De Como Ficar no
Controle Mesmo Estando
Pregado na Cruz

Frater Vicente Velado, OSB

Fratres e sorores da Rosa+Cruz: Saudações em todas as pontas do Sagrado Triângulo.

A História da Humanidade sempre foi uma história de sofrimento, porque o simples fato de existir como ser vivo implica degeneração física e morte para todos os seres neste planeta. Os animais ditos irracionais, ao que se supõe, possuem uma forma de consciência que lhes permite perceber apenas o meio-ambiente e não a si próprios, como é o caso do homem, dotado de autopercepção. Assim, de acordo com as suposições os animais não teriam conhecimento prévio da morte que os aguarda no final de suas existências -e consequentemente não sofreriam por antecipação, como é o caso dos seres humanos. Todos os seres neste planeta já nascem condenados à morte, mas somente o homem teria conhecimento dessa sentença inexorável, e justamente por isso sua carga de sofrimento ao longo da vida seria maior que a colocada sobre os animais irracionais.

É interessante notar que justamente devido a esse conhecimento prévio da morte o homem desenvolveu noções de imortalidade sob vários aspectos, incluindo-se aí reencarnação, em uma demonstração de inconformismo ante a finitude. É interessante notar também que a noção de finitude tem sido plasmada do ponto-de-vista humano, ou seja, encara-se como finitude o fato de a criatura deixar de existir como ser consciente de si mesmo neste plano de compreensão. Religiões tem sido constituídas em cima dos ensinamentos de avatares com a finalidade de amenizar o sofrimento do homem colocado diante da inexorabilidade de sua própria morte. Reencarnação e Vida Eterna são apresentadas como perspectivas concretas para aqueles que seguirem uma certa conduta, de acordo com esta ou com aquela regra.

Se examinarmos a história dos avatares, veremos que dentre todos apenas um deles - Nosso Senhor Jesus Cristo, que há de nos levar para a Eternidade - traçou com sua própria existência o cerne típico do ciclo humano; veremos assim, que as várias partes distintas da vida de Jesus formam um todo que se constitui em uma mensagem bem clara: a ninguém neste mundo é dado escapar do sofrimento e toda vida humana, sem exceção, vai desembocar na subida do Calvário, para a final crucifixão, que de uma forma ou de outra será executada implacavelmente. A lição que se tira desta alegoria concreta (concreta porque teve existência real no plano físico), é que o sofrimento é um agente transformador, através do qual o mau pode virar bom, e ser inscrito no rol dos justos, se assim o quiser.

O sofrimento é, pois, a própria evolução em andamento, triturando a todos neste vale de lágrimas. Se examinarmos a vida na Terra, perceberemos que a própria vida em si é iniciática, cabendo a cada um perceber o significado distinto das muitas iniciações que lhe são impostas ao longo da existência, quer queira quer não. Neste ponto é que deve ser ressaltado o importante papel de uma organização como a Ordem Rosacruz, que com seus ensinamentos, e promovendo o desenvolvimento da consciência através de sucessivos experimentos, torna possível ao estudante entender o significado das iniciações naturais da vida. A partir do momento em que essa compreensão de torna possível, pode ocorrer uma transmutação interior de tal magnitude que o próprio sofrimento deixa de ser sofrimento. Neste ponto, aquele que está pregado na cruz, sem poder se mexer, assume o controle, apesar de crucificado, e é isto que se chama obter o domínio da vida.

Se pensarmos bem, a história de cada ser humano é, de certa forma, a clonificação (*) da história de Jesus. E assim, qualquer homem pode ser conduzido para a santidade, bastando para isso apenas e tão-somente que o queira com sinceridade. Em princípio, para que se possa ter uma base mínima sincera, é preciso compreender que não se está aqui para fazer a própria vontade, pois que se assim o fosse, o homem teria condições, através da ciência e da tecnologia, de impedir sua própria morte física e de sustar todos os sofrimentos. De acordo com Spinoza a humildade seria apenas o reconhecimento da impotência perante o inexorável, mas esta concepção em nada altera a realidade absoluta de que todos estão aqui para fazer a vontade de Deus.

Muitos dirão: Resta saber quem é Deus e por que faz isto, pois criar seres para lançá-los no sofrimento não seria justo e isso reduziria o Criador a uma condição mais baixa que a de muitos homens. Existe, inclusive, uma seita religiosa baseada nesta conceituação. Contudo, se examinarmos melhor essa questão logo veremos que essa é uma concepção falsa, como a construção de um teorema calcado em uma premissa não verdadeira, mesmo porquê mistura conceitos objetivos com conceitos abstratos, perante os quais os primeiros sequer têm significado. A Bíblia nos apresenta alegoria da Queda, uma forma de tornar acessível à mente humana a compreensão e a (possível) aceitação do sofrimento. Já a Ordem Rosacruz nos dá as ferramentas necessárias para que possamos nós mesmos construir formas de entendimento mais nítidas, que permitam uma compreensão mais próxima da Verdade Absoluta.

Essa compreensão referida acima permite justamente ao ser humano modificar o rumo de acontecimentos, conferindo-lhe o chamado e almejado domínio da vida. Com esse poder, o ser humano poderia talvez não se livrar do sofrimento, mas passar por ele sem sofrer! Ou seja: mesmo pregada na cruz da vida a criatura nascida para a morte estaria no controle do seu destino! Na verdade, esta é a consecução final do Estudo Rosacruz levado a sério. A culminação, para o Adepto, seria a entrega a ele da Cruz Ansata, a Ankh que não é cruz mas a chave que abre as Portas da Eternidade, juntamente com as instruções para o seu uso. Essas instruções não são gerais, mas há um tipo específico de instrução para cada um, de acordo com suas características, que constituem sua individualidade. Mas existe também uma instrução geral, que serve para todos, e que é justamente a contida na história de Jesus Cristo corretamente compreendida. A Ordem Rosacruz, inclusive, dá condições para essa compreensão e é aí que a Cruz Ansata se transforma em Chave, assumindo sua verdadeira natureza, até então parcialmente oculta.

Assim, como foi explicado, o estudante Rosacruz sincero e devotado, depois de provado na Noite Negra da Alma, passaria pelo fogo da transformação sem se queimar, adquirindo não um novo tipo de consciência, mas sim passando a ter consciência em uma dimensão inteiramente nova, até então desconhecida, onde não existem morte nem degeneração. De posse desse conhecimento, o Rosacruz pode, então, atuar no plano Terra, minorando o sofrimento de todos os seres que neste plano se manifestam. Nisso se constitui o serviço a que o Adepto se obriga por ter atravessado o Portal que finalmente lhe dá acesso ao nicho oculto no Leste, no qual se encontram a Ankh e as Instruções.

Por aí se vê a importância de uma organização como a Ordem Rosacruz na construção de um futuro melhor para todos os seres, já nascidos ou ainda por nascer. Assim, aquele que persistir nos estudos, sem procurar atalhos que pareçam fáceis, cuidando de aplicar na prática o que aprender no recesso do Sanctum, realmente encontrará o Portal para o domínio da vida.

NOTAS DO AUTOR

(*)Veja-se bem: clonificação e não repetição.


Nota: O Frater Vicente Velado, eremita da Ordem Beneditina, integra a Hierarquia Esotérica da AMORC , da qual é membro vitalício. Este artigo representa opinião pessoal sua e não opinião oficial da AMORC

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