AS CONSEQUÊNCIAS DO ABORTO: A SÍNDROME PÓS-ABORTO

O que sabemos das consequências prejudiciais do aborto para a mulher ? Aqueles que aconselham e executam abortos sempre afirmaram não haver efeitos psicológicos desfavoráveis importantes decorrentes do aborto e além disso nenhum trauma a longo prazo.O problema com tais afirmativas ???é que essas pessoas, empregadas ou não em clínicas de aborto e outras, adeptas dessa prática, nunca estão em condições de avaliar na mulher as consequêcias que se seguem ao aborto. Imediatamente após o ato, o pessoal clínico simplesmente manda a mulher para casa, e se ela a vier ter problemas, deverá ir procurar auxílio em outro lugar qualquer.

Uma investigação mais sistemática demonstra que todas as reações perigosas ao aborto ocorrem tardiamente. Este padrão de reação retardada fez com que seja muito mais difícil de delimitar, avaliar e caracterizar o problema. A par disso, a comunidade de saúde mental tem sido muito lenta em reportar as reações desfavoáveis ao aborto. Eu sou de opinião que o aborto é um procedimento traumático, que tem repercussões negativas para a mulher, mas cujas manifestações objetivas podem ser retardadas.

Recentemente terapistas têm observado pavores irracionais e depressões ligadas às experiências abortistas e rotularam o problema como SÍNDROME PÓS-ABORTO (SPA). Dr. Vincent Rue a comparou-a à DESORDEM ANSIOSA PÓS-TRAUMTICA (DAPT), a qual a comunidade psiquiátrica reconhece como uma reação a longo prazo encontrada nos veteranos da Guerra do Vietnam, que subitamente exibem comportamento patológico anos após a experiência vivida na guerra. Rue acredita que a SPA??? é uma forma de DAPT. É significativo o fato de que a Associação Americana de Psicólogos ter levado doze anos para reconhecer oficialmente a DAPT como uma entidade clínica.

Uma questão importante é:- todas as experiências abortivas são automaticamente estressantes ou apenas algumas mulheres têm problemas? Se apenas algumas mulheres sofrerão da SPA quais são as características daquelas mais susceptíveis? Essas são questões que não podem ser completamente respondidas agora. Rue acredita que existam várias categorias de reações. Que algumas mulheres respondem com grande trauma, outras com reações moderadas, enquanto que um terceiro grupo pode vir a nada sofrer posteriormente. A Terapista Terry Selby, de outro lado, acredita que cada aborto produz um trauma na mulher.

O aborto é, antes de tudo, um procedimento físico, o qual produz um choque no sistema nervoso e que deve provocar um impacto na personalidade da mulher. Além das dimensões psicológicas, cada mulher que se submeteu a um aborto deve encarar a morte de seu filho que não nasceu como uma realiade social, emocional, intelectual e espiritual. Tanto Selby como Dra. Anne Speckhard trabalharam com mulheres que tentaram ignorar os efeitos do aborto e ambos acreditam que quanto maior a rejeição, maior a dor e a dificuldade quando a mulher resolve finalmente enfrentar a realidade da experiência abortiva.

Para entender este achado e ter alguma base para raciocínio e pesquisa da SPA, é necessário que entendamos a orientação teórica dos terapistas e seus "pressupostos".A primeira premissa é de que existe um processo inconsciente em ação em cada pessoa e que controla os estados emocionais e em última análise o comportamento. Se uma verdade é por demais desagradável, é possível aos seres humanos suprimir ou reprimir a realidade na parte inconsciente de suas mentes de forma a não ter que conscientemente pensar nela. Isto é uma faculdade muito importante porque nos protege da necessidade de pensar constantemente sobre acontecimentos muito dolorosos.

Uma segunda premissa postula que mesmo sendo possível reprimir fatos reais eles, apesar disso, continuam a afetar nossos estados emocionais e nosso comportamento. Quando existe excesso de rejeição a dor reprimida nos traumatiza de alguma outra forma.

De acordo com os clínicos, quando as mulheres que abortaram rejeitam ou reprimem sua experiência, os desajustamentos podem incluir grande descontrole emocional quando próximas a crianças, um medo irrealístico a médicos, uma incapacidade de tolerar um exame ginecológico rotineiro, ouvir o som de um aspirador de pó ou serem sexualmente estimuladas, etc.

O fato importante a ser entendido sobre essas manifestações??? é que elas são reações irracionais a acontecimentos perfeitamente normais; e as mulheres não tem consciência de sua ligação com a experiência abortiva. É somente através da terapia que a ligação frequentemente emerge. Assim, a partir dessa perspectiva teórica, admite-se que mesmo mulheres lesadas por suas experiências abortivas podem, de boa fé, alegar não terem sofrido reações adversas já que os sentimentos foram reprimidos, não havendo noção consciente dos mesmos. Além disso, de acordo com a mesma teoria, quanto maior a repressão, quanto maior a rejeição, maior é o dano à personalidade da mulher.

Como mencionado antes, Selby acredita que quanto maior a negação, mais graves serão as reações e mais doloroso será o tratamento. David Reardon, em seu levantamento de mais de 200 mulheres pertencentes ao movimento MULHERES VITIMADAS PELO ABORTO (WEBA), encontra também evidências em suas observações de que quanto mais tarde a realidade é admitida, mais difícil é a resolução do problema. Assim, a conclusão é que cada aborto tem efeitos prejudiciais sobre a mulher.

Os defensores do aborto advogam que somente as mulheres com problemas psicológicos anteriores tem dificuldade em suportar as experiências abortivas. As próprias mulheres discordam dessa proposição. Contudo, pode ser verdade que mulheres com problemas prévios sejam mais susceptíveis às reações mais graves. Nós simplesmente não temos elementos para responder a essas questões de imediato. Podemos, entretanto concluir com certeza, que essas mulheres deveriam ser protegidas de traumas futuros induzidos por experiências abortivas.

Quais são os problemas que uma mulher que provocou um aborto deve encarar? Antes de tudo e principalmente a necessidade de enfrentar a realidade sobre o ato de provocar um aborto. A verdade é que quando uma mulher aceita se submeter a um aborto, ela concorda em assistir à execução de seu próprio filho. Esta amarga realidade que ela tem de encarar se opõe vivamente àquilo que a sociedade espera que as mulheres sejam:- pacientes, amorosas e maternais. Isso também vai contra a realidade biológica da mulher, que é plasmada precisamente para cuidar e nutrir seu filho ainda não nascido. Assumir o papel de "matadora", particularmente de seu prório filho, sobre o qual ela prória reconhece a responsabiliade de proteger, é extremamente doloroso e difícil. O aborto é tão contrário à ordem natural das coisas, que ele automaticamente induz uma sensação de culpa. A mulher entretanto, deve admitir sua culpa para poder conviver com ela.

Existe uma escola de pensadores, adotada pela maioria dos promotores de abortos, que afirma que a admissão da culpa não é necessária. Sustentam eles que se uma mulher se sente culpada é porque alguém "colocou a culpa nela". O que eles sugerem é que isso acontece porque a mulher foi forçada pelos adeptos dos movimentos Pró-Vida a"assumir uma atitude de culpa" que cria uma dor desnecessária e que não leva a lugar algum.

Presumem eles que a culpa não emerge do interior da mulher mas ao contrário é forçada para dentro dela. Contudo, a experiência das mulheres que se submeteram a abortos não está de acordo com essa afirmação. Ao contrário, as mulheres pertencentes ao movimento de MULHERES VITIMADAS PELO ABORTO relatam que a culpa se manifestou e cresceu com a própria experiência abortiva, foi parte da reação própria ao aborto e não infundida nelas por outras pessoas.

A primeira providência enfatizada pelos clínicos que trabalham com mulheres que se submeteram a abortos é fazer com que elas chorem pelo filho perdido. A realidade é que uma criança morreu e a resposta humana natural à morte é a tristeza. Se a mulher é impedida de assim reagir, ela terá dificuldade de encarar a realidade da experiência abortiva. Entristecer-se significa que ela tem noção de seu filho e que ela está chorando por uma determinada pessoa que morreu. Obviamente isto é mais difícil para uma criança que nunca foi vista. Era um menino ou menina, qual a cor dos cabelos e dos olhos que ele ou ela teriam? O problema é ainda mais intrincado no caso do aborto porque o corpo da criança é geralmente mutilado e é difícil para a mulher pensar na criança cujo corpo não mais existe.

Dr. E. Joanne Angello compara isso ao problema que enfrentam os pais de uma criança que teve morte violenta e cujo corpo não é encontrado, impedindo que ele seja velado ou enterrado. Como se pode resolver o problema? Em primeiro lugar, a mulher deve admitir que a criança está morta, de maneira que ela possa chorar por ela. Para chegar a este ponto a mulher tem que quebrar suas rejeições para permitir o reconhecimento da culpa. A culpa pode ser então utilizada terapeuticamente para ajuda-la a aceitar o fato de que ela errou, pedir perdão e ser curada.

Os terapistas desenvolveram estratégias diferentes para ajudar a mulher. Por exemplo, Speckhard desenvolveu uma conduta fazendo com que a mãe visualize seu bebê dando a ela uma boneca para representar o filho morto. Ela é encorajada a dar um nome à boneca e falar com ela sobre seus sentimentos e tristeza. Isto lhe dá uma oportunidade de se "desculpar" com o bebê morto pelo que ela lhe fez e começar a prantear a criança perdida.

A abordagem de Selby requer que a mulher exteriorize a dor de sua experiência. Ele acredita que ela deva admitir como reais e liberar as emoções contidas e que nunca foram expressas por terem sido reprimidas pela rejeição. Isto pode ser um procedimento emocionalmente muito doloroso. Uma abordagem inteiramente diferente é contudo necessária para mulheres com um ano ou mais de experiência abortiva e que pedem uma alternativa ou um programa do WEBA. Elas geralmente já admitiram sua culpa e sofrem por ela mas necessitam alguém para ajudá-las no sofrimento.

Assim, existe uma variedade de problemas e necessidades e uma diversidade de estratégias para ajudar as mulheres no processo de cura. A despeito dessa diversidade existe algo que todos os terapistas tem em comum: é acreditarem que a cura deve ser encarada como um acontecimento espiritual. Frei Michael Mannion sintetizou sua posição quando disse: -"O Autor da vida deve curar a perda da vida." Somente pela aceitação do amor e perdão de Deus a mulher pode ser curada. Qual a natureza dessa cura? Pode ela apagar o aborto como se ele nunca tivesse ocorrido? A resposta a esta última questão é "não". Como uma mulher do WEBA colocou:- "Pode-se ser curada da culpa mas a tristeza está sempre lá."

Assim, o primeiro propósito da experiência de cura é superar os efeitos adversos da culpa não admitida mas o remorso pelo ato é para toda a vida. Por mais completa que seja a cura a realidade do ato em si no pode ser apagado. O bebê abortado é uma pessoa humana real cuja presença será sentida pela mae e por aqueles ao redor dela enquanto eles viverem. Os novos relacionamentos que a mae vier a desenvolver serão afetados pela presença da criança morta. Crianças nascidas subsequentemente ao aborto terão um irmão morto, cuja realidade terá sempre um impacto em suas vidas.

A experiência clínica de Angello com tais crianças tem sido considerável. Seus pais se caracterizam por uma proteção patológica aos filhos, receando perdê-los por algum acidente ou doença. O desejo obcessivo de outros filhos é decorrente da necessidade de terem uma criança para colocar no lugar da morta.

Esse comportamento é extremamente prejudicial à evolução e desenvolvimento normal dos filhos.

Assim os efeitos do aborto atingem a vida de cada indivíduo à volta da mulher, incluindo seus amores e filhos futuros. Por exemplo, como alguém diz a seus próprios pais que um seu neto foi morto e que nunca participará de um Natal ou uma excursão ao zoológico? Como se diz a um filho que nasceu depois porque um irmão ou irmã foram mortos e, mais importante, porque ele em particular não foi?

Como explicar o aborto a um futuro marido que deseja se casar e ter uma família? Que dizer se a mulher ficou estéril? Seria a esterilidade causada pelo aborto? Estas são questões duras e que devem ser respondidas. Felizmente, a mulher que se curou estará apta a lutar para superar esses problemas mas nunca será fácil e sempre será doloroso.

De que maneira são as mulheres vitimadas pelo aborto? Primeiro de tudo, nós sabemos que a maioria das mulheres que se submeteram a abortos teriam preferido outra solução para o problema. Elas são claramente vítimas de uma decisao tomada por outros. Contudo, muitas mulheres realmente escolhem o aborto. Podem elas ser consideradas vítimas? Os dados sobre a síndrome pós-aborto indicam que a culpa e a dor inerentes ao aborto em si mesmo vitimam a mulher. Como uma mulher, membro do WEBA coloca: "-Uma vez que uma mulher se torna mãe, ela será sempre mãe, tenha ou não nascido seu filho. O filho morto fará parte de sua vida por mais longa que ela seja." O aborto não é definitivamente uma "solução fácil" de um grave problema mas um ato agressivo que terá repercussões contínuas na vida da mulher. É nesse sentido que ela é vítima de seu próprio aborto e temos obrigação com a mulher americana de lhe dizer esta verdade.

WANDA FRANZ,Ph.D(*)

Traduzido do National Right To Life News 14(1):1-9,1987 - WHAT IS POST-ABORTION SYNDROME? - por Herbert Praxedes(**)

(*) Professora Associada de Recursos Familiares, Universidade de West Virginia

(**) Professor Titular do Departamento de Medicina Clínica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense.






MAUS TRATOS E ABORTO


Entre 1976 e 1987 houve um aumento de mais de 330% no número de casos de maus tratos registados [nos E.U.A.]. Apesar de uma parte desse aumento se dever a uma melhoria no processo de registo, os especialistas concordam em que esses números reflectem um aumento real dos casos de maus tratos.

Esses números contradizem de forma clara a afirmação dos defensores do aborto de que o aborto de crianças "não desejadas" actua como forma de prevenção dos abusos sobre crianças. Esquecendo a falta de lógica evidente do argumento - de que é melhor matar crianças do que bater-lhes - não há um único estudo que suporte tal teoria. Pelo contrário, existe uma associação estatística clara entre o crescimento do número de casos de aborto e do de maus tratos sobre crianças. A investigação estatística e clínica não só suporta essa associação como estabelece uma relação causal entre o aborto e os maus tratos.(1) Esses estudos académicos, como toda a investigação, podem ser criticados como não sendo suficientes para provar que o aborto cause maus tratos sobre crianças. No entanto, essas conclusões são também suportadas pelos testemunhos de mulheres e homens que relataram uma correlação directa entre os seus sentimentos depois do aborto e maus tratos emocionais e físicos sobre os seus filhos vivos.

Por exemplo, uma mulher descreveu sentimentos de enorme raiva sempre que o seu bebé recém-nascido chorava: "Eu não compreendia porque é que o seu choro me deixava tão furiosa. Era uma bebé encantadora e tinha uma personalidade calma. O que não percebia na altura era que eu odiava a minha filha por ela ser capaz de fazer todas as coisas que o bebé que perdi [abortado] nunca poderia fazer."(2)

As razões para os maus tratos sobre crianças são complexas e não podem ser inteiramente tratadas neste artigo. No entanto, se o aborto contribuiu para sentimentos de depressão, auto-desprezo, ansiedade e raiva entre as mães e os pais, já para não falar em abuso de drogas, os seus filhos terão certamente um preço a pagar.

Abusos fatais

Em algumas circunstâncias o aborto pode levar a um total colapso emocional com resultados trágicos. Por exemplo, Renee Nicely de New Jersey experimentou, no dia seguinte ao seu aborto, um "episódio psicótico" que resultou no espancamento mortal do seu filho de 3 anos, Shawn. Disse ao psiquiatra que "sabia que o aborto estava errado" e "devia ser punida pelo aborto." O psiquiatra, que era testemunha de acusação, testemunhou que o homicídio estava claramente relacionado com a reacção psicológica de Renee ao seu aborto. Infelizmente, a vítima da sua raiva e auto-desprezo foi o seu próprio filho.(3)

Uma tragédia semelhante ocorreu apenas uma semana após o segundo aborto de Donna Fleming. Deprimida e perturbada, Donna "ouvia vozes" na sua cabeça e tentou matar-se e aos seus dois filhos saltando da ponte de Long Beach, na California. Donna e o seu filho de 5 anos foram salvos; o filho de 2 anos morreu. Mais tarde Donna disse que tentou matar-se e aos seus filhos para "reunir a família".(4)

Não há razão para pensar que sejam casos isolados. De facto, nos próximos anos pode vir a ser provado que o trauma pós-aborto foi uma causa importante do aumento dramático dos casos de abusos sobre crianças nas últimas duas décadas.

O Dr. Philip Ney, psiquiatra e professor da Universidade da British Columbia, foi sem dúvida quem estudou mais longamente a relação entre o aborto e subsequentes maus tratos sobre crianças. A maior parte da sua análise, e a de outros que estudaram o problema, centrou-se no papel do aborto na destruição dos laços afectivos com os outros filhos; no enfraquecimento do instinto materno; na redução da resistência à violência, em particular para com crianças; e nos altos níveis de cólera, raiva e depressão. É provável que todos esses factores tenham contribuído para os níveis crescentes de maus tratos sobre crianças que se seguiram à liberalização do aborto.

Neste artigo pretendemos continuar o trabalho do Dr. Ney, e de outros, examinando com mais detalhe os comportamentos compulsivos relacionados com abusos sobre crianças que possam constituir uma reconstituição do aborto.

Porquê reconstituir o trauma?

As experiências traumáticas são por definição esmagadoras, são "demasiado" para uma pessoa lidar e compreender. A resposta ordinária ao trauma consiste em banir a experiência da mente - fugir dela, esconder-se, ou reprimi-la. Num primeiro nível, as vítimas de um trauma querem simplesmente esquecê-lo e deixar definitivamente para trás a experiência.

No entanto, em conflito com esta reacção de rejeição está também o sentimento humano igualmente forte de querer perceber as suas experiências e de procurar um sentido para elas. Logo, apesar de uma pessoa conscientemente escolher evitar pensar sobre o sucedido, o seu subconsciente insiste em chamar a atenção para o trauma. O seu subconsciente sabe que um trauma mal resolvido é um "negócio inacabado". Para que seja superado, o horror do trauma tem de ser exposto, proclamado e compreendido.

Esta tensão entre a necessidade de esconder o trauma e a necessidade de o expor está no núcleo de muitos sintomas psicológicos do trauma pós-aborto. A reconstituição simbólica é uma das formas que o subconsciente procura para simultaneamente satisfazer essas duas necessidades: de expor o trauma e de o esconder. A reconstituição permite à pessoa expor o trauma com a esperança de que a exposição leve à sua compreensão e domínio. Ao mesmo tempo, como o trauma é reconstituído sob uma máscara simbólica, a essência do trauma fica ainda escondida e protegida. Por outras palavras, a reconstituição permite à pessoa pedir ajuda mascarando a razão pela qual precisa dessa mesma ajuda.

Uma especialista em trauma, a Dr� Judith Lewis Herman, observou que a reconstituição simbólica do trauma serve para "simultaneamente chamar a atenção para a existência de um segredo inconfessável e desviar a atenção dele. Isto é manifesto na forma como a pessoa traumatizada alterna entre sentir-se entorpecida e reviver o acontecimento. A dialéctica do trauma gera alterações complexas e estranhas de consciência... Resulta em sintomas erráticos, dramáticos e frequentemente bizarros..."(5)

Pesadelo no infantário Para as mulheres traumatizadas pelo aborto, os maus tratos sobre crianças são um símbolo natural para a reconstituição de um aborto mal resolvido. Por exemplo, Rhonda era atormentada com a culpa e a vergonha de ter abortado cinco crianças. Começou a acreditar que Deus queria que ela se redimisse do seu passado dando amor a crianças que tivessem necessidade de quem tratasse delas. Tentou cumprir essa obrigação fazendo um infantário na sua própria casa.

Enquanto Rhonda tentava dominar o seu trauma psíquico dando amor às oito crianças sob os seus cuidados, estas deixavam-na completamente exausta. Frequentemente chegava ao fim do dia irritada e ansiosa. Rhonda relatou que ocasionalmente perdia a cabeça com os bebés e descobria-se a bater-lhes ou a sacudi-los numa mistura de fúria e frustração. Depois dessas explosões de violência, Rondha sentava-se a um canto a chorar, convencida de que era uma pessoa horrível.

Colocando-se numa situação de stress com esses bebés, Rondha recreou os seus sentimentos de impotência e de incompetência com crianças, temas dominantes nas suas decisões em abortar. As suas repetidas perdas de controlo com as crianças confirmaram os seus sentimentos de auto-desprezo e desgosto. Os padrões de maus tratos, seguidos de vergonha, sentimentos de culpa e sofrimento, espelhavam sob o ponto de vista emocional as suas experiências de aborto com uma grande precisão. Reconstituição através de pensamentos intrusivos

Dianne, outra paciente à procura de aconselhamento pós-aborto, também teve um infantário. Tratava das crianças em sua casa. Dianne relatou pensamentos intrusivos sobre arrancar braços aos bebés dos seus encaixes. Sentia um forte desejo de agarrar nos bracinhos e de os arrancar dos corpos. Tais pensamentos causavam-lhe ansiedade e sofrimento terríveis. Cada vez que Dianne era confrontada com esses pensamentos traumáticos ficava esmagada de horror e tristeza. Cada episódio perturbador parecia-lhe confirmar que era uma pessoa repugnante e enchia o seu coração de um sofrimento doentio.

Felizmente, no aniversário do seu aborto, Dianne finalmente reconheceu a relação deste com esses pensamentos. Num momento angustiante a verdade sobre o que lhe estava a acontecer veio ao de cima e ela começou a chorar com o desgosto da sua perda. Felizmente Dianne procurou ajuda para lidar com esse trauma reprimido e todos os pensamentos que a assolavam cessaram.

Pensamentos intrusivos como os de Dianne são comuns em vítimas de um trauma. Quando um desses pensamentos advém é muito difícil tirá-lo da cabeça. Mais tarde a pessoa questiona-se: "De onde é que essa imagem veio?" Como os sonhos e fantasias, os pensamentos intrusivos contêm muitas vezes símbolos complexos do trauma.

Com o trauma do aborto, os pensamentos intrusivos podem inclusivamente incluir símbolos do próprio procedimento do aborto. Kathy relatou a seguinte história:

"Eu adoro os meus filhos. Não há nada que não fizesse por eles. Eles são tudo no mundo para mim. Mas tenho pensamentos horríveis que me mortificam. É difícil até falar sobre isso. Posso estar na cozinha a preparar o jantar e vêem-me pensamentos sobre envenenar a sua comida. Imagino-os a reagir ao veneno e eu a correr com eles para o hospital. Fico louca com sentimentos de culpa e de vergonha. Depois imagino os médicos a descobrirem que eu fiz de propósito. Chamam o meu marido e dizem-lhe que eu não devia ter crianças... que eu as tinha tentado matar. Esses pensamentos assaltam-me a cabeça. São completamente loucos... Não posso crer que tenha tais pensamentos. Fazem-me detestar-me."

Kathy inicialmente procurou aconselhamento devido a ataques de pânico. Começou a relatar esse tipo de pensamentos, semana após semana, com enorme aflição. Era difícil sequer mencionar o assunto sem chorar. Não foi nenhuma surpresa descobrir que o seu passado incluía um aborto por solução salina. Ficou visivelmente abalada quando falou sobre o assunto. Quando lhe perguntei sobre como se opera um aborto por solução salina, descreveu o procedimento como um "envenenamento" do feto. [O procedimento consiste em injectar uma solução salina no útero que envenena e queima o bebé, causando-lhe uma agonia que pode durar várias horas. N. do E.]

Todos os sintomas de Kathy apareceram depois do seu aborto. Através desses pensamentos intrusivos, Kathy revivia continuamente a experiência emocional desse mesmo aborto. Os episódios seguiam-se, magoando ou matando os seus filhos vivos, e terminando com um sentimento de vergonha. A sua dor tinha-se complicado e estava a vir à superfície através dessas fantasias intrusivas. Kathy é uma das mulheres mais gentis e doces que já conheci. Sei que foi imensamente difícil para ela enfrentar esses pensamentos terríveis. Estou feliz por poder dizer que essas impressões, que se prolongaram durante anos, terminaram quando fez tratamento ao trauma pós-aborto.

O caso de Emily é semelhante. Fez um aborto doze anos antes de se casar. Depois disso recusou-se a pensar no assunto ou a fazer luto. Essa fuga aos seus sentimentos funcionou bem até que começou a ter filhos. O seu primeiro flashback atingiu-a violentamente quando fez a primeira ecografia grávida de uma criança "desejada". Com o andar do tempo, tinha frequentemente pensamentos intrusivos relacionados com o seu aborto quando olhava para a cara dos seus bebés. Passado algum tempo, começou também a experimentar pensamentos habituais, obsessivos e assustadores sobre magoar os seus filhos. Imaginava-se a esfaquear os seus filhos, um por um, a sufocá-los com almofadas, e a estrangulá-los.

Emily é uma mãe encantadora e devotada, mas não conseguia fugir a esses pensamentos violentos. Com o avançar do tempo tornaram-se mais elaborados e reais. Emily não conseguia perceber o que se estava a passar. Estava chocada de se saber capaz de tais pensamentos. Obviamente não tinha qualquer intenção de os levar à prática. Mas os seus pensamentos intrusivos eram como animais raivosos, que perseguiam, arranhavam e corroíam a sua consciência. Deixavam-na perturbada, louca e envergonhada. Procurava desesperadamente silenciar esses animais perigosos na sua mente. Felizmente, todos os sintomas ficaram aliviados quando Emily procurou tratamento para o trauma pós-aborto.

Conclusão

Os testemunhos de mulheres em primeira mão, combinados com casos de estudo terapêuticos e relatos de casos criminais de maus tratos e até homicídios de crianças, mostram de forma conclusiva que o trauma do aborto pode criar e agravar tendências para abusos sobre crianças. Apesar de a maior parte das mulheres que têm pensamentos intrusivos sobre maus tratos a crianças serem provavelmente capazes de lhes resistir, o facto de ocorrerem é alarmante tanta por causa das crianças como delas próprias. Mesmo que apenas uma pequena fracção dos milhões de abortos realizados cada ano levem a maus tratos sobre crianças, em casa ou em infantários, este problema tem necessariamente de nos preocupar.

Este artigo apareceu originalmente em The Post-Abortion Review, 6(1), 1998. Copyright 1998, Elliot Institute. http://www.afterabortion.org/ (retirei-o de Factos da Vida) NOTAS 1. Ney, P. Fung, T., Wickett, A.R., "Relationship Between Induced Abortion and Child Abuse and Neglect: Four Studies," Pre- and Perinatal Psychology Journal 8(1):43-63 Fall 1993; Benedict, M., White, R., and Cornely, P., "Maternal Perinatal Risk Factors and Child Abuse" Child Abuse and Neglect 9:217-224 (1985); Lewis, E., "Two Hidden Predisposing Factors in Child Abuse," Child Abuse and Neglect 3:327-330 (1979); Ney, P., "Relationship Between Abortion and Child Abuse," Canadian J. Psychiatry 24:610-620(1979). 2. Reardon, D., Aborted Women, Silent No More (Chicago, Loyola University Press, 1987) 130. 3. Ibid, 129-30. 4. McFadden, A., "The Link Between Abortion and Child Abuse," Family Resources Center News (January 1998) 20. 5. Judith Lewis Herman, M.D., Trauma and Recovery (NY: Basic Books, 1992) 1-2.

A Doutora Theresa Karminski Burke, autora do artigo, foi uma das criadoras dos retiros da "Vinha de Raquel", "uma jornada psicológica e espiritual para a cura do trauma pós-aborto". Estes retiros são realizados em Portugal pelo Serviço de Defesa da Vida do Patriarcado de Lisboa. Contacto: Serviço Diocesano da Defesa da Vida (Patriarcado de Lisboa)

Tel.: 91 735 4602 - [email protected] - http://www.rachelsvineyard








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