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Estudos bíblicos
Doutrina Cat�lica

(D. ESTEV�O TAVARES BETTENCOURT, OSB)

O autor sagrado apresenta origem distinta para o homem e para a mulher. Analisemos um e outro caso.

Origem do homem

Ser� que o texto de Gn 2, 7 quer dizer algo sobre o modo como apareceu o homem na face da terra?

Respondemos negativamente. O autor sagrado utilizou a imagem do Deus-Oleiro, que era assaz freq�ente nas tradi��es dos povos antigos. Com efeito; no poema babil�nico de Gilgamesh conta-se que, para criar Enkidu, a deusa Aruru "plasmou argila". Na lenda assiro-babil�nica de Ea e Atar-hasis, a deusa Miami, intencionando criar sete homens e sete mulheres, fez quatorze blocos de argila; com estes, suas auxiliares plasmaram quatorze corpos; a deusa rematou-os, imprimindo-lhes tra�os de indiv�duos humanos e configurando-os � sua pr�pria imagem. No Egito um baixo-relevo em Deir=el-Bahari e outro em Luxor apresentam o deus Cnum modelando sobre a roda de oleiro os corpos respectivamente da rainha Hatshepsout e do Fara� Amenofis III; as deusas colocavam sob o nariz de tais bonecos o sinal hierogl�fico da vida ank, para que a respirassem e se tornassem seres vivos.

Entre os Maoris da Nova Zel�ndia, conta-se o seguinte epis�dio: um certo deus, conhecido pelos nomes de Tu, Tiki e Tan�, tomou argila vermelha � margem de um rio, plasmou-a; misturando-lhe o seu pr�prio sangue, e dela fez uma c�pia exata da Divindade; depois, animou-a soprando-lhe na boca unas narinas; ela ent�o nasceu para a vida e espirrou. O homem plasmado pelo criador Maon parecia-se tanto com este que mereceu por ele ser chamado Tiki-Ahua, isto �, imagem de Tiki.

Compreende-se, pois, que o tema do Deus-Oleiro, ocorrente tamb�m na B�blia, n�o passa de met�fora. Quer dizer que, como o oleiro est� para o barro, assim Deus est� para o homem. E como � que est� o oleiro parvo barro? - Numa atitude de sabedoria, carinho, maestria, pro�vid�ncia... Assim tamb�m Deus est� para o homem, qualquer que tenha sido a modalidade de origem do ser humano. N�o se queira extrair desta passagem alguma li��o de teor cient�fico.

Origem da mulher

Que significa a costela extra�da de Ad�o para dar origem � mulher? - N�o implica que esta tenha tido princ�pio diferente do homem. O tema da costela h� de ser entendido a partir das palavras finais de Ad�o: "Esta � osso dos meus ossos e carne da minha carne" (Gn 2, 23); tal afirma��o � metaf�rica e significara mulher � da natureza ou da dignidade do pr�prio homem, em oposi��o aos demais seres (embora cercado destes, o autor enfatiza que o homem estava s�). Ora, para preparar e justificar esta asser��o a respeito da dignidade da mulher, o autor descreve o pr�prio Deus atirar carne e osso (uma costela) do homem a fim de formar o corpo da mulher; a "extra��o" da costela e a forma��o da mulher, no caso, n�o t�m sentido literal, mas v�m a ser a maneira "pl�stica" de afirmar a igualdade de natureza do homem e da mulher.

� � luz desta verdade que se deve entender tamb�m o desfile de animais perante o homem e a imposi��o de nome a cada um deles (2,19s). "Impor o nome", para os antigos, significa "reconhecer a ess�ncia, a identidade do ser nomeado". O autor sagrado imagina Ad�o a impor nomes aos animais para poder enfatizar de modo muito concreto que nenhum animal era adequado ao homem; notemos que, antes e depois do "desfile", o texto verifica que o homem estava s� (2, 18.20). Devemos, pois, concluir que tal cena n�o tem sentido literal, mas visa apenas a fazer o contraste entre o homem e os animais inferiores e assim preparar o surto da mulher "feita da costela" ou participante da dignidade do homem.

N�o se deve, pois, na base do texto b�blico, atribuir � mulher origem diversa da que tocou ao homem. Resta, ent�o, indagar: que diz o texto sagrado sobre a maneira como apareceu o ser humano? A B�blia n�o foi escrita para dirimir o dilema "cria��o ou evolu��o?". Todavia, a partir de premissas filos�ficas e teol�gicas, � preciso dizer que o dilema n�o existe. Vejamo-lo por partes.

Quanto ao homem, a pergunta � colocada popularmente nestes termos: "Vem do macaco ou n�o?" - Responderemos distinguindo entre corpo e alma do homem. O corpo, sendo mat�ria, pode provir de mat�ria viva preexistente; n�o proviria dos macacos hoje existentes, pois estes j� s�o muito especializados e n�o evoluem mais; proviria, por�m, do primata ou do ancestral dos macacos e do corpo humano. A alma, contudo, n�o teria origem por evolu��o, mas por cria��o direta de Deus; sendo espiritual, ela n�o prov�m da mat�ria em evolu��o (o esp�rito n�o � energia quantitativa nem fluido nem �ter; por isto n�o pode originar-se da mat�ria). Assim se conciliam cria��o e evolu��o no aparecimento do homem: pode-se admitir que, quando o corpo do primata estava suficientemente evolu�do ou organizado, Deus lhe infundiu a alma espiritual, diretamente criada para dar-lhe a vida de ser humano. Isto ter� ocorrido tanto no surto do homem como no da mulher.

Considerando agora o universo, podemos dizer que a mat�ria inicial, ca�tica nebulosa), donde ter� procedido a evolu��o, foi criada diretamente por Deus (n�o � mat�ria eterna). Deus lhe haver� dado as leis de sua evolu��o de modo que dela tiveram origem os minerais, os vegetais e os animais irracionais at� o limiar do homem. Quando o Senhor Deus quis que este aparecesse na face da terra, realizou outro ato cria�dor, infundindo a alma espiritual no organismo do primata evolu�do. � o que se pode reproduzir no seguinte esquema:

Ato criador - Evolu��o - Ato criador - alma espiritual

Mat�ria inicial -> minerais -> vegetais -> animais--> organismo aperfei�oado (nebulosa) irracionais

No tocante � origem da vida, � preciso distinguir vida vegetativa, vida sensitiva e vida intelectiva. As duas primeiras modalidades dependem de um princ�pio vital material, que bem pode ter sido eduzido da mat�ria em evolu��o. Ao contr�rio, a vida intelectiva depende de um princ�pio vital (alma) espiritual, que s� pode provir de um ato criador de Deus.

Monogenismo ou poligenismo?

Pergunta-se: quantos indiv�duos houve na origem do g�nero hu�mano atual? � costume responder: um homem (Ad�o) e uma mulher (Eva). Esta afirma��o pode ser licitamente repensada em nossos dias.

A ci�ncia reconhece tr�s hip�teses referentes ao n�mero de indiv��duos primitivos:

Polifiletismo: muitos troncos ou ber�os do g�nero humano (na �sia, na �frica, na Europa...). e o

Monofiletismo, que se divide em:

a) poligenismo: um s� ber�o com muitos casais; (um s� tronco)

b) monogenismo: um s� ber�o com um casal s�

Ora a primeira hip�tese (polifiletismo) contraria � f� e �s probabilidades cient�ficas. N�o se diga que o g�nero humano apareceu sobre a terra em localidades diversas simultaneamente.

O monofiletismo monogen�tico (um casal s�) � a cl�ssica tese, aparentemente deduzida da B�blia. Todavia verifica-se, ap�s leitura atenta do texto sagrado, que n�o � a �nica hip�tese concili�vel com a f�. O poligenismo n�o se op�e a esta. E por qu�?

A palavra hebraica Adam significa homem; n�o � nome pr�prio, mas substantivo comum. Por conseguinte, quando o autor sagrado diz que Deus fez Adam, quer dizer que fez o homem, o ser humano, sem tencionar especificar o n�mero de indiv�duos (um, dois ou mais...). Muito significativo � o texto de Gn 1, 27: "Deus criou o homem (Adiam) � sua imagem; � imagem de Deus Ele o criou; homem e mulher Ele os criou". Neste vers�culo verifica-se que a palavra Adam n�o designa um indiv�duo, mas a esp�cie humana diversificada em homem e mulher. - O nome "Eva" tamb�m n�o � nome pr�prio, mas significa em hebraico "m�e dos vivos" (Gn 3, 20). Fica, pois, aberta ao fiel cat�lico a possibilidade de admitir mais de um casal na origem do g�nero humano. O que importa, em qualquer hip�tese, � afirmar que os primeiros pais (dois ou mais) foram elevados � filia��o divina (justi�a original) e que, submetidos a uma prova, n�o se mantiveram no estado de amizade com Deus (cometeram o pecado original). - Seria falso, por�m, dizer que Ad�o e Eva nunca existiram ou que s�o f�bula ou alegoria: s�o t�o reais quanto o g�nero humano � real; o texto sagrado nos diz que Deus tratou com o homem nas suas origens,... com o homem real, e n�o com um ser fict�cio. E a hist�ria referente aos primeiros pais � hist�ria real, embora narrada em linguagem figurada (serpente, �rvore, fruta...). - De resto, � in�til insistir sobre a quest�o "poligenismo ou monogenismo?", pois n�o h� crit�rios cient�ficos para dirimi-ia (a ci�ncia at� hoje n�o tocou a estaca zero do g�nero humano); apenas interessa notar que a hip�tese poligenista n�o contraria � f�.

A origem das ra�as n�o exige o polifiletismo. Com efeito: o conceito de "ra�a" � assaz flex�vel; ra�a resulta de um conjunto de determina�dos elementos do ser humano (cor da pele, forma dos olhos, tipo de cabelo...). Todavia a mesclagem desses elementos � t�o variegada sobre a face da terra que h� uma gama cont�nua de tipos entre o indiv�duo branco, o negro, o amarelo... Em conseq��ncia, a origem desses tipos raciais pode explicar-se a partir de um s� princ�pio: devem-se n�o somente �s diversas condi��es de clima, alimenta��o, trabalho das popula��es, mas tamb�m ao fen�meno do mutacionismo (mudan�as bruscas em indiv�duos raros, que se transmitem estavelmente).

S�o estes alguns coment�rios que o texto de Gn sugere ao estudioso contempor�neo: [ Pergunte & Responderemos, n� 469 - D. Est�v�o Bettencourt ]

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