RTBlau/DataBlau - Textos especiais

Estádio Machadão

O Estádio João Machado, o Machadão, no bairro de Lagoa Nova, foi entregue ao público e inaugurado no dia 4 de junho de 1972 sob o nome de Estádio Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, o Castelão. A mudança de nome veio em 1989. O estádio, considerado o atual "templo do futebol potiguar" completou 30 anos em junho/2002. Mas, até hoje, o "Poema de Concreto Armado" jamais teve sua obra concluída de fato - paciência...

 Estádio João Machado, ex-Marechal Castelo Branco. Foto Arquivo DN, 1998 (Original de Ivanízio Ramos)
Estádio João Machado, ex-Marechal Castelo Branco. Foto Arquivo DN, 1998 (Original de Ivanízio Ramos)

As tentativas de se construir um estádio grande começaram na década de 1950. Naquele tempo, o principal (e o maior) estádio de Natal era o Juvenal Lamartine, construído na década de 1920. A primeira tentativa foi durante o governo estadual de Sylvio Piza Pedrosa (meados da década de 1950).

Na ocasião, foi criada uma comissão que teve, entre outros membros, Amauri Dantas, Luiz G. M. Bezerra e Aluízio Menezes; e chegou-se mesmo a se definir o local - um terreno próximo ao hoje Círculo Militar, a área era conhecida como Tapetão de Brasília Teimosa. Mas a obra foi desaconselhada devido à maresia, e de quebra a corrosão muito rápida que a estrutura de metal da obra sofreria.

Ainda no governo de Sylvio Pedroza, partiu-se para um segundo local - um terreno em Bom Pastor. De novo, a obra foi desaconselhada, não por causa de maresia, e sim devido à distância: naquele tempo, o (hoje) bairro de Bom Pastor era considerado longe demais do Centro. E aí, esqueceu-se a idéia de se construir um estádio por um bom tempo.

Enfim, um terreno

Isso durou até o dia 3 de dezembro de 1960, quando o então governador Dinarte Mariz, através do Decreto 3.675, doou à Federação Norte-Rio-Grandense de Desportos, a FND (hoje Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol, FNF) um terreno triangular pertencente ao Saneamento (hoje correspondente à Caern) medindo exatos 170.759 metros quadrados na então Avenida 20 (atual Avenida Lins e Silva).

Joanilo Rêgo, então procurador do Estado (e mais tarde professor no Curso de Jornalismo da UFRN), representou o governador Aluízio Alves na entrega da escritura ao presidente da FND, Salatiel de Vasconcelos, no dia 20 de janeiro de 1961.

A FND chegou a iniciar alguma coisa, porém mais tarde verificou e admitiu ser impossível para ela construir um estádio. Ao mesmo tempo, o Município se mostrava a fim de tomar a iniciativa. Não deu outra: o terreno foi doado à recém-criada Fundação de Esportes do Natal, Fenat (hoje Secretaria Especial de Esportes e Lazer, SEL), numa reunião extraordinária no dia 30 de dezembro de 1967.

Nesta reunião estavam presentes João Machado (presidente da FND), Ernani da Silveira (ABC), Severino Lopes (Alecrim), Humberto Pignataro (América), Brígido Pinto (Atlético), Humberto Nesi (Centro), Cícero Graciano (Sport), José Valença (Liga Desportiva Mossoroense), Antônio Pereira de Castro (Riachuelo) e Erildo (da Associação dos Cronistas Esportivos do Rio Grande do Norte - Acern). Todos deram o aval à doação do terreno para a Fenat. O curioso é que a doação só foi reconhecida em cartório quase dois anos depois, a 28 de outubro de 1969.

Após este ato de dezembro de 1967, não demorou muito para se fazer uma Exposição de Motivos à Câmara Municipal - afinal, o problema principal era dinheiro para "tocar" a construção; a Prefeitura (através da Fenat) havia recebido o terreno com algumas poucas benfeitorias.

O projeto

De acordo com essa Exposição de Motivos, o então futuro estádio Marchal Humberto de Alencar Castelo Branco (Castelão) teria, ao final de sua construção, uma capacidade de 40 mil torcedores, divididos em três níveis. Detalhe: esta capacidade fazia do Castelão o terceiro maior estádio do país naquele tempo, perdendo apenas para o Maracanã e para o Mineirão.

Peraí, mas não tem gente por aí dizendo que o hoje Machadão comporta bem mais que isso - para uns, 50 mil; para outros, 52 mil; e para outros tantos, até 55 mil? Hora de explicar o início da confusão. O estádio foi de fato projetado para 40 mil pessoas... mas a CBD, hoje CBF, exigia, para a realização da Mini-Copa (junho/1972) uma capacidade mínima de 45 mil pessoas. E, logo nas primeiras partidas, "estourou-se" o limite de 40 mil pessoas, "cumprindo" desta forma o exigido pela CBD. No Campeonato Brasileiro daquele ano (hoje Série A), no jogo ABC x Santos (o Santos-SP, com Pelé e tudo!), chegou-se ao recorde (até então) de 49.150 pagantes, fora os penetras - o que daria certamente mais de 50 mil pessoas. E foi esse um dos números que se popularizaram... Em 1982, quando a Seleção Brasileira (com Zico, Sócrates e tudo o que tinha direito) disputou no então Castelão um amistoso contra a Alemanha, eram esperados 53.150 pagantes... a quantidade de torcedores que se fizeram presentes passou perto, "fixando-se" o valor de 52 mil pessoas entre pagantes e "penetras". Numa outra ocasião, precisamente um amistoso entre ABC e Náutico-PE (que, homestamente, não tenho informação de data), segundo jornalistas e radialistas que acompanharam a partida na ocasião, apesar do jogo ser de portões abertos - isto é, de graça para quantods quisessem assistir - o pessoal da Fenat, a título de curiosidade, resolveu fazer os registros das catracas das bilheterias... e chegaram ao número assustador de 55 mil pessoas (justamente o outro valor que foi "fixado")! Daí vem a dúvida sobre a capacidade máxima de torcedores do então Castelão, hoje Machadão...

O primeiro nível denominado "Gerais", correponde ao anel inferior das gerais, com capacidade para 9 mil torcedores, com acesso pelos flancos, através de 8 bilheterias e 2 portões; a infra-estrutura tem ainda 4 bares e 8 conjuntos de sanitários (masculino e feminino).

O segundo nível está formado por 4 mil cadeiras avulsas e 4 mil populares com cobertura, mais 4 bares e 8 conjuntos sanitários - que corresponde ao setor de arquibancadas e parte do setor de cadeiras.

O terceiro setor é formado pelas "arquibancadas populares" (o anel superior das gerais), com capacidade para 21 mil pessoas e acesso pela Lima e Silva, através de 16 bilheterias e 2 portões; mais 1.500 cadeiras cativas, tribunas e setor de imprensa.

Estes setores compunham apenas um dos elementos básicos. Eis outros elementos: um campo de 110 x 75 metros (portanto, medidas oficiais); uma pista de atletismo de 400 metros com área para lançamentos e caixas de salto; um fosso seco; três túneis para acesso aos atletas, mais uma sala para os árbitros e um Serviço Médico; rampas com 10% de inclinação; previsão de saída de todos os torcedores do estádio em no máximo 10 minutos.

Estavam previstos ainda um alojamento para 250 atletas, um restaurante, salas para a administração do Estádio, para a Fenat e para uma escola de Educação Física; um ginásio coberto com capacidade para 5 mil pessoas; uma piscina olímpica com arquibancada (capacidade para 3.500 pessoas); quadras para basquete, vôlei e futebol de salão (futsal); jardins; uma concha acústica; e um estacionamento para 600 veículos. Para a época, um projeto gigantesco...

Cosntruindo

Na época que a Exposição de Motivos foi apresentada, o trabalho já estava em andamento "desde maio" (o ano fica entre 1967 e 1968), quando o projeto - do arquiteto Moacir Gomes da Costa, com cálculos do engenheiro José Pereira da Silva - foi aprovado.

A situação? Estavam concretados 400 metros de muro, e estavam preparados mais 70 metros de taipal em ferro (aguardando concretagem); os túneis de acesso estavam concretados; haviam sido marcadas e concretadas 25 sapatas de fundação, mais as respectivas juntas de fixação, para as Gerais (uma área com capacidade de 8 mil pessoas, o atual anel inferior); além, claro, do serviço de terraplenagem.

Estavam por fazer a drenagem do campo; a colocação de grama em "duas cores" (ou melhor, duas tonalidades); o anel do fosso; a finalização das Gerais; todo o serviço correspondente aos segundo e terceiro níveis (isto é, todo o anel superior); e a conclusão dos alojamentos.

As Gerais (o anel inferior) foram concluídas durante a gestão de Agnelo Alves à frente da Prefeitura do Natal; os túneis foram concluídos durante a presidência de Ernani da Silveira na Fenat.

Mesmo assim, a obra começou e parou várias vezes, não poucas devido a falta de verbas. Na administração do prefeito Ubiratan Galvão as obras (mais uma vez) foram reiniciadas, sendo feito um acabamento.

O então Castelão tinha que ser "acabado" logo, nem que fosse preciso fazer alguma "gambiarra", ou mesmo "pular" algumas etapas, a tempo de sediar uma Mini-Copa promovida pela Confederação Brasileira de Desportos - CBD (hoje Confederação Brasileira de Futebol - CBF); Natal seria uma das sedes, desde que o Castelão fosse entregue a tempo.

E o foi, a 4 de junho de 1972, um domingo, com a Fenat sob a presidência de Humberto Nesi; o prefeito era Jorge Ivan Cascudo Rodrigues; e o governador era Cortez Pereira, que chamou o estádio de "Poema de Concreto Armado".

A inauguração do "Gigante da Lagoa Nova"

A inauguração do (então) Castelão, naquele 4 de junho de 1972, foi tomada de fatos curiosos. Vamos a eles. Estava prevista uma apresentação de paraquedistas que deveria cair num alvo no círculo central - mas, quem disse que alguém caiu "na faixa"? Caiu um aqui, outro acolá, mas no círculo central, necas...

Gol na inauguração, só na preliminar, entre ABC x América - William marcou o primeiro gol do estádio estalando de novo aos 20 minutos do primeiro tempo. E acabou recebendo um troféu do "Diário de Natal" em comemoração ao feito. O placar da preliminar ficou no 1 a 0 mesmo e fim. O jogo principal foi Vasco x Seleção Brasileira Olímpica... uma partida que não passou de um insosso 0 a 0.

Mais um detalhe: na inauguração, não havia placar no estádio - todas as informações eram passadas por um serviço de som, com ainda acontece em muito estádio Brasil afora.

Também teve o cartão vermelho inaugural. Jailson (ABC) foi o primeiro atleta expulso na era Castelão-Machadão, aos 11 minutos do segundo tempo. Sim, ainda teve o primeiro chute na trave - e não foi do ABC: Petinha (América) foi o autor da jogada.

Luminárias

Há algumas linhas atrás, falamos sobre "gambiarras" no estádio. Para se ter uma idéia, uma "gambiarra" que ficou por muito tempo sem ser notada foi a do sistema de iluminação. Para a inauguração, em 1972, foram instaladas de urgência quatro torres, com umas 15 luminárias cada; a idéia era usar o sistema de torres apenas para a inauguração, já que elas não estavam previstas no projeto original (que previa algo semelhante ao sistema atual, com as luminárias fixadas diretamente nas marquises)... só que as torres foram permanecendo, e muitos (até mesmo na própria Fenat) passaram a achar que aquilo fazia parte mesmo do projeto.

A história só veio à tona em março de 1997, quando as luminárias da torre que ficava à esquerda do Frasquerão caíram - devido a um vento forte druante a madrugada, mais a corrosão, forçando a interdição do estádio. Corrosão? Explicando: no Machadão ainda bate um pouco de maresia - vinda da Via Costeira, atravessando a área de dunas próximas ao Campus UFRN.

Estrutura

Não são apenas as ferragens das luminárias que são afetadas por essa maresia. Outros setores que levam ferragens, como a própria estrutura em si do estádio, e a marquise superior, também são afetados - esta última ainda tem o agravante de, até meados da década de 1990, jamais ter sido impermeabilizada em parte alguma.

Ué, falha no projeto? Não: os responsáveis pelo projeto, em entrevistas ao "Diário de Natal" em 1997 adiantaram que o (hoje) Machadão foi construído com o que havia de melhor em termos de materiais e de tecnologia disponíveis entre as décadas de 1960 e 1970.

O problema é que o estádio nunca foi concluído mesmo - não fosse isto, certo é que haveria corrosão, é inevitável, mas nunca ao ponto que chegou. Tanto que, desde 1972, volta e meia são criadas comissões de engenheiros para verificar o estado de coisas.

Uma destas comissões, criada a 22 de junho de 1984, verificou que vários trechos da estrutura do anel inferior e da marquise acima do setor de cadeiras cativas e especiais exigia uma recuperação urgente - mas, para variar, a obra começou e foi interrompida por falta de verbas.

Dois anos depois, em 14 de agosto de 1986, outra comissão verificou que a situação do estádio havia se agravado, mas como não houve verba, sequer foi iniciada uma obra...

Em 2 de março de 1989, mais uma comissão (formada por Moacir Gomes, José Pereira, Eduardo Gaspar Guerra e Márcio Coelho de Melo), após uma vistoria - onde, além dos problemas estruturais ainda mais agravados, constatou-se alagamento dos túneis e instalações elétricas em péssimo estado, entre outros problemas - não deu outra: a situação do (ainda) Castelão era tão ruim, que foi preciso interditar o estádio por completo. Peraí, e onde seriam os jogos do Estadual? Teoricamente, no Juvenal Lamartine... se também não tivesse sido interditado. Fez-se um consenso: o Castelão foi liberado parcialmente, com a capacidade reduzida a um terço (cerca de 13 mil pessoas). Mais uma vez, o velho problema - e a verba para fazer todos os reparos?

Por volta de 1996, agora como estádio Machadão, outra comissão foi à luta. Mas boa parte do que foi constatado então só passou a ser prioridade após a queda das luminárias em 1997 - e, desde então, aos poucos, o estádio vem passando por alguma espécie de reforma.

O placar

O primeiro placar do Machadão era mecânico, e durou um bom tempo - mas em meados da década de 1980 já estava um tanto imprestável. Um novo placar, desta vez eletrônico, foi instalado entre 1995 e 1996 - sendo inaugurado em 19 de março de 1996.

Só que o placar eletrônico durou muito pouco - e nunca funcionou por completo. Em 2000 já estava pifado, e mesmo com algumas tentativas de conserto, não teve jeito, jamais foi o mesmo, e acabou sendo "encostado" em definitivo. Em maio/2002 estava sendo iniciada a busca por um novo placar.

Um novo placar foi de fato instalado no primeiro semestre de 2003. Porém, na maior parte do tempo tem permanecido apagado, inútil; em raríssimas situações, até aqui - setembro/2003 - é que o dito-cujo funcionou, passando alguma informação útil...

Quando o Castelão se tornou Machadão?

No dia 23 de junho de 1989, através de lei sancionada pela prefeita Wilma Maria de Faria, o até então Estádio Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco (Castelão) mudou de nome para Estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado - o Machadão.

A mudança de nome surgiu a partir de um projeto de lei do vereador Marcílio Carrilho, projeto este aprovado na Câmara Municipal com 14 votos favoráveis e apenas um voto contrário.

Quem foi João Machado

O nome dele está estampado no principal estádio do Rio Grande do Norte - o Estádio João Machado, o "Machadão" - além de dar nome (pouco lembrado) ao ginásio de esportes do Conjunto Soledade II, na Zona Norte de Natal. E vem a dúvida: quem foi João Machado?

Seu nome completo é João Cláudio de Vasconcelos Machado. Nasceu em Natal mesmo, no dia 11 de julho de 1914, e marcou época. Estudou em Oxford (Inglaterra), e formou-se pela então Faculdade de Direito da Universidade do Brasil. Foi funcionário do Instituto do Café, depois tranferiu-se para Natal, onde trabalhou na chamada Superintendência de Rendas Estaduais.

Além disto, Machado foi jornalista, mantendo uma coluna chamada "Corruchiado" em um dos jornais da cidade; e também foi radialista - despontando um lado desportista - apresentando programas esportivos no rádio.

Durante 13 anos, Machado foi presidente da então Federação Norte-Rio-Grandense de Desportos (FND, hoje Federação Norte-Rio-Grandense de Futebol). Durante este período, manteve bastante influência junto à Confederação Brasileira de Desportos - CBD (hoje Confederação Brasileira de Futebol - CBF), sendo muito amigo do presidente João Havelange (que depois asumiria a FIFA por um bom tempo).

João Machado, ao lado de Rubem Moreira (presidente da Federação Paraibana) formavam uma dupla poderosa na CBD, defendendo o futebol nordestino; um dos grandes feitos de Machado foi incluir o ABC no Campeonato Nacional (hoje Campeonato Brasileiro Série A) de 1972.

Para completar, Machado ainda era patrono do Atlético Potiguar, equipe de futebol que ficou conhecida como "Moleque Travesso". Sempre deu força para os times menores, tanto que chegava a emprestar dinheiro aos clubes anistiando-os no fim de cada ano, além do apoio material (com bolas e camisetas, entre outros).

Morreu em Natal, no dia 20 de fevereiro de 1976. Uma das primeiras homenagens foi em 1986: o único ginásio esportivo público coberto da Zona Norte da cidade ("colado" à então escola Estadual Varela Barca - que tinha o curso de magistério -, hoje Centro Escolar), no Conjunto Soledade II, recebeu o nome do desportista. Três anos depois, era a vez do Castelão mudar de nome.

Base: anotações do repórter, maio de 2002
Hosted by www.Geocities.ws

1