Quackwatch em português

Alguns Comentários sobre o Processo de Revisão por Pares

Stephen Barrett, M.D.

A revisão por pares (peer review) é um processo no qual um trabalho é revisto por outros pesquisadores que normalmente possuem conhecimento equivalente ou superior aos autores da pesquisa. Pode ser utilizado durante ou após o desenvolvimento ou execução de um estudo. Quando os estudos são finalizados, pesquisadores empenham-se em publicar seus resultados em periódicos de modo que outros possam usar ou criticar os achados e a ciência possa avançar. Existem publicados padrões detalhados para relatar e avaliar os estudos. Os melhores periódicos científicos empregam a revisão por pares feita por especialistas; os trabalhos enviados para publicação são revistos por dois ou mais peritos especializados, para então serem aceitos, modificados ou rejeitados pelo editor. O processo de revisão por pares é imperfeito mas pode descartar de maneira confiável "manuscritos obviamente falhos ou duvidosos". [1]

Periódicos Médicos

A formalização da revisão por pares foi um passo crucial no avanço da ciência moderna porque levou para a comunidade científica uma cultura de compartilhamento e auto-crítica. Fonte primária, periódicos científicos e médicos de revisão por pares começaram há cerca de 300 anos na França e na Inglaterra quando editores começaram a utilizar "pares" para ajudá-los a determinar se os trabalhos enviados seriam publicados [2]. Hoje, pesquisas de mais de 3500 periódicos científicos revistos por pares estão listados no Index Medicus e seu similar online o Medline. Os dois periódicos americanos de maior prestígio são o JAMA (Journal of the American Medical Association) e The New England Journal of Medicine. O JAMA tem mais de 3000 nomes em seu arquivo de revisores.

A internet tornou-se um grande fator na publicação de periódicos. Muitos dos periódicos impressos possuem sites na internet onde leitores têm acesso seja de maneira gratuita ou pagando uma taxa para acessar o conteúdo da revista. Também há alguns periódicos exclusivamente online, destes o principal é o Medscape General Medicine (MedGenMed), editado pelo ex-editor do JAMA George D. Lundberg, M.D. [3,4]. O dr. Lundberg, que considera o desenvolvimento da internet um marco tão importante quanto a invenção da prensa tipográfica, acredtia que "o futuro das publicações médicas é eletrônico". [5]

Consensos de Especialistas

Revisões de especialistas também são realizadas por organizações científicas e agências do governo. As que têm estabelecido processos de revisão formal dando um grande peso a comunidade médica incluem:

Problemas com a "MAC"

Estar listado no Index Medicus é um sinal favorável mas não garante qualidade -- particularmente no que se refere as informações sobre "medicina alternativa e complementar (MAC)". Nos últimos anos, diversos periódicos de "MAC" que imitam a forma mas carecem de substância da boa ciência têm sidos aceitos para figurarem em listagens. Por isso buscas no Medline sobre tópicos em "MAC" freqüentemente trazem citações não confiáveis. Além disso, periódicos respeitáveis têm feito um trabalho realmente péssimo ao não descartar manuscritos "MAC" de baixa qualidade [7-9]. O British Medical Journal e os Annals of Internal Medicine têm realizado um trabalho especialmente ruim selecionando relatos "MAC" de baixa qualidade. Suspeito que isso ocorre porque os editores não questionam muito os trabalhos e a maioria dos revisores -- mesmo em periódicos proeminentes -- não conhece o assunto em questão bem o suficiente para perceber declarações errôneas, dados falsos, ou manipulação estatística imprópria usados por proponentes da "MAC". Devido a isso, médicos por toda a parte estão recebendo uma disseminação de relatos enganosos.

Problemas similares existem com o sistema de educação médica continuada (EMC) nos Estados Unidos. A maioria dos cursos que os médicos fazem após a graduação nas escolas médicas são "regulados" pela Accreditation Council for Continuing Medical Education (ACCME), que fornece aprovação voluntária de cerca de 2500 fornecedores de EMC. Aprovação para operar um curso EMC tem grande importância prática porque (a) muitos grupos profissionais, hospitais, programas de seguro e agências licenciadoras (em alguns estados) exigem participação em EMC; e (b) a aprovação de funcionamento freqüentemente influencia quantas pessoas farão o curso.

Regulamentos da ACCME afirmam que todos os cursos devem ser baseados em princípios científicos:

  1. Todas as recomendações envolvendo medicina clínica em uma atividade de EMC devem ser baseadas em evidências que são aceitas pela medicina como justificativa adequada para suas indicações e contra-indicações nos cuidados dos pacientes.
  2. Toda a pesquisa científica referente a, relatada ou usada em EMC em apoio ou justificativa na recomendação de tratamento de pacientes deve se adequar aos padrões geralmente aceitos de metodologia experimental, coleta e análise de dados.
  3. Cursos não são elegíveis para aprovação pela ACCME, ou renovação da aprovação, se apresentarem atividades que promovem recomendações, tratamentos ou modos de praticar medicina que não correspondem a definição de EMC, ou sabidamente tenham riscos ou perigos que superem os benefícios ou sabidamente sejam ineficazes no tratamento de pacientes [10].

Infelizmente, a ACCME e muitos de seus fornecedores credenciados não possuem procedimentos adequados para impedir que cursos absurdos seja autorizados a funcionar. Eu e alguns de meus colegas temos discutido esse problema com o diretor executivo da ACCME, Murray Kopelow, M.D., e temos reclamado de várias organizações e programas que promovem charlatanismo. (Alguns grupos de charlatanismo possuem até mesmo status de fornecedor o que os possibilita reconhecer seus próprios programas.) Também temos sugerido procedimentos eficientes de prevenir que organizações e cursos que promovem charlatanismo seja aprovados ou reconhecidos. Mas, até onde sabemos, funcionários da ACCME têm muito pouco interesse em resolver esse problema.

Referências

  1. Relman AS. Peer review in scientific journals: What good is it? Western Journal of Medicine 153:520-522; 1990.
  2. Kronick DA. Peer review in 18th-century scientific journalism. Journal of the American Medical Association 263:1321-1322, 1990.
  3. Lundberg GD. Medscape General Medicine: Launch of a new journal and invitation to authors and readers. Medscape General Medicine, April 9, 1999.
  4. Lundberg GD and others. Medscape General Medicine: The next steps in an ongoing experiment in medical publishing. Medscape General Medicine, Oct 31, 2002.
  5. Lundberg GD. Thanks to the peer reviewers of Medscape General Medicine -- April 1999 through October 2002. Medscape General Medicine, Dec 13, 2002.
  6. Sampson W. On the National Institute of Drug Abuse Consensus Conference on Acupuncture. Scientific Review of Alternative Medicine 2(1):54-55, 1998.
  7. Gorski TN. The Eisenberg data: Flawed and deceptive. Scientific Review of Alternative Medicine Fall/Winter 1999.
  8. Barrett S. Remote prayer report misrepresented its data. Consumer Health Digest, Nov 19, 2002.
  9. Sampson W, London W. Analysis of homeopathic treatment of childhood diarrhea. Pediatrics 96:961-964, 1995. (Debunks previously published article)
  10. ACCME's Accreditation Policy Compendium, section 2002-B-09, revised Oct 11, 2002.

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Este artigo foi publicado em 19 de julho de 2003..

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