TEXTOS ESPECIAIS
O
Pequeno Mundo dos que Amam a Cruz de Cristo
Tomás
de Kempis
|
Cristo carrega a sua Cruz (Emeric Marcier, 1982/83, óleo sobre tela, 73x72cm)
1.
Muitos se apresentam a Jesus, agora, como apreciadores de seu reino celestial;
mas poucos querem levar a sua cruz.
Há
muitos sequiosos de consolação, mas poucos da tribulação; muitos companheiros à
sua mesa, mas poucos de sua abstinência.
Todos
querem gozar com ele, poucos sofrer por ele alguma coisa.
Muitos
seguem Jesus até o partir do pão, poucos até beber o cálice da paixão.
Muitos
veneram seus milagres, mas poucos participam da ignomínia da cruz.
Muitos
amam a Jesus, enquanto não encontram adversidades.
Muitos
O louvam e bendizem, enquanto recebem d´Ele algumas consolações; se, porém,
Jesus se oculta e por muito pouco os deixa, caem logo em queixumes e desânimo
excessivo.
2.
Aqueles, porém, que amam Jesus por Jesus mesmo e não por sua própria
satisfação, tanto O louvam nas tribulações e angústias, como na maior
consolação.
E posto
que nunca lhes fosse dada a consolação, sempre O louvariam e Lhe dariam graças.
3. Oh!
Quanto pode o amor puro de Jesus, sem mistura de interesse ou amor-próprio!
Não são
porventura mercenários os que andam sempre em busca de consolações?
Não se
amam mais a si do que a Cristo os que estão sempre cuidando de seus cômodos e
interesses?
Onde se
achará quem queira servir desinteressadamente a Deus?
4. É
raro achar um homem tão espiritual que esteja desapegado de tudo.
Pois o
verdadeiro pobre de espírito e desprendido de toda criatura - quem o
descobrirá? "Tesouro precioso que é necessário buscar nos confins do
mundo" (Prov. 31,10).
Se o
homem der toda a fortuna, isso não é nada.
E se
fizer grande penitência, ainda é pouco.
Compreenda
embora todas as ciências, ainda está muito longe.
E se
tiver grande virtude de devoção ardente, muito ainda lhe falta, a saber: uma
coisa que lhe é sumamente necessária.
Que
coisa será esta? É que, deixado tudo, se deixa a si mesmo e sai totalmente de
si, sem reservar amor-próprio algum e, depois de feito tudo que soube fazer,
reconhece que nada fez.
5. Não
tenha em grande conta o pouco que nele possa ser avaliado por grande: antes,
confesse sinceramente que é um servo inútil, como nos ensina a Verdade.
"Quando tiverdes cumprido tudo que vos for mandado, dizei: Somos servos
inúteis" (Lc.17,10).
Então,
sim, o homem poderá chamar-se verdadeiramente pobre de espírito e dizer com o
profeta: "Sou pobre e só neste mundo (Sl 24,16)".
Entretanto,
ninguém é mais poderoso, ninguém mais livre que aquele que sabe deixar-se a si
e a todas as coisas e colocar-se no último lugar.