Quackwatch
em português
Como Distingüir Ciência de
Pseudociência
Rory Coker, Ph.D.
Tradutor:
Francisco S. Wechsler, Ph.D.
A palavra
"pseudo" significa falso. O modo
mais seguro de identificar algo falso é saber tanto
quanto possível sobre o fato real -- neste caso, a
própria ciência. Ter conhecimento científico não se
restringe a saber fatos científicos (como a distância
da Terra ao Sol, a idade da Terra, as diferenças entre
mamíferos e répteis, etc.). Significa entender a
natureza da ciência os critérios para obter
evidência, como projetar experimentos relevantes, a
avaliação de possibilidades, os testes de hipóteses, o
estabelecimento de teorias, os múltiplos aspectos dos
métodos científicos que tornam possível estabelecer
conclusões confiáveis acerca do universo físico.
Já que os meios de
comunicação bombardeiam-nos com absurdos, torna-se
útil ter em conta as características da pseudociência.
A presença de apenas uma delas já deve despertar grande
suspeita. Por outro lado, um material que não mostre
nenhum destes vícios poderá ser pseudociência não
obstante, pois seus adeptos inventam diariamente novas
maneiras de se tapear. A maioria dos exemplos deste
artigo relacionam-se à física, minha área de
conhecimento, porém crenças e comportamentos
semelhantes estão associados à astrologia médica,
iridologia, quiropraxia baseada em subluxação,
reflexologia, terapia dos meridianos, toque terapêutico
e outras pseudociências da saúde.
A pseudociência
exibe indiferença pelos fatos.
Em vez de se dar ao trabalho de consultar referências ou
investigar diretamente, seus proponentes limitam-se a
regurgitar falsos fatos sempre que
necessário. Estas ficções são amiúde cruciais para
os argumentos e conclusões do pseudocientista. Ademais,
pseudocientistas raramente revisam seus textos. A
primeira edição dum livro pseudocientífico é quase
sempre a última, muito embora ele continue a ser
impresso por décadas ou mesmo séculos. Até mesmo
livros com erros óbvios de conteúdo e impressão são
reimpressos sem modificação, vezes sem conta.
Compare-se isto aos compêndios científicos que são
reeditados a cada punhado de anos, devido ao rápido
acúmulo de novos fatos e critérios.
A
pesquisa pseudocientífica é invariavelmente
mal feita.
Os pseudocientistas recortam notícias de jornais,
colecionam boatos, citam outros livros pseudocientíficos
e debruçam-se sobre antigas obras religiosas ou
mitológicas. Raramente ou nunca empreendem uma
investigação independente para verificar suas fontes.
A pseudociência
parte duma hipótese que geralmente possua apelo
emocional e seja espetacularmente implausível e a
seguir busca somente os itens que a apóiem.
Desprezam-se as evidências conflitantes. De modo geral,
a pseudociência visa racionalizar crenças fortemente
arraigadas, ao invés de investigar ou testar
possibilidades alternativas. A pseudociência se
especializa em atingir conclusões
apropriadas e espicaçar ideologias, ao
apelar a idéias preconcebidas e mal-entendidos
disseminados.
A pseudociência
é indiferente aos critérios para estabelecer evidência
válida.
A ênfase não reside em experimentos científicos
relevantes, controlados e repetíveis. Pelo contrário,
baseia-se em testemunhos não verificáveis, histórias e
lorotas, boatos, rumores e relatos dúbios. A literatura
genuinamente científica ou é desprezada ou distorcida.
A pseudociência
confia muito na validação subjetiva.
José da Silva aplica gelatina na cabeça, e sua dor de
cabeça some. Para a pseudociência, isto significa que
gelatina cura dores de cabeça. Para a ciência, isto
nada significa, pois nenhum experimento foi realizado.
Muitas coisas estavam ocorrendo quando a dor de cabeça
de José da Silva sumiu - era lua cheia, um pássaro voou
por sobre ele, a janela estava aberta, José vestia sua
camisa vermelha, etc e sua dor de cabeça acabaria
indo embora de qualquer modo, fosse por que fosse. Um
experimento controlado colocaria muitas pessoas numa
mesma situação, exceto pela presença ou ausência do
remédio que se desejasse testar, e compararia os
resultados, que então teriam alguma possibilidade de ser
relevantes. Muitos acham que a astrologia deve ter algo
válido, pois um horóscopo de jornal descreve-os
perfeitamente. Mas um exame detalhado revelaria que a
descrição é genérica o bastante para enquadrar
praticamente qualquer um. Este fenômeno, chamado de
validação subjetiva, é um dos pilares do apoio popular
à pseudociência.
A pseudociência
depende de convenções arbitrárias da cultura humana,
ao invés de regularidades imutáveis da natureza.
Por exemplo, a interpretação da astrologia baseia-se
nos nomes de coisas, que são acidentais e variam de
cultura a cultura. Se os antigos houvessem chamado de
Marte ao planeta a que chamamos de Júpiter, a astronomia
não daria a mínima, mas a astrologia seria totalmente
outra, pois baseia-se exclusivamente no nome e nada tem
que ver com as propriedades físicas do planeta em si.
A pseudociência
acaba sempre em absurdo se levada adiante.
Talvez os rabdomantes possam sentir de algum modo a
presença de água ou minerais no subsolo, mas quase
todos afirmam poder detectá-los igualmente por meio de
um mapa! Talvez Uri Geller seja um
paranormal, mas será que seus poderes são a
ele irradiados mediante uma ligação de rádio com um
disco voador do planeta Huva, como ele alega? Talvez as
plantas sejam paranormais, mas por que uma
tijela de lama produz exatamente a mesma resposta no
mesmo experimento?
A pseudociência
sempre evita submeter suas alegações a um teste
válido.
Os pseudocientistas nunca efetuam experimentos cuidadosos
e metódicos e geralmente também desprezam
aqueles realizados por cientistas. Os pseudocientistas
tampouco efetuam acompanhamentos. Se algum
pseudocientista declara ter realizado um experimento (tal
como os estudos extraviados de Hermann
Swoboda sobre biorritmos, que constituem a suposta base
da moderna pseudociência da biorritmologia), nenhum
outro pseudocientista procura repetir o experimento ou
fiscalizar o autor, mesmo quando os resultados são
inexistentes ou questionáveis! Ademais, quando um
pseudocientista alega ter realizado um experimento de
resultado notável, ele não o repete para verificar seus
resultados e procedimentos. Isto está em franco
contraste com a ciência, na qual experimentos cruciais
são repetidos por cientistas do mundo todo, com
precisão cada vez maior.
A pseudociência
amiúde se contradiz, mesmo em seus próprios termos.
Estas contradições lógicas são meramente desprezadas
ou racionalizadas. Portanto, não deveríamos nos
surpreender se o Capítulo 1 de um livro sobre
rabdomancia afirma que rabdomantes usam galhos
recém-cortados, pois somente a madeira "viva"
consegue canalizar e focalizar a "radiação
telúrica" que possibilita a rabdomancia, ao passo
que o Capítulo 5 afirma que quase todos os rabdomantes
empregam varas de metal ou plástico.
A pseudociência
cria deliberadamente mistério onde não há nenhum,
ao omitir informações cruciais e detalhes importantes.
Pode-se tornar qualquer coisa "misteriosa",
omitindo o que se sabe a respeito ou apresentando
detalhes imaginários. Os livros sobre o "Triângulo
das Bermudas" são exemplos clássicos desta
tática.
A pseudociência
não progride.
Ocorrem modas, e um pseudocientista pode mudar de uma
moda a outra (de fantasmas à pesquisa de percepção
extra-sensorial, de discos voadores a estudos de
paranormalidade, da percepção extra-sensorial ao
Abominável Homem das Neves). Porém, não se faz nenhum
progresso num dado tópico. Obtém-se pouca ou nenhuma
informação nova. Raramente se propõem novas teorias, e
conceitos antigos raramente se modicam ou são
descartados à luz de novas "descobertas", já
que a pseudociência raramente faz novas
"descobertas". Quanto mais antiga a idéia,
maior o respeito que recebe. Nenhum fenômeno ou processo
natural até então desconhecido da ciência foi
descoberto por pseudocientistas. Na realidade, os
pseudocientistas quase invariavelmente lidam com
fenômenos bem conhecidos pelos cientistas, mas pouco
conhecidos pelo público em geral de sorte que o
público engolirá qualquer alegação que o
pseudocientista queira fazer. Como exemplos temos o andar
sobre brasas e a fotografia
"Kirlian".
A pseudociência
busca persuadir com retórica, propaganda e embuste,
no lugar de evidência válida (que presumivelmente não
existe).
Os livros pseudocientíficos oferecem exemplos de quase
toda a sorte de falácias de lógica e raciocínio
conhecidas pelos estudiosos e têm inventado algumas
novas. Um recurso favorito é o "non sequitur".
Os pseudocientistas também adoram o "Argumento de
Galileu". Este consiste em o pseudocientista
comparar-se a Galileu, dizendo que, assim como o
pseudocientista é tido como equivocado, também Galileu
o era por seus contemporâneos; logo, o pseudocientista
certamente tem razão, exatamente como Galileu. É claro
que esta conclusão não procede! Ademais, as idéias de
Galileu foram testadas, verificadas e prontamente aceitas
por seus colegas de ciência. A rejeição proveio da
religião oficial, que favorecia a pseudociência,
contradita pelas descobertas de Galileu.
A pseudociência
argumenta com base na ignorância ou numa falácia
elementar.
Muitos pseudocientistas baseiam suas alegações na
incompletude de informações sobre a natureza, ao invés
de basear-se no que se sabe até agora. Mas não há como
comprovar uma alegação mediante falta de informação.
O fato de que as pessoas não identificam o que vêem no
céu significa apenas que elas não identificam o que
vêem. Isto não quer dizer que discos voadores provêm
do espaço extraterrestre. A afirmação "A ciência
não consegue explicar" é comum na literatura
pseudocientífica. Em muitos casos, a ciência não tem
interesse nos supostos fenômenos por não haver
evidência de que existam; noutros casos, a explicação
científica é bem conhecida e demonstrada, mas o
pseudocientista não sabe disso ou despreza
deliberadamente o fato para criar mistério.
A pseudociência
argumenta com base em supostas exceções, erros,
anomalias, acontecimentos estranhos, e alegações
suspeitas ao invés de regularidades da natureza
bem demonstradas.
A experiência dos cientistas nos últimos 400 anos é
que alegações e notícias que descrevem objetos bem
estudados como se comportassem de forma estranha e
incompreensível costumam ser reduzir-se, após
investigação, a fraudes deliberadas, enganos honestos,
descrições confusas, mal-entendidos, mentiras
deslavadas e asneiras graves. Não é recomendável
julgar tais notícias pela aparência, sem verificá-las.
Os pseudocientistas sempre as tomam ao pé da letra, sem
recorrer a comprovação independente.
A pseudociência
apela à falsa autoridade, emoção, sentimento ou
desconfiança de um fato comprovado. Um indivíduo
que abandonou o curso secundário é aceito como experto
em arqueologia, embora nunca a tenha estudado! Um
psicanalista é aceito como experto em todos os aspectos
da história humana, sem contar física, astronomia e
mitologia, muito embora suas alegações sejam
incompatíveis com tudo que se sabe nestas quatro áreas.
Um físico diz que um "paranormal" jamais
poderia enganá-lo com meros truques de mágica, embora
ele nada saiba sobre mágica e prestidigitação. Apelos
emocionais são comuns ("Se isto fá-lo sentir-se
bem, deve ser verdade."; "No fundo de seu
coração você sabe que isto está correto"). Os
pseudocientistas gostam de conspirações imaginárias
("Há farta evidência sobre discos voadores, mas o
Governo mantém segredo."). E argumentam com
irrelevâncias; ao ser confrontados por fatos
inconvenientes, limitam-se a retrucar: "Os
cientistas não sabem tudo!"
A pseudociência
faz alegações extraordinárias e aventa teorias
fantásticas
que contradizem o que se conhece sobre a natureza.
Não apenas deixam de fornecer provas da veracidade de
suas alegações, mas também desprezam todas as
descobertas que contradigam suas conclusões. ("De
algum lugar os discos voadores devem vir portanto
a Terra é oca, e eles vêm do seu interior.";
"A faísca que produzo com este aparelho elétrico
não é na verdade uma faísca, mas sim uma
manifestação sobrenatural de energia
psicoespiritual."; "Todo ser humano está
rodeado por uma aura impalpável de energia
eletromagnética, o ovo áurico dos antigos videntes
hindus, que espelha fielmente o humor e condição deste
humano.")
Os
pseudocientistas inventam seu próprio vocabulário, no
qual muitos termos carecem
de definições precisas ou sem ambigüidade, e alguns
não possuem nenhuma definição.
Os ouvintes são amiúde forçados a interpretar as
afirmações conforme suas próprias preconcepções. Por
exemplo, o que significa "energia biocósmica"
ou "sistema psicotrônico de amplificação"?
Os pseudocientistas buscam com freqüência imitar o
jargão científico e técnico jorrando uma algaravia que
soa científica e técnica. Os curandeiros estariam
perdidos sem o termo "energia", mas o emprego
que dele fazem não tem absolutamente nada que que ver
com o conceito de energia usado pelos físicos.
A pseudociência
apela aos critérios de comprovação da metodologia
científica,
ao mesmo tempo em que nega a validade destes.
Assim, um experimento realizado de forma inválida, que
parece mostrar que a astrologia funciona, é proposto
como "prova" de que a astrologia está correta,
ao mesmo tempo em que se desprezam milhares de
experimentos executados corretamente que provam que ela
não funciona. O fato de que alguém se deu bem usando
simples truques de mágica nalgum laboratório
científico é "prova" de que ele é um
super-homem paranormal, enquanto se despreza o fato de
que ele foi flagrado tapeando em diversos outros
laboratórios.
A pseudociência
alega que os fenômenos por ela estudados são
"sensíveis".
Os fenômenos só se manifestam em condições vagamente
especificadas, porém vitais (como, por exemplo, quando
não há incrédulos nem céticos presentes; quando não
há expertos presentes; quando ninguém está observando;
quando as "vibrações" estão corretas; ou só
uma vez em toda história humana). A ciência afirma que
fenômenos genuínos devem ser investigáveis por
qualquer um que disponha do equipamento apropriado, e
todos os experimentos executados de forma válida devem
fornecer resultados consistentes. Nenhum fenômeno
genuíno padece desta "sensibilidade". Não há
como montar um televisor ou rádio que só funcionam na
ausência de céticos! Alguém que alegue ser um
violinista de concertos, mas jamais possuiu um violino e
se recusa a tocar sempre que alguém possa ouvi-lo, está
mui provavelmente mentindo sobre sua capacidade de tocar
violino.
As
"explicações" pseudocientíficas costumam
limitar-se a descrições do cenário.
Ou seja, é nos contada uma história, e nada mais, não
temos descrição alguma de qualquer possível processo
físico. Por exemplo, o ex-psicanalista Immanuel Velikovsky (1895-1979) sustentava que
um planeta que passou perto da Terra fez com que o eixo
desta virasse de cabeça para baixo. É tudo que ele
disse. Não forneceu nenhum mecanismo. Mas o mecanismo é
essencial, porque as leis da física determinam a
impossibilidade do processo. Isto é, a aproximação de
um planeta não pode provocar a virada do eixo de
rotação de outro planeta. Se Velikovsky houvesse
descoberto algum modo pelo qual um planeta pudesse virar
o eixo de outro planeta, presume-se que ele teria
descrito o mecanismo que permitisse o acontecimento. Uma
afirmação nua e crua, desprovida do mecanismo
subjacente, não fornece nenhuma informação. Velikovsky
disse que Vênus foi outrora um cometa, cuspido dum
vulcão em Júpiter. Já que planetas não se parecem com
cometas (que são restos de rochas ou gelo em forma de
bola de neve, em nada relacionados a vulcões), e visto
que não se conhece nenhum vulcão em Júpiter (nem mesmo
uma superfície sólida!), não poderia existir nenhum
processo físico real subjacente às afirmações de
Velikovsky. Ele nos forneceu palavras, relacionadas entre
si numa frase, mas estas relações eram estranhas ao
universo real em que vivemos, e não deu nenhuma
explicação de como elas poderiam existir. Ele nos
forneceu histórias, não teorias genuínas.
Os
pseudocientistas apelam freqüentemente ao antigo hábito
humano de pensar magicamente.
Mágica, feitiçaria, bruxaria baseiam-se em
semelhanças espúrias, falsas relações de causa e
efeito, etc. Ou seja, presumem-se desde o começo
influências inexplicáveis e relações entre coisas
não comprovadas por investigação. (Se você
pisar numa fenda da calçada sem dizer a palavra mágica,
sua mãe irá sofrer uma fratura; comer folhas em forma
de coração faz bem a doentes do coração; expor o
corpo a luz vermelha aumenta a produção de sangue; os
carneiros machos são agressivos, portanto quem nasça
sob o signo do Carneiro será agressivo; os peixes são
"alimento do cérebro", porque sua carne se
parece com tecido cerebral, etc.)
A pseudociência
fia-se grandemente em pensamenos anacrônicos.
Quanto mais velha a idéia, mais atraente se torna à
pseudociência é a sabedoria dos antigos! --
principalmente se a idéia for claramente errada e tiver
sido há muito descartada pela ciência. Muitos
jornalistas têm dificuldade em compreender este ponto.
Um repórter típico, ao escrever sobre astrologia,
talvez ache que possa realizar um trabalho bem feito
entrevistando seis astrólogos e um astrônomo. O
astrônomo diz que é tudo bobagem; os seis astrólogos
dizem que é uma ótima coisa, e que, por cinqüenta
dólares, terão prazer em confeccionar o horóscopo de
qualquer um. (Sem dúvida!) Para muitos editores e seus
leitores, isto confirmaria a astrologia por seis votos
contra um!
A tabela seguinte
contrasta algumas caraterísticas da ciência e da
pseudociência.
Ciência
|
Pseudociência
|
Suas descobertas são
comunicadas principalmente por meio de
periódicos científicos, que são revisados por
colegas e mantêm padrões rigorosos de
honestidade e acurácia. |
A literatura visa o público
em geral. Não há revisão, padrões,
verificação que preceda a publicação, nem
exigência de precisão e acurácia. |
Exigem-se resultados
reproduzíveis; os experimentos devem ser
descritos de forma precisa, para que se possa
repeti-los à exatidão ou melhorá-los. |
Não se consegue reproduzir
ou verificar os resultados. Os estudos, quando os
há, são descritos de modo tão vago, que se
torna impossível descobrir o que foi feito ou
como foi feito. |
Buscam-se e estudam-se as
falhas atentamente, pois teorias incorretas
amiúde levam a conclusões corretas, mas nenhuma
teoria correta leva a predições incorretas. |
As falhas são desprezadas,
desculpadas, escondidas, falsificadas,
amenizadas, racionalizadas, esquecidas, evitadas
a todo custo. |
Com o passar do
tempo, mais e mais se aprende sobre os processos
físicos em estudo. |
Nunca nenhum fenômeno ou
processo físico é descoberto ou estudado.
Nenhum progresso é feito; nada de concreto é
aprendido. |
Convence pelo apelo à
evidência, por argumentos fundados em
raciocínio lógico e/ou matemático, procurando
extrair a melhor informação que os dados
permitam. Quando evidência mais recente
contradiz idéias antigas, estas são
descartadas. |
Convence apelando à fé e à
crença. A pseudociência tem um forte componente
quase-religioso: tenta converter, não convencer.
Você deve acreditar apesar dos fatos, não por
causa deles. Nunca se abandona a idéia original,
qualquer que seja a evidência. |
Não defende ou
comercializa práticas ou produtos não
comprovados.
|
Parte ou a totalidade de sua
renda provém da venda de produtos duvidosos
(tais como livros, cursos, suplementos
dietários), e/ou serviços pseudocientíficos
(tais como horóscopos, leituras de
personalidade, mensagens de espíritos e
previsões). |
Poder-se-ia
expandir grandemente esta tabela, pois a ciência e
pseudociência são modos diametralmente opostos de
enxergar a natureza. A ciência confia e insiste
em no auto-questionamento, na testagem e no
pensamento analítico, o que torna difícil enganar-se ou
esquivar-se de enfrentar os fatos. A pseudociência, por
outro lado, preserva as formas de pensar antigas,
naturais, irracionais e não objetivas que são
centenas de milhares de anos mais velhas que a ciência
processos mentais que deram origem a
superstições e outras idéias fantasiosas e errôneas
sobre o homem e a natureza que vão desde o vudu
até o racismo; deste a Terra plana até o Universo em
forma de casa com Deus no sótão, Satã no porão e o
homem no térreo; desde as danças da chuva até torturar
e brutalizar os mentalmente enfermos para expulsar os
demônios que os possuem. A pseudociência encoraja as
pessoas a acreditar naquilo que quiserem. Fornece
"argumentos" plausíveis para enganar-se a si
mesmo até achar que toda e qualquer crença é
igualmente válida. A ciência começa dizendo: vamos
esquecer o que achamos que seja, e tentar, mediante
investigação, descobrir o que realmente é. Estes
caminhos não se cruzam e conduzem a direções
totalmente opostas.
Alguma confusão
sobre este ponto origina-se daquilo que chamamos de
"encruzilhada". "Ciência" não é um
distintivo honorário para se ostentar, é uma atividade
que se exerce. Ao cessar tal atividade, deixa-se de ser
cientista. Uma desoladora quantidade de pseudociência é
gerada por cientistas bem treinados num certo campo, que
se aventuram noutro em que são ignorantes. O físico que
alega ter descoberto um novo princípio biológico
ou o biólogo que alega ter descoberto um novo princípio
da física quase invariavelmente estão praticando
pseudociência. Também a praticam aqueles que falsificam
dados, ou suprimem dados que conflitam com suas
preconcepções, ou recusam-se a permitir que outros
vejam seus dados para avaliação independente. A
ciência é como um alto cume de integridade intelectual,
imparcialidade e racionalidade. O cume é escorregadio, e
é preciso um esforço tremendo para manter-se próximo a
ele. O relaxamento carrega-nos embora, em direção à
pseudociência. Algumas pseudociências são produzidas
por indivíduos com pequeno grau de treinamento
científico ou técnico, que não são cientistas
profissionais, nem compreendem a natureza do
empreendimento científico porém consideram-se
"cientistas".
Poder-se-ia
perguntar se não há exemplos de
"encruzilhadas" na direção oposta, isto é,
pessoas que os cientistas consideravam como praticantes
de pseudociência, mas acabaram sendo aceitos como
praticantes de ciência válida, com idéias que acabaram
sendo aceitas pelos cientistas. Pelo que acabamos de
expor, seria de esperar que isto ocorresse
raríssimamente, ou mesmo nunca. De fato, nem eu nem
nenhum colega abalizado por mim questionado sobre o
assunto conhecemos um único caso em que isto haja
ocorrido durante as centenas de anos em que o método
científico pleno passou a ser conhecido e empregado
pelos cientistas. Há muitos casos em que um cientista é
visto como equivocado por seus colegas, mas posteriormente
quando surgem novas informações mostra-se
que estava certo. Como todo mundo, os cientistas também
têm palpites de que algo é possível, sem dispor de
evidência suficiente para convencer seus colegas de que
estão certos. Estas pessoas não são pseudocientistas,
a menos que continuem a defender suas idéias mesmo
quando as evidências em contrário se acumulem. Errar ou
enganar-se é inevitável, pois somos todos humanos, e
todos cometemos erros e falhas. Os verdadeiros cientistas
mantêm-se alertas quanto à possibilidade de falhas e
são rápidos em corrigir seus erros. Os pseudocientistas
não o são. De fato, uma definição abreviada de
pseudociência é: "um método para desculpar,
defender e preservar erros."
A pseudociência
freqüentemente parece a pessoas educadas e racionais por
demais desprovida de sentido e absurda para ser perigosa,
e uma fonte de divertimento mais que de medo.
Infelizmente, esta não é uma atitude sensata. A
pseudociência pode ser extremamente perigosa.
Ao penetrar em
sistemas políticos, justifica atrocidades em nome da
pureza racial. Ao penetrar no sistema educacional, pode
expulsar a ciência e o bom-senso. No campo da saúde,
ela condena milhares a morte ou sofrimento
desnecessários. Ao penetrar na religião, gera
fanatismo, intolerância e guerra santa. Ao penetrar nos
meios de comunicação, pode dificultar o acesso dos
eleitores a informações concretas sobre questões
públicas importantes.
Leituras Recomendadas
- Science and Unreason, D. & M. Radner,
Wadsworth, California, 1982.
- Exploring the Unknown, Charles J. Cazeau &
Stuart D. Scott, Jr., Plenum, New York, 1979.
- Fact, Fraud and Fantasy, Morris Goran, A. S.
Barnes, New Jersey, 1979.
- Flim-Flam! By James Randi, Prometheus, NAmherst,
N.Y., 1982.
- How to Think about Wierd Things: Critcal Thinking
for a New Age, Theodore Schick, Jr., Lewis
Vaughn, Mayfield, Mountain View, Calif., 1995.
- Paranormal Borderlands of Science, Ed. by
Kendrick Frazier, Prometheus, Amherst, N.Y.,
1981.
- Science Confronts the Paranormal, Ed. by Kendrick
Frazier, Prometheus, Amherst, N.Y., 1985.
- Science, Good, Bad and Bogus, Martin Gardner,
Prometheus, New York, 1981; Avon, New York, 1982.
- Science and the Paranormal, Ed. by George O.
Abell and Barry Singer, Scribners, New York,
1981.
- Extrasensory Deception, Henry Gordon, Prometheus,
Amherst, N.Y.,1987.
- Pseudoscience and the Paranormal, Terence Hines,
Prometheus, Amherst, N.Y., 1988.
- ________________________
-
- O Dr. Coker é professor de física na Universidade
do Texas em Austin.
Quackwatch em
português
Este artigo foi
publicado originalmente em 30 de maio de 2001.
Tradução publicada em
4 de julho de 2002.
|