COINTELPRO
O seguinte texto foi transcrito de "COINTELPRO: O Perigo que Nós Enfrentamos", folheto publicado nos EUA por um Editor Anônimo.
 

A primeira seção deste folheto nos fornece breve avaliação das ações do FBI nos anos sessenta. Explica por que podemos esperar intervenção governamental semelhante nos anos noventa, além de oferecer diretrizes gerais para uma resposta efetiva.

O corpo principal do folheto descreve os métodos específicos que foram usados para minar previamente uma dissidência doméstica e foram sugeridos passos para podermos limitar ou amenizar seu impacto. Um capítulo final explora formas de mobilização de protestos públicos contra este tipo de repressão.

A análise histórica do folheto está baseado em documentos internos confidenciais preparados pelo FBI para manter a ordem durante os anos sessenta. Também utiliza as confissões pós anos 60 dos desafetos dos agentes governamentais, e do testemunho de funcionários públicos diante do Congresso e dos tribunais. Embora as informações destas fontes estejam incompletas, e muita coisa ter se perdido no meio do caminho, hoje nós sabemos o suficiente para aprendermos lições úteis no sentido de organizar o futuro.

As sugestões incluídas no folheto estão baseadas na experiência de 20 anos do autor como ativista e advogado, e em longas conversas com organizadores que participaram ativamente da luta durante esse período.  Na maioria das vezes, a metodologia da ação trata-se apenas de uma questão de bom senso. Por favor, encare estes assuntos com seriedade. Discuta esses assuntos com outros ativistas. Adapte-os para as condições atuais. Mostre os problemas e siga pelo caminho mais adequado.

É importante que comecemos agora mesmo a cuidar de nossos movimentos e de nós próprios.

O QUE FOI O COINTELPRO?
O COINTELPRO era o programa secreto do FBI para minar a excitação popular que varreu o país durante os anos sessenta. Embora o nome represente "Programa de Contra-espionagem", os objetivos não eram espiões inimigos. O FBI tinha como intenção a eliminação da "oposição política radical" dentro do EUA. Como os modos tradicionais de repressão (processos, acusações e perseguição política) não faziam efeito, a insurreição continuava crescente e até mesmo ajudava em sua combustão. A Agência começou a tomar a lei em suas próprias mãos usando secretamente a fraude e a força para sabotar atividades políticas constitucionalmente protegidas. Seus métodos variaram para muito além da vigilância, e reportou uma versão doméstica de ação coberta que tornou a CIA infame em toda parte do mundo.

COMO ESSES FATOS CHEGARAM ATÉ NÓS?
O COINTELPRO veio à tona em março de 1971, quando foram descobertos arquivos secretos em um escritório do FBI e publicados na mídia de notícias. Autorizações para busca de informações, processos, e confissões públicas de agentes. No afã de controlar o dano e restabelecer a legitimidade governamental após o Vietnã e o Watergate, o Congresso e os tribunais compeliram o FBI a revelar parte do que tinha feito e prometer que não faria isto novamente.

COMO FUNCIONAVA?
O FBI instruía secretamente seus escritórios de campo a propor esquemas para desencaminhar, desacreditar, desmobilizar ou mesmo neutralizar indivíduos ou grupos específicos juntamente com a polícia local e encorajar perseguições. A carta branca cedida aos funcionários do FBI por parte de Washington garantia que "não haveria nenhuma possibilidade de embaraço à Agência". Foram aprovadas oficialmente mais de 2.000 ações individuais. Os documentos revelam três tipos de métodos:

Infiltração. Apenas os ativistas políticos não eram investigados pelos agentes e informantes. Sua principal função era desacreditar e desmantelar. Os vários meios utilizados para este fim são discutidos mais adiante.

Outras formas de incriminação. O FBI e a polícia também empreenderam guerra psicológica no exterior- através de falsas publicações, correspondência forjada, cartas anônimas, chamadas telefônicas, e formas semelhantes de incriminação.

Ameaças, intimidação, violência. Terror, demissões, rombos, vandalismo, intimações, falsas apreensões, plantio de provas, durante este período foram aplicadas diretamente toda sorte de ameaças e de violência física e psicológica em um esforço para assustar os ativistas e destruir seus movimentos. Os agentes governamentais fingiam não saber de nada ou fabricavam pretextos legais. No caso do grupo americano "Negros e Índios", tais agressões- incluindo assassinatos políticos- pela sua extensão e grau de bestialidade se constituíram numa prática terrorista adotada sistematicamente por parte do governo.

QUAIS ERAM OS PRINCIPAIS ALVOS?
As mais intensas operações foram dirigidas contra o movimento Negro, particularmente o Partido dos Panteras Negras. Isto foi o resultado da junção do FBI com o racismo policial. A falta de recursos materiais por parte da comunidade negra deixou-a em desvantagem, inclusive pela tendência das mídias e dos brancos em geral de ignorar ou tolerar os ataques dirigidos à comunidade Negra. Também refletiu no governo um crescente medo do movimento Negro por causa de sua militância, somados a sua vasta base doméstica, apoio internacional e papel histórico galvanizando toda a excitação dos anos 60. Muitos outros ativistas que se organizaram no estrangeiro contra a intervenção dos EUA, pelo fim da discriminação racial, pela justiça social, também ficaram expostos ao ataque. Os objetivos foram limitados de tal maneira que a esses restou apenas o uso da força física de seus próprios braços. Martin Luther King, Jr., David Dellinger, Phillip Berrigan e outros notórios pacifistas eram os primeiros da lista, precariamente protegidos por pequenos jornais alternativos.
As Panteras Negras amargaram ataques cada vez mais intensos enquanto que seu trabalho se caracterizava em propiciar alimentos, cuidar da saúde das pessoas, e manter a comunidade, as escolas e a violência policial sob controle, eles só usavam armas para se defender e para propósitos simbólicos. Foi o terrorismo do FBI e da policia que finalmente acabou por levar os Panteras em direção a retaliações armadas que posteriormente foram usadas para justificar sua brutal repressão.

Em última instância, o FBI possuía seis programas de contra-espionagem oficiais dirigidos no sentido de massacrar os mais diversos grupos:
? Comunistas (1956-71); E.U.A.
? Grupos ligados à luta de independência de Porto Rico (1960-71);
? Partido Socialista de Trabalhadores (1961-71);
? Grupos de Resistência ao Branco (1964-71);
? Grupos Nacionalistas de Resistência Negra (1967-71);
? Nova Esquerda (1968-71).

As operações posteriores atingiram grupos de pacifistas, estudantes e  feministas. O programa de investigação dos Grupos Nacionalistas de Resistência Negra foi criado para cercear as ações de Martin Luther King, a maioria dos Direitos Civis e os movimentos de Poder Negro. O programa que investigava o "Grupo de Resistência ao Branco" funcionou principalmente como uma embalagem para ajuda disfarçada à KKK e vigilantes direitistas, Eles recebiam dinheiro e informações com tal freqüência que acabaram por assumir como seus os objetivos da COINTELPRO. Os documentos do FBI também revelam ações secretas contra americanos nativos, chicanos, filipinos, ativistas árabe-americanos, e outros, sem programas de contra-investigação formais.

QUE EFEITO TEVE?
É difícil avaliar completamente o impacto da COINTELPRO pois não sabemos todos os detalhes sobre sua natureza (especialmente contra objetivos centrais como Malcom X, Martin Luther King, SNCC, e SDS). Nós não temos nenhuma análise definitiva sobre os anos sessenta. Porém, algumas coisas vieram à luz:

? 1. A COINTELPRO distorceu a opinião pública a respeito dos grupos radicais e isso de certo modo contribuiu para os isolar e legitimar a repressão política aberta.

? 2.  Reforçou e exacerbou as fraquezas destes grupos e isto tornou as coisas muito mais difíceis para os ativistas inexperientes dos Anos sessenta que aprenderam com seus erros a construir organizações sólidas, duráveis.

? 3. Suas agressões violentas e manipulações ocultas ajudaram a convencer alguns grupos a se retirarem de processos de organização pacíficos e se ocuparem de ações armadas que acabaram por isolar e privar o movimento de muitas de suas lideranças.

? 4. A COINTELPRO é culpada pelas suas vítimas, pelos problemas que criou e pelo legado de cinismo e desespero que persistem hoje.

? 5. Operando de forma acobertada, o FBI e a polícia debilitaram severamente a oposição política doméstica sem abalar a convicção da maioria dos norte-americanos de que eles vivem em uma democracia, com liberdade de expressão e cumprimento das regras da lei.

Questão:
AS AÇÕES DA COINTELPRO  TERMINARAM REALMENTE?

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