Quinteto Académico



Sobre o conteúdo desta página recebi um email de João Paulo dos Santos Fonseca, filho de José Manuel Fonseca, que foi saxofonista do Quinteto Académico:

" (... ) Fiquei espantado com alguns aspectos desta página: o José Manuel está vivo e está de boa saúde. Pode fornecer-vos indicações e datas mas precisas sobre toda a história da banda. Não me parece de bom tom colocar o irmão João Patrício a falar como se de um morto se tratasse. Já para não falar nos restantes elementos banda. Para se fazer um trabalho deste, é necessário pesquisa, e neste, vocês que me desculpem, não existe ou é muito fraca. Há datas erradas e factos mal relatados. Alguns nem são verdade. Trata-se de uma banda cujo todos os elementos são vivos e e boa saúde. Saber onde todos eles estão é mesmo muito fácil. Muitos deles são nomes sonantes da nossa praça.

Não me levem a mal mas, a música e tudo o que foi e tem sido feito por ela em Portugal é para ser tratada com mais empenho, esforço, dedicação e acima de tudo mais rigor na informação. A História da POP não me parece que esteja a ser bem contada. Já basta o trabalho despresivel que as editoras e as rádios têm feito com os arquivos dos registos sonoros, fotográficos e escritos."

Não levo nada a mal. O João Paulo Fonseca tem razão quanto ao amadorismo da página, que é total. Não há aqui outra fonte de informação a não ser de coisas que vou encontrando na net e outras que algumas pessoas, por sua iniciativa, me enviam. Logo que possível tentarei seguir os contactos que me dá e elaborar melhor a página. E agradeço as sugestões, evidentemente.

O nascimento do Quinteto Académico deu-se em num baile em Montalto, Arganil, sendo a formação original constituída pelos seguintes músicos:

  • Daniel Gouveia (piano)
  • Mário Assis Ferreira (viola eléctrica)
  • Artur Pinto (bateria)
  • José Manuel Fonseca (clarinete)
  • José Augusto Duarte (contrabaixo)
  • Na longa vida do agrupamento, os músicos foram sendo gradualmente substituídos, podendo referir-se a posterior entrada dos seguintes instrumentistas:
  • Piano - Pedro Osório, que substituíu Daniel Gouveia em 1967
  • Viola eléctrica - Carlos Carvalho
  • Bateria - Fernando Mendes e, posteriormente, o belga Adrian Ransy
  • Contrabaixo - Carlos Gandra, depois Alexandre Barreto, e depois ainda Jean Sarbib

  • Segundo informação de João da Fonseca Patrício (irmão de José Manuel Fonseca):

    «O Quinteto, na origem, era um grupo de 5 músicos com muito boa vontade mas, tecnicamente, com carências. É normal, já que os grupos precisam de tempo para ganharem técnica e entrosamento.Em 1968, creio, dá-se a primeira mexida significativa na formação: entram o Pedro Osório (teclista; conhecido dos meios musicais nacionais); o Adrien (baterista; belga), o Jean Sarbib (baixista; francês) e o Carlos Carvalho (guitarrista). Da formação inicial manteve-se apenas o meu irmão - José Manuel Fonseca ;)

    «Pelo caminho, além dos outros elementos, ficou uma pessoa bastante conhecida do meio do entertenimento em Portugal, o Mário Assis Ferreira (administrador do Casino Estoril, e o responsável pela abertura do Casino aos grandes nomes da música que por lá têm passado nos últimos anos). Era o guitarrista do início do grupo. Esta formação já representou um salto bastante significativo em termos de qualidade, tendo já permitido que o grupo se aventurasse em estilos musicais mais modernos e próximos daquilo que, a nível internacional, se fazia e iria fazer nos anos 70.

    «Esta formação durou, penso que 1 ano e meio a 2 anos, e foi renovada com a saída do Pedro Osório (teclista) e do Carlos Carvalho (guitarista), e a entrada de 4 novos elementos: um teclista inglês; um cantor norte americano; um trompetista sul africano e um guitarrista escocês - o Mike Seargent, que ainda anda por cá, penso. A formação ficou então com 7 elementos (daí o + 2), todos estrangeiros à excepção do meu irmão.Foi uma formação que, devido à miscelânea de nacionalidades (não havia 2 elementos com a mesma nacionalidade), durou pouco tempo.No tempo que durou deu brado no panorama musical português, porque na realidade tinha uma qualidade acima da média musical que se praticava em Portugal.

    «Como exemplo, os elementos dos Sheiks iam aos espectáculos do Quinteto para tentarem aprender mais alguma coisa em termos de técnica dos instrumentos. O Paulo de Carvalho (que era o baterista dos Sheiks) ficava embevecido a ver o baterista do Quinteto tocar. Não era para menos: o Adrien tinha sido músico de orquestras de jazz na Bélgica e tinha realmente uma grande pedalada. Foi ele que me deu as primeiras bases de bateria, que me levaram mais tarde a aventurar-me a tocar este instrumento.

    «Como curiosidade, o Jean Sarbib tornou-se baixista de jazz nos USA (vi-o um ano no Cascais Jazz a acompanhar o Rão Kiao). O Mike Seargent continuou a tocar cá em Portugal em diversos grupos. O Adrian e o meu irmão foram tocar para o Conjunto João Paulo, mas sairam ao fim de pouco tempo por incompatibilidades musicais ;) e desistiram da música a nível profissional. O Quinteto Académico foi um grupo que marcou o panorama musical português, mas que infelizmente não durou o tempo suficiente para melhor se afirmar. »


    Segundo informação de Mário Simões:

    «O teclista do "Quinteto Académico+2" era o Mike Carr e o vocalista era o americano Earl Jordan. O Mike Carr esteve durante muito tempo pelos 2º e 3º lugar dos melhores teclistas referenciados pela Melody Maker, nos anos seguintes. Esta formação fez a festa de finalistas do Colégio Nuno Álvares de Tomar em 1969/70, e a escolha foi do Rui Neves, e obviamente uma excelente escolha.


    A banda sonora do filme "Sete Balas para Selma", de António Macedo, era composta por canções com letra do poeta Alexandre O'Neil musicadas pelo Quinteto Académico (grupo popularizado por temas românticos) e cantadas por Florbela Queiroz, actriz de teatro de comédia e de revista.


    Mais tarde a formação passou de 5 para 7 elementos, adoptando então a designação Quinteto Académico + 2. Nesta nova formação, o Pedro Osório e o Carlos Carvalho já não tiveram lugar, dando lugar a um teclista inglês e ao escocês Mike Seargent (que mais tarde viria a integrar os Green Windows de José Cid). Mantiveram-se o Jean Sarbib (baixo); o Adrian (bateria); o Zé Manuel (sopros) e entraram um cantor negro americano e um trompetista sul africano. O manager era Mário Assis Ferreira (actual administrador do Casino Estoril).


    O Quinteto Académico participou no primeiro Festival de Vilar de Mouros "ecléctico", que decorreu em 3 e 4 de Agosto de 1968 no Campo do Casal.


    Na Boîte Polana (Lourenço Marques) actuavam o Quinteto Académico e o quarteto francês de Johnny Bonada, com os intervalos preenchidos com música dos AEC 68.
    (Francisco José Viegas)

    Dos AEC 68, bem como dos grupos Storn e Oliveira Muge - todos do Maputo - sairam os músicos que formaram a Sygma Band, banda residente do Casino da Figueira da Foz desde há décadas. "Recordando a Boite do Hotel Polana" - música de dança pelo grupo "I Cinque de Roma" pode ser escutada aqui)
    No mesmo site podemos recordar os AEC 68, aqui


    Daniel Gouveia

    Nasceu em Lisboa, em 1943. Estudou no Liceu de Gil Vicente e na Faculdade de Letras de Lisboa, cujo curso de Românicas não concluiu. Foi fundador e teclista do grupo "Quinteto Académico" (1960-66), que gravou alguns discos com músicas de sua autoria. Compôs a música do filme Domingo à Tarde (realização de António Macedo, sobre o romance de Fernando Namora, 1965).




    O Quinteto em Albufeira

    Por Pedro Osório

    Em 1968 o Algarve começava a atrair as atenções do turismo internacional e Albufeira era uma pequena e encantadora vila para onde rumavam os artistas e os jovens em busca de aventura. Duas 'boîtes', colocadas uma em frente da outra num pequeno largo junto ao mar, monopolizavam a vida nocturna da região. No "1900" tocava o Quinteto Académico, onde eu me iniciava na vida de músico profissional, e comigo estavam o Adrien Ramsy na bateria, o Jean Sarbib na viola-baixo, o Carlos Carvalho na guitarra eléctrica e o Zé Manel Fonseca no sax. No "7 e 1/2" actuavam os Sheiks, com o Paulo de Carvalho, o Carlos Mendes, o Edmundo e o Fernando Chaby.

    No "1900", mais virado para público de meia-idade, tocávamos Procol Harum e Beatles, enquanto do outro lado, onde as inglesas contratadas para dançar e animar o ambiente atraíam a malta nova, tocava-se Stones e The Byrds. No topo do largo, no segundo andar de um edifício de dois, estávamos instalados nós, os músicos do Quinteto. É fácil imaginar a intensa vida social que se cruzava nas nossas instalações e as memórias fortes que aqueles três ou quatro meses deixaram em cada um de nós.

    Ao tempo a polícia algarvia tinha recebido firmes e salazarentas instruções para travar os perigosos costumes de "libertinagem" que os estrangeiros traziam da pecaminosa Europa para o nosso Portugal pacato e respeitador. O cabo Marreiros, o polícia mais graduado de Albufeira, tomou a peito esta missão e decretou que era terminantemente proibido beijar em lugares públicos, e para que o decreto fosse cumprido ele próprio passou a vigiar as ruas, escondendo-se atrás das esquinas e das árvores, e os bares e 'boites', camuflando-se com colunatas e repregos da decoração.

    Uma das primeiras vítimas foi o nosso empresário, o Mário Assis, que em plena pista do "1900", evoluindo ao som do seu/nosso Quinteto Académico, esqueceu por momentos as moralistas determinações e depositou um beijo fugidio nos lábios da inglesa com quem dançava. Como um raio caiu-lhe em cima o cabo Marreiros, saído de um canto escuro da sala, e arrastou-o sob prisão para a esquadra da vila, onde ele teve de aguardar que nós acabássemos o 'set' para irmos interceder pela sua libertação.

    No dia seguinte, reunidos em plenário de músicos e inglesas, concluímos que era imperioso combater os inaceitáveis desígnios policiais, e que o método mais eficaz seria o de demonstrar à autoridade a impossibilidade de prender todos os prevaricadores. A partir de então todos os fins de tarde, altura em que a marreiral vigilância invadia o centro de Albufeira, nós, munidos cada um da sua companheira, ao aproximar do cabo da guarda iniciávamos um ritual de beijos, castos estilo adeus prima boa viagem e cumprimentos à tia - os que estávamos mais perto do cívico - ou beijos mais suculentos seguidos de fuga os que nos encontrávamos mais longe.

    Ao fim de uma semana deste jogo, que já se ia tornando uma atracção turística da terra, o cabo Marreiros mandou-nos um recado, por via oficiosa que não lhe comprometesse a dignidade de esbirro chefe, informando que a proibição dos beijos iria ser suspensa mantendo-se exclusivamente em relação a um ou outro que assumisse proporções particularmente escandalosas. Compreende-se que nós tenhamos festejado este acontecimento no ‘Sir Harry's Bar’ como se fosse uma grande vitória contra o regime decadente.


    Nota: as informações aqui reunidas, algo dispersas, não resumem adequadamente a longa história do Quinteto Académico, devendo ser consideradas apenas como pistas para a reconstituição do percurso da banda.

    Agradecemos as informações de Daniel Gouveia e de João da Fonseca Patrício (irmão de José Manuel Fonseca) sobre a história desta banda.


    A canção «Judy in Disguise» interpretada pelo Quinteto foi incluída na colectânea «Os Reis do Ritmo», publicada em 2003 pela editora Valentim de Carvalho


    Página inicial

    Hosted by www.Geocities.ws

    1