A Visconde do
Rio Branco começa no bairro Mercês e termina lá no centro. O sentido de
tráfego de veículos é ao contrário da numeração da rua, portanto
pode-se dizer que ela começa sem saída, ali naquela quadra depois da
Emiliano Perneta, onde tinha uma loja Raridade Discos. Comprei vários álbuns
em vinil alí: X, Johnny Thunders, Generation X, Elvis Costello, Vibrators,
entre outros menos “raros”. Também estudei no Dom Bosco daquela rua e
comi muito pão de queijo na panificadora da esquina. Logo que abriu a Rua
24 Horas algumas cervejas adolescentes foram sorvidas na calçada. A
Visconde do Rio Branco era meio percurso entre a cerveja do bar do Joe e o
rabo-de-galo do boteco abaixo do Dromedário, portanto vitimávamos suas
paredes com breves jatos de urina clara e bêbada. Na mesma Visconde do
Rio Branco comprei revistas em quadrinhos na antiga livraria Itiban. Mas
para mim a Visconde do Rio Branco sempre vai ser a rua do 92 !!! 92
Graus. Ninety Two Degrees. O porão mais rock da cidade. Visconde
do Rio Branco, 294 !!
Ano de 1990, Geraldo Jair Ferreira Júnior mais conhecido como J.R., usava
o porão do prédio que morava como atelier de suas esculturas e para
ensaiar com a banda Jully et Joe. O prédio de 3 andares pertencia à família
da Ana, esposa do J.R. e o porão já tinha sido usado como lavanderia.
Alguém sugeriu: “Por que vocês não montam um bar neste porão?”.
J.R. gostou da idéia, pois havia uma brecha na cidade que estava carente
de bons espaços. O circuito de bares e locais para shows alternativos do
Centrão estava decadente (o Sal Gosso, o 68, o Novak) e foi
descentralizando. Vários bares interessantes começaram a surgir: Milanis
(futuro Sheena), Poeta Maldito, Cabareth Voltaire, Ponto G (com aquele
cheiro de fritura), além do Cardoso e do Hermes (Berlin). Em março de
1991, J.R. e seu irmão começaram a trabalhar (sem pressa) a fim de
transformar o porão num bar. Quebraram paredes, tiraram pedras e foram
moldando de forma tosca e ingênua os 300 metros quadrados do porão rústico,
escuro e abafado, que lembrava templos alternativos do punk rock como o
CBGB’s.
Com o nome
inspirado em uma música da Siouxsie And The Banshees, o Ninety Two
Degrees foi inaugurado no dia 06 de dezembro de 1991. A festa era da recém-criada
marca de roupas Cruel Maniac e os shows foram com as bandas Morfeu e
Missionários. Ingresso a
R$2,00, palco no meio, calotas de Volkswagen como cinzeiro, tudo pintado
de branco, e no chão aqueles riscos de eletro-cardiograma. O Missionários
levou uma máquina de gelo seco, J.R. colocou um circuito de 3 televisores
e um vídeo... e o porão lotou !!!
No verão, portas fechadas, e a partir de março de 1992 começaram a
rolar shows aos domingos: Relespública, Woyzeck, Boi Mamão, Cervejas,
Magog, etc etc... Agendavam
apenas dois shows por mês, assim podiam fazer uma divulgação legal.
Os shows eram feitos num clima de cooperativa e irmandade, uma
verdadeira confraria. Meses depois J.R. bancou bandas de outras cidades
como Pin Ups e Second Come; e no final do ano criou o primeiro BIG
(festival de Bandas Independentes de Garagem). 13 datas entre 04 e 16 de
dezembro em dois locais, 92 e Hole Bar. Apenas bandas locais, mas de todos
os estilos: Cervejas, Jully et Joe, Missionários, Acidose, Shades Before
Dawn, Skijktl, Relespública, Loveless, Magog, Electric Heaven, Gatos
Travados, Vox Humana, Krápulas, Morfeu, Rosários de Soláquio, S.M.D. e
C..M.U. Down. Desde então o 92 vem se firmando como um local democrático
e eclético. Lá já rolou de tudo: exposição de fotos, artes plásticas,
quadrinhos, leitura de poesias, peças de teatro, desfile de moda e
despedida de solteiro !!! O 92 foi protagonista de inúmeros encontros e
desencontros amorosos. Por lá já passaram bandas de todos os estilos e
de todos os países de tradição roqueira do mundo.
Em 1993 começaram a acontecer shows as sextas, aos sábados e como
sempre, aos domingos. O público era bom, muita informação rolando e
muita vontade de fazer tudo acontecer, crescer e aparecer. Foi assim que
J.R. teve a idéia de fundar seu próprio selo Bloody Records e lançou 13
compactos 7 polegadas. Num sistema de cooperativa 13 bandas entraram na
viagem: Boi Mamão, Relespública, Missionários, Pinheads, Jully et Joe,
Vox Humana, Acrilírico, S.M.D., Tempest Waltz, Cuttin Flower, C. M. U.
Down., Acidose e os Krápulas.
Há 10 anos atrás era praticamente impossível lançar um disco
independente. O rock de Curitiba só tinha lançado coletâneas (“Cemitério
de Elefantes” e “Vampiros de Curitiba”) ou discos do Blindagem e do
Infernal. “Música ligeira nos países baixos” primeiro Lp do Beijo AA
Força só foi lançado em 1993. O
Bloody conseguiu lançar 13 compactos de uma vez só!!! Outras pessoas
(incluindo aí, donos de rádio) queriam lançar uma simples coletânea e
não conseguiram.
As bolachas de 7 polegadas foram enviadas para rádios, gravadoras,
revistas, jornais e fanzines do país inteiro. O 92 e o Bloody se tornaram
sinônimo de underground em Curitiba para o resto do Brasil. Só não teve
maior repercussão pois o formato compact-disc chegava com tudo. Para o
lançamento dos compactos e durante todo aquele ano de 93,
J.R. trouxe bandas de outros estados, iniciando um intercâmbio
importantíssimo para as bandas de Curitiba. O segundo National Garage (em
1993) trouxe bandas como Acústicos e Valvulados, Planet Hemp, Dash,
Safari Hamburguers, Killing Chainsaw e Little Quail.
Para se ter uma idéia, os novatos Pinheads só tinham tocado no
92Graus e no Berlin e mesmo assim foram convidados para tocar fora da
cidade pela primeira vez. Logo de cara tiveram a responsabilidade de abrir
o show do Pin Ups no Aeroanta da capital paulista. Já o Boi Mamão gravou
um vídeo clip produzido pelo cineasta José Mojica Marins, o Zé do Caixão!!
Muito disso graças aos compactos e ao 92 Graus, que encerrava 1993 em
grande estilo com mais um BIG.
Dezenas de shows, bandas e bares alternativos pipocavam em Curitiba no
começo de 1994. Mas o 92 Graus era o mais cool. Em abril veio o terceiro
National Garage. Desta vez J.R. resolveu fazer apenas um show no ginásio
do Círculo Militar. De Curitiba chamou os Cervejas, os Pinheads e sua própria
(nova) banda, os Intruders (futuro Magnéticoss). De “fora” chamou os
Pin Ups e os até então desconhecidos Raimundos, que pela primeira vez
pisavam em palcos curitibanos.
Em agosto aconteceu o que J.R. considera o melhor show da história do 92.
3 datas com o símbolo da resistência roqueira: FUGAZI, nos dias 25 e
26/08 lotados, mais um show extra marcado às pressas no dia 27, para
alegria de 40 felizardos.
Um incansável J.R. continuava promovendo shows em seu bar ou, quando este
sofria com problemas de alvará, arriscava em outros locais.
Até que no dia 10 de março de 1995 resolveu fechar o 92 !! J.R.
queria um lugar um pouco maior, com mais estrutura e principalmente sem
problemas com alvarás e vizinhança. No “outro” 92 Graus, na Alameda
Cabral (521), rolaram bons shows, o inesquecível foi Sick Of It All. Mas
o local não tinha o charme do porão; tínhamos perdido aquela sensação
de clube restrito. E em poucos meses, este “outro” 92 também fechou.
Mesmo assim J.R. continuava agitando a cidade promovendo shows em
diferentes locais. Abriu um outro bar, o Q.G. que também durou pouco.
Em
1997 rolaram poucos e bons shows “clandestinos” e esporádicos no porão
do 92 (como um show surpresa
por apenas R$1,00 da banda californiana TSOL).
J.R.
negava, mas quem conhece a inquietação do músico e produtor sabia que
um dia aconteceria o retorno definitivo do porão. Algumas melhorias
estruturais foram feitas e o 92 devagarinho voltava a ser o habitat das
bandas alternativas da cidade. Nesta nova fase, o grande diferencial de
outras épocas foi o horário de início e término dos shows. As matinês
resolveram o problema de horário (até às 22hs) e era uma alternativa
saudável e diferente no circuitos de shows de Curitiba.
Bandas iniciantes tiveram o privilégio de fazerem seus primeiros shows no
mesmo palco que pisaram bandas importantes do cenário musical mundial,
como Man Or Astroman?, Seaweed, Varukers, Toasters, Riistetyt, Rasta Knast,
Sick Of It All, Olho Seco, Fugazi, Agnostic Front e TSOL. O grande mérito
do J.R. foi botar a cara pra bater e bancar a vinda de grupos
desconhecidos (que depois fariam lotar lugares não alternativos). Quem o
vê sempre sorrindo e animado não sabe das dificuldades e barreiras por
ele superadas. Multas, shows sem público, problemas com alvará, vizinhos
influentes politicamente, bandas caloteiras e invernos rigorosos, são
exemplos das dificuldades diárias que J.R. supera com maestria e dá fôlego
para que o 92 suba outros tantos degraus.
Segundo
J.R., na primeira fase do 92 o maior público foi de uma banda local,
Pinheads no dia 08 de agosto de 1993, com direito a stage dives do
mezanino e traumatismo craniano de um amigo nosso.
Já com o palco de cimento no canto direito, o Fugazi batia novo recorde
numa única noite, e a fumaça e o suor sufocavam os menos avisados.
Já na reativação com o porão um pouco ampliado, Man Or Astroman?
superou a marca fugaziana. O suor vertia dos corpos para o chão e
paredes. O público disputava espaço e sonhava com um sistema de ventilação
mais eficiente.
E já na fase atual, ampliada, com melhor estrutura, com matinês, com o
aquário do Dj Volpato, com sistema de ventilação bom, com segurança
contra incêndio e saídas de emergência perfeitas, com as câmeras, home
page, com banheiros novos e sem a escada que levava a lugar algum; os
Replicantes em 2002 lotaram o porão como nunca se viu. 450 pessoas suando
e se divertindo. Com orgulho, suor na testa e uma cerveja na mão posso
dizer que marquei presença nesses 4 shows mais lotados do 92. Cheers !!!
Vida longa ao porão mais rocha do Brasil. Dali irradiaram forças que
alimentaram e alimentarão diferentes gerações e propostas musicais.
Vida longa ao grande J.R., um herói da resistência roqueira. Que venham
mais 12 anos. Curitiba e o Brasil agradecem.
DEPOIMENTOS:
“A noite inesquecível do 92 pra mim, foi sem dúvida o show do TSOL a
R$ 1,00. Bar lotado, mais gente do que cabia. A certa altura comecei a
sentir uma falta de ar incrível e achei que eram os efeitos da vodka. Aí
eu olhei pro lado e vi que tinha uma garota tentando acender o isqueiro e
não estava conseguindo. Percebi que eu não conseguia respirar porque não
tinha mais ar puro no porão. Era só uma névoa de fumaça e suor. Foi a
melhor noite de rock da minha vida. Ah! Também tenho que dizer que eu
curto o 92 por que é O ÚNICO BAR QUE EU NUNCA FUI EXPULSO !!!!!!"
Trajano, vocalista do Sarnentos, ex-No Milk Today
“O 92 Degrees nos
proporcionou momentos tão inesquecíveis como improváveis. Lá embaixo,
nas entranhas culturais da cidade, o incansável JR Ferreira, músico,
produtor, promotor, pai de família, terrorista underground e tantas
outras identidades, manteve vivo o lema punk do "faça você
mesmo". Contra todas as marés, correntezas e sutilezas nada sutis do
curitiban way of life, fez festivais, promoveu shows e deu sua colaboração
para a cena cultural local. Replicantes, TSOL, Fugazi, grebo, punk,
hardcore, ska... a lista de bandas, estilos e sons é imensa e cada
um deve ter a sua. Naquelas paredes subterrâneas, já incontáveis vezes
lavadas pelos vapores sonoros, jazem milhares de notas e histórias.”
Fabiano Camargo – jornalista... e dos bons
“Já toquei no 92 umas 7 ou 8
vezes, com o Little Quail e o Autoramas. JR é herói do rock e referência
total de Curitiba. E o 92 pra mim é sinônimo de risada e diversão. Me
lembro de várias histórias, a primeira vez que toquei lá estava tão
cheio e quente que o JR e mais uma galera pegaram umas picaretas e começaram
a quebrar uma parede abrindo espaço pra caber mais gente. E também teve
uma vez que fomos com um roadie totalmente trapalhão, que entre outras
coisas quebrou a torneira do bar provocando uma cachoeira e trancou a
porta da casa do JR com a chave dentro...Obrigado JR!!!!! Longa vida ao
92!!!!”. Gabriel
Thomaz – Autoramas e ex- Little Quail and the Mad Birds.
“O 92 tem o
melhor palco, o melhor público e o melhor pogo. Em dia de bom show, é o
lugar certo para encontrar os camaradas. O underground curitibano mora lá.
Lá tocaram as melhores bandas do Brasil e muita gente boa de fora também.
É só descer pelas escadas, passar pela portinha e cair no barulho. As
paredes suam, o chão fica escorregadio. O som alto com a cerveja sempre
barata e gelada, deixa a gente pronto pro crime. Tive a chance e honra de
tocar na inauguração do bar, fazendo o primeiro show. O J.R. é um
batalhador e se a cena underground curitibana ainda resiste, certamente
foi graças a ele e ao 92”. Gustavo, ex – Missionários, atual Catalépticos.
“Pouco antes do Magog começar
a tocar no 92, eu fui DJ do porão junto com o Mauro, do CMU
Down, bem no começo de 1992. Era a festa Splashing Madness, onde você
poderia dançar ao som de Stooges, Stone Roses, Charlatans, Buzzcocks e
também das bandas locais que já tinham demos. Na maioria das vezes
a gente tocava para ninguém. O som era bom, as luzes também, mas as
pessoas não apareciam. Então paramos de nos importar com isso, e a coisa
virou uma festa particular para 5, 6 pessoas. Uma noite, o Mauro levou uma
garrafa térmica com chá dentro. Apareceram 10 ou 11 sujeitos,
o que nos deu a impressão de que o lugar estava lotado. O fato é que à
partir daquela noite as pessoas não pararam de chegar. Em menos de
um mês, a festa era o lugar pra se estar em Curitiba, não dava nem para
respirar lá dentro. A notícia de que tinha um porão onde rolava rock
alternativo pra dançar tocado por Djs que ofereciam chá de
cogumelo para os convidados se espalhou que nem gripe. Pelo que me
lembre, o chá da garrafa nunca foi nada além de Twinnings, chá inglês,
que o Mauro, anglófilo de primeira, fazia questão de beber entre uma
cerveja e outra". Cassiano
Fagundes – Bad Folks – ex-Magog.
“Pro Brasil
ter uma verdadeira cena independente, falta basicamente três coisas: as
bandas se levarem a sério (porque vocês fazem música? pra fazer a foto
do jornal?), consumo auto-sustentável de cds e shows; e lugares legais
para esses shows acontecerem. O 92 é um exemplo nacional destes
lugares... Cria e sustenta movimentos culturais. Com um pouco mais de
estrutura técnica e apoio das rádios, a cidade só sairia ganhando com
lugares como este: ganha-se identidade cultural e diversão inteligente.
Melhor show no 92?
Acho que foi o Primeiro BIG... A diversidade das bandas, o inocência
perdida do inicio dos anos 90...Pode ser um pouco de nostalgia, mas a
cidade tinha bandas muito legais e com sonoridades muito originais: Magog,
Woyzeck, Pinheads, Jully et Joe... bons tempos...”. GLERM – ex-Boi Mamão
e Málditos Ácaros, atual Jason e Intona Rumori.
“Quando
começamos éramos menores de idade e o 92 e o Hole foram os primeiros a
abrir para a Relespública. Éramos os mais moleques da turma e isso teve
um significado muito forte, pois o pessoal que conhecemos se tornou uma
referência inesquecível. Parabenizo o J.R. e o bar, que continue com o
mesmo estilo de abrir para todos os estilos”. Fábio Elias, Relespública.
“O
primeiro show do No Milk Today foi no 92, no dia 17 de junho de 1994, dia
de abertura da Copa do Mundo daquele ano, Alemanha 1 x 0 Bolívia. Era a
festa do programa de rádio HARDCORE, capitaneado por mim e pelos Pinheads
na Estação Primeira Fm. O ingresso era uma camiseta da Cruel Maniac,
numerada. No palco as bandas Sillybones, Oz (DF) e a estreante No Milk
Today. Tocamos 5 músicas e repetimos uma delas. Tosquêra! O Trajano era
cabeludo, eu também. O Minduim era magro. Em 2004 faz 10 anos deste
debut. Teremos que fazer um show comemorativo. Ah! ...outra coisa marcante
foi aquela despedida de solteiro, está lembrado Dudu? Inesquecível”.
Mauricião – No Milk Today.
“Falar
do 92 Graus é fácil. Moleza. Espaço cultural sempre aberto à cultura
alternativa, independente, sem distinção de gênero, ponto de encontro
de quem gosta de música boa e de verdade. O difícil mesmo é manter o 92
Graus. Aí complica. E por isso devemos ressaltar a persistência de JR
Ferreira, que há tanto tempo rema contra a maré dos ingressos caros, dos
alvarás caçados, da música de mentira. Esperamos que ele nunca se
canse. Bandas e público agradecem”. André Teixeira – jornalista.
“Comprei
um tênis Puma vermelho novinho e no mesmo dia fui no 92... show do Man Or
Astroman? O porão
estava muuuuuuuito cheio, paredes úmidas, chão molhado. Resolvi ficar
parado encostado na parede de fundo do bar pois o ambiente estava
intransitável. Mas nas duas “viagens” que fiz até o balcão para
comprar uma lata de cerveja, meu tênis Puma já era!!! Após o término
do show, enquanto subia os 16 degraus do porão observava meus tênis
novos... sujos, molhados... pareciam que já os tinha usado por décadas...
coisas do rock... mas sempre vale a pena”. dudE
Agnew.
"O
92º tem uma importância fundamental para cena rock curitibana e falando
mais amplamente na cena cultural como um todo. Não só por ser um espaço
que
abriga qualquer gênero musical, mas também por JR ainda ser um
agitador cultural de fundamental importância em Curitiba." VLAD –
catalépticos, ex-cervejas.
“92
graus. Este é o nome do bar que vai inaugurar, Jr Ferreira, um gótico
ex-hippie abrindo um bar pra punx, psychos e outsiders em geral. Entao tá,
claro que os Missionarios se orgulham de serem chamados para a histórica
missão de inaugurar a maior casa de shows que essa cidade jamais verá
igual.
Estava tudo lá, o porão, o calor infernal, as paredes que não falam,
mas suam pra cacete. Alguém naquele dia imaginou que no mesmo palco que
estavam o Morfeu (do guerreiro Coelho) e os Missionários, ainda subiriam
Fugazi, Man or Astroman, Varukers, além de centenas das melhores bandas
do mundo, que antes disso só tocavam em SP e RS e nem imaginavam o que
era Curitiba?
Pois é, o tempo passou, a casa tomou muitas pancadas da "família
curitibana", que a todo custo achava que naquele porão coisa boa não
podia acontecer e tinha que fechar. O
92 mudou de lugar, mudou de horário da melhor forma camaleônica,
sobreviveu e está cada dia mais forte, pois o que move esse lugar histórico
da musica brasileira que caga pra MTV e pra radio FM, não é o retorno
financeiro, é algo muito mais nobre, talvez uma frustração de JR de
nunca ter tido muito espaço para suas próprias bandas. Algo tomou o ser
do rapaz, que arregaçou as mangas e abriu na marra um espaço para tantos
outros músicos "marginais" que insistiam em criar sua própria
música e repudiavam as bandas cover, que na época enchiam os bolsos de
grana e comiam todas as meninas gostosas da praça. Cito ainda um fatídico
dia em que uma banda cover se arriscou a tocar lá... deu pena dos
pleiboizinhos, que sofreram uma enxurrada de latas de cerveja tão
violenta, que aquilo que aconteceu com os Rivets na abertura dos Dead
Kennedys foi brincadeira de criança. Então é isso, 12 anos, essa criança
tem mais experiência que muito adulto, e sempre que possível estarei lá
tocando com os Limbonautas (ou qualquer outra banda) um som pra 300 ou
mesmo pra 3 pessoas interessadas, pois enquanto tiver uma pessoa
interessada em ver um show, o 92 graus não fecha por nada!!! Minhas
respeitosas parábolas!!!”. Timtim
From Zero Zone – guitarrista dos Limbonautas e ex-Missionários.
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