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- ESPIRITISMO KARDECISTA -
(RELIGIÃO CRISTÃ ESPÍRITA KARDECISTA)

 
 

ESTUDO DAS RELIGIÕES
(PARTE 2)

 

 
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Sacramento, qualquer uma das ações litúrgicas da Igreja cristã que foram instituídas por Cristo para comunicar a graça ou o poder de Deus. Na definição de Santo Agostinho de Hipona, os sacramentos são sinais externos e visíveis de uma graça espiritual.

Ex opere operato

Ao aceitar a natureza comunicativa dos sacramentos, comprovamos que este comporta em si a graça de Deus, independentemente da fé ou do caráter moral do celebrante ou de seus destinatários.

Caráter sacramental

Certos sacramentos, como a eucaristia e a confissão, podem ser feitos freqüentemente. Outros — como batismo, crisma e ordenação —, são ministrados uma só vez. Isto significa que eles imprimem uma modificação ontológica às pessoas.

Para a Igreja católica existem sete sacramentos:

– Batismo;

– Crisma;

– Eucaristia;

– Confissão;

– Unção dos enfermos (antiga extrema-unção);

– Ordenação;

– Matrimônio.

Os reformistas protestantes declararam existir somente dois sacramentos: o batismo e a eucaristia. Na ótica protestante, estes foram os únicos instituídos por Cristo.


Transubstanciação, na teologia cristã, dogma segundo o qual o pão e o vinho oferecidos na eucaristia transformam-se pela consagração no corpo e no sangue verdadeiros de Jesus Cristo. Opõe-se, portanto, a outras doutrinas, como a consubstanciação.


Consubstanciação, doutrina utilizada para explicar a experiência cristã e a convicção de que Cristo está verdadeiramente presente com seu povo na celebração da eucaristia. Baseia-se nas mesmas premissas filosóficas da doutrina medieval da transubstanciação, à qual se opunha.


Javé, nome do Deus do povo hebreu. A palavra original (que se pronuncia Yahvé ou Yawé) é formada pelas consoantes YHVH ou YHWH, com as vogais incorporadas no texto massorético de uma palavra distinta, Adonai (meu Senhor). Em seu sentido etimológico, é a terceira pessoa do singular imperfeito do verbo havá (ou hayá), que significa "ser". Os antigos intérpretes explicam o verbo de forma abstrata e metafísica, significando algo que aproximadamente afirmaria: "Eu sou o que sou" ou "Eu sou aquele que é", quer dizer, o que existe de uma forma absoluta.


Sefardim, um dos dois grandes agrupamentos em que se dividem os judeus em relação à sua origem geográfica e tradição cultural. A denominação distingue as comunidades judaicas medievais da Península Ibérica e do norte da África, assim como a seus descendentes, dos askenazis, que procedem das comunidades desenvolvidas na Europa setentrional, central e oriental. Os judeus sefardins adquiriram fama por seus feitos intelectuais, por sua tradicional língua vernácula judeu-castelhana (ladino) e por sua fidelidade à tradição babilônica da prática ritual. Os sefardins representam 60% da população judia mundial, entre a qual destaca-se a comunidade estabelecida no Marrocos.


Judeus, termo utilizado, hoje em dia, como sinônimo de hebreus e israelitas. Contudo, no plano histórico e étnico, estas duas palavras têm significado diferente. Na história judaica, hebreu aplica-se de às tribos que aceitavam Javé como único Deus. O termo israelita faz menção a um grupo específico, descendente dos hebreus. O vocábulo judeu refere-se a um terceiro grupo (tribo de Judá) que descende dos anteriores.

Os hebreus em Canaã

É correto identificar os antepassados dos hebreus como arameus nômades. Durante os primeiros anos do segundo milênio a.C., um grupo de tribos araméias migrou para os arredores de Carra, uma antiga colônia babilônica. Séculos mais tarde, grupos familiares destas tribos emigraram para oeste e para o sul, estabelecendo-se nos arredores do rio Jordão. Estas comunidades transformaram-se nas tribos hebréias, dentro das quais se incluem os amonitas, moabitas, edomitas e os hebreus, que rendiam culto a Javé.

Algumas das tribos nômades chegaram ao Egito entre 1694 e 1600 a.C., período em que os hicsos dominaram Egito e alcançaram um importante desenvolvimento até serem derrotados em 1570 a.C. Este fato determinou, para os hebreus, a perseguição, a escravidão e o exílio.

Para a história judaica, o êxodo significou um feito de grandes proporções. O povo foi guiado por Moisés, o primeiro grande profeta, até Canaã, conquistada durante o segundo milênio a.C. Sob o comando de Josué, sucessor de Moisés, as tribos de Javé cruzaram o rio Jordão, conquistaram Jericó e estabeleceram-se no oeste de Palestina.

A monarquia

Com a ascensão ao trono de Saul, o primeiro rei israelita em 1020 a.C., criou-se uma verdadeira entidade política. Mais tarde, com Davi, o reino engrandeceu-se. Salomão, filho e sucessor de Davi, é conhecido por ter mandado construir o Templo de Jerusalém, símbolo da glória israelita. Salomão foi um dirigente poderoso mas, após sua morte (922 a.C.), o reino se dividiu. Jeroboão, seu filho, reinou sobre a parte sul conhecida, mais tarde, como o reino de Judá.

Durante os dois séculos seguintes, a história judaica reduz-se a uma série de lutas entre pequenos estados que, constantemente, brigavam entre si. No século VIII a.C., o poder dos assírios cresceu e eles dominaram o Oriente Próximo. Em 721 a.C., o reino de Israel foi destruído e muitos de seus habitantes partiram para o desterro. O reino de Judá, apesar de ter passado a tributário da Assíria, manteve sua independência nominal.

Em 598 a.C., Nabucodonosor II, soberano da Caldéia, declarou guerra ao reino de Judá, conquistou Jerusalém e os judeus foram deportados para a Babilônia, fato que marcou o fim da independência política do antigo Israel.

O exílio

 

Na Babilônia, os exilados formaram uma florescente colônia. Em 539 a.C., o fundador do Império persa, Ciro II, o Grande, conquistou a cidade. No ano seguinte, publicou um édito outorgando liberdade aos judeus. Aproximadamente 42.000 membros da comunidade babilônica prepararam seu regresso à Palestina. A expedição dirigiu-se a Jerusalém e concentrou-se na reconstrução do Templo, meta atingida no ano 516 a.C. Esta data é considerada o verdadeiro fim do exílio babilônico. No final do século IV a.C. — sendo imperador Alexandre, o Grande — a Macedônia transformou-se na força dominante do mundo.

Depois que os macedônios dominaram os persas, em 331 a.C., a Judéia passou a ser uma província do Império Alexandrino. Alexandre mostrou-se especialmente benévolo com os judeus e centenas deles emigraram para o Egito depois da fundação de Alexandria (Al-Iskandariya).

Em 198 a.C., o rei Antíoco III, da Síria, venceu os egípcios e incluiu a Judéia em seus domínios. Durante o reinado de Antíoco IV a religião judaica foi declarada ilegal. A rebelião dos judeus não demorou e, no mesmo ano, iniciou-se uma revolta liderada pelos Macabeus (família composta por cinco irmãos). As forças judaicas derrotaram os sírios. A dinastia dos Asmoneus, ou Macabeus, conquistou a liderança e seus membros foram reis de um estado judeu independente.

O exército romano entrou em Jerusalém em 62 a.C. e, em 47 a.C., o Reino da Judéia estava sob o controle do Procurador Antípatas. Seu filho — Herodes, o Grande —, tornou-se rei em 37 a.C. O último século do antigo estado judeu foi marcado por desordens políticas e religiosas. Do judaísmo surgiu um segundo movimento, o cristianismo. No princípio, o cristianismo foi considerado uma seita judaica que via no judeu Yoshua (Jesus), filho de Yussef (José) e Míriam (Maria), o tão esperado Messias. Em torno da pessoa e da pregação de Yoshua, o cristianismo cresceu com a mobilidade dos discípulos de Jesus, levando sua crença a outras regiões.

Durante o século I d.C., os conflitos religiosos provocaram sangrentas batalhas. No ano 70, Tito, enviado por Vespasiano, destruiu o Templo e arrasou Jerusalém. A Judéia continuou existindo, embora só nominalmente. Durante a geração seguinte — e sob estrito controle romano —, manteve-se em relativa paz. De 132 até 135 d.C., os judeus fizeram um enorme esforço para se defender, mas a Judéia acabou devastada. Este fato ajudou a aumentar o abismo entre judeus e cristãos. Durante os três primeiros séculos da nova era, o cristianismo aumentou seu poder. Depois do ano 313, quando o imperador romano Constantino I aceitou a nova religião, generalizou-se a expansão cristã e a conseqüente perseguição aos judeus.

Os judeus depois da diáspora

Apesar da destruição do segundo estado, os judeus mantiveram sua identidade e tradições. Reagiram perante a fragmentação do início da era cristã, desenvolvendo uma religião própria no exílio: o judaísmo.

Durante os primeiros seis séculos de exílio, os mestres e os rabinos estabeleceram na Mishná e Guemará — ambas integrantes do Talmude, as bases da lei oral e da interpretação religiosa.

Em 637, os exércitos árabes conquistaram a Mesopotâmia e a religião islâmica tornou-se oficial. Na época, existia importante cooperação entre muçulmanos e judeus, desenvolvendo-se uma cultura baseada na combinação de ensinamentos gregos, persas e indianos. Muçulmanos e judeus desenvolveram a arte e a cultura da Espanha medieval, enquanto, no resto de Europa, predominava o obscurantismo.

Os judeus na Espanha medieval

Em meados do século X, o centro do saber deslocou-se da Mesopotâmia para a Andaluzia, na Espanha. Ali existiam colônias judaicas anteriores à chegada das legiões romanas. Durante um longo período, os judeus tinham sido perseguidos, sobretudo após a conversão dos visigodos ao catolicismo, no século VI. A invasão muçulmana trouxe a tranqüilidade para os judeus espanhóis.

Com a decadência do domínio muçulmano na península Ibérica, em meados do século XIII, terminou a pacífica Era Espanhola. Sob a monarquia católica, os judeus foram degradados e sofreram perseguições periódicas. A Inquisição, criada em 1478, perseguiu também os conversos e, em 1492, todos os judeus que não aceitaram o batismo foram expulsos da Espanha.

Os judeus no mundo moderno

A emigração dos judeus para as Américas começou imediatamente após a fundação das primeiras colônias no novo continente. Inúmeros judeus sefaraditas — descendentes dos chamados marranos (nome injurioso dado aos conversos que mantinham ocultamente a prática de sua religião) que haviam fugido para a Holanda — assentaram-se no Brasil. Quando da invasão holandesa de 1630, fundaram, na cidade do Recife, estado de Pernambuco (nordeste brasileiro), a primeira sinagoga das Américas. Após a expulsão dos holandeses do Brasil — e a subseqüente perseguição pelos Tribunais da Inquisição —, estes judeus brasileiros fugiram do Recife para fundar, em 1654, a primeira comunidade judaica da América do Norte: a colônia holandesa de Nova Amsterdam (hoje Nova York).

Até o final do século XVI, na Europa ocidental só restavam pequenos guetos das antigas comunidades. Com o aumento da liberdade política e social criada pela Reforma protestante, restabeleceu-se a tolerância para com os judeus. Na França, em 1791, a Assembléia Nacional concedeu-lhes o direito a voto. Na Europa Ocidental, em 1860, sua liberdade era total.

Na Europa Oriental, no último terço do século XVIII, mudou a política de tolerância para com os judeus. Ao se produzir a divisão da Polônia, a maior parte dos judeus poloneses ficou em território russo em uma época em que ambos os países, Polônia e Rússia, institucionalizaram políticas de perseguição. Até o fim do regime czarista, em 1917, cerca de 2 milhões de judeus emigraram das regiões sob domínio russo para os Estados Unidos, entre 1890 e o fim da I Guerra Mundial. Outros grupos emigraram da Europa Oriental e se estabeleceram no Canadá, América do sul (especialmente na Argentina), África do sul e Palestina. Uma nova onda de emigração para o continente americano aconteceu até 1941, com o intuito de escapar da perseguição nazista.

Durante o século XIX, em todos os países da Europa Ocidental e nos Estados Unidos, a comunidade judaica experimentou um renascimento cultural conhecido como Haskalá (em hebraico, iluminação). O Haskalá foi importante para o ressurgimento da esperança de um retorno à sua própria terra: a Palestina. Em 1896, Theodore Herzl converteu-se no fundador do Sionismo Político. Durante os 50 anos seguintes, a organização sionista lutou para alcançar seu objetivo que, finalmente, concretizou-se com a criação do Estado de Israel, em 1948.

Durante a primeira metade do século XX, o anti-semitismo (tradicional movimento de oposição aos judeus) converteu-se numa força importante na política européia, especialmente na Alemanha. Na década de 1930, o desenvolvimento do nacional-socialismo (nazismo) ameaçou todos os indivíduos de origem judaica. Sob o poder nazista na Europa ocidental, estima-se que tenham sido mortos 6 milhões de judeus europeus. Este período de perseguições e extermínio recebeu o nome de Holocausto.


Moisés, profeta e legislador hebreu, fundador de Israel, ou do povo judeu. É venerado também no Islã onde é chamado de Musa. A história de sua vida é relatada nos livros Êxodo e Deuteronômio, do Antigo Testamento. Segundo estes relatos, nasceu em Gessém, região do antigo Egito. Sua mãe colocou-o numa cesta no rio Nilo, de onde foi resgatado pela filha do faraó. Já adulto, Moisés matou um egípcio e teve de fugir. Tinha 80 anos quando Jeová lhe apareceu em uma sarça ardente e ordenou que ele voltasse ao Egito para salvar seu povo da escravidão, guiando-os até a terra de Canaã, mais tarde denominada Palestina. Para ajudá-lo na tarefa, Jeová deu-lhe o poder de realizar milagres.

Moisés se apresentou, com seu irmão Aarão, diante do faraó que, somente após ter sofrido as sete pragas enviadas por Deus, permitiu-lhe conduzir os hebreus à Canaã, porém logo se arrependeu. Quando chegaram ao mar Vermelho, um exército egípcio se aproximou e Moisés dividiu as águas. Os hebreus atravessaram pelo corredor central mas, quando os egípcios tentaram segui-los, as muralhas de água caíram sobre eles e os afogaram. Chegando ao monte Sinai, Moisés subiu ao cume para falar com Jeová. Permaneceu ali 40 dias e 40 noites e recebeu duas tábuas de pedra onde estavam gravados os Dez Mandamentos. A travessia do deserto durou 40 anos até a chegada à Canaã. Antes de morrer, Moisés entregou a liderança do povo a Josué. Embora seja difícil precisar as datas de seu nascimento e morte, numerosos especialistas contemporâneos afirmam que o êxodo aconteceu no século XIII a.C. A tradição atribui a Moisés a autoria dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento que constituem o Pentateuco.


Êxodo, segundo livro do Antigo Testamento. Recebeu este nome por relatar a partida dos judeus do Egito e sua travessia do deserto até chegar ao monte Sinai. Os judeus chamam-no Shemot ("nomes").

O Livro do Êxodo relata os acontecimentos ocorridos entre a morte de José, no Egito, e a construção, pelos hebreus, do Tabernáculo Sagrado no Sinai. Os primeiros 15 capítulos tratam da opressão dos judeus nas mãos egípcias após a morte de José, do nascimento de Moisés e sua salvação de um massacre, da escolha divina de Moisés para liderar a saída do povo de Israel do Egito, das dez pragas que caíram sobre o Egito, da libertação dos judeus da terra do Egito e do exército do faraó, no mar Vermelho ou "mar dos Juncos", ocasionalmente identificado com o terreno alagadiço situado ao norte do mar Vermelho, talvez, o lago Timsah.

Os acontecimentos mais importantes do final do Êxodo (capítulos 16 a 40) descrevem o deserto do Sinai, onde os judeus montaram acampamento após vagarem durante meses.


Sinai, Monte, segundo o Antigo Testamento, é a montanha em que Moisés recebeu de Jeová as tábuas dos Dez Mandamentos. Em outras passagens da Bíblia, ele recebe o nome de Horeb. É um pico situado em um maciço rochoso que ocupa quase toda a península do Sinai, a nordeste do Egito, entre o golfo de Suez e o golfo de Ácaba.


Dez Mandamentos, denominação dos preceitos que, segundo o Antigo Testamento, foram entregues por Deus a Moisés no Monte Sinai. De acordo com o Êxodo (31,18), foram gravados pelo próprio Deus sobre duas tábuas de pedra. É provável que se tratasse de tábuas de argila, do tipo utilizado na escrita cuneiforme. Mais tarde, Moisés destruiu as tábuas, irritado porque seu povo havia abandonado sua fé. Deus ordenou-lhe, então, lavrar novas tábuas, que foram depositadas na Arca da Aliança.

É possível encontrar amplas seções do Decálogo nas leis de outros povos da Antigüidade. Por exemplo, na religião egípcia, era obrigatório o cumprimento de determinados preceitos (as proibições de roubar, matar e comportar-se de forma injusta) para entrar no templo de Osíris, deusa e sacerdotisa dos mortos.


Arca da Aliança, no judaísmo, urna sagrada. Conhecida também como a Arca da Lei, a Arca do Testemunho ou a Arca de Deus. Continha a vara de Aarão, o maná e os Dez Mandamentos.


Vermelho, Mar, estreito mar interior que separa a península Arábica, no oeste da Ásia, da parte nordeste da África. A profundidade máxima do mar é de cerca de 2.130 m, sua largura máxima fica em torno de 355 km, e seu comprimento é de 2.252 km. O mar Vermelho se formou quando a península Arábica se afastou da África, há 20 milhões de anos. Este mar serviu ao mundo islâmico como a principal artéria de comunicação e comércio com a África oriental, Pérsia e Extremo Oriente. Com a construção do canal de Suez, conseguiu-se uma passagem direta entre a Europa e o Extremo Oriente. Entre os principais portos do mar Vermelho contam-se Suez, El-Qusayr e Sawakin.


Canaã, Terra de, no Antigo Testamento, designação do território situado a oeste do rio Jordão, mais tarde chamado Palestina. É também o nome do suposto antecessor (filho de Cam e neto de Noé) dos cananeus. Para os israelitas, é a Terra Prometida.


Palestina, região histórica cuja extensão passou por grandes variações desde a antiguidade, situa-se na costa oriental do mar Mediterrâneo, a sudoeste da Ásia. Atualmente, é dividida em grande parte entre Israel, os territórios independentes palestinos da Cisjordânia e da faixa de Gaza e a Jordânia.

Em geral, a região divide-se em quatro zonas paralelas. São elas, de oeste para leste: a planície costeira; as colinas e montanhas da Galiléia, Samaria e Judéia; o vale do Jordão, que separa a Cisjordânia da Transjordânia; e o planalto oriental. No extremo sul, encontra-se o deserto acidentado Negev.

No III milênio a.C., os cananeus estabeleceram-se em diversas cidades-estados, uma das quais foi Jericó. Sua localização transformou a Palestina em ponto de encontro de influências religiosas e culturais procedentes do Egito, da Síria, da Mesopotâmia e da Ásia Menor. Foi também o campo de batalha natural das grandes potências da região e esteve sob o domínio dos impérios vizinhos, como o Egito.

A partir do século XIV a.C., quando o poder egípcio começou a declinar, apareceram os hebreus e os filisteus. Os israelitas, uma confederação de tribos hebréias, derrotaram os cananeus por volta do ano 1125 a.C. O Estado estabelecido pelos filisteus na costa meridional da Palestina foi derrotado por Davi, que estabeleceu um grande reino independente, que tinha Jerusalém como capital. Em 922 a.C., o reino foi dividido em dois: Israel, ao norte, e Judá, ao sul. Israel caiu diante a Assíria nos anos 722 e 721 a.C., e Judá foi conquistada pela Babilônia em 586 a.C. Exilados, os judeus puderam manter a sua identidade nacional e religiosa. Ciro o Grande, da Pérsia, que conquistou a Babilônia em 539 a.C., permitiu que eles regressassem para a sua terra. Sob o domínio persa, desfrutaram de considerável autonomia. Reconstruíram as muralhas de Jerusalém e codificaram a lei mosaica, a Torá.

Alexandre o Grande, conquistou a região em 333 a.C. Tentou impor a cultura e religião helenísticas à população, mas os judeus rebelaram-se e organizaram um estado independente (141-63 a.C.), que perdurou até Pompeu conquistar a Palestina para Roma e transformá-la em uma província governada por judeus. Durante o reinado de Herodes o Grande (37-4 a.C.), nasceu Jesus Cristo. Explodiram duas revoltas judias contra o domínio romano. Após a segunda, a dura repressão romana provocou a dispersão dos judeus. A Judéia passou a chamar-se Palestina, que começou a receber uma atenção especial quando Constantino I legalizou o cristianismo em 313 d.C. Desde então, a Palestina, na qualidade de Terra Santa, transformou-se no centro das peregrinações cristãs. A maioria da população helenizou-se (ver Helenismo) e cristianizou-se.

Em 638 d.C., os muçulmanos conquistaram Jerusalém. A maior parte dos palestinos adotaram a cultura árabe e islâmica. A Palestina sofreu desordens e a dominação sucessiva dos selêucidas, dos fatímidas, dos cruzados europeus (ver Califado; Cruzadas) e dos mamelucos. Os turcos otomanos governaram de 1517 a 1917. No século XIX, as potências européias, em busca de matérias-primas e mercados, e movidas também por interesses estratégicos, voltaram-se para o Oriente Próximo. A intensificação do anti-semitismo estimulou os judeus europeus a buscar refúgio em sua terra prometida, a Palestina. Alguns dirigentes palestinos reagiram alarmados à imigração e tornaram-se opositores ferrenhos do sionismo. Os britânicos expulsaram os turcos da Palestina. As organizações sionistas começaram a considerar a formação de um Estado judeu em toda a Palestina. Essa atitude provocou o repúdio dos palestinos, temerosos de ser expropriados de seus territórios. A emigração aumentou bruscamente com a chegada do regime nazista à Alemanha.

A luta pela Palestina foi retomada em 1945. Em 1947, finalmente os britânicos transferiram o problema para as Nações Unidas. Os palestinos superavam os judeus em número, mas esses estavam melhor preparados. Os palestinos recusaram-se a aceitar o plano da ONU que estabelecia a divisão da zona em dois Estados, um árabe e outro judeu.

O Estado de Israel foi formado em 1948. Cinco exércitos árabes atacaram imediatamente, mas foram derrotados pelas forças israelenses, e o novo Estado aumentou o seu território. A Jordânia tomou a margem oeste do rio Jordão e o Egito ocupou a faixa de Gaza. A guerra provocou o exílio de 780.000 palestinos, que se espalharam pelos países vizinhos. Em 1967, durante a Guerra dos Seis Dias, Israel conquistou a Cisjordânia e a faixa de Gaza.

Em 1993, após décadas de conflitos violentos entre palestinos e israelenses, os seus dirigentes Yasser Arafat e Yitzhak Rabin firmaram o acordo de pacificação da região. O plano contemplava a autonomia da faixa de Gaza e Jericó. A administração palestina dessas áreas começou em maio de 1994. As atitudes intransigentes de extremistas judeus (por exemplo, assassinato de Yitzhak Rabin em 1995) e do grupo palestino Hamas põem em perigo os acordos do tratado de paz.


Jerusalém, capital e maior cidade de Israel, situada entre o mar Mediterrâneo e o mar Morto, a aproximadamente 93 km à leste de Tel Aviv-Jaffa. Jerusalém é uma cidade santa para três grandes religiões monoteístas do mundo: judaísmo, cristianismo e islamismo.

Lugar sagrado para os cristãos, por ser o cenário da Última Ceia, da crucificação e ressurreição de Jesus Cristo; para os judeus é um símbolo de sua terra natal, lugar onde se encontra o Templo de Jerusalém, e para os muçulmanos é sagrada por ser o local de onde o profeta Maomé ascendeu ao céu.

Na Jerusalém atual há duas partes claramente diferenciadas: a cidade antiga e a nova. Entre os monumentos mais notáveis da cidade antiga encontram-se a basílica do Santo Sepulcro; o Muro Ocidental Judeu, também chamado Muro das Lamentações, que é o que sobrou de um grande templo construído por Herodes, o Grande; a Mesquita da cúpula da Rocha, construída no lugar em que se acredita que Maomé tenha subido ao céu, a colina de Al Aqsa e a Cidadela, uma estrutura do século XIV, construída no lugar onde se encontrava a fortaleza de Herodes. Os lugares mais interessantes da cidade nova são: o Museu de Israel, a Universidade Hebraica de Jerusalém (1918) e os edifícios do Knesset (Parlamento) israelita, construído em 1965.

O lugar onde se encontra Jerusalém é habitado desde o paleolítico. Os habitantes originais foram expulsos pelos cananeus, um povo que é mencionado no Antigo Testamento. Caiu sob o domínio egípcio no século XV a.C. Mais tarde, por volta de 1250 a.C. os hebreus iniciaram a conquista de Canaã. No entanto, as fortificações de Jerusalém impediram durante 200 anos que a cidade sucumbisse, até que finalmente foi ocupada por David, depois de ter sido ungido rei de Israel (2 Sam. 5,6-9; 1 Crôn. 11,4-7). Salomão concluiu o Templo aonde foi guardada a Arca da Aliança, a levou à sua época de maior esplendor e transformou-a na cidade sagrada do judaísmo.

A conquista romana ocorreu no ano 63 a.C. e o período de auge aconteceu durante o reinado de Herodes, o Grande. A rebelião dos judeus contra a autoridade romana fez com que o imperador Tito invadisse e arrasasse a cidade e o Templo, no ano 70 d.C., o que supostamente deu início à grande diáspora.

O imperador Adriano, em sua tentativa de romanização, proibiu a circuncisão, o que provocou rebeliões entre os anos 132 e 135, sufocadas com medidas drásticas: proibiu que os judeus vivessem na parte antiga e construiu uma cidade nova chama Aelia Capitolina.

Com Constantino I, o Grande o cristianismo converteu-se na religião do Império e os cristãos peregrinaram e colonizaram a cidade, na qual foram construídas muitas igrejas, entre elas a do Santo Sepulcro, também foi a época da redação do Talmud de Jerusalém.

Novamente a cidade foi conquistada pelos persas, sob o comando do rei Cosroes II, no ano 614 e depois, em 637 pelos muçulmanos, chefiados pelo califa Omar I. Foi quando construíram a mesquita da cúpula da Rocha. Os turcos seldjúquidas chegaram no ano 1071 e proibiram a entrada na cidade dos peregrinos cristãos, fato que desencadeou as Cruzadas. Em 1099, os cruzados, dirigidos pelo nobre francês Godofredo de Bouillon, conquistaram a cidade, que passou a pertencer ao reino latino de Jerusalém até 1187, ano em que foi reconquistada pelos muçulmanos, sob o comando de Saladino I.

Desde o século XIII, Jerusalém continuou recebendo investidas de outros povos conquistadores ao mesmo tempo em que recebia muitos judeus europeus que fugiam de diferentes perseguições. O mandato britânico da Palestina durou vinte e seis anos (de 1922 a 1948), quando então foi proclamado o Estado de Israel. Novamente Jerusalém foi cenário de sangrentas lutas entre judeus e árabes, que não aceitavam o plano de divisão da ONU, segundo o qual, Jerusalém transformava-se em área internacionalizada, assegurando o livre acesso aos lugares santos das diferentes religiões. Isto foi resolvido com uma divisão na qual Israel ficava com a parte nova e a Jordânia com a parte antiga e seus arredores (Jerusalém Oriental). Em 1950, o Knesset decretou que Jerusalém seria a capital de Israel e, em 1980 consumou sua reunificação, embora não houvesse reconhecimento da comunidade internacional. Os acordos assinados em 1993, entre Arafat e Yitzhak Rabin, previam que Jerusalém oriental seria palestina. Mas, em 1996 assentamentos judeus nesta parte da cidade, desencadearam novos conflitos. População (1992, incluída a cidade antiga), 556.500 habitantes.


Cruzadas, expedições militares realizadas pelos cristãos da Europa Ocidental, organizadas a partir de 1095, normalmente a pedido do Papa, para recuperar o território de peregrinação conhecido pelos cristãos como Terra Santa (entre eles, Jerusalém) e que estavam sob o controle dos muçulmanos. A palavra cruzada (do latim crux, ‘cruz’, o emblema dos cruzados) foi aplicada também, especialmente no século XIII, às guerras contra os povos pagãos, contra os hereges cristãos e contra os inimigos políticos do Papado e a qualquer guerra religiosa.

A origem das Cruzadas está enraizada no cataclismo político resultante da expansão dos Seljúcidas no Oriente Próximo na metade do século XI. As Cruzadas também foram o resultado da ambição de alguns papas que buscaram ampliar seu poder político e religioso. Por outro lado, as expedições ofereciam grandes oportunidades comerciais aos mercadores das poderosas cidades do ocidente.

As Cruzadas foram um grande atrativo para a sociedade contemporânea. Sua popularidade foi solidificada na compreensão da sociedade que apoiou esse movimento. Era uma sociedade de crentes, e muitos cruzados estavam convencidos de que sua participação na luta contra os infiéis lhes garantiria a salvação espiritual. Também era uma sociedade militarista na qual as esperanças e as ambições estavam associadas às façanhas militares.

As primeiras Cruzadas

Em 1095, o papa Urbano II planejou a primeira Cruzada na qual os cruzados se agrupariam em Constantinopla e, partindo de lá, realizariam uma campanha contra os muçulmanos da Síria e Palestina, sendo Jerusalém seu objetivo principal.

Os exércitos da nobreza e o povo comum procedente da França, do sul da Itália e das regiões da Lorena, Borgonha e Flandres participaram dessa Cruzada. Os cristãos tomaram Jerusalém em 1099 e elegeram um de seus chefes, Godofredo de Bouillon, duque da Baixa Lorena, como governante da cidade. A maioria dos cruzados regressou à Europa, permanecendo uma pequena tropa de reserva da força original para organizar e estabelecer o governo e o controle latino (ou europeu ocidental) sobre os territórios conquistados. Dos quatro estados que surgiram, o maior e mais poderoso foi o reino latino de Jerusalém.

As conquistas da primeira Cruzada se deveram em grande parte ao isolamento e à fraqueza relativa dos muçulmanos. Contudo, a geração posterior a essa Cruzada contemplou o início da reunificação muçulmana no Oriente Próximo sob a liderança de Imad al-Din Zangi. Sob seu comando, as tropas muçulmanas obtiveram sua primeira grande vitória contra os cruzados, quando tomaram a cidade de Edessa em 1144. Depois disso, os muçulmanos desmantelaram sistematicamente os estados cruzados na região.

A resposta do Papado a esses sucessos foi proclamar a segunda Cruzada no final de 1145. A nova convocação atraiu vários expedicionários, entre os quais se destacaram o rei da França, Luís VII, e o imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Conrado III.

O fracasso da segunda Cruzada permitiu a reunificação das potências muçulmanas. Em 1169, suas tropas, sob o comando de Saladino, obtiveram o controle do Egito. Este invadiu o reino de Jerusalém em maio de 1187 e apoderou-se da maior parte das fortalezas dos cruzados no território.

Em 1187, o papa Gregório VIII proclamou a terceira Cruzada. Dela participaram o imperador do Sacro Império Frederico I, Filipe II e Ricardo I Coração de Leão, constituindo a maior força cruzada já agrupada desde 1095. Conseguiram tomar várias cidades mediterrâneas do controle de Saladino. Quando Ricardo I partiu da Palestina, o reino latino havia sido restabelecido, perdurando em condições precárias por mais um século.

As últimas Cruzadas

As últimas Cruzadas não obtiveram os êxitos militares da terceira Cruzada. A quarta, que durou dois anos, de 1202 a 1204, foi cheia de dificuldades financeiras. Em um esforço para aliviá-las, os chefes cruzados concordaram em atacar Constantinopla junto com os venezianos e desejavam o trono do Império Bizantino. Os cruzados conseguiram tomar Constantinopla, que foi saqueada sem misericórdia. O Império Latino de Constantinopla, criado nessas circunstâncias, sobreviveu até 1261, data em que o imperador bizantino Miguel VIII, Paleólogo retomou Constantinopla. A primeira ofensiva da quinta Cruzada (1217-1221) tinha como objetivo capturar o porto egípcio de Damieta (Dumyat), o que foi conseguido em 1219. A estratégia posterior requeria assegurar o controle da península do Sinai. Não obtiveram todos os seus objetivos, já que os reforços prometidos por Frederico II não chegaram, razão pela qual ele foi excomungado pelo papa Gregório IX.

Posteriormente, Frederico II organizou uma Cruzada por sua própria conta, marchou até a Terra Santa e, sem o apoio do papado, conseguiu que os egípcios devolvessem Jerusalém aos cruzados. Ao mesmo tempo, o Papa proclamou outra Cruzada, desta vez contra Frederico, e seguiu atacando as possessões italianas do imperador.

Transcorridos quase 20 anos, Luís IX da França organizou uma Cruzada motivada pela reconquista de Jerusalém por parte dos muçulmanos; o resultado foi um fracasso.

Pouco a pouco, as cidades e os castelos dos estados cruzados caíram nas mãos dos poderosos exércitos mamelucos. A última praça forte, Acre, foi tomada em 1291 e os cruzados, junto com as ordens militares dos Cavaleiros Templários e Hospitalários, buscaram refúgio em Chipre e posteriormente na ilha de Rodes, até sua rendição aos turcos em 1522.


Jerusalém, Reino latino de, estado medieval cristão que compreendia o território hoje constituído por Israel, parte da Jordânia e do Líbano, e cuja capital era Jerusalém. Foi fundado depois da tomada de Jerusalém pelos cristãos, na primeira Cruzada , em 1099. Existiu até 1291, ano em que os muçulmanos conquistaram Acre e extinguiram o reino latino.


slã, importante religião mundial (a população muçulmana é estimada em mais de 935 milhões), originária da península da Arábia e baseada nos ensinamentos de Maomé (570-632), chamado o Profeta. Segundo o Alcorão, o Islã é a religião universal e primordial. O muçulmano é um seguidor da revelação divina contida no Alcorão e formulada pelo profeta Maomé. Já que, no Alcorão, muçulmano é o nome dado aos seguidores de Maomé (Alcorão 22,78), os muçulmanos sentem-se ofendidos quando são chamados de maometanos pois isto implica a idéia de um culto pessoal a Maomé, proibido no Islã.

Doutrina e prática

As duas fontes fundamentais da doutrina e da prática islâmicas são o Alcorão e a sunna (conduta exemplar do profeta Maomé). Os muçulmanos consideram o Alcorão como a palavra "incriada" de Deus, revelada a Maomé através de Gabriel, o arcanjo da revelação. Os islamitas acreditam que Deus, e não o Profeta, é o autor destas revelações. Por isto, o Alcorão é infalível.

O Alcorão contém as revelações transmitidas a Maomé durante os quase 22 anos de sua vida profética (610-632). A segunda fonte essencial do islã, a sunna ou exemplo do Profeta, é conhecida através dos Hadith, recompilação de tradições baseadas no que disse ou fez o Profeta. Ao contrário do Alcorão, os Hadith não são considerados infalíveis.

O monoteísmo é uma matéria central para o Islã: a crença em um Deus (Alá), único e onipotente. Deus desempenha quatro funções fundamentais no Universo e na humanidade: criação, sustentação, orientação e julgamento, que se conclui com o dia do Juízo, no qual a humanidade será reunida e todos os indivíduos serão julgados de acordo com seus atos. Deus, que criou o Universo por absoluta misericórdia, é obrigado também a mantê-lo. A natureza é subordinada aos homens que podem explorá-la e beneficiar-se dela. Todavia, o último objetivo humano consiste em existir para o "serviço de Deus".

No que se refere à prática islâmica, cinco deveres — conhecidos como os "pilares do Islã" — são fundamentais:

– profissão da fé ou testemunho; "Não há nada superior a Deus e Maomé é seu enviado". Esta profissão deve ser feita, publicamente, por cada muçulmano pelo menos uma vez na vida.

– cinco orações diárias. Durante a oração, os muçulmanos olham em direção à Caaba, em Meca (Makka). Antes de cada oração comunitária, é feita uma chamada pública, pelo muezim, a partir do minarete da mesquita.

– Pagar o zakat (óbolo), instituído por Maomé.

– jejum no mês de Ramadã.

– peregrinação à Caaba, em Meca. Todo muçulmano adulto, capacitado fisicamente e dotado de bens suficientes, deve realizá-la pelo menos uma vez na vida.

Além destas cinco instituições básicas, o Islã impõe a proibição do consumo de álcool e carne de porco. Além da Caaba, os centros mais importantes da vida islâmica são as mesquitas.

Islã e sociedade

O conceito islâmico de sociedade é teocrático, sendo que o objetivo de todos os muçulmanos é o "governo de Deus na Terra". A filosofia social islâmica baseia-se na crença de que todas as esferas da vida constituem uma unidade indivisível que deve estar imbuída dos valores islâmicos. Este ideal inspira o Direito islâmico, chamado sharia, que explica os objetivos morais da comunidade. Por isso, na sociedade islâmica, o termo Direito tem um significado mais amplo do que no Ocidente moderno secularizado, pois engloba imperativos morais e legais.

A base da sociedade islâmica é a comunidade dos fiéis que permanece consolidada no cumprimento dos cinco pilares do islã. Sua missão é "inspirar o bem e proibir o mal" e, deste modo, reformar a Terra. A luta por este objetivo tenta se concretizar através da jihad (guerra santa) que, se for necessário, pode englobar o uso da violência e a utilização de exércitos. A finalidade prescrita pela jihad não é a expansão territorial ou a tomada do poder político, e sim a conversão dos povos ao Islã.

História

Na época de Maomé, a península da Arábia era habitada por beduínos nômades — dedicados à criação de rebanhos e saques —, e pelos árabes que viviam do comércio. A religião dos árabes pré-islâmicos era politeísta e idólatra, embora existisse uma antiga tradição de monoteísmo. Maomé foi precedido por oradores monoteístas, mas com pouco êxito. Pertencente ao clã Haxemita, da tribo beduína Curaichita, Maomé iniciou seu ministério aos 40 anos, quando começou a pregar em Meca, sua cidade natal. Depois de quatro anos, convertera cerca de 40 pessoas. Hostilizado pelos outros habitantes que viam naquele discurso monoteísta uma ameaça aos lucros obtidos com as caravanas que paravam em Meca para reverenciar ídolos locais, Maomé acabou fugindo para Medina, em 622. A partir deste acontecimento, conhecido por Hégira, inicia-se o calendário islâmico. Na ocasião de sua morte, em 632, Maomé já era o dirigente máximo de uma religião que ganhava poder com grande rapidez.

A primeira escola importante de teologia islâmica, a mutazilita, surgiu graças à tradução das obras filosóficas gregas para o árabe, nos séculos VIII e IX, e ressaltava a razão e a lógica rigorosa. A questão da importância das boas ações continuava, mas a ênfase principal era na absoluta unicidade e justiça de Deus. Os mutazilitas foram os primeiros muçulmanos a adotar os métodos filosóficos gregos para difundir suas idéias. Alguns de seus adversários utilizaram os mesmos métodos e o debate resultou no movimento filosófico islâmico, cujo primeiro representante importante foi al-Kindi (século IX), que tentou conciliar os conceitos da filosofia grega com as verdades reveladas do islã. No século X, o turco al-Farabi foi o primeiro filósofo islâmico a subordinar revelação e lei religiosa à filosofia. Defendia que a verdade filosófica é idêntica em todo o mundo e que as diversas religiões existentes são expressões simbólicas de uma religião universal ideal. No século XI, o filósofo e médico persa muçulmano Avicena (Ibn Sina) conseguiu a mais sistemática integração do racionalismo grego com o pensamento islâmico. Averroés, o filósofo e médico hispano-árabe do século XII, defendeu os conceitos aristotélicos e platônicos e converteu-se no filósofo islâmico mais importante da história intelectual do Ocidente.

O estagnação da cultura islâmica depois da Idade Média resultou em uma renovada insistência no pensamento original (ijtihad) e nos movimentos de reforma religiosa, social e moral. O primeiro deste tipo foi o wahabita, nome dado em homenagem a seu fundador Ibn Abd al-Wahhab que surgiu na Arábia, no século XVIII, e converteu-se no líder de um grande movimento que se integrava com as ramificações do mundo muçulmano. Outros reformistas islâmicos foram marcados por idéias ocidentais como Mohamed Abduh ou Mohamed Iqbal. Embora as idéias modernas estejam baseadas em interpretações plausíveis do Alcorão, os fundamentalistas islâmicos opuseram-se fortemente a elas, sobretudo a partir de 1930. Não são contra a educação moderna, a ciência e a tecnologia, mas acusam os reformistas de difundirem a moralidade ocidental. Por fim, o ressentimento que os muçulmanos sentem pelo colonialismo ocidental fez com que muitos deles relacionassem às culturas do ocidente tudo que seja sinônimo e representação do mal.


Alcorão, texto sagrado do Islã. O nome, em árabe, significa ‘lido’ ou ‘recitado’. Esta palavra pode ser uma forma arabizada de origem síria e se aplica ao livro que contém, para os muçulmanos, uma série de revelações de Alá (Deus) a Maomé. Estas revelações começaram nas primeiras décadas do século VII, quando Maomé já tinha 40 anos, e ocorreram em Meca (Makka), cidade natal do Profeta, e Medina (al-Madinah).

A composição do Alcorão

As revelações foram feitas em árabe e, segundo as crenças muçulmanas, através do arcanjo Gabriel (Yibrail). Quando Maomé as proclamou, os ouvintes memorizavam e, às vezes, escreviam-nas em folhas de palma, fragmentos de osso ou peles de animais. Após a morte de Maomé, no ano 632 d.C., seus seguidores começaram a recolhê-las e, durante o califado de Omar, em 650, elas foram recompiladas no Alcorão, tal como o conhecemos hoje. A escrita árabe só exibe as consoantes e não as vogais. Reza a lenda que as vogais foram introduzidas no texto mais tarde.

Forma e conteúdo

O Alcorão está dividido em 114 capítulos (suras), com títulos aleatórios que, geralmente, não estão associados ao texto. Os capítulos dividem-se em versículos (ayat), trabalho posterior à divisão em capítulos e que, dependendo da edição, nem sempre é igual. O Alcorão é similar, em número de palavras, ao Novo Testamento da Bíblia cristã.

O árabe em que está escrito o Alcorão é distingue-se de qualquer variante idiomática árabe. É uma mescla de prosa e poesia sem métrica, difundida, entre os beduínos, para veicular uma literatura essencialmente oral. Nesta língua, o Alcorão foi recitado e sua redução à palavra escrita - cujas regras gramaticais começaram a ser fixadas, no século VIII, por filólogos - gerou o árabe literário clássico que se tornou a língua oficial, embora inúmeros dialetos sejam falados no mundo islâmico. O estilo do Alcorão é alusivo e elíptico, com gramática e vocabulário difícil. Igual a outras escrituras, está sujeito a diferentes interpretações.

Em conteúdo, o Alcorão consiste num conjunto de preceitos e recomendações éticas e morais, advertências sobre a chegada do último dia e Juízo Final, histórias sobre profetas anteriores a Maomé e povos a quem foram enviados, preceitos sobre religião, vida social, matrimônio, divórcio ou herança. A mensagem, em essência, é que existe um só Deus, criador de todas as coisas, ao qual há que se servir, praticando o culto e observando conduta correta. Deus é sempre misericordioso e tem se dirigido à humanidade para que ela O venere nas pessoas dos diversos profetas enviados por Ele.

Importância e interpretação do Alcorão

Os islâmicos acreditam que o Alcorão é A Palavra de Deus. Por isto, é o centro da vida religiosa, sendo comparável à Torá dos judeus ou ao Novo Testamento cristão. A oração diária obrigatória inclui a recitação de versículos e capítulos. A educação dos jovens muçulmanos inclui sua aprendizagem de memória. Para os seguidores do Islã, o Alcorão é a fonte principal do Direito do Islã, juntamente com a sunna (comportamento e práticas do Profeta).

A interpretação do Alcorão (tafsir) é um campo de investigação que vem da época da codificação do texto até nossos dias. Foram escritos numerosos livros sobre o tema. Existem comentários atribuídos a estudiosos dos três primeiros séculos do islamismo, mas o trabalho recente mais importante de tafsir pertence a al-Tabari, falecido no ano 923. O trabalho de al-Tabari analisa cada verso do Alcorão e oferece diversas opiniões de estudiosos da época em relação à vocalização, gramática, lexicografia, interpretação ética, moral e a relação do texto com a vida de Maomé.

A tradição do tafsir reflete, muitas vezes, as divergências e tendências do islamismo. A interpretação xiita de alguns versos difere, radicalmente, da interpretação sunita. Nos últimos tempos, tanto os modernistas reformistas, como os fundamentalistas, têm interpretado o texto de maneira que este se adapte a seus respectivos pontos de vista. Alguns afirmam que o Alcorão, não só está de acordo com muitas idéias da ciência moderna, como, também, as predisse. É, muitas vezes, a própria natureza dúbia do texto corânico que favorece interpretações tão divergentes.

Traduções

Outro motivo de controvérsia tem sido se o Alcorão deve ser traduzido do árabe original para outros idiomas. Em caso positivo, sob que circunstâncias pode se realizar esta tradução. Apesar desta discussão, o Alcorão tem sido traduzido por muçulmanos, e não-muçulmanos, para uma grande variedade de idiomas. A primeira tradução para uma língua européia foi a versão latina, realizada em 1143, pelo estudioso inglês Robert de Ketton, sob encomenda de Pedro, o Venerável. Ao que se saiba, as primeiras versões em língua vulgar foram em catalão, a mando de Pedro IV, e outra trilingüe - latim, castelhano e árabe -, de Juan de Segovia (1400-1458), hoje perdida.


Alá, do árabe Allah, nome dado no Islã a Deus, que é único, perfeito, não criado, eterno, onipotente e criador. Maomé utilizou este nome, já existente nas culturas pré-islâmicas, para referir-se ao único Deus do qual era profeta. Segundo a tradição islamita, existem 99 nomes para referir-se a Deus. Estes nomes são chamados de Os Mais Formosos.

No tocante aos problemas relativos à natureza de Deus e sua relação com o mundo, criou-se uma complexa teologia que, no mundo islâmico, denomina-se Kalam. Um dos principais problemas discutidos é se as atitudes humanas são realizadas por vontade própria ou predeterminadas por Deus. Por um lado, Deus é visto como a causa e criador de todas as coisas. Por outro, Deus torna os homens responsáveis por seus atos e os premia ou pune de acordo com eles. Estas duas proposições são contraditórias. Uma afirma o poder absoluto de Deus; a outra, a responsabilidade do homem diante das próprias decisões.

Outro problema que preocupa os teólogos muçulmanos é se Deus tem atributos e, caso seja assim, como esses atributos se relacionam com a natureza divina. A controvérsia, no que tange aos atributos, estende-se a outros temas, associando-se, por exemplo, ao argumento sobre se o Alcorão é criado ou não. Outro aspecto da discussão é sobre a linguagem usada pelas pessoas para falarem com Deus. Em geral, os muçulmanos referem-se a Deus de maneira antropomórfica. Na Bíblia, Deus é descrito, entre outras formas, sentado num trono.


Teologia, disciplina que expressa a razoabilidade dos conteúdos de uma fé religiosa, apresentados em um conjunto coerente de proposições.

A teologia aplica, no estudo de seus conteúdos, os procedimentos metodológicos, críticos e intelectuais da filosofia. Porém, estes procedimentos são diametralmente opostos aos das ciências naturais e humanas porque partem do pressuposto da fé e seu objetivo final, Deus, não é passível de pesquisa empírica. Portanto, o problema de estabelecer um método rigoroso de raciocínio sobre Deus é crucial em teologia.

Judeus, cristãos e muçulmanos dão às escrituras (Torá, Bíblia e Alcorão) uma autoria divina, o que não acontece no hinduísmo e no budismo.

A transmissão oral é outro meio de expressão e comunicação da revelação original já que, onde a escrita parece confusa ou inconsistente, a comunidade de crentes a interpreta. Isso ocorre muito mais no islamismo do que non catolicismo.

A experiência própria, seja pessoal ou comunitária, tem importante influência na teologia. O teólogo procura a fé em Deus em fenômenos religiosos — como no misticismo e na conversão — e também na vivência cultural, social e política da época.

Método teológico

Não existe um único método, de caráter universal, reconhecido na teologia. Os teólogos protestantes da Reforma, e posteriores a ela, têm tentado generalizar sem método, regendo-se estritamente pela Bíblia. É nisto que consiste o trabalho da exegese, que visa a compreender um significado. Os teólogos devem questionar como tem evoluído o significado original de um texto no decorrer da história doutrinal. Também devem procurar o significado que poderia ter este texto na época e situação cultural em que foi escrito. Este passo é a hermenêutica. A interpretação é um ato criativo e inovador e não somente a transposição de significados de um contexto antigo para outro moderno.

Uma distinção deve ser feita entre Teologia apologética (tentativa de expor as crenças religiosas enquanto se atende ou se responde às objeções e críticas) e Teologia dogmática que é a exposição ordenada das crenças. Alguns teólogos rejeitam a primeira, argumentando que a apologética é, apenas, uma clara exposição da crença.

Embora a Bíblia seja um rico depositário de material teológico, não é um manual de teologia. A Epístola de Paulo aos Romanos é, talvez, a proposta mais próxima de um tratado teológico no Novo Testamento.

No Oriente, o escritor Orígenes (século III) foi o teólogo mais influente da era cristã primitiva. O grande teólogo do Ocidente foi Santo Agostinho de Hipona. Ambos foram influenciados pela filosofia de Platão. A figura que mais se destacou na teologia medieval foi São Tomás de Aquino. Seu tratado Summa Theologica é uma detalhada exposição das doutrinas sobre Deus: natureza humana, encarnação e salvação. Com sutileza, Tomás de Aquino — baseando-se na filosofia de Aristóteles — mistura temas filosóficos e religiosos, exercendo uma influência sem precedentes na teologia católica romana.

No século XVI, o teólogo mais importante da reforma protestante foi João Calvino. Destacando a soberania de Deus até elaborar uma nova tese de predestinação, Calvino, ainda assim, tentou fundamentar suas doutrinas nos postulados da Bíblia.

Depois da Reforma, veio um período de estagnação teológica. A antiga teologia tinha perdido o prestígio para dois filósofos do século VIII: o cético inglês David Hume e o idealista alemão Emmanuel Kant. Por isto, o teólogo alemão do século XX, Friedrich Schleiermacher, conclamou para que a experiência da comunidade de fiéis fosse considerada uma nova base teológica.


Torá (em hebreu, Torah, "lei" ou "doutrina"), a lei mosaica; no judaísmo, o Pentateuco, que se apresenta em forma de rolo de pergaminho e se lê na sinagoga. A Torá escrita, que consta dos cinco livros de Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio) é a pedra fundamental da religião e da lei judaicas.


Misticismo, conhecimento imediato, direto e intuitivo de Deus ou de uma realidade essencial, adquirido através de experiências religiosas pessoais. A autenticidade de tal experiência não depende da sua forma, mas do tipo de vida que advém dela.

A filosofia hindu do ioga incorpora rigorosa disciplina com o intuito de ultrapassar o sentimento de identidade pessoal, deixando livre o caminho para uma experiência de união com o eu divino.

O budismo pode ser considerado uma religião mística, já que seu único objetivo é conseguir, em seus fiéis, uma transcendência que os faça atingir o Nirvana.

O budismo esotérico — particularmente o tântra budista — desenvolveu uma disciplina onde os mestres conduzem os discípulos à iluminação. Para isto, são utilizados rigorosos exercícios físicos e mentais, criação e contemplação de situações místicas ou de mandalas e comunicação de verdades secretas através de gestos e posturas conhecidos respectivamente como mudras e ásanas.

O sufismo islâmico baseia-se na união pessoal com Alá através de disciplinas ascéticas e contemplativas.

São Paulo foi o primeiro grande místico cristão. Na Idade Média, o misticismo esteve durante muito tempo ligado aos mosteiros. Alguns dos mais famosos místicos encontravam-se entre frades e monges, por exemplo, São Francisco de Assis e São João da Cruz.

Entre os mais importantes místicos cristãos, destaca-se um grupo de mulheres, sobre tudo Santa Catarina de Siena e Santa Teresa de Jesus.

O misticismo também se expressou na teologia de inúmeras seitas protestantes, constituindo-se característica dos anabatistas e dos quacres (quakers).


Ioga, um dos seis sistemas clássicos da filosofia hindu, que se diferencia dos demais por preocupar-se com o controle do corpo e pelo poder mágico atribuído aos praticantes de nível elevado. A teoria ioga sustenta que, através da disciplinada, o ser humano pode alcançar a libertação da carne, das ilusões dos sentidos e dos erros do pensamento. Somente assim consegue alcançar o saber autêntico e supremo, único caminho para o verdadeiro entendimento. Para a maioria dos iogues (aqueles que praticam a ioga) e ioguins (mestres iogues), o objeto de conhecimento é o espírito universal, ou Brahma. Uma minoria de iogues não crentes busca o autoconhecimento perfeito individual, em vez de aspirar ao encontro com Deus. Mas, em ambos os casos, a finalidade tem raízes no conhecimento.

A prática da ioga segue uma escalada cujos passos são: o autocontrole (yama); a observância religiosa (niyama); as posturas (asana); a regulação da respiração (pranayama); a repressão dos sentidos (pratyahara); a estabilização da mente (dharana); a meditação (dhyana) e a contemplação profunda (samadhi). A consecução do samadhi libera o Eu das ilusões dos sentidos e das contradições da razão, conduzindo a uma iluminação interior, o êxtase do genuíno conhecimento da realidade, que raramente se consegue alcançar numa única vida.


Hinduísmo, religião originária da Índia e praticada pela maioria de seus habitantes até os dias atuais. O hinduísmo é uma das maiores e mais importantes religiões do mundo, não somente pelo seu número de adeptos (estimados em mais de 700 milhões) mas, também, pela influência que, ao longo da história, tem exercido sobre muitas outras religiões. Inciadas em torno de 1500 a.C, as leis do hinduísmo definem-se mais pelas ações das pessoas do que por seus pensamentos. Em conseqüência, entre os hindus encontra-se maior uniformidade nas ações do que nas crenças. Muitos hindus veneram Shiva, Vishnu ou a Deusa Devi, além de centenas de outras divindades menores. Existem práticas que são observadas por quase todos, entre elas, reverenciar a brâmane (casta) e as vacas (consideradas animais sagrados), a proibição de comer carne, casar-se somente com um membro da mesma casta (jati) na esperança de ter um filho homem.

Textos

Para todos os hindus a suprema autoridade são os quatro Vedas. O mais antigo é o Rig-Veda, escrito em sânscrito arcaico entre 1300 e 1000 a.C. Ao Rig-Veda foram agregados outros dois: o Yajur-Veda (livro do sacrifício) e o Sama-Veda, de hinos. Um quarto livro, o Atharva-Veda, uma coleção de palavras mágicas, foi incluído em torno de 900 a.C. Nesta mesma época, também foram escritos os Brahmanas e, no início de 600 a.C., os Upanishad. As duas obras épicas sânscritas mais importantes são o Mahabharata e o Ramayana. No primeiro, relata-se a guerra entre os irmãos Pândavas liderados por seu primo Krishna (deus) contra os também primos Káuravas. O segundo conta a viagem feita por Rama para resgatar sua esposa Sita.

Filosofia

Os hindus acreditam que o universo é uma grande esfera dentro da qual existem céus concêntricos, infernos, oceanos, continentes e que a Índia é o centro desta esfera. A vida humana é cíclica: depois de morrer, a alma deixa o corpo e renasce em outra pessoa, animal, vegetal ou mineral. A qualidade da reencarnação vem determinada pelo carma.

Os hindus dividem-se em dois grupos: os que buscam as recompensas sagradas e profanas (saúde, dinheiro, filhos e uma boa reencarnação) e aqueles que procuram se libertar deste mundo. Muitos esforços foram feitos para conciliar estas duas correntes.

Culto e rituais

Em cerimônias públicas e particulares, todos os deuses são adorados. Devido às bases sociais do hinduísmo, as festas mais importantes são as dos rituais de passagem: nascimento e primeiro alimento sólido, matrimônio, benção para as grávidas, morte e oferendas anuais aos antepassados mortos.

Dentro do ritual diário dos hindus são feitas oferendas (puja) de frutas e flores perante um altar dentro de casa. Muitos povoados e cidades possuem templos, muitas vezes considerados centros culturais, onde os sacerdotes celebram cultos durante o dia. Existem milhares de templos locais que se resumem numa pequena construção de pedra. Além disto, a Índia conta com inúmeros templos grandes e, até mesmo, algumas cidades-templo. Vários lugares sagrados ou santuários — como o de Rishikesh, no Himalaia, ou o de Benares, no Ganges — são objeto de peregrinação de fiéis de todas as regiões da Índia.

História

As crenças e práticas religiosas básicas do hinduísmo não são compreendidas fora de seu contexto histórico. Apesar de ser impossível situar os primeiros textos e eventos, traça-se seu desenvolvimento cronológico com muita clareza.

No vale do rio Indo cresceu, em torno de 2000 a.C., uma próspera civilização. Em 1500 a.C., quando as tribos arianas invadiram a Índia, esta civilização entrou em decadência. Ver também Civilização do vale do Indo.

Ao se fixarem no Punjab, os arianos traziam seu panteão de divindades indo-européias. Os deuses do panteão védico sobreviveram no hinduísmo tardio, mas já não eram objetos de culto. Em 900 a.C., os arianos ocuparam o rico vale do rio Ganges, onde desenvolveram uma civilização e um sistema social sofisticado. Durante o século VI a.C., o budismo começou a infiltrar-se na Índia e, ao longo do milênio, interagiu com o hinduísmo.

Aproximadamente entre 200 a.C. e 500 d.C., a Índia foi invadida por grupos provenientes do norte e iniciou-se um período de mudanças e definições para o hinduísmo. Durante esta época foram concluídas as obras épicas Dharmashastras e Dharmasutras. No império Gupta (entre 320 e 480 d.C.), quando grande parte do norte da Índia esteve subjugada a um único poder, o hinduísmo clássico encontrou sua máxima expressão: codificaram-se as leis sagradas, iniciou-se a construção dos grandes templos e preservaram-se os mitos e rituais nos Puranas. Durante o período seguinte ao da dinastia Gupta, surgiu um hinduísmo menos rígido e mais eclético, formado por seitas dissidentes. Muitas das seitas surgidas entre 800 e 1800 são movimentos que ainda perduram na Índia.

Durante o século XIX realizaram-se importantes reformas sob o auspício de Ramakrishna, Vivekananda e das seitas de Arya Samaj e de Brahmo Samaj. Estes movimentos procuraram conciliar o hinduísmo tradicional com as reformas sociais e políticas. Do mesmo modo, os líderes nacionalistas Sri Aurobindo Ghose e Mahatma Gandhi procuraram extrair do hinduísmo todos os elementos que melhor servissem para enfatizar seus propósitos políticos e sociais.

Atualmente, muitos autoproclamados mestres dos ensinamentos religiosos da Índia emigraram para a Europa e Estados Unidos. O hinduísmo — religião que ajudou a Índia a se sustentar por séculos, apesar da invasão estrangeira e dos problemas internos — continua a desempenhar importante função, proporcionando significado às vidas dos hindus de hoje.


Gandhi, Mohandas Karamchand (ou Mahatma) (1869-1948), líder nacionalista indiano que levou seu país a conquista da independência mediante uma revolução pacífica.

Advogado, exerceu a profissão na África do Sul, onde se envolveu na luta pela defesa dos direitos fundamentais dos imigrantes indianos. Em 1914 regressou ao seu país depois da I Guerra Mundial e iniciou um movimento de resistência pacífica invocando a satyagraha (‘abraço da verdade’, em sânscrito) contra a Grã-Bretanha. Quando o Parlamento aprovou, em 1919, as leis Rowaltt, que concediam às autoridades coloniais britânicas poderes de estado de emergência para fazer frente às denominadas atividades subversivas, o movimento se estendeu por toda a Índia. Em 1920 Gandhi empreendeu a campanha organizada de não cooperação.

A independência econômica foi o ponto culminante da luta swaraj (‘auto-governo’, em sânscrito) de Gandhi, que implicava um boicote completo dos produtos britânicos. Propôs estimular o renascimento dos processos artesanais. Converteu-se em símbolo internacional de uma Índia livre. Levava uma vida espiritual e ascética de um pregador, praticando o jejum e a meditação. Os indianos o veneravam como santo e começaram a chamá-lo de Mahatma (‘alma grande’, em sânscrito). A defesa que fez da não violência era a expressão de uma forma de vida implícita no hinduísmo.

Em 1921 o Congresso Nacional Indiano, que liderou o movimento de independência, outorgou-lhe autoridade executiva plena, incluído o direito de designar o próprio sucessor. Uma série de revoltas levaram-no a admitir o fracasso da campanha de desobediência civil.

Em 1932 Gandhi iniciou nova campanha contra as autoridades britânicas. Preso duas vezes, o Mahatma jejuou durante longos períodos em diversas ocasiões.

Em 1934 abandonou formalmente a política e foi substituído como dirigente máximo do Partido do Congresso por Jawaharlal Nehru.

Em 1944 a luta pela independência da Índia estava em sua última fase. O governo britânico havia concordado em conceder a independência com a condição de que os grupos nacionalistas rivais, a Liga Muçulmana e o Partido do Congresso, resolvessem suas diferenças. Embora contra a divisão da Índia, Gandhi terminou aprovando-a. Índia e Paquistão se tornaram dois estados independentes em 1947. Em 1948 foi assassinado por um membro de um grupo extremista hindu.


Budismo, religião de importância mundial, criada no noroeste da Índia. Baseia-se nos ensinamentos de Siddhartha Gautama, mais conhecido como Buda, o Iluminado. Como movimento monástico, originou-se dentro da tradição bramânica dominante daquela época e espalhou-se, rapidamente, para outras direções, adquirindo características próprias. Atualmente, o budismo divide-se em dois grandes ramos: o Theravada ou Caminho dos Sábios e o Mahaiana ou Grande Veículo.

Origens

Siddhartha Gautama, Buda, filho do soberano de um pequeno reino, nasceu em Kapilavastu, no ano 563 a.C., perto da atual fronteira entre a Índia e o Nepal. Aos 29 anos decidiu renunciar a todos os seus bens materiais e adotou uma vida de ascetismo. Quando alcançou o nível de Iluminado (o mais alto) formou, com seus discípulos, uma comunidade monástica onde passou o resto de sua vida. Os elementos principais em que se baseia a Iluminação referem-se à realização das Quatro Verdades Excelentes:

– o sofrimento

– a causa do sofrimento

– sua supressão

– o caminho para seu fim

O budismo ensina a doutrina de Anatmán, ou negação da existência de uma alma permanente, a doutrina do Carma — que determina o tipo de reencarnação — e o Nirvana ou estado de Iluminação perfeito.

Devido à morte de Buda — e na falta de um sucessor — a ordem monástica decidiu reunir-se periodicamente para obter um consenso, tanto sobre assuntos da doutrina como de práticas religiosas. Dentro da tradição budista, houve quatro conselhos considerados Conselhos Superiores, sendo o último realizado por volta do ano 100.

Conflitos e novos grupos

O Budismo foi muito difundido nos primeiros anos de sua existência, o que provocou conflitos de interpretação. Enquanto os monges mais conservadores continuaram honrando Buda como o Perfeito Iluminado, os mahasanghikas, mais liberais, desenvolveram um conceito novo: considerar Buda como um ser eterno, onipresente e transcendente. O pensamento mahasanghika pode ser visto como precursor do pensamento Mahaiana, formado entre os séculos II a.C. e I d.C. Este conceito introduziu, no budismo, idéias sobre a graça divina e revelação contínua, além de outro aspecto mais importante: o bodhisattva (ser iluminado) como um ideal a ser alcançado pelos budistas devotos.

Por volta do século VII d.C., desenvolveu-se uma nova forma de budismo conhecida como tantrismo (ver Tantra) que se formou a partir da união entre o Mahaiana e as crenças e magias populares do norte da Índia.

Expansão

Durante o século VI, o Theravada (ramo do budismo conhecido como "Caminho dos Sábios") estendeu-se de Myanmar até a região da atual Tailândia. Com o crescimento do reino tailandês, este ramo foi adotado como religião oficial. Durante o século XIV, o Theravada também foi adotado pela casa real do Laos. No início da era cristã, o budismo foi levado para a Ásia Central. De lá — e durante o século I d.C. —, entrou na China seguindo as rotas do comércio. A partir dali, continuou sua expansão asiática e chegou à Coréia em 372. Em 552, foi introduzido no Japão.

O budismo chegou ao Tibet no início do século VII d.C. Nos meados do século seguinte, já havia se transformado em uma força significativa dentro da cultura tibetana. Aproximadamente sete séculos mais tarde, os budistas tibetanos adotaram a idéia de que os abades dos grandes monastérios eram reencarnações dos famosos bodhisattvas. Com base nesta crença, o abade principal passou a ser conhecido como Dalai Lama. Desde meados do século XVII até 1950 — ano em que a China se apoderou do Tibet —, os Dalai Lamas governaram o país como uma teocracia. Ver também Lamaísmo.

Na China, Japão e toda Ásia ocidental, muitas seitas budistas foram criadas e desenvolvidas. Dentre elas, as mais importantes foram a Ch'na ou Zen e a Terra Pura ou Amidismo. A seita Zen pratica a meditação como o caminho para descobrir, intuitivamente, a natureza interior de Buda. Em vez de meditar, a doutrina da Terra Pura enfatiza a fé e a devoção a Buda Amitabha ou Buda da Luz Infinita, o que significa renascer em um paraíso eterno conhecido como a Terra Pura.

Instituições e práticas

Desde o princípio, os seguidores mais devotos de Buda organizavam-se em um grupo monástico chamado sangha. Os membros podiam ser facilmente identificados por suas cabeças raspadas e túnicas alaranjadas. Cada comunidade era independente e organizada democraticamente. Entre as funções mais tradicionais dos monges budistas, está a de realizar celebrações fúnebres para honrar os mortos.

No budismo, os atos de veneração realizados pelos leigos são mais individuais do que coletivos. Nos países Mahaiana, os rituais são mais importantes do que nos Theravada. As diversas imagens de Buda nos altares dos templos e casas dos devotos servem como objetos de adoração.

O budismo hoje
Uma das características mais notáveis que, por mais tempo, perdurou no budismo, é sua capacidade de adaptar-se às diversas condições e culturas distintas. Filosoficamente, o Budismo é contra os bens materiais, mas não entra em conflito com as ciências modernas. O crescente interesse manifestado pelo budismo nas culturas ocidentais levaram à criação de muitas instituições dedicadas ao estudo e à prática desta religião que influenciou não somente a Índia, mas, também, o o Sri Lanka, Tailândia, Camboja, Myanma e Laos, onde o ramo predominante é o Theravada (O Caminho dos Sábios). Já o ramo Mahaiana (O Grande Veículo) teve influência especial na China, Japão, Taiwan, Tibet, Nepal, Mongólia, Coréia e Vietnã, assim como na Índia. Estima-se que, no mundo, o número atual de budistas oscile entre 150 e 300 milhões de fiéis.


Buda (563 a.C.-486 a.C.), fundador do budismo, nascido com o nome de Sidarta, no parque Lumbini, perto de Kapilavastu, onde hoje é o Nepal. O nome de Buda Gautama, pelo qual se tornou conhecido o Buda histórico, é uma combinação de seu nome de família, Gautama, e o epíteto Buda que significa "o iluminado".

Começou a buscar a iluminação aos 29 anos, ao descobrir que o sofrimento é o destino da humanidade. Em busca da verdade, abandonou a família e a riqueza. Durante seis anos, esforçou-se para alcançar a iluminação através de um severo ascetismo. Percebendo a ineficácia deste método, modificou-se a ponto de perder os discípulos. A os 35 anos, ao atingir a iluminação, compreendeu as Quatro Grandes Verdades:

– toda existência é sofrimento;

– todo sofrimento é provocado pela ignorância;

– pode-se vencer o sofrimento superando a ignorância;

– esta superação é alcançada através do Grande Caminho Óctuplo, moralidade e sabedoria.

Decidido a divulgar o dharma (lei) reuniu-se, perto de Benarés, com os antigos discípulos que o aceitaram como mestre e se ordenaram monges. Um de seus princípios fundamentais é o caminho do meio, entre os extremos do sacrifício e da autocompaixão. Morreu aos 80 anos, em Kusinagara, depois de uma vida missionária.

Buda fundou uma grande religião, o Budismo, e influenciou outra. Sua rebelião contra o sistema de castas e os extremismos hedonistas, ascéticos e espirituais influiu, decisivamente, na formação do hinduísmo.


Ascetismo, prática de abnegação e renúncia dos prazeres mundanos com o propósito de alcançar o mais alto grau de espiritualidade, intelectualidade ou autoconsciência. Quase sempre requer jejum e celibato e, às vezes, também sofrimento físico. O ascetismo está presente em quase todas as religiões.


Celibato, estado que implica a abstinência sexual. Considerado como uma forma de ascetismo, tem sido praticado em muitas religiões. Na Igreja Ortodoxa, o clero secular pode se casar antes da ordenação, mas os bispos são selecionados entre o clero religioso, que é celibatário. Na Igreja Católica, o celibato é exigido para todo o clero. Os reformistas protestantes rejeitaram esta forma de vida.

No hinduísmo, o celibato é relacionado com os sadhus, ascetas que se afastam de qualquer tipo de ligação terrena. A casta sacerdotal dos brâmanes não está sujeita ao celibato. O budismo requer o celibato dos sangha. O islã não tem tradição neste assunto. Os muçulmanos podem se casar legalmente com quantas mulheres tenham condições de sustentar.


Igreja Ortodoxa, um dos três grandes ramos do cristianismo. Constitui uma reunião de igrejas independentes, cada uma governada por seu próprio bispo, chamado patriarca. O patriarca de Constantinopla (atual Istambul) tem primazia sobre os restantes, devido ao fato de Constantinopla ter sido a capital do império Romano do Oriente, ou império Bizantino, entre 320 e 1453. Existem outros três patriarcados ortodoxos antigos que devem sua posição privilegiada a um passado honrado: Alexandria (Egito), Damasco (Síria) e Jerusalém. O patriarcado de Moscou e todas as Rússias é a igreja ortodoxa com maior número de fiéis.

Doutrina

A Igreja ortodoxa afirma cumprir a fé cristã original. Uma das características da ortodoxia é a preocupação em manter continuidade e tradição. Os concílios ecumênicos do primeiro milênio definiram as doutrinas básicas do cristianismo sobre os pilares da Trindade, da Pessoa única e da natureza dupla de Cristo. Estas doutrinas estão presentes em todas as declarações da fé ortodoxa e em seus hinos litúrgicos. Os ortodoxos aceitam a doutrina dos sete sacramentos.

Práticas religiosas

A ação mais eficaz da liturgia ortodoxa é seu papel missionário. O ritual eucarístico utilizado com mais freqüência é o atribuído a São João Crisóstomo. Uma das principais características do culto ortodoxo é a riqueza de hinos que identificam os diferentes ciclos litúrgicos.

A arte religiosa do cristianismo ortodoxo é uma forma de confissão de fé através da representação pictórica. A função principal dos ícones (imagens religiosas) foi definida no final do movimento iconoclasta bizantino (843). O triunfo sobre a iconoclastia permitiu a expansão da iconografia dentro do mundo ortodoxo.

História

 

A maioria dos cristãos do Oriente Médio que não falava grego rejeitou as conclusões do Concílio da Calcedônia (451). Desde o século IV, surgiram tensões entre Constantinopla e Roma. Depois da queda do Império do Ocidente, em 476, o papa passou a ser o único guardião do universalismo cristão do Ocidente. Os cristãos do Oriente respeitavam essa tradição. No entanto, acreditavam que os direitos canônicos e privados das diversas igrejas estavam determinados, acima de tudo, pelas considerações históricas. A ruptura foi, na verdade, um distanciamento paulatino que culminou, em 1204, com o saque de Constantinopla pelos cruzados ocidentais.

Depois da conquista de Constantinopla pelos turcos-otomanos, em 1453, o patriarca desta cidade foi reconhecido como representante de toda a população cristã do Império turco. Apesar do patriarcado de Constantinopla ter continuado a manter sua primazia honorífica dentro da Igreja ortodoxa, seu papel ecumênico terminou no século XIX.

Relações com outras igrejas

Através dos séculos, os ortodoxos mostraram diferentes posturas em relação a outras igrejas. Em geral, têm adotado uma atitude positiva perante o movimento ecumênico moderno. Representantes ortodoxos estiveram nas sessões do Concílio Vaticano II (1962-1965). Realizaram-se diversas reuniões com os papas Paulo VI e João Paulo II, de um lado, e os patriarcas Atenágoras I e Demétrio I do outro. O maior obstáculo para a reconciliação é a exigência do papado de que seja acatada sua autoridade suprema.


Igreja Católica Apostólica Romana, é a primeira Igreja cristã. Em questões de fé, seus membros reconhecem a autoridade suprema do bispo de Roma, o papa. No início da década de 1990, o número de seus seguidores era de 995,8 milhões (18,8% da população mundial).

Organização e estrutura

De acordo com a tradição cristã primitiva, a unidade fundamental de organização na Igreja Católica é a diocese, sob a jurisdição de um bispo que comanda o clero secular — obediente ao bispo —, e regular. Desde o Concílio Vaticano II, os leigos vêm assumindo um papel cada vez mais importante, ajudando sacerdotes e bispos.

A maior autoridade pertence ao papa. Depois do papa, os mais importantes dignitários da Igreja são os cardeais, indicados pelo sumo pontífice e membros do Sacro Colégio Cardinalício. Quando um papa morre, seu sucessor é eleito por um conclave.

O papa é auxiliado na administração da Igreja por uma burocracia denominada Cúria, localizada na Cidade do Vaticano. Hoje esta Cúria é dirigida pelo secretário de Estado e comporta diferentes departamentos chamados Sagrada Congregação para os Assuntos da Igreja, além de outras dez congregações, três tribunais e três secretarias.

Doutrina

A característica principal da Igreja Católica é a amplitude e universalidade de sua doutrina. Como as outras Igrejas cristãs, a Católica tem na Bíblia o pilar de seus ensinamentos. Em relação ao conceito teológico, o catolicismo segue a doutrina da sucessão apostólica, que é a transmissão ininterrupta da função religiosa desde os tempos de Jesus até a atualidade.

Culto e costumes

O culto católico está centrado na missa e no mistério da transubstanciação. Os ritos simbólicos mais importantes são os sete sacramentos. A teologia católica ensina que os sacramentos têm efeito benéfico espiritual sobre os que os recebem.

Nos últimos tempos, a Igreja Católica, nas questões contemporâneas, caracterizou-se por manter posições inflexíveis sobre assuntos polêmicos. Desde a encíclica Rerum novarum (1891) do papa Leão XIII, os pontífices vêm denunciando as injustiças sociais e propondo soluções. A partir do Concílio Vaticano II, a Igreja passou a incentivar os católicos a trabalharem com membros de outras igrejas.

História

Até a ruptura com a Igreja oriental, em 1054, e com as Igrejas protestantes, no século XVI, era impossível separar a história do catolicismo da história do cristianismo. A primeira grande mudança na história cristã foi sua expansão desde a Palestina até o restante do Mediterrâneo, nas décadas que seguiram à morte de Jesus. O reconhecimento da Igreja pelo imperador Constantino, em 313, permitiu que o cristianismo se aproveitasse da infra-estrutura e imensidão do Império Romano e consolidasse esta evolução. Até o pontificado de Leão I, o papa exercia a primazia sobre todas as congregações cristãs.

Mas a queda do Império Romano do ocidente e a incorporação dos povos germânicos à Igreja provocaram várias mudanças. Sob a liderança de um papado reformado no final do século XI, restauraram-se os direitos episcopais no meio da Questão das Investiduras. Como resultado, o papa emergiu desta crise como o dirigente reconhecido da Igreja do Ocidente. Estas transformações, somadas às Cruzadas, tornaram a reconciliação com a Igreja oriental — depois do cisma do Oriente (também chamado cisma fociano) de 1054 — mais difícil.

Em parte como reação às mudanças oriundas da Questão das Investiduras, a Reforma Protestante estourou em pleno século XVI. A Igreja Católica respondeu com a Contra-Reforma.

As acusações lançadas à igreja pelo Iluminismo e pela Revolução Francesa foram responsáveis pela posição defensiva adotada pelo catolicismo. O Concílio Vaticano II tentou suavizar esta tendência. Embora as mudanças que o Concílio introduziu tenham originado certa confusão durante alguns anos, a Igreja Católica mantém sua estabilidade e continua se expandindo em muitas regiões do mundo.


Século das Luzes ou Iluminismo, termo usado para descrever as tendências do pensamento e da literatura na Europa e em toda a América durante o século XVIII, antecedendo a Revolução Francesa. Foi empregado pelos próprios escritores do período, convencidos de que emergiam de séculos de obscurantismo e ignorância para uma nova era, iluminada pela razão, a ciência e o respeito à humanidade. As novas descobertas da ciência, a teoria da gravitação universal de Isaac Newton e o espírito de relativismo cultural fomentado pela exploração do mundo ainda não conhecido foram também uma base importante.

Entre os precursores do século XVII, destacam-se os grandes racionalistas, como René Descartes e Baruch Spinoza, e os filósofos políticos Thomas Hobbes e John Locke. É igualmente marcante na época a permanente fé no poder da razão humana. Chegou-se a declarar que, mediante o uso judicioso da razão, seria possível um progresso sem limites. Porém, mais que um conjunto de idéias estabelecidas, o Iluminismo representava uma atitude, uma maneira de pensar. De acordo com Immanuel Kant, o lema deveria ser "atrever-se a conhecer". Surge o desejo de reexaminar e pôr em questão as idéias e os valores recebidos, com enfoques bem diferentes, daí as incoerências e contradições entre os escritos de seus pensadores. A doutrina da Igreja foi duramente atacada, embora a maioria dos pensadores não renunciassem totalmente a ela.

A França teve destacado desenvolvimento em tais idéias e, entre seus pensadores mais importantes, figuram Voltaire, Charles de Montesquieu, Denis Diderot e Jean-Jacques Rousseau. Outros expoentes do movimento foram: Kant, na Alemanha; David Hume, na Escócia; Cesare Beccaria, na Itália; e Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, nas colônias britânicas. A experimentação científica e os escritos filosóficos entraram em moda nos círculos aristocráticos, surgindo assim o chamado despotismo ilustrado. Entre seus representantes mais célebres, encontram-se os reis Frederico II da Prússsia, Catarina II a Grande da Rússia, José II da Áustria e Carlos III da Espanha. O Século das Luzes terminou com a Revolução Francesa de 1789, pois, quando esta veio a incorporar inúmeras idéias dos iluministas em suas etapas mais difíceis, elas ficaram desacreditadas aos olhos de muitos europeus contemporâneos. O Iluminismo marcou um momento decisivo para o declínio da Igreja e o crescimento do secularismo atual, assim como serviu de modelo para o liberalismo político e econômico e para a reforma humanista do mundo ocidental no século XIX.


Protestantismo, uma das três principais divisões religiosas da cristandade, junto com a Igreja Católica e a Ortodoxa. Começou, no século XVI, como um movimento reformista da Igreja cristã ocidental e culminou na Reforma protestante, separando as Igrejas reformadas da católica. Seu objetivo era restaurar a verdadeira fé cristã.

As quatro principais igrejas protestantes que emergiram da Reforma são:

luterana, conhecida como evangélica na Europa continental

calvinista ou reformada

anabatista

anglicana

Todas estas igrejas rejeitam a autoridade do papa e enfatizam a importância da Bíblia e da fé individual.

História

A publicação das 95 Teses de Martinho Lutero, em 1517, marca o começo da Reforma. Em princípio, Martinho Lutero atacou a venda indiscriminada de indulgências para financiar a construção da basílica de São Pedro, em Roma, e queria realizar reformas ideológicas dentro da Igreja. Mas deparou-se com forte oposição. Recusando-se a rever suas posições, Lutero negou a autoridade de Roma e foi excomungado. Suas idéias se estenderam por toda a Alemanha e, em seguida, pela Europa.

Alguns anos depois, surgiu um movimento reformista mais radical em Zurique, na Suíça, dirigido pelo pastor suíço Ulrich Zwingli (1484-1531). O reformista dominante da geração posterior foi João Calvino (1509-1564). Suas idéias eram menos radicais que as de Zwingli, mas favoreciam um severo sistema político que unisse o Estado e a Igreja com o propósito de manter a moral e a doutrina corretas.

A Igreja Anglicana, no reinado de Eduardo VI e Isabel I, chegou a se tornar uma instituição protestante, conforme foi definido nos Trinta e nove Artigos.

No século XVII, foi definida a ortodoxia protestante, enfatizando a autoridade da Bíblia e uma lógica religiosa mais rigorosa. Em 1670, surgiu, na Alemanha, o pietismo como resposta ao intelectualismo protestante. A influência do pensamento científico e do Iluminismo na teologia protestante se refletiu no racionalismo, uma tendência que surgiu entre os séculos XVII e XVIII. Sua expressão mais pura foi o Deísmo. Outra forma de racionalismo protestante do século XVIII foi o Unitarismo.

A reação contra as tendências intelectuais e formalizantes do protestantismo continuou durante o século XVIII com a aparição de vários movimentos que apelavam para as emoções da experiência religiosa. Na Inglaterra, esta reação adotou o nome de Metodismo e, nas colônias americanas, Evangelismo.

Durante o século XIX, o protestantismo transformou-se em movimento mundial como resultado de intensa atividade missionária. Além disto, tornou-se cada vez mais variado à medida que surgiam novas seitas e tendências religiosas, como as do teólogo protestante alemão Friedrich Schleiermacher ou o conservador movimento de Oxford.

O século XX produziu duas reações contra o liberalismo teológico. Uma foi o Fundamentalismo, movimento evangélico que se baseava na infalibilidade da Bíblia. A outra, a Teologia da Crise, ligada ao teólogo suíço Karl Barth (1886-1968).

Um fator importante foi a aparição do Movimento Ecumênico que favoreceu a união de muitas igrejas protestantes e levou à formação do Concílio Mundial de Igrejas (1948). Foram estabelecidos diálogos com a Igreja Católica, Ortodoxa e com outras crenças não-cristãs.

Crenças e práticas

A maioria das igrejas protestantes conservou as doutrinas das tradições católica e ortodoxa, como a Trindade, a expiação, a ressurreição de Cristo, a autoridade da Bíblia e o caráter sacramental do batismo.

Lutero acreditava que a salvação não dependia do esforço humano mas, sim, da graça outorgada por Deus. Os protestantes consideram a Bíblia a única fonte essencial de ensinamentos e rejeitam a postura católica que outorga ao papa a autoridade máxima em questões relacionadas à fé e à moral.

Os líderes da Reforma reagiram contra a instituição católica do sacerdócio exaltando o "sacerdócio de todos os crentes". Apesar disto, a maioria dos movimentos protestantes possui ministros institucionalizados.

Em comparação com a missa católica e a liturgia ortodoxa, o culto protestante é mais simples e se concentra no sermão. As tradições protestantes reduziram o número de sacramentos a dois: batismo e matrimônio.


Deísmo, filosofia religiosa racionalista que floresceu nos séculos XVII e XVIII, principalmente na Inglaterra. Os deístas negavam as afirmações baseadas na revelação ou ensinamentos de qualquer credo. O deísmo desempenhou importante papel ao fomentar o desenvolvimento da filosofia racionalista e colaborou na configuração do clima intelectual europeu do século XVIII. Também influenciou filósofos e políticos britânicos, franceses e americanos, como John Locke, Voltaire e Benjamin Franklin. Suas figuras de mais destaque foram Edward Herbert e John Toland.


Pietismo, em sua origem, movimento luterano reformista alemão que surgiu entre os séculos XVII e XVIII, e dava ênfase à conversão individual, à "fé vivente", e a gozar de seus frutos no dia-a-dia. O termo pietismo tem origem no collegia pietatis, reuniões formais e devocionais organizadas por Philipp Jakob Spener na época em que era pastor em Frankfurt, onde eram realizadas reuniões de oração e estudava-se a Bíblia.

August Hermann Francke, discípulo de Spener, transformou a universidade de Halle no centro intelectual do pietismo.

O pietismo teve grande influência sobre o metodismo, e ambos contribuíram para o aparecimento do movimento ecumênico no século XIX.


Metodistas, movimento protestante que data de 1729, quando um grupo de estudantes da Universidade de Oxford (Inglaterra) começou a reunir-se para praticar o culto e os serviços cristãos. Deram ao grupo o nome de ‘Clube Santo’ e a seus membros de ‘metodistas’, pela forma metódica com que realizavam suas práticas religiosas. Dentro do grupo de Oxford estavam John Wesley, considerado o fundador do metodismo, e seu irmão Charles. Os irmãos Wesley apoiavam-se no arminianismo e rejeitavam a ênfase calvinista na predestinação. Eram partidários da doutrina da perfeição cristã e da salvação pessoal por meio da fé.

Pouco tempo depois da morte de John Wesley em 1791, seus seguidores começaram a dividir-se em vários grupos religiosos, com pequenas diferenças doutrinárias. Em 1881 realizou-se uma conferência metodista ecumênica com o objetivo de coordenar os distintos grupos espalhados pelo mundo. Desde então e a cada determinado tempo, fazem esse tipo de reunião. Os metodistas admitem dois sacramentos: o batismo e ‘a Ceia do Senhor’, que pode ser interpretada de duas formas: uma, para celebrar a presença de Cristo e outra para manter o estrito sentido comemorativo.


Lutero, Martinho (1483-1546), teólogo e reformador religioso alemão, iniciou a Reforma protestante. Personagem fundamental da história moderna européia, sua influência alcançou não somente a religião, mas a política, a economia, a educação, a filosofia, a linguagem, a música e outras áreas culturais. No verão de 1512, doutorou-se em Teologia na Universidade de Wittenberg e assumiu a cátedra de Teologia Bíblica, que conservou até a morte. Foi um atuante pregador, professor e administrador. Ao estudar o Novo Testamento para a preparação de suas aulas, convenceu-se de que os cristãos são salvos não por seus próprios esforços e méritos, mas pelo dom da graça de Deus, aceita pela fé.

Em 1517, expôs, na porta da igreja de Todos os Santos de Wittenberg, suas 95 teses, escritas em latim, contra a venda de indulgências. Lutero defendeu suas opiniões com energia em debates universitários públicos em Wittenberg e em outras cidades. Esta posição acabou provocando um inquérito, por parte da Igreja romana, uma condenação a seus ensinamentos e sua excomunhão pelo papa Leão X em 1520. Na Dieta de Worms pediram-lhe que se retratasse ante as autoridades seculares e eclesiásticas ali reunidas, mas ele se negou. O eleitor Federico o Sábio, manteve-o em seu castelo (Wartburg) onde Lutero iniciou a tradução do Novo Testamento do original grego para o alemão, importante contribuição para o desenvolvimento da língua alemã. Em 1529, publicou seu Pequeno catecismo onde explica, em linguagem simples, a teologia da Reforma evangélica. Proibido de assistir à Dieta de Augsburg por ter sido excomungado, Lutero delegou a defesa dos reformadores, formulada na Confissão de Augsburg (1530), a seu colega e amigo, o humanista Felipe Melanchthon. Sua influência estendeu-se ao norte e a leste da Europa e seu prestígio contribuiu para que Wittenberg se tornasse um centro intelectual.

Destacam-se, entre outras obras, Da liberdade do cristão (1519), Manifesto à nobreza cristã da nação alemã (1520), O cativeiro babilônico da Igreja (1520) e Da Escravidão do Arbitrio (1525).


Sangha, comunidade monástica budista instituída, na antigüidade, por Buda. É a instituição central do budismo primitivo. Constitui, junto à figura de Buda e seus ensinamentos, o dharma.

Os primeiros clérigos sangha foram os cinco companheiros de Buda que, com ele, praticaram o ascetismo e aos quais falou depois de conseguir a Iluminação. Após o sermão de Benares foram ordenados monges com votos de pobreza e celibato. No começo, reinava a democracia nos mosteiros. Aos poucos, desenvolveram-se hierarquias internas com abades que desfrutavam de poderes. De qualquer modo, o fato de Buda se negar a designar um sucessor, remeteu toda a autoridade para a doutrina dharma, contribuindo para que cada monge se considerasse igual ao outro no caminho da salvação espiritual.

As congregações budistas mantêm, hoje em dia, um maior grau de entrosamento com as sociedade onde se situam: o alívio da miséria, a atenção aos doentes e a educação a qual consagram a maior parte de seu tempo são testemunhos destes trabalhos. Os monges também dirigem o culto dos templos, oficiam funerais e, em alguns casos, desempenham destacado papel político.


Dharma, termo que engloba vários conceitos básicos do hinduísmo: a natureza do mundo, a ordem social, a lei cósmica e a lei social. Representa a crença em que a forma que possuem as coisas (lei descritiva) é inseparável da maneira como as coisas têm que ser (lei prescritiva).


Tantra, conjunto de textos e rituais religiosos esotéricos budistas e hindus. Os tantras hindus foram escritos depois dos puranas na Idade Média. Constituem um diálogo entre o deus Shiva e sua esposa Parvati, no qual ele lhe explica a filosofia e os mitos subjacentes no ritual tântrico.

O budismo tântrico é um aspecto do terceiro estado do budismo, o condutor do raio ou do diamante (Vajrayana).


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