de abordagens. Pode-se destacar estudos através de diversas linhas de pensamento filosófico e da ciência. Destaca-se a psicologia, psiquiatria, neurofisiologia e, nos últimos anos a física quântica. Optei por fazer uma certa correlação do tema consciência com a didática diferenciada utilizada pela Maçonaria através dos símbolos e do ritual.

Alem disso devo ter o cuidado de perceber que a vivência de cada Irm.: associada a sua cultura, também aciona maneiras diferentes de enxergar, ou entender, um determinado assunto de muitas maneiras diferentes.

  1. PARTE

A consciência é um dos muitos temas que tem instigado o pensamento da humanidade. A história da consciência, como registro dos primeiros fatos, pode ser contada desde a época em que as explicações dos fenômenos da natureza, e o comportamento humano, eram narrados através das histórias fantásticas dos mitos.  Na etapa seguinte da evolução do pensamento estão as colocações dos primeiros filósofos, os denominados pré-socráticos para, depois, a mente e o pensamento, entre outros tantos temas,  serem examinados pelos maiores expoentes da filosofia como Platão e Aristóteles, já na base da razão e da lógica. Nessa busca de um melhor entendimento sobre a consciência, tem destaque as pesquisas filosóficas, religiosas e da ciência. Sem esquecer as áreas que se dedicam aos assuntos místicos e esotéricos, que  dão destaque especial a esse tema. Oportuno lembrar que estudos sobre a consciência, vistos pela ciência, estão mais adstritos ao segmento especializado da neurofisiologia, física quântica e da psiquiatria. Sendo que todas essas áreas, que se dedicam ao estudo da mente, e do cérebro,  nos relatam que algum dia, num futuro ainda não determinado, a ciência vai ter  maior e melhor entendimento sobre a consciência. 

Nossa Ordem Maçônica, na sua didática diferenciada, usando principalmente os símbolos, oferece aos estudiosos diversas trilhas, ou indicadores, que possam conduzir a um melhor entendimento sobre a consciência. Mais ainda, a busca de um Ser humano com um comportamento mais adequado ao meio ambiente, a natureza que hoje tem sido abordada mais como meio-ambiente a ser respeitado e bem tratado, e com ênfase as múltiplas facetas das relações das pessoas, como integrantes da humanidade, independente de cor, raça, cultura ou outras características que possam servir de pretexto para discriminar seres humanos. 

Mas podemos iniciar nossa abordagem sobre o tema desde as mensagens que procuram despertar e ampliar a consciência, através do simbolismo estático ou dinâmico. O simbolismo fixo e material é bem visível e está exposto no Templo. Mas devemos destacar o simbolismo dinâmico que estimula nossos sentidos para uma percepção melhor, mais ampla, que nos é proporcionada desde a Iniciação, depois agindo em nossa mente através do Ritual que se realiza em Loja .

Pode-se destacar que muitos símbolos, em especial os dinâmicos, realizados através do Ritual, que um dos primeiros objetivos do processo místico e esotérico é o da busca da INDIVIDUALIDADE. O retorno dos “dispersos”, num sentido mais amplo de um  conhecimento maior que concorra para a formação de juízos adequados, passando pelo crivo do que se possa entender por consciência de uma pessoa.

Oportuno lembrar que se pretende, nessa exposição, identificar melhor o que possa ser entendido como Individualidade.  Isto é, uma pessoa  “não dividida”, “una”. Mais ainda, uma pessoa que  “conhece a si mesma”, portanto, que  conhece sua “sombra”, seu lado obscuro que é o INCONSCIENTE.

De que maneira esse aspecto é induzido ?  Essa indução na busca de uma consciência mais ampla ocorre no ritual e nos símbolos em Loja, através das  diversas  “indicações”, que podem ser identificadas desde o piso mosaico (branco x preto ; a taça doce x amarga ; a fala no ouvido esquerdo x direito”. Mecanismo e processos que sugerem  a busca da  “UNIÃO DOS OPOSTOS, para criar o UNO, não dividido, o INDIVÍDUO. De que opostos estamos falando, dando ênfase, nesse momento ? Dos dois  hemisférios cerebrais. O lado esquerdo que está mais indicado pela ciência, como o lado mais responsável pela RAZÃO,  e o lado DIREITO,  onde reside, ou se processam os mecanismos da INTUIÇÃO e do AMOR. Somente o uso conjugado, no sentido ESOTÉRICO e MÍSTICO de ambos hemisférios, formando uma função de equilíbrio, uma UNIDADE, é que estamos nos encaminhando para o sentido de uma INDIVIDUALIDADE. O acionamento dos dois hemisférios cerebrais não significa que eles atuem fisiologicamente de maneira separada e independente. Ao contrário, a ciência nos relata que o cérebro, de alguma maneira, sempre atua como um conjunto. O destaque que estamos oferecendo  está mais voltado para o campo esotérico. Uma pessoa que tendo aumentado seu conhecimento, tendo trazido o material do seu inconsciente ao nível do consciente possa analisar todas as informações disponíveis e administrá-las ao nível do consciente. Mais ainda, pelo aumento do seu “conhecimento”, agora adicionado de seu conhecimento interno, aquela parcela “adormecida” ou encoberta pela “sombra” que passa a receber a LUZ, as pessoas possam melhor identificar a VERDADE, usando a RAZÃO, com respaldo da sua CONSCIÊNCIA. Podemos exemplificar esse processo como sendo a da busca da individualidade, e de uma razão com base numa consciência mais ampla. 

Pode-se identificar como isso ocorre desde a caminhada do aprendiz : o pé esquerdo avança, indicando que esse lado está sendo acionado pelo lado direito do cérebro, fonte principal da emoção e da intuição para, num segundo momento, ser movida a perna esquerda, quando o pé direito vai se encostar ao pé esquerdo, formando o esquadro. Oportuno lembrar que a perna direita está sendo acionada pela ação do hemisfério esquerdo do cérebro, sede da razão e do raciocínio lógico. O que significa essa conjugação dos dois movimentos, que terminam  com a posição dos pés em esquadro ? Que o primeiro ato, primeiro movimento, o hemisfério direito do cérebro, sede da emoção exerceu sua participação. Mas o Maçom, no caso o Aprendiz, somente estará em condições de deliberar, ter “consciência” dos seus atos, depois de ter encostado e formado o esquadro com o pé direito, como símbolo da medida correta,  sugerido pelo ângulo de noventa graus dos pés. Significa que uma pessoa, no caso,  que esse Aprendiz está acionando os dois lados de cérebro, tornando-o numa UNIDADE. Esotericamente está indicando que estamos na presença de um indivíduo, um Ser não dividido. Depois se pode oferecer o exemplo da transmissão da Palavra no Grau de Aprendiz. A fala parcelada nos dois ouvidos, que apresenta a mesma sugestão, na busca da individualidade. O ouvido esquerdo percebe os sons pelo lado direito do cérebro e o ouvido direito pelo hemisfério esquerdo do cérebro.  Esse simbolismo dinâmico, que na verdade passa a ser um processo, nos sugere que uma pessoa, que um Maçom, passa a conhecer seu inconsciente, está mais apto a trabalhar todo seu conhecimento ao nível da unidade de sua consciência, porque conhece os opostos.

O que isso tem a ver com a CONSCIÊNCIA ? A fase inicial da filosofia especulativa, que sucedeu a época dos mitos, tem como marcos mais destacados as figuras dos chamados pais da filosofia que inicia desde a fase denominada dos pré-socráticos, onde se incluem Thales de Mileto, Parmênides, Anaxágoras para, alguns séculos depois, a humanidade passar a ter conhecimento dos filósofos que faziam seus juízos com base na lógica e na razão. Platão e Aristóteles  abordaram o tema da consciência como um mecanismo, um processo mental, que é gerado a partir da percepção do mundo exterior. Quando uma pessoa toma conhecimento de mais de um aspecto de um determinado tema, atinge o conhecimento dos OPOSTOS, passa a ter as condições para criar suas idéias e formular um juízo, para determinar, de alguma forma, e de acordo com a carga da sua cultura, USOS E COSTUMES, uma adequação, um ajustamento que se constitui, segundo essa visão de fatores externos, da sua tomada de CONSCIÊNCIA.  Não existe ato consciente com base no conhecimento de apenas um dos lados de qualquer questão.

Nesse caso, e dessa forma, Platão e Aristóteles somente buscaram entender e explicar a formação da consciência através de fatores externos. Equivale dizer : percebidos pelos sentidos.

Mais tarde as especulações filosóficas e mais religiosas, como bem representa a Maçonaria, aparentemente não satisfeitas com essa limitação da consciência ser fruto de fatores externos,  passou a estender  a busca  voltada para a parte mais interna, o ESOTÉRICO, que a humanidade possui um conhecimento INATO, uma INTUIÇÃO que entra na composição e formação da sua consciência, independente dos acréscimos e da percepção que possa ter do conteúdo do seu entorno, do mundo exterior que são os fatos percebidos pelos seus sentidos.

Desse aspecto do conhecimento interno deriva o tema para uma abordagem das qualidades divinas do ser humano. Nesse momento não vamos  ampliar idéias e conceitos sobre esse aspecto divino. Vamos apenas nos limitar a constatação da existência do divino no ser humano e da sua interferência nos processos denominados de estados de consciência. Isto posto porque os aspectos divinos fazem  parte, são inerentes aos processos iniciáticos que a nossa Ordem adota  e faz empenho em “despertar” nos “indivíduos”  através dos diversos rituais que visam oferecer, ou permitir que essas qualidades  divinas, que é possível de dizer que se encontram “adormecidas”, se tornem visíveis pela LUZ do conhecimento.

Pode-se fazer algumas observações para melhor entender a influência do ritual, que no nosso entendimento é um símbolo dinâmico, e que busca, nesse processo, a INDIVIDUALIDADE.

“quando da abertura da Loja, o 1º Diácono  faz a sua caminhada e conduz a palavra até o 1º VIG; depois o 2º Diácono inicia sua caminhada no 1º VIG e vai até o 2º VIG, dá a palavra e vai se colocar no Centro da Loja. Nesse momento o 2º VIG diz : está tudo J.: e P.”:

Muitos significados estão contidos nessa parte do ritual. Vamos destacar alguns: somente após passar pela Col.: da Beleza , que corresponde ao “meio dia”, onde e quando a “sombra” tem a menor área, o Sol está a pino, está sendo sugerido que a pessoa passa a conhecer seu inconsciente. Só quem tem a beleza, passou pela Col.: do Sul pode contemplar o Belo. Portanto somente depois de conhecer seu inconsciente, ser uma pessoa não dividida, ter “despertado” seu lado “divino” é  que pode se colocar no “centro da Loja”, - que corresponde ao centro do seu templo, centro do mundo, segundo outros, que é simbolizado pelo coração que se identifica com a câmara do meio, é que estão dispostas as pré-condições para Abertura da Loja. Somente aí estão estabelecidas as  condições que permitem  dizer que tudo está J.: e P.:  Significa que o M.: M.: , nesse momento, depois dessas etapas que o ritual simboliza, está evoluído  nos seus estudos de moral e ética – conhece o “belo”, é após essa etapa que está em condições de ENTENDER e PERCEBER os aspectos DIVINOS. Conhece os opostos, ou a multiplicidade de fatores que, na atualidade, formam o pensamento complexo. Alem de simbolizar e indicar que muitos temas estão além da matéria. É preciso que o homem se eleve ao nível da espiritualidade, do divino,  acessar outro “plano” para ampliar sua consciência. Só aí estará o Maçom em condições de abrir a  Loja (e mais, sua Loja Interna).

Nessa altura é importante chamar a atenção que para melhor entender os conceitos que estamos formulando, é preciso perceber o homem como um composto TRINITÁRIO. Um ser NOOPSICOSSOMÁTICO.

De maneira especial é preciso dizer que a humanidade tem se ocupado de estudar e entender o binômio PSICOSSOMÁTICO, que é a relação da ALMA com o seu próprio CORPO. Quando se percebe que fatos da alma afetam o corpo e vice-versa. Quando o corpo não é bem tratado afeta o estado de ânimo da alma. Pouco tem a humanidade se aprofundado no estudo e entendimento da relação NOÉTICA que é a inter-relação do ESPÍRITO (noo) com a ALMA (psique).

Importante ressaltar que a mais antiga tradição, introduzida desde os primórdios da Maçonaria através da linguagem mística dos símbolos, e dos rituais, oferece uma ampla possibilidade de descobertas. Descobertas essas que precisam ser conquistadas através do estudo e da interpretação das mensagens contidas nos símbolos materiais, visíveis em Loja,  e do simbolismo dinâmico dos rituais. 

 

O conhecimento, ou ampliação do conhecimento dessa composição trinitária – noopsicossomática - é uma parcela do conhecimento que tem falltado na história da humanidade para poder melhor entender sobre a CONSCIÊNCIA e, como conseqüência, a atuação das pessoas na busca da felicidade da humanidade, na construção de uma sociedade mais justa e eqüitativa.

Por oportuno, pode-se registrar que a noção de trindade é parte integrante da doutrina maçônica. O Compasso, mais o Esquadro com a presença virtual do Maçom entre esses dois símbolos. Ampliando essa explicação, pode-se dizer : o Compasso, símbolo do Céu, mais o Esquadro, símbolo da Matéria, quando unidos, pelo “casamento simbólico” em cima do Livro da Lei,  possibilitam a geração do Maçom, o intermediário entre o Céu e a Terra. Pode-se concluir que estamos diante de uma entidade trinitária. O homem – no caso o Maçom - como sendo decorrência da união do aspecto divino com a matéria. A “morte iniciática” do “sacrificador” diante do altar dos juramentos, que substitui e simboliza o altar dos holocaustos de Abrahão ou Moisés, é uma maneira especial de simbolizar a lenda de Hiran.  Naquele mesmo momento da morte ele é ressuscitado, num outro plano. Em outras palavras, nasce um novo homem. O “sacrificador”  que se oferece em sacrifício, se transforma na vítima que é oferecida em favor dos Irmãos e pela humanidade. Transportando o tema para o cristianismo, na missa católica ocorre o mesmo, quando o padre eleva a hóstia e faz a comunhão diante do altar. Não é mais o padre que está ali presente. Ele se transfigura no Cristo, que dá a vida pela humanidade.

Todo esse processo visa a busca da ampliação da consciência, procurando “despertar” o divino que compõe o nosso Ser. Isso parece ser claro e como uma das metas da nossa Ordem.

Meus Irms.:, até aqui abordamos, de maneira geral, com uma certa superficialidade, mas  procurando oferecer a maior abertura e sugestões às muitas  “portas” que possam ser buscadas para que os Irms.: batam e consigam abrir. Somente quem procura acha. Mas é preciso saber o que se procura. 

Cabe a pergunta : o que estamos buscando e fazendo em Loja ?

 

Vladimir D. Dias / Porto Alegre, 26 de maio de 2004.

 

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