Hades e Perséfone
MITOLOGIA GREGA
Por quê mitologia??

O mito expressa o mundo e a realidade humana, mas sua essência é efetivamente uma representação coletiva da percepção dessa realidade.
E, na medida em que pretende explicá-la, o mito não pode ser lógico. Ao contrário, é ilógico e irracional. Presta-se a todas as interpretações.
Decifrar o mito é, portanto, decifrar-se, na medida em que nossos valores e concepções de mundo estarão inevitavelmente embutidos na interpretação que fizermos...
Quanto à religião (do latim religione, verbo religare, ação de "ligar"), pode-se definí-la como o conjunto de atitudes e atos pelos quais o homem se prende, se liga ao divino ou manifesta sua dependência em relação a seres invisíveis, tidos como sobrenaturais.
"Para os antigos, em um sentido mais literal e restrito, a religião seria a ritualização do mito. Através do ritual, o homem se incorporaria ao mito, beneficiando-se de todas as forças e energias que jorraram nas origens." ( Brandão, J.S.)
Outro aspecto essencial do mito é a recuperação do tempo enquanto elemento sagrado.
Se o tempo profano, cronológico, é linear e por isso irreversível, o tempo sagrado, mítico, é circular, voltando sempre sobre si mesmo. Os gregos magistralmente simbolizaram esta noção cíclica do tempo através da figura de Crono, o deus que fertilizava indefinidamente a deusa Gaia apenas para devorar os neonatos. O ciclo infinito do sair do ventre e para o ventre retornar: este é o tempo mítico...
No entanto, é precisamente esta circularidade o que liberta o homem do peso do tempo morto, dando-lhe a segurança de que ele é capaz de abolir o passado, de recomeçar sua vida e recriar seu mundo... O mito se presta, portanto, à libertação das noções fatalistas do passado, presente e futuro.

De CAOS a ZEUS
(a cosmogonia segundo os gregos)

" A terra, porém, estava informe e vazia, as trevas cobriam a face do abismo e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas."

Na cosmogonia (criação do universo) egípcia, o Caos é uma energia poderosa do mundo informe, que existia antes da criação e coexiste com o mundo formal,
envolvendo-o com uma imensa e inexaurível reserva de energias, nas quais se dissolverão as formas no final dos tempos.
Na tradição chinesa, o Caos é o espaço homogêneo, anterior à divisão em quatro horizontes, o que equivale à criação do Mundo. Esta divisão marca a passagem do diferenciado e a possibilidade de orientação, constituindo-se na base da organização do cosmo.
Do Caos grego surgiram Gaia, Eros e Tártaro, bem como Érebo e Nix (trevas), e Éter e Hemera (luz radiante)...
Gaia ou Géia é a mãe terra (Tellus Mater), elemento primordial e deusa cósmica. Dela nascem todos os seres. Suas virtudes básicas são a doçura, a submissão, a firmeza cordata e duradoura, a humildade (etimol.: humus, "terra", de que homo, "homem", foi modelado). A própria Gaia deu origem a Urano, o Céu, que a cobriu, e com ele teve vários filhos, os Titãs, as Titânidas, os Ciclopes e os Hecatonquiros.
Um dos Titãs, Crono , se rebelou contra a posição déspota do pai, que tinha por prática devolver os neonatos ao ventre materno, e castrou o Deus. A mutilação de Urano põe fim à sua desordenada fecundidade, e do membro decepado surge a bela Afrodite, deusa do amor, e responsável pela introdução da ordem na reprodução, impedindo qualquer procriação desordenada e nociva.
Crono assume o lugar de Urano no governo do mundo e de sua união com a titânida Réia nascem Héstia, Deméter, Hera, Hades, Poseidon e Zeus. Todos eram engolidos por ele assim que nasciam, com excessão de Zeus, que foi salvo por Réia através de um artifício: ela deu à luz escondida em Creta, entregando à Crono uma pedra enrolada em panos de linho. Crono devorou a pedra e assim Zeus pôde viver e mais tarde lutar contra seu pai.
Para destituir Crono de seu governo tirânico, Zeus contou com a ajuda dos irmãos imortais antes engolidos pelo pai. Ao vencerem, houve a partilha: à Zeus coube o Olimpo, a Poseidon os Mares, e a Hades, o mundo subterrâneo (ínferos).
Por ter liderado a guerra contra o deus déspota, Zeus assumiu o posto de Deus dos Deuses, tornando-se a figura mais importante dentre os Imortais e os homens...
 

Eros e Afrodite
Escultura: Eros e Afrodite
 
 
Um dia, lá pela meia-noite,
Quando a Ursa se deita nos braços do Boieiro,
E a raça dos mortais, toda ela, jaz, domada pelo sono,
Foi que Eros apareceu e bateu à minha porta.
"Quem bate à minha porta,
E rasga meus sonhos?"
Respondeu Eros: "Abre", ordenou ele;
"Eu sou uma criancinha, não tenhas medo.
Estou encharcado, errante
Numa noite sem lua."
Ouvindo-o, tive pena.
De imediato, acendendo o candeeiro,
Abri a porta e vi um garotinho:
Tinha um arco, asas e uma aljava.
Coloquei-o junto ao fogo
E suas mãos nas minhas, aqueci-o,
Espremendo a água úmida que lhe escorria dos cabelos.
Eros, depois que se libertou do frio,
"Vamos", disse ele, "experimente este arco,
Veja se a corda molhada não sofreu prejuízo".
Retesa o arco e fere-me no fígado,
Bem no meio, como se fora um aguilhão.
Depois, começa a saltar, às gargalhadas:
"Hospedeiro", acrescentou, "alegra-te,
Meu arco está inteiro, teu coração, porém, ficará partido".

Ode a Eros, Anacreonte, VI  aC


 
 
EROS: personificação do Amor, garante a continuidade das espécies, e com ela, a coesão interna do cosmos. Longe de ser um deus Todo-Poderoso, Eros é uma força, uma energia, estando perpetuamente insatisfeito e inquieto: uma carência sempre em busca de plenitude...
A ele são atribuídas diversas outras genealogias, como, por exemplo, filho de Afrodite e Ares. Sob a influência da poesia, aparece como um garotinho alado, inocente e travesso que jamais cresceu, pois a idade da razão (lógos), é incompatível com a inconsequência do amor.
Do ponto de vista cósmico, após a explosão que fragmentou o ser único em vários seres, o amor atua como dynamis, a "força" que canaliza o retorno à unidade.
O conflito entre a alma e o amor é simbolizado pelo mito de Eros e Psiquê.
 
 

TÁRTARO: é o local mais profundo das entranhas da terra, muito abaixo do próprio Hades (o inferno). Mais tarde, quando  Hades subdividiu-se em três compartimentos, Tártaro passou a fazer parte dele. A saber:
Campos Elíseos era o local onde permaneciam por pouco tempo os mortos que não tinham muito o que expurgar.
Érebo, residência temporária dos mortos que tinham muito a sofrer.
Tártaro, local de suplício perpétuo dos grandes criminosos, humanos ou heróis...
 
 

CRONO: provém de krónos, sem etimologia definida. Por um jogo de palavras, Crono foi muitas vezes identificado como o Tempo personificado, já que em grego khrónos (com "h") é tempo. Porém, a identificação de certa forma é válida: Crono devora, ao mesmo tempo em que gera, retomando a idéia de algo circular, tempo mítico.

Zeus e Crono


ZEUS: a etimologia é bastante complexa. Do grego zéus, pressupõe dois radicais: dy-eu, fonte de Zeus (Dzéus), e deiw > deiuos, "deus". Em latim, Iou, com a junção de piter (pater, "pai") gerou Iupitter, "pai do céu luminoso". No alemão Tiu > Ziu é o deus da guerra, aparecendo o mesmo nome em inglês, sob a forma Tuesday (terça-feira), "o dia de Zeus".
A luta de Zeus contra os Titãs, filhos de Crono, ficou conhecida em grego como Titanomaquia. Alguém arriscaria alguma relação com o título do CD lançado pelos Titãs logo após o rompimento e a saída do vocalista e compositor Arnaldo Antunes???
 
 

AFRODITE: do grego Aphrodite, sendo que aphrós, significando "espuma", remete ao nascimento dela a partir do membro ensanguentado de Urano. A deusa do amor possui duas sub-denominações: Afrodite Urânia e Afrodite Pandêmia, sendo a primeira a inspiradora de um amor etéreo, superior e a segunda a inspiradora dos amores vulgares, carnais...  
Casada com Hefesto, o deus coxo da ilha de Lemnos, comumente procurava satisfazer seus impulsos com outros homens, fossem eles Imortais ou simples humanos. Um deles, o deus Ares, sempre a procurava durante as ausências de Hefesto, á noite, deixando como sentinela o jovem Aléctrion. Este deveria avisá-los da chegada da luz do dia, ou seja, o surgimento de Hélio (deus -Sol, que tudo via quando seus raios iluminavam o mundo, e daí o risco de deflagrar os amantes). Uma noite o sentinela adormeceu, e assim Ares e Afrodite foram surpreendidos por Hélio, que os prendeu com uma rede no leito e convocou os deuses olímpicos para assistirem a cena. Envergonhada com a humilhante situação, Afrodite fugiu para Chipre e Ares para a Trácia. Nesta noite foram gerados os filhos Fobos (o Medo), Deimos (o Terror) e a pequena Harmonia. Quanto ao jovem Aléctrion, recebeu castigo exemplar: foi transformado em galo (aléktryon, em grego), e obrigado a cantar toda madrugada, antes do nascimento do sol...
 
 

GAIA: guardiã da semente e da vida, à ela são devolvidos os mortos, em rituais que se repetem em todas as culturas humanas: os enterros, ainda que simbólicos, são análogos às imersões batismais. De toda forma, esse ritual tem o significado religiosos de regressus ad uterum (regresso ao útero): a regeneração pelo contato com as energias telúricas (relativo a telus, "terra"), a fim de renascer para uma nova vida... 
A descida às grutas e cavernas simbolizam esse contato com Gaia, assim adquirindo significado profundamente religioso para os gregos. O Labirinto de Knossos, em sentido figurativo, pode significar esse reencontro com as coisas sobrenaturais, na medida em que quem nele adentra, só o deixaria após provações ou morte física... Os oráculos geralmente se localizavam em escavações humanas, de forma a promoverem esse encontro com o sagrado, facilitando a comunicação com os deuses do Olimpo. A prática de se bater em madeira para afastar mau agouro provém da etimologia relativa ao nome mater, referente à Gaia: materia, transcrito foneticamente como madeira. Ao bater na madeira, evocaria-se a proteção da mãe-terra... 
Filhas de Gaia, as ninfas habitavam a terra e as águas. A palavra grega nymphe significa "a que está coberta com véus", "noiva". Em latim, nubere... Curiosidade: em latim, o verbo casar se expressa diferentemente para o homem e para a mulher. Em relação à ele, o verbo utilizado é ducere uxorem, literalmente "conduzir a mulher (para casa), comandar". Para ela, o verbo é nubere, "cobrir-se com um véu", velar-se, recolher-se, ocultar-se... Ou seja, você deve imaginar o quão machista é ser pedida em casamento: no sentido literal e etimológico, casar-se REALMENTE é relacionado com casa enquanto espaço físico, um "cárcere" matrimonial...

Voltando às ninfas, elas subdividiam-se em:  
Oceânidas: ninfas do alto-mar;  
Nereidas: ninfas das praias;  
Potâmidas: ninfas dos rios;  
Náiades: ninfas dos ribeirões e riachos; 
Crenéias: ninfas das fontes;  
Pegéias: ninfas das nascentes;  
Limneidas: ninfas dos lagos;   
Napéias: ninfas dos vales e selvas;  
Oríades: ninfas das montanhas e colinas; 
Dríades e Hamadríades: ninfas das árvores e em especial, dos carvalhos (árvore consagrada a Zeus).
 

 
 
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