Crime e Castigo Sob o
Ponto-de-Vista Rosacruz

Frater Vicente Velado, OSB

Fratres e sorores da Rosa+Cruz: Saudações em todas as pontas do Sagrado Triângulo.

Um dos problemas que mais afligem a humanidade na era moderna é o da criminalidade crescente, tanto no Primeiro como no Terceiro Mundo. Discute-se sobre a pena de morte. Pessoas de todas as idades e de todas as classes sociais têm sido, de uma forma ou de outra, atingidas por ações criminosas, que causam sofrimento, constrangimento, revolta e estupefação. Muitos se perguntam como podem seres humanos, considerados como tais e portanto merecedores das benesses da Declaração Universaal dos Direitos Humanos, praticar as barbaridades de que se tem notícia no dia-a-dia, principalmente nos grandes centros urbanos, onde a crise econômica, a injustiça social, a supercompartimentação da sociedade, a exacerbação do egoísmo e o afastamento de Deus vêm resultando em desamor, crueldade, frieza, sarcasmo e deboche.

No Primeiro Mundo vê-se a desfaçatez com que os banqueiros internacionais, aliados aos senhores da guerra - tão bem denunciados nos anos 60 por Bob Dylan na balada pop "The Masters of War" - promovem a desgraça no Terceiro Mundo para dela nutrir seus cofres e agradar seus indiferentes investidores. No Terceiro Mundo vê-se o cinismo com que governantes corruptos se colocam a serviço daqueles primeiros canalhas com a finalidade de engordarem contas secretas em paraísos fiscais, enquanto as populações de seus miseráveis países gemem ao peso da depressão, da insegurança, da falta de comida, de educação, de assistência médica, de transporte decente, de moradias, enfim de qualquer amparo por parte do Estado.

Se no Primeiro Mundo a Democracia pode existir de fato e de direito, no Terceiro Mundo ela não passa de uma farsa destinada a facilitar a espoliação. Geralmente, os governos nos países em desenvolvimento são levados ao Poder mediante eleições fraudadas, com a cumplicidade da mídia, que divulga falsas pesquisas eleitorais, dando este ou aquele sacripanta como vencedor. Posteriormente, sem o menor pejo, como se estivessem a lidar com uma manada de beócios, essas quadrilhas de ladrões-de-colarinho-branco encenam a "eleição" e os "vitoriosos"são "democraticamente" empossados. A finalidade dessa farsa é dar a aparência de que um governo eleito pelo povo está no Poder e, assim, quem tentar derrubá-lo estará a soldo de "ideologias exóticas" e poderá ser combatido pelos Mariners com a aprovação mundial.

Para melhor manter as massas alienadas nesses pobres países muitos governantes promovem a difusão das drogas e matam dois coelhos de uma só cajadada: 1) corrompendo a juventude evitam o surgimento de possíveis líderes embasados em princípios éticos; e 2) engordam mais ainda suas contas no exterior acrescentando-lhes a parte que lhes é dada pelos traficantes a que se associaram. Fazem isso despudoradamente, como se já não bastasse desviar o dinheiro dos impostos e roubar através do superfaturamento em obras desnecessárias e da malversação geral dos orçamentos. Esses mesmos crápulas incentivam e acobertam gangs que manipulam seitas eletrônicas, porque assim o desemprego e todas as demais sequelas decorrentes do descalabro administrativo e da crise econômica poderão ser atribuídos ao demônio e Deus será chamado a resolver tudo, desde que lhe paguem o dízimo exigido...obviamente através dessas seitas, que manipulam o ingênuo misticismo popular em gigantescos experimentos de controle da mente. É interessante observar que na Alemanha a crise social produziu o nazismo, enquanto na América Latina a depressão econômica está produzindo as empresas comerciais do reino de Deus. Em ambos os casos, a presença inequívoca de uma intenção de chegar ao Poder temporal através do fanatismo.

Outros tantos políticos, planejadamente, friamente, incentivam e fomentam de todas as maneiras a formação de guetos, principalmente favelas, para que ali possam manter seus currais eleitorais e obter os votos com que se elegerão em pleitos de âmbito estadual e municipal, para cargos executivos e de parlamentar, onde o tipo de fraude levado a cabo com a cumplicidade da mídia, em âmbito nacional, já não é necessário: neste segundo e terceiro escalões basta "plantar" e "colher" nos guetos. E é assim que as favelas, ao invés de serem erradicadas, crescem cada vez mais, acirrando os contrastes com a burguesia ainda existente e resultando esse confronto em criminalidade cada vez maior.

Na verdade, o cadafalso seria pouco para os artífices de tão odienta realidade, pois se colocaram deliberadamente a serviço das Forças das Trevas e promovem a existência de autênticos infernos na Terra. Tudo o que lhes interessa é em última instância a auto-satisfação absoluta, em detrimento das massas, que eles encaram como lixo. São autênticos vampiros, representantes credenciados do Mal. Até nas Forças Armadas esses miseráveis conseguem agir, anulando de uma forma ou de outra os oficiais imbuídos de patriotismo autêntico, sabotando orçamentos, desmotivando os bem intencionados e impedindo a formação de líderes.

É neste triste quadro que, juntamente com tanta desolação e desesperança vicejam o crime e a impunidade sob a batuta dos fariseus de sempre. O quadro não é novo, na verdade trata-se de um clichê que se repete ao longo dos séculos, e pode-se dizer que, guardadas as devidas proporções, era exatamente isto que existia na época do Império Romano, tendo Jesus Cristo sido torturado e crucificado justamente por propor uma ação concreta contra esse inaceitável estado de coisas. Jesus dizia "Dai a César o que é de César, a Deus o que é de Deus" e isso não incomodava os Romanos, tanto que Poncio Pilatos não queria executar o Filho de Deus e lavou a mãos. Mas Jesus também disse "Amaivos uns aos outros" e "É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no Reino dos Céus" e isso enfureceu os banqueiros (*) e seus prepostos, os sacerdotes, que exigiram a crucifixão, porque aquele homem, o Filho de Deus, estava pregando nada mais nada menos que a temida Justiça Social!

Através das eras, a maioria dos místicos têm evitado tratar de tais assuntos para não sofrer o ônus decorrente de assumir posições definidas na questão social. Uma minoria, porém, não tem se furtado a isto, por compreender que o papel do misticismo é justamente o de promover a libertação do ser humano, ou seja, de propiciar a salvação em todos os níveis, e que essa tarefa implica luta em todas as frentes, não podendo de forma alguma conviver com a injustiça social e nem aceitar passivamente suas mazelas. Se o homem não tem comida, não tem casa, não tem emprego, não tem assistência, não tem segurança, e conseqüentemente não dispõe de paz interior e de dignidade, como poderia este mesmo homem evoluir e se libertar das trevas, sendo ele um cidadão comum e não um asceta que tenha escolhido de moto próprio tais condições de existência? Teria um ser de tal forma oprimimido condições de ler uma monografia, realizar um experimento, passar por uma iniciação, ascender a um estado de consciência superior?

Assim, é dever de todo Rosacruz tomar conhecimento dessas questões e procurar fazer alguma coisa para ajudar na questão social, o que não significa de forma alguma que tenha de aderir a esta ou àquela facção política. O que pode, então, um Rosacruz que vive no Terceiro Mundo fazer para melhorar as condições de vida de seus semelhantes e realmente ajudá-los? Em primeiro lugar, pode e deve ter opinião formada sobre esses problemas, de um ponto-de-vista místico, de uma forma tal que seja capaz de propor algum tipo de solução ou contribuir com alguma idéia que leve luz a pontos obscuros. Em segundo lugar deve dar o exemplo, pois isto é muitíssimo importante no quadro de deterioração moral em que estão atolados os terceiro-mundistas.

Principalmente no Brasil, um País que praticamente não tem heróis nacionais (**),  é extremamente importante que sejam apresentados exemplos autênticos de decência e humanitarismo. Sabe-se que o Brasil foi colonizado por criminosos libertados das galés em Portugal para em troca da liberdade irem trabalhar na colônia, servindo o Rei. Essa coisa negativa talvez não seja transmitida geneticamente, mas o fato é que o foi, culturalmente, de boca-em-boca, com o pai ensinando filho que ele deve "levar vantagem em tudo" e "almoçar o adversário antes que este o jantasse". Se compararmos essa formação com a colonização americana, feita por irlandeses que foram para a América em busca de liberdade religiosa, logo entenderemos porque a Constituição americana tem tão poucos artigos e não é modificada; foi redigida por maçons e por rosacruzes, em cima de princípios éticos. Ños países de Terceiro Mundo a Constituição geralmente é um livro enorme e complicado, produzido ao sabor de conchavos, para atender aos interesses de minorias privilegiadas, demandando legislação complementar que nunca é totalmente implementada, justamente para dar margem a todos os tipos de corrupção: criam-se dificuldades para depois se vender facilidades.

Tendo uma clara visão de todo esse quadro assustador, um membro da Ordem Rosacruz deve ter a certeza interior de que acima dessa nuvem negra paira a Luz da Justiça Divina e que cedo ou tarde ela será feita. deve crer nas palavras de Jesus Cristo e colocá-las e prática, tal e qual o Imperator Harvey Spencer Lewis, de feliz memória, mandou que se fizesse. Deve procurar entender a razão pela qual Deus dispôs que existissem a injustiça social, os infortúnios e o crime. Deve entender que essas condições foram permitidas justamente para propiciar ao homem um caldo de cultura no qual pudesse criar as boas obras, constituindo-se estas em parte atuante do processo de evolução da Criação, no qual crescem em compreensão não só os seres mas os próprios planetas em que eles vivem. Se a Terra fosse um paraíso os seres aqui estariam estáticos, dormindo em berço esplêndido e regozijando-se com seu bem estar e a evolução estaria simplesmente estagnada, porque ela vai além da felicidade, além da paz mental, além de todo contentamento, em oitavas insuspeitadas e sequer imaginadas pela mente humana comum! A cada infortúnio absorvido como lição inciática, a cada ser em aflição ajudado, a cada criminoso recuperado - seja ele o supremo mandatário de um país ou um simples batedor de carteiras - um novo patamar é galgado pela humanidade e eis a evolução das criaturas e do planeta como um todo se processando!

Assim, não se assustem com infortúnios e com as aflições aparentemente incessantes! Antes de colocarem um enfoque pessoal sobre uma questão criminal, que a examinem do ponto-de-vista impessoal. É comum que uma pessoa seja ponderada até não ser atingida pessoalmente. Ela se manifesta contra a pena de morte, por exemplo, até que tem uma pessoa da família atingida por algum tipo de crime especialmente terrível. Daí em diante passa a defender a pena de morte como panacéia para todos os males decorrentes da crise econômica. Sabe-se que na China a morte é a pena comum para todos os crimes, porque a sociedade chinesa, sobrecarregada pela explosão demográfica, não se dispõe a investir na recuperação de criminosos, pois isso oneraria o orçamento, desviando recursos destinados à educação e à saúde. Anualmente, ou duas vezes por ano, há execuções em massa: os criminosos são conduzidos a um campo, no qual cada um cava sua própria sepultura, um soldado do Exército dá um tiro de pistola na nuca de cada um deles, e a família, se houver, paga a bala que seccionou a medula. Deve-se levar em conta que na China a mordomia de um general do Exército é ter chuveiro quente e que o julgamentos, até onde sabe, são feitos com isenção, porque o Partido Comunista se autodepura, pelo menos nesse sentido. Pergunta-se agora: como seria a implementação da pena de morte em países latinos nos quais policiais assaltam, juízes vendem sentenças e empresários partem para o crime organizado levados pelo exemplo nefasto de governantes e outras autoridades? No caso específico do Brasil é de se pensar que somente os pobres e os negros seriam executados!

Eis porque a AMORC se coloca contra a pena de morte.

Contudo, é preciso saber que dentro dessa posição de tolerância é preciso ter uma visão real da figura do criminoso e saber que existem várias gradações. Há aquele indivíduo que poderia ter sido um homem de bem se tivesse sido educado para tanto, mas que levado pelas más companhias e seguindo os maus exemplos enveredou pela senda do crime, matando, roubando, estuprando, mas que lá no fundo da sua condição humana ainda tem um embrião de consciência que pode ser cultivado e por aí ser salvo. Há aquele indivíduo que, sem saber como, comete um crime, matando alguém durante um acesso de descontrole emocional e também pode ser recuperado. Há aquele desgraçado que ao ver os filhos chorando de fome, açoitado pelo desemprego, assalta alguém em desespero de causa, como um predador dos esgotos, como a ratazana. Há aquele que foi transformado em demônio pela droga, que sob seus efeitos pode praticar crimes medonhos, estarrecedores, mas que ainda assim não é totalmente ruim. E há, finalmente, os demônios viventes, tal e qual são descritos nos Vedas, "gerados pelas Forças do Mal no ventre das mulheres". Eis que estes também existem, representando no plano terrestre as personificações individuais da Força Maligna, aquela que quer o aniquilamento da Luz. São seres destituídos de qualquer forma de consciência capaz de produzir emoções como o remorso. Tais psicopatas roubam, estupram e matam -tendo como vítimas seres individuais ou países inteiros - agindo na mais absoluta convicção de que estão certos e têm todo o direito de fazer isto. Para estes, não se conhece outra solução a não ser a morte, não como vingança da sociedade pelos crimes que praticaram, mas como medida preventiva, pois se viessem a fugir depois de presos fariam novas vítimas. Se podem ser curados através de algum tipo de terapia, ela ainda não foi descoberta, e sua elaboração seria tarefa para místicos realmente interessados na evolução. Se essa terapia, porém, já existisse, certamente no Terceiro Mundo não haveria lugar para a sua aplicação, pois é sabido que as prisões dos países pobres são escolas do crime e não centros de recuperação. Esse tipo lombrosiano, o criminoso nato, foi muito bem apresentado no filme que conta a história de Hannibal, o Canibal, um sucesso de bilheteria. Em São Paulo, no Brasil, é conhecido o caso de um esquartejador de prostitutas que ao ser solto após 25 anos de reclusão usou seus 20 primeiros minutos de liberdade para subir com uma prostituta da Avenida São João ao quarto dela, onde a fez em pedaços com uma faca, colocando-os no vaso sanitário. Certamente se esse indivíduo tivesse sido executado a sociedade teria poupado o dinheiro gasto na sua manutenção em cativeiro durante um quarto de século e aquela mulher não teria sido esquartejada.

Mas, existe ainda um outro aspecto nessa questão da pena de morte, pois o que é bom para a sociedade como um todo pode não o ser para um determinado grupo. Suponha-se que o mencionado esquartejador tivesse pai, mãe, irmãos, avós, tios, mulher e filhos. Dificilmente não sofreriam com a execução desse parente, mesmo sendo ele um monstro ante o julgamento da sociedade como um todo. Nesse caso, deve prevalecer o sentimento da maioria e teríamos aí uma execução. É preciso que um membro da Ordem Rosacruz tenha uma visão absolutamente clara dessas coisas, não para decidir como juiz de um caso desses, mas no sentido de realmente se empenhar na busca de uma solução para tais problemas, a fim de que neste Terceiro Milênio da Era Cristã tais seres não se manifestem mais na humanidade. Jesus Cristo mandou que se perdoasse a todos para que também se pudesse ser perdoado por Deus. Mas nunca mandou que alguém rezasse pela salvação dos demônios ou que tentasse converter Satanás. Eis que os demônios existem certamente, encarnados como seres humanos visceralmente maus.

O equacionamento desse difícil problema é uma tarefa para os Rosacruzes nesta Nova Era: Como gerar uma sociedade humana melhor como um todo, sem crime e sem castigo. Parece uma tarefa utópica, impossível? Na verdade não é. Será apenas mais uma etapa no contínuo processo de evolução, pelo qual a Luz se propaga nas Trevas, sem delas ter vindo, no milagre da Criação, tirada do Nada Absoluto por obra do Criador, o Incriado, Aquele se sempre existiu e sempre existirá, e que pode ser conhecido por todo Rosacruz sincero como o Deus do seu coração, da sua compreensão.

Notas do Autor
(*) Obviamente a palavra "banqueiros" está sendo empregada para designar aqueles que, naqueles tempos, manipulavam o dinheiro, e não donos de bancos, o que naquela época ainda não existia.

(**) Note-se que até a imagem de Tiradentes os servidores dos banqueiros internacionais estão tratando de achincalhar, com a apresentação de versões segundo as quais ele não era um idealista


Nota: O Frater Vicente Velado, eremita da Ordem Beneditina, integra a Hierarquia Esotérica da AMORC , da qual é membro vitalício. Este artigo representa opinião pessoal sua e não opinião oficial da AMORC

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