O circuito fetichista do desejo e seus restos O desejo é uma metonímia. Eis uma proposição que parece absolutamente evidente para um lacaniano. Nós conhecemos bem a figura deste desejo inominável, desta pura negatividade cujo destino seria o perpétuo deslizar pela cadeia significante, tal qual uma metonímia interminável. Mas gostaria de insistir nesta proposição predicativa aparentemente simples e já sabida. Até porque, é sempre sob a etiqueta de um já sabido que o não-saber se apresenta. O desejo é uma metonímia : o que isto quer dizer exatamente ? Vamos primeiro começar por aquilo que isto não quer dizer. Não se trata aqui de afirmar, por exemplo, que o desejo seria representado através de uma forma metonímica, como se existisse um conteúdo objetal primeiro escondido por trás das figurações da forma. Na verdade, a idéia central é que o desejo não passa de uma metonímia. Como sabemos após a diferenciação freudiana entre conteúdo manifesto, conteúdo latente e trabalho do sonho, o verdadeiro objeto do desejo inconsciente é o próprio trabalho de deslocamento significante. Da mesma forma que o verdadeiro objeto de desejo de um fetichista não se reduz exatamente a um par de belos seios ou de longas pernas. Antes, ele é o trabalho perverso de transfigurar a mulher em uma parte destacada de seu corpo. Pois o fetiche � que, como veremos, é a matriz constitutiva de todo objeto causa do desejo � não é simplesmente a imagem de uma parte capaz de apresentar o Todo de maneira imediata e não-castrada. Melhor seria afirmar que ele é a imagem da dissolução do Todo em uma de suas partes. Mas a fim de apreendermos exatamente quais são as conseqüências de tal proposição é necessário começar pelo começo. Vamos pois começar soletrando o abecedário lacaniano. Ninguém mais desconhece o papel desempenhado pela metáfora e pela metonímia nas considerações lacanianas sobre a noção de estrutura. Mas muitas vezes esquecemos como o essencial da articulação de Lacan só aparece ao expormos a relação de complementaridade que sustenta estes dois processos. É a partir de tal exposição que poderemos apreender a verdadeira dinâmica do circuito do desejo e de seus restos. Para tanto, vale a pena analisarmos com mais calma a estrutura lacaniana. Para construir uma estrutura, sabemos que três fatores são necessários. Aqui, nós podemos fazer ressoar uma certa formalização colocada em circulação por Badiou1 :
Vemos que, no final das contas, precisamos apenas de dois procedimentos para construir uma estrutura: um de articulação interna e outro de fundamentação externa. A metonímia fará o primeiro trabalho e a metáfora fará o segundo. Ou ainda, o desejo fará o primeiro e a função do sujeito fará o segundo. O desejo é a regra de passagem de um significante a outro. Uma passagem que obedece à contiguidade espaço-temporal da metonímia. Pois tal figura de linguagem : � é o efeito tornado possível graças ao fato der que não há significação que não remeta a uma outra significação"5. A fórmula tem o mérito de lembrar que a metonímia produz um certo efeito de significação através da articulação com o contexto, e não graças à correspondência a uma referência naturalizada. Nesta nadificação da referência a um objeto natural, a metonímia provoca, de um só golpe, duas conseqüências diferentes mas complementares. De um lado, ao fazer com que um significante se apoie sempre em outro significante, ela costura o tecido de uma linguagem que se veste a si mesma. Uma linguagem que não foi produzida para se moldar ao corpo de um substrato pré-discursivo. Desta forma, ela produz um Todo consistente que, como veremos, só pode ser da ordem do imaginário. Aqui, vale a pena um aparte. É do papel desempenhado pela metonímia na produção do Todo consistente que vem a primazia lacaniana da metonímia sobre a metáfora. E, se tal primazia está bem presente no dito famoso do Pai Ubu : � Viva a Polônia, porque sem a Polônia não haveria poloneses �, é porque ele nos lembra que, sem a instauração prévia do conjunto-Todo, seria impossível nomear seus elementos. Mas é necessário sublinhar que há um preço a pagar pela produção deste conjunto-Todo. Um preço caro, diga-se de passagem. Pois o trabalho de costurar um significante no outro transforma-se em um trabalho infinito. É fácil perceber que, a partir do momento em que a significação é sempre enviada ao significante-outro, entra-se em um deslizamento indefinido do sentido que infinitiza a barra que separa significante e significado. Moral da história : a consistência imaginária produzida pela operação metonímica é correlativa a perpetuação desta falta-a-ser que encontramos na altura da barra. A metonímia instaura a dimensão da ausência do nome próprio da Coisa. Nome que só será produzido pela palavra plena metafórica. Eis a razão que leva Lacan a afirmar que : � o desejo é a metonímia da falta-a-ser �6. A fim de ilustrar, basta lembrarmos do artigo princeps de Jakobsen sobre as afasias e, em especial, dos casos de pacientes com o gênero de afasia que afeta o funcionamento do eixo metafórico da língua. Todos eles têm a tendência a omitir o sujeito sintático e se sentem impedidos de enunciar proposições predicativas do tipo A=B e A=A. Quer dizer, eles simplesmente não são capazes de nomear o objeto visado ; fato que os atira no interior de um discurso infinito ruim que gira indefinidamente em torno da impossibilidade de nomeação da Coisa. O problema é que, na cartografia conceitual lacaniana, a nomeação do ser da Coisa, operacionalizada pela palavra plena, é sempre um equívoco, o que a histérica sabe bem. Afinal, podemos interpretar a questão histérica como uma questão nominalista do tipo : � o que é um nome ? �, � Por que este Outro me chama de sua mulher ? �, em suma, � o que faz de uma nomeação uma nomeação ? �. Questão problemática já que, para este aluno de Kojève chamado Lacan, o nome é o assassinato da Coisa. Não há relação de adequação que possa garantir a nomeação. Em outras palavras, para Lacan, o ato de nomeação não pode obedecer aos pressupostos de uma teoria correspondencialista da verdade que postule a existência de uma espécie de substrato pré-discursivo apresentado pelo significante. A estratégia realista de designação ostensiva não terá lugar no pensamento lacaniano. Daí se segue a definição da Coisa como : "aquilo que do Real padece de significante". Ela é o que só aparece na estrutura como faltante. Nota sobre a Coisa Aqui, precisamos desenvolver melhor a noção lacaniana de Coisa a fim de apreender a especificidade do seu conceito de metáfora. Podemos começar afirmando que a Coisa guarda uma identidade lógica com a referida multiplicidade inconsistente pressuposta pelo aparecimento da estrutura. Como foi dito anteriormente, todo processo de simbolização pressupõe e põe um excesso. Mas de onde vêm tal excesso ? Ele vem da lógica mesma do processo. Se colocamos a questão do para-aquém da estrutura, nós recebemos como única resposta possível : � Antes da estrutura havia qualquer Coisa indeterminada que agora aparece como faltante �. Eis porque Lacan afirma que : � no nível das Vorstellungen, a Coisa não é nada, mas literalmente não é � ela se distingue como ausente, como estrangeira �7. Não se trata da falta de um objeto determinado mas, antes, de pura falta daquilo que não é determinável. Até porque, a determinação já é uma ação da estrutura e não pode ser anterior ao seu aparecimento. O paradoxo é que a pura falta aparece como excesso, como aquilo que não pode ser estruturado. Por esta razão, a Coisa marca o lugar do impossível em Lacan. Ela indica uma certa operação de sacrifício pressuposta pelo aparecimento do sistema simbólico. � A palavra é o assassinato da Coisa �, dizia Kojève para sublinhar a existência de um descentramento presente em todo ato de nomeação. Nomear é descentrar o ser da Coisa de seu hic e nunc, de seu suporte natural, a fim de fazê-la passar à universalidade do conceito. Nós podemos enfim definir a nomeação metafórica como uma certa operação de recalcamento da Coisa. Fato que Lacan nos afirma ao falar do : � efeito de condensação enquanto que ele parte do recalcamento e faz o retorno do impossível, concebido como o limite de onde se instaura a categoria do real pelo simbolismo �8. Quer dizer, a metáfora é um recalcamento que, ao mesmo tempo, faz o retorno da Coisa como o limite à operação de simbolização. Ela atualiza uma ausência que abre no sistema simbólico a exposição do limite de seu dispositivo de designação nominal. Ë por isto que a palavra plena lacaniana será sempre uma impostura. Atrás da mulher do : � você é minha mulher �, haverá sempre este nada, este vazio cujo ato contínuo de não se deixar inscrever impede a estabilização do pacto simbólico. Por outro lado, se lembrarmos que, para Lacan, o nome do ser da Coisa é a pulsão enquanto desejo no seu caráter fundamental de desejo puro inominável, vamos perceber que permanece em aberto o problema da apresentação nominal do desejo no interior da estrutura. Tal problema estará bem enunciado por Lacan na afirmação famosa : � Que o desejo seja articulado, é justamente por isto que ele não é articulável �9. Quer dizer, como o desejo é a regra de articulação dos significantes, ele não pode, devido a uma impossibilidade lógica, ser articulável na dimensão significante. Mas há uma saída deste círculo vicioso. O que não é articulável no simbólico pode ser objetificado no imaginário. Eis o preço pago para produzir a consistência do Todo. A estrutura deverá contar com ao menos um elemento que não seja um significante articulável. Tal elemento será, ao mesmo tempo, a objetificação imaginária da regra e a objetificação imaginária da impossibilidade de um fundamento para a regra. Quer dizer, ele será uma ilusão no sentido marxista do termo. Um semblante ideológico que, por ter a indestrutibilidade de um semblante, é absolutamente necessário para o funcionamento do sistema. Eis porque toda consistência é da ordem do imaginário. Para dizer de outra forma, como Lacan impede a duplicação da estrutura (� não há metalinguagem �, � não há Outro do Outro �) ele abre um lugar vazio no seu interior. Um lugar que pode ser visto como resposta à questão : � qual é o fundamento de um sistema mezzo-psicótico, que refere-se apenas a si mesmo, tal como o universo simbólico lacaniano ? �. Como sabemos, a resposta é : � não há �. De onde se segue a necessidade de produzir alguma coisa que esteja no lugar deste fundamento que não há. Alguma coisa que venha cobrir a ausência desta Coisa que não pode ser apresentada pela estrutura. Algo que tem nome no dicionário lacaniano. Trata-se do objeto petit a : este que Lacan chamará de objeto causa do desejo10. É na dimensão fantasmática do objeto petit a que a regra, ou no nosso caso, que o desejo se apresenta em toda a sua contingência e em toda a sua essencialidade de falta-a-ser inapreensível. Pois o objeto petit a, longe de ser apenas uma imagem congelada, é a imagem da negatividade do desejo se petrificando na inércia de uma determinação concreta que, em si mesmo, é absolutamente contingente.
O gozo perverso Mas, para melhor expor tal ponto, será necessário fazer um curto-circuito e ir na direção da estrutura lancaniana da perversão. A razão para este procedimento é simples : trata-se de insistir na noção de metonímia enquanto deslocamento perverso. Pois : �a função da perversão do sujeito é uma função metonímica �11. É a partir daí que poderemos apreender todo o rigor lógico que encontramos na proposição lacaniana sobre : � este fenômeno fundamental que podemos chamar de radical perversão dos desejos humanos �12. Quando afirmamos que o desejo é estruturado de maneira perversa, estamos no fundo dizendo duas coisas diferentes : uma mais evidente que a outra. O primeiro sentido da afirmação faz apelo à distinção fundamental entre as noções de necessidade e de um desejo cortado de toda aderência natural prévia. O outro sentido será uma conseqüência de ordem lógica que articulará a diferença entre o desejo alienado, preso em uma espécie de falso-gozo auto-erótico, e o que poderemos chamar de desejo verdadeiro.
Sabemos que há, em Lacan, uma certa deformação perversa das necessidade pelo desejo que faz eco ao dualismo ontológico de Kojève e à relação entre natureza e cultura em Lévi-Strauss. Pois a enunciação do desejo � esta passagem da necessidade pelo significante � faz sempre ressoar uma Outra Coisa à distância. Se o desejo pode ser a regra é porque a regra é o desvio. Basta lembrar que, ao tentar chamar o desejo pelo nome : � o sujeito não satisfaz simplesmente um desejo, ele goza por desejar �13. Para além da relação de objeto, haverá sempre o gozo do desejo enquanto desejo. Proposição que tem o sentido de afirmar a existência de um gozo próprio da metonímia, do puro deslocamento significante. Mas se a perversão é fundada sobre o prazer do uso do significante é porque, no fantasma perverso : � o significante em estado puro se sustenta sem a relação intersubjetiva, esvaziado de seu sujeito �14. No fantasma perverso, este gozo do puro deslocamento significante se objetifica, se reifica (ele aparece sem a relação intersubjetiva) na imagem de um objeto inerte e opaco : o objeto petit a. Aqui, já podemos colocar uma questão central : se seguirmos todo este raciocínio, como poderemos fazer a diferenciação entre desejo alienado e aquilo que Lacan chama no Seminário V de desejo verdadeiro ? Ou ainda, como diferenciar sublimação e perversão ? Vamos começar pela seguinte hipótese : a perversão é o nome de um certo processo de trabalho que tem por finalidade produzir um objeto absolutamente particular chamado fetiche. Desde Freud , sabemos que o fetiche é um objeto produzido para defender o sujeito da angústia da castração. Uma castração percebida incidindo primeiramente sobre a mulher ou, mais precisamente, sobre o primeiro Outro que se apresenta ao sujeito : o Outro materno. Percepção que, graças a uma reflexividade própria à constituição do sujeito, recebe o valor de uma ameaça de castração contra si mesmo. Podemos pois afirmar que o procedimento perverso consiste na rejeição (Verleugnung) da castração através da produção de um objeto fetiche que impede a apresentação da falta no Outro correlativa à spaltung do sujeito. Afinal, graças a sua identificação com o fetiche, o sujeito se objetifica através da objetificação de seu desejo e permite a produção de uma consistência imaginária do Outro. Aqui, devemos lembrar como o sujeito rejeita, pelas vias objetificadoras do fantasma perverso, sua divisão e sua característica de falta-a-ser. Por isto que encontramos Lacan a afirmar que a estrutura da perversão : � é propriamente falando um efeito inverso da fantasia. É o sujeito que se determina a si mesmo como objeto, em seu encontro com a divisão da subjetividade �15. O interessante é que, se na dimensão significante o desejo sempre desliza, na engenharia imaginária do fetiche ele parece finalmente encontrar sua presentificação. O que prova que o fetiche é o nome do desejo. É por esta razão que, quando o fetiche se dissolve, não resta outra coisa que a angústia de um desejo que tem cheiro de morte. Prova disto é o que diz Lacan a respeito da destruição, pela mulher de Gide, das cartas que este lhe havia endereçado : � ela deixou uma falha aberta no seu ser �. Ou ainda, ela desvelou a estrutura do ser como falta-a-ser. De onde se segue a constatação de que a verdadeira função destas cartas-fetiches era dissimular tal lugar vazio. O gozo proporcionado pela produção de tais cartas só pode ser então uma imagem de gozo que só se sustentava graças à rejeição da castração. Uma imagem de gozo capaz de dissimular a impossibilidade do gozo. Pois a perversão : � na medida em que acentua a função do desejo no homem (�) institui a dominância, no lugar privilegiado do gozo, do objeto a do fantasma que substitui o A barrado �16 Mas como a perversão produz o fetiche responsável pela dissimulação da impossibilidade do gozo ? Aqui, o melhor a fazer é deixar a palavra ao próprio Lacan : � Esta função fetiche só é concebível na dimensão significante da metonímia �17. A função fetiche do objeto não é outra coisa que a exposição de seu caráter metonímico. Mas isto não quer dizer simplesmente que o fetiche é uma parte que tenta apresentar o Todo. É necessário ir mais longe e afirmar que o fetiche é a imagem daquilo que não se apresenta no deslocamento significante, ou seja, o próprio deslocamento, o trabalho do desejo. Ele é a fixação perversa deste momento no qual a mulher vai se transformando em pernas, boca. Ele é a imagem mesma do movimento congelado em um momento de suspensão. Aqui, a noção de fixação perversa deve ser compreendida como um certo procedimento de objetificação do movimento de deslocamento significante. Podemos, então, dar a seguinte fórmula : o objeto fetiche é este elemento que deve ser contado para dar consistência ao conjunto-Todo. Um sistema simbólico qualquer será sempre fundado por um fetiche que estará no lugar de uma clivagem advinda da ausência de um fundamento exterior para a regra. De fato, todo sistema simbólico é fundamentado por um Totem cuja função é dissimular o impossível marcado pelo tabu. Nós podemos mesmo dizer que a castração é o nome desta operação de marcar o fundamento com o selo da falta. Aceitar a castração significaria, neste sentido, reconhecer a impossibilidade do Todo, do Um e da auto-identidade imediata. E se toda regra produz, tal qual uma espécie de sombra, um elemento fetiche que preenche o impossível de sua fundamentação exterior deveremos, então, sublinhar que tal elemento será responsável por uma certa auto-identidade imaginária ($ <> a). O objeto sublime é um fetiche sem resto Desta forma, chegamos à questão central deste artigo : como passar deste desejo fascinado pela sua própria imagem à sublimação capaz de fazer com que o sujeito se confronte com o inquietante estranhamento (unheimlich) de uma experiência de descentramento ? Minha resposta seria : não há como se passar do fetiche ao objeto sublime. Pois este objeto elevado à dignidade da Coisa � definição lacaniana para a sublimação � não é outra coisa que um certo gênero de fetiche. É por esta razão que Lacan insiste na presença de uma certa supervalorização do objeto (uberschätzung) na sublimação. Pensemos, por exemplo, em Antígona : o paradigma ético lacaniano. A beleza de seu gesto (e por que não dizer : a beleza perversa de seu gesto) consistiu em desejar a parte a despeito do Todo. Quer dizer, seu irmão à polis. Ao desejar a parte ela expôs a consistência imaginária da polis à destruição. Este amor era um amor sublime, e não um amor fetichista, porque o objeto, longe de dissimular a clivagem do Todo social da polis, transformou-se na afirmação desta clivagem. Através sua ligação ao irmão, Antígona revelou um amor pelo descentramento, amor pela falha. É aí que podemos identificar um gozo do impossível. Gozo de um Real que aparece como falha. Gozo absolutamente distinto desta imagem de gozo produzida pela fetiche Aqui, devemos fazer eco a uma certa formulação que encontramos em Freud : � é na construção do próprio fetiche que encontrou acesso tanto a denegação quanto a afirmação da castração �18. Fórmula absolutamente fantástica devido ao seu caráter dialético. No fetiche, encontra-se acesso tanto o denegação quanto a afirmação. E, talvez, não se ultrapasse o fetiche porque, como sabem todos os dialéticos involuntários, o fetiche já é sua própria negação. De uma certa forma, ele já é a exposição de sua própria impossibilidade já que é apresentação determinada desta impotência do sistema que sempre será um Universal não-Todo. De onde vem a fórmula : o objeto sublime é um fetiche sem resto, ou seja, acrescido do momento de sua própria auto-negação. --------------------------
1 BADIOU, Alain; L'être et l'événement, pp.161-167. O esquema de Badiou é diferente deste conjunto de três fatores aqui apresentados. De fato, ele não parte de uma questão do tipo : � quais são os fatores exigíveis por uma estrutura ? �, mas: � quais são os fatores exigíveis por uma ontologia do infinito ? �. Quer dizer, se aceitamos a infinitude do ser e se aceitamos também a identidade entre ser e natureza teremos que pensar as condições para a infinitude da apresentação. Tais condições passam por um método de exaustão da finitude que será equivalente a uma síntese dos procedimentos de apresentação da multiplicidade. De onde se segue que sua questão resolve-se em uma classificação dos fatores de configuração de uma estrutura. Badiou nos apresenta quatro : a) uma multiplicidade apresentada ; b)uma regra ; c) um limite para a regra ; d)uma segunda multiplicidade que será, ao mesmo tempo, o lugar de articulação da regra e aquilo que aparece em posição de limite à mesma. Esta segunda multiplicidade será nomeada Outro e pode também ser pensado como uma metaestrutura. Por razões de praticidade, eu sintetizei os fatores c) e d) em um só.
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