Boletim Mensal * Ano V * Janeiro de 2007 * Número 46

           
COLUNA DOS VINHOS

Ivo Amaral Junior

   

  

    Compadres, conforme prometi no artigo pretérito, escreverei sobre minhas venturas e desventuras em terras d´além mar (eno-gastronômicas-musicais-culturais). Sim. Fiz o caminho inverso ao de Cabral e iniciei meu périplo aéreo e terrestre por esse maravilhoso país chamado Portugal. Tentarei ser o mais objetivo possível, nos limites da objetividade portuguesa, é claro! Portanto, tenham paciência que, no mínimo duas edições serão necessárias para relatar, tal qual Caminha fez com as belezas brasileiras, o que posso chamar de uma das melhores viagens turísticas emotivo-festivas da terra. Apesar da viagem ter sido realizada em meados de outubro – momento em que pude averiguar e sentir o início antecipado do inverno – preferi deixar para remexer em meus alfarrábios nos meses de Janeiro e Fevereiro (em Dezembro nosso boletim, bem como o jantar da Academia, não sai, por causa das festas de fim de ano).
    Mas, para não deixar meus amigos compadres com água na boca, vamos ao que interessa. Sobre cada localidade explanarei um bocadinho sobre a culinária, os vinhos, a cultura ou o patrimônio histórico-artístico, a depender do que mais me chamou a atenção. Desculpem eventuais omissões e falhas, estou aberto a correções! Como sempre.
Minha primeira experiência com o mundo português foi no aeroporto de Lisboa.
    Exatamente às seis horas da manhã do Brasil, dez em Portugal, fui a uma cafeteria e pedi um café, uma água e uma taça de vinho alentejano. Fui surpreendido quando vi pela nota fiscal que o item mais barato tinha sido o vinho.  Como deve ser bom viver num país assim...
    Logo após fui à cidade do Porto, onde aluguei um carro (é impossível andar de carro na cidade sem a conhecer bem, recomendo metrô) e após voltas e mais voltas em intermináveis rotundas, calçadas e ruelas, finalmente cheguei a um restaurante em Gaia, pacientemente prostrado às margens do Douro, com uma esplanada (como dizem) esplêndida (desculpem o trocadilho!), com vista para a cidade velha do Porto, para a ponte metálica e inúmeros antigos barcos rabelos que nos velhos tempos transportavam o vinho do Porto ao longo do rio Douro para as Caves de Vila Nova de Gaia, com tonéis de propaganda das casas produtoras do precioso líquido adocicado.
Meu primeiro impulso foi comer um belo prato de bacalhau à moda da casa (delicadamente empanado, com ovos triturados, rodelas finas de cebola por cima, salsa e chouriço, acompanhado de batatas fritas bem fininhas e azeitona – e alho, é claro!), acompanhado de um Marquês de Borba reserva. Na primeira garfada chorei. Isso mesmo confidentes leitores, estou usando essas mal traçadas linhas para lhes dizer que simplesmente chorei. De felicidade, de torpor, de emoção... Eu estava na terra dos meus antepassados, comendo a oitava maravilha do mundo, um prato insuperável até o fim da viagem, talvez pelo calor do momento (apesar dos invariáveis 15º de temperatura) eu tenha exagerado, mas ficará cravado na minha memória por todo o sempre.
Após a sobremesa (bolo de chocolate e pastelaria – leia-se doces), parti para a visitação às Caves de vinho do Porto (Cálem e Taylor´s), onde provei brancos, tintos, tawnies, rubys, LBVs (latted bottled vintage), vintages... ahh! que felicidade morar num país assim...
    Não posso esquecer do arroz de pato e tripas à moda portuguesa que comemos com uma seleção de vinhos do Restaurante D´tonho no Cais da Ribeira de Porto... brancos e tintos excepcionais, selecionados especialmente para acompanhar os pratos.
    Fui também ao Solar do Vinho do Porto, um casarão em Porto donde se vê Gaia e suas caves, o Douro e o casario deslumbrante. Atestei a qualidade do Burmester, Sandeman, Graham´s, Fundador e mais alguns Portos cujos nomes se esvaíram da minha memória, da mesma forma que esvaziei as taças, sem compaixão. Aahhh!! Falar nesse solar, no caminho passei pelo Museu romântico (antes fomos ao Palácio de Cristal) e presenciei uma comemoração a São Martinho, pois é, estávamos adentrando no inverno e aquelas pessoas estavam reunidas comemorando a chegada do vinho novo, com vinho e castanhas, o chamado santo do inverno, é ele. Foi belo ver que o país preza por sua cultura e suas tradições, apesar de poucas pessoas assistindo!
    Para finalizar esse mês, falarei de onde comecei, do vinho do Porto, na cidade do Porto, que tanto serve para antes quanto para depois (evidentemente tomei tanto antes quanto depois das refeições e, perdoem os puristas, algumas vezes durante). Finalizarei nos finalmentes, ou seja, na sobremesa. Ele cai bem de toda forma, com trouxa de ovos, toucinho do céu, bolo de chocolate, pastel santa clara, queijadas, bolo de amêndoas e, babem... pastel de Belém (de Belém mesmo) e, touché, queijo da serra da estrela com geléia de marmelo. Ai, ai, ai, ai, ai. Como é bom viver um momento assim.. .Basta escolher uma marca de sua preferência, e saúde!
    Até a próxima, teremos: Vila do Conde, Póvoa do Varzim, Viana do Castelo, Braga, Barcelos, Fátima, Guimarães, Batalha, Leiria, Cantanhede, Mealhada, Coimbra, Fátima, Nazaré, Alfeizarão, Óbidos, Cascais, Estoril, Cabo da Roca, Sintra e Lisboa. Como é bom beber num país assim...

 

 

 

 

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