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Tome Cuidado com os “Bloqueadores de Calorias”

Stephen Barrett, M.D.

Tradutor: Francisco S. Wechsler, Ph.D.

Muitos gostariam que uma pílula ou poção pudesse contrabalançar o efeito de comer além do necessário para manter o peso. Muitos vigaristas atendem a este desejo vendendo produtos “milagrosos” que supostamente bloqueiam a absorção de componentes alimentares.

No início dos anos 80, alegava-se que “bloqueadores de amido” continham uma enzima extraída do feijão que conseguia bloquear a digestão de quantidades significativas de amido. Esta enzima funciona em tubos de ensaio, mas o corpo humano produz enzimas amilolíticas acima do nível que estes produtos poderiam bloquear. Ademais, carboidratos não digeridos que chegam ao intestino grosso podem fermentar e causar problemas. Em 1982, a FDA recebeu mais de 100 relatos de dor abdominal, diarréia, vômitos e outras reações adversas verificadas em usuários de “bloqueadores de amido”. Como os relatos continuavam a chegar, a agência tomou medidas reguladoras e retirou a maioria destes produtos do mercado.

No início dos anos 90, dizia-se que Cal-Ban 3000 provocava perda de peso “automática”, ao diminuir o apetite e bloquear a absorção de gorduras. Seu ingrediente era a goma de guar, uma fibra solúvel usada em pequenas quantidades como espessante de molhos, sobremesas, xaropes e vários outros alimentos. A goma de guar possui valor medicinal reconhecido como laxante formador de massa, agente redutor do colesterol e coadjuvante no controle da glicose sangüínea em determinados diabéticos. Mas sua eficácia no controle de peso não foi demonstrada.

Quando ingerida, a goma de guar forma um gel no interior do estômago, que pode contribuir para uma sensação de saciedade, bem como bloquear a absorção de alguns nutrientes. Todavia, nenhuma destas características basta para provocar perda de peso. Muitos obesos continuam comendo mesmo quando o estômago avisa que está repleto. Ademais, se a absorção de alimento for reduzida, o indivíduo poderá comer mais para compensar.

Mas os comprimidos de Cal-Ban não eram meramente ineficazes. Quando postos em água, aumentavam seu tamanho original em quatro ou cinco vezes e adquiriam a consistência de massa de vidraceiro. A Administração Americana de Alimentos e Drogas (FDA) reuniu relatos de pelo menos 17 casos de obstrução esofágica em usuários do Cal-Ban. Dez destes casos exigiram internação hospitalar, e uma pessoa morreu. Outros relatos de nocividade envolviam obstrução estomacal, obstrução do intestino delgado e grosso, náusea e vômitos.

Alega-se que extratos de Gymnema sylvestre, uma planta cultivada na Índia, provocam perda de peso, ao evitar a absorção de açúcar pelo organismo. Mascar as folhas da planta pode evitar a sensação de doçura. Mas não há evidência confiável de que as substâncias nelas contidas consigam bloquear a absorção de açúcar ou provocar perda de peso.

Em anos recentes, tem-se alegado que cápsulas de quitosana provocam perda de peso e reduzem o colesterol sangüíneo, ao ligar-se a gorduras no estômago, evitando que estas sejam digeridas e absorvidas. Alguns vendedores referem-se à quitosana como “ímã de gordura”. Ela tem até sido divulgada como produto para controle de peso em cães. A quitosana é derivada da quitina, um polissacáride encontrado no exosqueleto de crustáceos como o camarão, a lagosta e o caranguejo. Embora a quitosana possa reduzir a absorção de gordura, a dose contida nas cápsulas é pequena demais para surtir efeito apreciável. Estudos científicos não encontraram diferenças quanto ao peso ou nível de colesterol entre sujeitos que ingeriram quitosana e aqueles que ingeriram placebo.

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Artigo original postado em 5 de julho de 2001.

Tradução completada em 5 de julho de 2002.

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