Rádio Base - Escritos Radiofônicos

Luiz Fernando Magliocca: “O ouvinte sente na hora quando a rádio é bem feita”

Conversar com um profissional de importância histórica tem seu preço: as quase três horas de entrevista renderam uma dor de cabeça na hora da publicação. Não havia o que deixar de fora. Editar o quê? E quem, como nós, vive com o fantasma daquele paradigma da web que reza que “leitor de internet não lê mais que dois parágrafos”, nos fez pensar. E deixar isso de lado. Pois é. O leitor do RA, que gosta de rádio, está aí para jogar essa tese abaixo. Lerá com prazer o depoimento importantíssimo desse homem de comunicação, nessa segunda parte, que agora (finalmente!) publicamos. (Enio Martins, da Rádio Agência)

RA: Vamos começar essa segunda parte da entrevista falando de Rádio Cidade.

Luiz Fernando Magliocca: Quando eu fui para a Rádio Cidade, tinha que fazer alguma coisa diferente. Se a Jovem Pan está no 14o andar da minha vida, eu tenho que fazer alguma coisa pro 15o, 16o. Tem que estar acima de tudo. O que eu vou fazer? Um dia chega um rapaz, da gravadora RCA. Tudo o que ele levava, era excelente. "Tem uma turminha que vai vender disco que nem água. Queria saber se vocês querem abraçar". Obviamente, ele já tinha batido na porta da Jovem Pan e não tinha conseguido nada, porque o Tutinha jamais iria abraçar uma coisa brega como o Menudo, a tal “turminha”. Eu, se estivesse na Pan, talvez até contra ele, fosse batalhar. E isso era bom, democracia. Quase sempre ele vencia, mas eu não deixava de dar minha opinião. Nesse momento, disse que queria, mas com exclusividade.

RA: O que significa exclusividade?

LFM: Eu faço questão de errar e acertar sozinho, não abro mão. Eu tenho o meu colegiado, mas eu respondo pelo produto final. Então não quero obrigação de quantas vezes vai ter que tocar por dia. Em troca, obviamente, para dar a exclusividade, eles iam querer alguma cosa. Eu falei: eu carimbo toda a execução do grupo... " Sucesso que a Rádio Cidade está lançando, sucesso que Rádio descobriu. Com carimbo, que é uma coisa que diferencia, tira do marasmo, da reta, da coisa plana. Mas eu não quero ser obrigado a tocar.

RA: Você conhecia os Menudos? Mandavam clipes para você ver?

LFM: Não, nada, nada. Eu não trabalhava com nada visual. Eu queria saber o que era o conjunto, aí eu fui pesquisar. Não tinha muita coisa lá fora. Realmente, eles estavam começando. Em Porto Rico todo mundo sabia que ia bem, mas era uma coisa que ainda estava para aparecer em NY. E se estivessem tão bem lá fora, não viriam pro Brasil. Pode escrever. Aí apareceu uma idéia. Lá no vizinho (a Pan), eu era brega porque inventei esse negócio de vinheta. Vou fazer isso aqui. Os meninos do conjunto foram me visitar. Tem uma foto disso no álbum que saiu no aqui no Brasil. Então, o “seu” Robby Rosa vai lá, entra no estúdio, e eu ensino a ele a falar "Cidade" e não "Cildad". E cantar. No meio da música, ele começou a cantar "Cidade", do jeito que ele conseguiu tirar o sotaque e tal. Fomos, aos pouquinhos, delineando que a rádio poderia ser a rádio das vinhetas. Cada artista que entrava na rádio, eu pedia: você grava pra mim o nome da rádio cantada, na introdução do seu disco? Não é só cantar, é na introdução da música. Aí já somei mais uma idéia, pois antes a idéia não era essa. A idéia era cantar o nome da rádio para eu botar em qualquer lugar. "Caetano Veloso também está na Cidade", cantado por ele. Eu comecei a fazer os artistas cantarem. E aconteceu o melhor: Cazuza fez uma letra especial! O Lobão fez uma letra a mais, mudou a música original. E pegou. Num belo dia eu achei de lançar a nova programação da Rádio Cidade e as músicas entraram todas vinhetadas com seu próprio artista. Daí aconteceu outra coisa nesse país inteiro, que é o artista cantando o nome da rádio no início da música. A coisa foi tão longe que hoje a gravadora paga um estúdio para o artista entrar e gravar o nome das emissoras de Rádio.

RA: Você passa a impressão de ter gostado muito da experiência com a Rádio Cidade

LFM: Eu me senti extremamente gratificado com as idéias que levei para a Rádio Cidade, o time que montei, coisa que faço questão de dizer também com alegria. Eu não mandei uma pessoa sequer embora para montar meu time. As pessoas da Pan continuaram na Pan. Eu continuei fazendo rádio do jeito que achava que era pra fazer com o pessoal de lá. Me gratifico por ter escolhido bem as pessoas. Nunca tive time, nunca tive panela. Não fui de sair e levar todo mundo pra um lado porque não acho isso justo. E tenho absoluta certeza, sem ser o dono da verdade, que é impossível você levar um time de uma rádio para outra e fazer o primeiro lugar por ter levado esse time. Se fosse assim, quem copiou as programações das rádios que trabalhei, seria primeiro lugar em seguida. E não era nem segundo! E tinha nego que estava lá copiando tudo, certinho. O ouvinte sente imediatamente quando a rádio é bem feita, é gostosa. Por causa desse primeiro lugar absoluto, aconteceram alguns convites para trabalhar em outras emissoras. E assim foi.

RA: Da Cidade você foi para a Transamérica.

LFM: Nesta época, a Transamérica veio com um convite. Eles me ofereceram uma coisa tentadora, de dar uma volta e dizer: esquece o desafio, você vai ganhar dinheiro. Eu teria um salário, (eu ganhava 24 mil cruzeiros na Rádio Cidade) ia ganhar 20 mil fixos e 0.5% do faturamento de cada emissora da rede. Seria o diretor nacional das seis emissoras do grupo Transamérica. Achei que meio porcento era pouco. Falei não.

RA: E eles?

LFM: “1% é o máximo que podemos te dar”. Eu disse ok, fechado, "vambora". E fui: ganhei 78 mil cruzeiros no mês seguinte. Mas, infelizmente, foi um período que eu posso dizer para você que não me senti feliz.

RA: Porque?

LFM: Por que eu tentei fazer uma serie de coisas e sempre fui torpedeado pela alta direção. Alta direção...

RA:Alta direção do banco?

LFM: Ah, era o banco. Pois é, você falou a palavra certa. Não era uma rádio, era uma emissora de um banco. Quando fui pra lá. eu disse: todo mundo fala que aqui é uma emissora de um banco. Eu sou radialista, não sou bancário. Não sei fazer outra coisa senão rádio... E eles "ah, isso já era, passou o tempo. Nós, apesar de sermos oriundos do banco, somos pessoas voltadas para isso..." Mal comparando, você é pastor e de repente aprende a ser locutor, apresentador e tal. Não que seja muito estanque, mas era estranho. Não é vocação. Sempre trabalhei com os que tinham vocação. O cara tem voz boa, tem voz boa. Mas se ele não souber falar no rádio, não adianta. Meu pai tinha uma voz linda e não sabia articular. Eu jamais o aprovaria em um teste de locução, apesar de ser meu pai. Nesse momento, eu posso dizer que tinha tudo adverso. A rádio tinha uma antena pequena, com potência baixa e que não chegava a brigar com as emissoras da Avenida Paulista. Aí, começamos a fazer projetos para tentar conseguir uma verba. E isso tinha que ser através de um empréstimo do banco.

O Dr. Aloisio Farias, que é o dono do sistema, com quem eu tive a honra de almoçar duas vezes, me disse claramente na primeira vez "olha, é um prazer recebê-lo no grupo, mas eu quero que você saiba desde já que nós trabalhamos da seguinte maneira: rádio é rádio, banco é banco. Se a rádio precisar de dinheiro, ela pede ao banco e paga juros ao banco. E se rádio falir, eu não vou fechar o banco por causa disso. Foi uma das primeiras vezes que eu ouvi falar em unidade de produto, unidade de empresa. Para mim o conglomerado era tudo junto. Ali era claro que cada um era um. E me mandaram viajar para várias emissoras, porque cada uma tinha um problema. Botei um coordenador aqui, o Márcio Teixeira, que hoje é sucesso na Rádio Bandeirantes como locutor de abobrinhas e já era uma figuraça, vinha comigo há muito tempo. Ele me liga um belo dia. Eu em Salvador. Ele diz: "Magliocca, um probleminha sério. Nosso Coordenador de Promoções, Marcelo Moraes, foi demitido. Foi uma ordem do banco, ex-funcionário não pode continuar na emissora". “Mas ele não é ex- funcionário! É funcionário!”, eu argumentava à toa. E o Márcio continuou a explicar. "Não, ele é ex-funcionário, ele trabalhou na Transamérica inicial. Você o tirou para levar para uma outra rádio, coincidentemente. Agora ele voltou para trabalhar com você".

RA: Que coisa…

LFM: Aquela noite eu não dormi. E eu vou revelar publicamente uma coisa que acho que pouca gente sabe. Eram 3, 4 horas da manhã, eu estava desesperado; fui pra praia. Andei, andei, tomei banho, pedi uma luz. Aquela angústia de não estar satisfeito... Por mim, pediria demissão ali. Achei que tenha que salvar a honra do time todo. Até porque aí cai a casa. E não quero fazer nenhum joguinho de "eu vou e todos vão comigo", essa coisa de demissão coletiva. Quando voltei, passei por uma banca que estava fechada, mas tinha um letreiro luminoso aceso: correios. Eu vi aquele símbolo ali e pensei: é isso! Fui correndo para o hotel, ainda de calção molhado sentei à mesa, peguei um papel e comecei "Prezado Dr. Aloísio", e fiz uma carta uma carta de 4 laudas contando a história.

RA: Contando o quê exatamente?

LFMDizendo que eu era um radialista, um mero profissional escolhido entre outros tantos com a honra de dirigir a Transamérica, mas que estava completamente combalido, estava num combate e tiraram meu general, simplesmente porque ele foi funcionário da emissora em outra época. Esperei abrir o correio e mandei.
Terminado meu período em Salvador, voltei para São Paulo. Acontecia na Pamplona, uma festa de lançamento do LP do Michael Jackson, "Bad". Lá estavam todos os homens da Transamérica, de todas as rádios. Estava também meu chefe, o Sr. Kalil. Papeamos, brincamos, conversamos, tomamos umas e outras até uma da manhã e fui embora. No dia seguinte, alguma coisa me mandou ir para a rádio às 8 e não às 9 hs, como eu costumava. Ao chegar, não tinha quase ninguém. Mas numa das salas estava o Sr. Kalil em uma mesa imensa. Ele disse:"você, por acaso, é o autor disto?" E me mostrou a carta original. Aí vinha o despacho. Dr. Aloisio costumava despachar tudo em duas linhas: "Kalil, a rádio é problema seu. Assinado, Aloisio".

RA: Você respondeu…

LFM: …fui eu sim, senhor, respondi. “E por que você fez isso? Você passou por cima de mim". Não, não passei! Falei com o senhor e o senhor disse: "é ordem do banco". E eu me lembrei que eu havia dito ao senhor que eu não trabalhava em banco, que não aceitava ordens de banco. Então, não poderia trabalhar sobe a égide de um banco, seja ele qual for. E agora descubro que nós estamos realmente atrelados ao banco, e só podemos seguir ordem do banco. Eu não aceito isso. "Então vou ser obrigado a comunicar à você que extingui seu cargo. Estou assumindo a partir de hoje e queria saber se o senhor quer ser demitido ou quer se demitir". Pois não, disse eu. Assinei e fui embora. Me senti liberto, não tinha nada melhor que me sentir livre, porque fiz exatamente o que minha consciência mandou.

RA: E o que aconteceu depois?

LFM: Foi minha primeira demissão e foi o dia que me libertei e criei uma empresa chamada Publinter - Assessoria de Comunicação, passando a trabalhar "by my self." Daí veio uma nova vida em que comecei a oferecer meus serviços para terceiros. Curiosamente, o primeiro cliente, que eu jamais esperava, foi a Jovem Pan.

RA: Para a Pan?

LFM: E ainda fui bastante "durão". Disse que só tinha meio período e que iria trabalhar com nota fiscal. Era para ser Diretor de Promoção. E eu tive a tristeza de abrir o armário de promoções para ver que a última coisa feita na época era minha pasta amarela, com meus scripts: todos colocados ali, bonitinhos. Ninguém mais fez nada, não teve organização, não teve departamento, não teve nada. Ai fiquei lá mais um tempo e a Bandeirantes me chamou.

RA: Eu ia perguntar se foi a Publinter que foi responsável pela. 89 FM, que tirou a Pool FM do…

LFM: Não.

RA: Nada a ver?

LFM: Não, nem tinha a Publinter. Foi numa conversa com o Nelson Batista...

RA: Espere um pouco, só para os leitores se localizarem no tempo: Transamerica-89 ou 89-Transamerica?

LFM: Não, 89 FM aconteceu quando eu estava na Cidade. Eu estava na Rádio Cidade, aí a Rádio JB era do grupo. E a Pool FM era do deputado, como é até hoje, do Deputado Zeca Camargo, que quis fazer um comodato com eles porque não agüentava mais os gastos e nenhum rendimento. Porque ela não tinha um cara, não tinha personalidade, a Pool FM. O que ela fazia era um pouco alternativo, um pouco dance, ou como o pessoal chamava maldosamente, de "bate-estaca". Era gostoso, mas não vendia. E fui lá nas minhas pesquisas empíricas, achando que realmente estava numa rádio com cara de rádio para molecada, fiz um projeto. Entendi que as primeiras quatro fazem no Ibope fazem as mesmas coisas, todas almejam o primeiro lugar, que era da Cidade. Fui fazer uma rádio alternativa. Se conseguir chegar no quinto lugar, é o meu auge. É a cabeça das alternativas. O Nelson ficou de pensar e…concordou. Comecei a fazer a anti-rádio. Perguntei aos locutores da Pool quem queria continuar. E todos queriam.

RA: Quem era os locutores? Você sabe me dizer?

LFM: Quem eram? Não sei dizer..

RA: Júlio Mazzei...

LFM: Júlio Mazzei era um deles, mas os outros...quer dizer, tinha o Guilherme Maciel

RA: Joca?

LFM: O Joca eu não sei se ainda estava...eu peguei uma transição. Entrei de interventor, já não era agradável. Pouco via as pessoas que estavam, porque eu era obrigado a ir para um cantinho que ia ser minha sala, onde eu ia elaborar alguma coisa. E não deveria elaborar uma programação na frente dos outros para que ninguém soubesse o que ia acontecer. Obras da chefia. Então fiz o seguinte: elaborei um teste escrito, chamei todos os locutores e disse "se vocês puderem vir todos no final do horário pra uma reunião, eu gostaria de explicar o que vai acontecer". Eu já era professor de faculdade, tinha um pouco desse jeito de fazer teste. Falei “olha, cada um pega essa folhinha e redige”. Obviamente, estranharam. Teste? Sou locutor, locutor faz teste gravado. Eu querendo começar uma nova era de Rádio. Querendo saber quem tem cabeça. Resumo da ópera: dos sete locutores, só passou o Júlio Mazzei. Ficou todo mundo muito chateado. E acho que até para mim foi uma surpresa, porque bolei isso para saber o que tinha lá dentro. E aí comecei a pensar que numa rádio que fosse a anti-rádio, o contrário da Cidade, que é a mais popular das emissoras FM, eu queria fazer uma rádio alternativa que não fosse popular; que não fosse feita de conversinha de locutor, mas que sim de conteúdo. Pra começar, não queria locutor na rádio, eu queria rockeiro que soubesse falar. E comecei a fazer um levantamento. Obviamente, por uma questão ética, chamei meus "filhos" da Rádio Cidade e perguntei quem queria participar.

RA: Quem eram esses “filhos”?

LFM: Luiz Agusto Alper e Everson Cândido. O Everson era o mais criativo e popular dos meus meninos da época da Rádio Cidade. Eu não podia jamais perder. Era o cara que fazia uma conversa com os Menudos gravada em cartucho, que todo mundo tinha certeza que eram os Menudos estavam no estúdio. Chamei Selma Boiron, que já era uma locutora de rock conhecida, pois veio da Maldita (Fluminense FM). Chamei Marcelo Moraes, que não era o protótipo do locutor de rádio, mas que sabia tudo de rock e conhecida a contra capa de disco, os encartes. Peguei Luís Alberto, que era um “folguista” que eu tinha na madrugada da Rádio Cidade que conhecia e gostava de rock. Peguei o Julinho Mazzei, que já era do time que eu conheci. Depois disso, a 89 foi dando uma guinadinha , ela já tinha uma cara durante o dia e eu queria criar alguma coisa a noite. Aí comecei a criar as alternativas. Peguei o Kid Vinil para fazer um programa especial. Peguei o José Roberto Mahr e a Rita Lee. Todo mundo que é rockeiro que gostava de rock e sabia fazer.

RA: Bom, eu te interrompi lá atrás pra lembrar da 89. Vamos voltar, acho que você ia falar sobre a Bandeirantes

LFM: Bem, então falando da Bandeirantes: recebi um telefonema de Washington, do Dárcio Arruda, com quem já tinha trabalhado na Rádio Difusora.Ele estava nos EUA como correspondente e tinha bolado um programa com a Rádio Bandeirantes.Disse que a única pessoa capaz de executá-lo era eu. Um programa via satélite, feito em Washington e produzido no Brasil. Eu disse que a Publinter se interessaria. Dois dias depois, o Samir Razuk, da Bandeirantes, me liga. Eu, na Jovem Pan: "Luís, quero que você venha aqui para conversar com a gente, temos uma idéia”.
Eu já sabia o que era. Me propôs a produção do programa, como free lancer, por empresa, com nota fiscal. Estava tudo bonito, tudo dando certo. Para mim era o auge da carne seca. Está tudo como eu quero, não sou obrigado a fazer nada em lugar nenhum. Só vou ser responsável pelo meu pedacinho e tal.

RA: Como se chamava esse programa?

LFM: Esse programa chamava-se "USA ", iniciais de um sábado alegre. Um programa criado nos EUA, mas produzido no brasil e realizado nos Estados Unidos.

RA: Parece complicado…

LFM: E como é que a gente vai fazer isso? Vamos tentar. Como bons americanos, o pessoal da Voz da América me propôs um “pilotão”. Alugou o satélite por 3 horas. Tinha dois ou três operadores da técnica. E aí? E aí que tem que manter contato. Nós estamos falando de Embratel. Não tinha Brasil Sat, nada disso. Havia um único satélite. Esse satélite era Washington-Canadá-Itaboraí-linha telefônica São Paulo. Tudo que era lindo no começo, afunilou em uma linha telefônica. Os diretores e os coordenadores, com “foninho”. Felizmente colocaram um português para negociar comigo. Pois se tivesse que negociar tudo em inglês, só de perguntar "sorry?" já tinha caído a linha. O Dárcio dava a hora certa: “em Washington, 8:36 h. Em São Paulo 10:30. Luís Carlos Gueter, como está o trânsito na Avenida Paulista?". E passava a informação que o Gueter estava na Paulista. Tudo sincronizado ao vivo, alguma coisa de improviso, que os americanos odeiam, mas era feito nessa base. E esse programa ficou dois meses no ar. E eu ainda disse ao Samir na época: estou na Jovem Pan, tem algum problema? "Não, não misturamos as coisas. Não tem nada a ver", ele disse. Eu trabalhava na Pan como coordenador até sexta; quinta-feira eu dava um pulinho na Bandeirantes no horário da manhã, fazia uma redação básica e depois começamos a inventar. Eu peguei um ex- aluno meu como funcionário, pedi a contratação dele pela emissora.

RA: Era um trabalho danado, parece…

LFM: E o que a gente fazia? Quando recebia carta de ouvinte, eu passava a carta via fax pro Dárcio. Escrevia a carta em caderno espiral, folha cor de rosa com tinha azul. Invenções. O Dárcio pegava o fax em branco e preto e dizia assim: "Estou recebendo uma carta maravilhosa. Maria Cristina, você que mora no Itaim Bibi, escreveu no seu caderninho querido de escola, escreveu com tinta azul, nessa folha cor de rosa que demonstra amor por nós”.
Me arrepio de lembrar, as pessoas tinham certeza que ele estava lendo a carta da mulher!

RA: Isso reverteu-se em audiência?

LFM: A Bandeirantes chegou para mim e disse que o programa aumentou a audiência da emissora no sábado, que sempre foi um marasmo. Agora queriam esse programa de segunda a sábado. E me contratar. Assumi o programa e acho que uns dois meses depois, de segunda a sábado, com o USA, chegaram dizendo que iam fazer uma mudança na Rádio Bandeirantes e me queriam como Diretor Artístico. Aí eu fui com a minha notinha fiscal e disseram "você não pode dar nota fiscal, tem que ser contratado". Aceitei e virei Diretor Artístico da Rádio Bandeirantes AM e FM. E lá fiquei por quase nove anos. Tendo montado a rede de rádio, criado a programação via satélite. Aliás, eu posso dizer com muito orgulho que apesar de estar fora da Bandeirantes desde de 96, ainda faço toda a sonoplastia da rádio.

RA: Ainda hoje?

LFM: Ainda hoje. É a Publinter, o banco de som da Publinter que fornece. São as simbioses da vida. Quando eu era o dono da Publinter, podia me dar o luxo de fazer uma sonoplastia exclusiva para Rádio Bandeirantes sem cobrar um tostão. Eu era Diretor da rádio, tinha interesse que ela fosse diferente. Então eu achei de trabalhar plástica, que é uma coisa que pouca gente dá valor, principalmente dono de rádio. Fiz por conta própria. Quando saí de lá, falei o seguinte: vou fornecer esse material pra vocês, mas eu não sou dono das trilhas. Eu pago por elas, porque eu tenho uma produtora chamada Publinter. Se você quiserem, contratem a Publinter. E até hoje faço parte da Rádio.

RA: Mas você cria essas trilhas? São exclusivas? São trilhas brancas? Como é isso aí?

LFM: A Publinter virou uma produtora e uma empresa de consultoria. O que era a produtora? Era a cabeça do Luís Fernando criando algumas coisas para as emissoras de rádio. Ele podia fazer um pouco mais do que ele fazia só para uma emissora, podendo criar um nucleozinho. Eu também fazia uma coisa que eu gostava, que era criar vinheta.

RA: Com estúdio próprio?

LFM: Não, nada próprio. Era minha cabeça e minha nota fiscal na gaveta. Aliás, ela foi uma nota fiscal em na gaveta da minha sala na Bandeirantes durante anos. Eu não podia sair da Bandeirantes para fazer outro tipo de trabalho. Algumas vezes eu fiz um comodato com a Bandeirantes e comprei horário de estúdio e gravei comercial lá dentro, com locutores de lá, pagava um cachêzinho para eles e a empresa tinha que fazer alguma coisa.
A Publinter teve cinco “raminhos”: Publinter assessoria de comunicação; a Publinter consultoria, que era eu em primeira instância; a Publinter produtora, que fez programas e programetes de Rádio, fez comercial de monte; a Publinter cursos, que falhou por falta de tempo e por que eu não queria abraçar tudo.Eu peguei o Peninha Schimit,que é uma pessoa extremamente querida e competente e dei uma aula sobre som para todos os funcionários da Rádio Bandeirantes, por exemplo. Consegui convencer a direção a entender que os operadores não tem idéia de como o som nasce, se propaga. Mas que são operadores de som. Sabem por no ponto, sabem fazer scratch, mas o resto eles não sabem. Nós levamos o Peninha para fazer isso. A idéia era reciclar a cabeça da pessoas, fazer elas crescerem.

RA: O lado pedagógico de Luiz Fernando Magliocca.

LFM: Um pouco do que eu já fazia na faculdade, levei. Essa coisa didática. Falei com alguns RHs, mas aí tem que elaborar projeto, alguém tem que escrever.

RA: E porque você saiu do Brasil, já que você estava num momento tão bom?

LFM: Será que estava bom mesmo? Eu devo dizer que fiz uma série de coisas antes de ir embora. A primeira
experiência foi a falta da síndrome do patrão, que é uma coisa que a gente só tem noção do que é quando está vivendo. Você tem obrigações. Você é empregado, apesar de ser diretor, chefe e etc. Quando você se vê livre deste, entre aspas, "algoz", quando você fica sozinho e é dono da sua empresa, as coisas mudam. Aí você começa a perceber como é duro pagar imposto. Você entra em uma outra síndrome. Eu fiquei durante um tempo num conflito muito curioso. Eu podia sair de casa 10, 11hs da manhã, mas me obrigava a estar no local antes das 9, porque eu sempre fui assim. Então, passei por um período de adaptação a partir do momento que me tornei simplesmente o dono da Publinter, o diretor dos meus negócios. Na Bandeirantes eu fui participante de programa por telefone, eu ligava o dia inteiro para a rádio, para ganhar disco. De repente estou sendo chamado para ser diretor.Sei que essas coisas acontecem, que são reais, mas mexem com a gente lá dentro. Esse ciclo de vida que dá uma volta enorme e pára quase que no mesmo ponto duas ou três décadas depois.

RA: Explique melhor.

LFM: Em primeiro lugar, você vai entender que existe um corporativismo. O pessoal do jornalismo acha que o jornalismo é mais importante, o pessoal do esporte acha que o esporte é mais importante. Você não pode ter uma opinião coorporativista como fiel da balança, em primeiro lugar. E também não é nenhum juiz, nenhum deus que possa definir. Então você tem que ponderar, ponderar... Felizmente eu tenho, acho, um senso de equilíbrio e de justiça que me permite analisar com frieza as situações. O corporativismo me incomoda.

RA: E qual o desfecho disso?

LFM: A diretoria chegou a conclusão de que era preciso mudar um pouco. "Olha, nós temos que deixar o jornalismo e o esporte na mão de uma só pessoa. Porque aí a briga é lá dentro, ele mesmo resolverá. Se ele quiser fazer uma transmissão de CPI com um repórter entrando de quinze em quinze dando o tempo e o jogo e atualizar alguma coisa, é problema dele". Eu pedi para ser transferido pra área de marketing. "A Bandeirantes não tem marketing. A Rádio Bandeirantes nunca se preocupou com essa coisa de imagem e definição e tal”

RA: Mas você se preocupava…

LFM: Eu me preocupava. Eu sempre, e já disse isso no começo, peguei coisas no ar e aproveitei. No momento em que vi uma entrevista coletiva, quando vi pela primeira vez o cubinho da rede Globo no microfone, eu falei "peraí, a minha emissora de rádio também pode ter um cubinho". Não tinha nada a ver, mas vai que aparece alguém, vai que você está em um lugar que a televisão também está?” Bem, e com isso, eu me preocupei em criar um logotipo para a Bandeirantes, que felizmente está aí até hoje. Eu não sou o criador artístico, mas sou o incentivador disso. O criador chama-se Élvio Lombardi, que era o homem da criação da arte da TV Bandeirantes. Nós chegamos à conclusão de que deveríamos ter um "RB" forte. Quando entrei, criei um slogan: "RB 840”. Ninguém sabia onde localizar a rádio, e a gente criou uma campanha "RB 840" para localização. Depois tiramos o "840" e ficou só o “RB”. Hoje você o vê nos pontos de ônibus de diversas localidades, a publicidade ali é aquele "RB", do qual me orgulho muito. Com isso, achei que o marketing seria muito importante e pedi para a Bandeirantes criar um departamento. Fiz orçamento, montei a estrutura, chamei as pessoas e o nosso considerável Diretor Geral disse "não temos verba para isso”. Acho que acabou meu reinado, eu quero dar uma virada na minha vida...

RA: Que foi...

LFM: O convite para criar o departamento de marketing e promoção da Rádio Capital. Não me deram todas as chances da vida, mas se me derem uma rádio sertaneja, vou fazer uma rádio sertaneja do jeito que eu acho que tem que ser feita. Apareceu a Rádio Capital e pensei: é minha grande chance. Peguei uma rádio complexa, quer dizer, chamemos de feudos, não no mau sentido, mas cada programa tinha sua produção, a Sônia Abrão tinha seu time, Paulo Barbosa tinha seu time, Eli Correia tinha seu time... Era uma coisa complicada. Eu tinha que primeiro unificar, dar a mesma linguagem. Nessa altura do campeonato tive um boa ajuda da direção. Liberdade. Você tem liberdade, você conversa com as pessoas... Pensei: vou começar pelas vinhetas, eu não tenho uma identidade musical. Então eu chamei o Edgard, aquele músico que costuma mostrar muito a língua na televisão, que é uma pessoa maravilhosa, fez uns arranjos pra gente, botei um coral no estúdio e fizemos as vinhetas...

RA: Edgard Janulo?

LFM: É, Edgard Janulo. Edgar e eu bolamos algumas coisas, contratamos três rapazeses e duas moças e fomos dobrando voz. Fizemos uma coisa sinfônica, que quebrava um pouco porque é uma rádio sertaneja e ficou com uma roupagem bonita.Todo mundo gostou, os próprios apresentadores falavam "puxa, que carinho que vocês estão tendo com a gente". E foi uma coisa legal. Aí eu peguei seis estagiários, de várias faculdades.Eu lecionava em uma delas, numa das faculdades de Rádio e Televisão. E a coisa foi indo. Chamei a Luiza Borges para dirigir a parte de jornalismo, que não havia. Eu quis fazer um jornalismo voltado pro consumidor. Montamos uma área de atendimento ao consumidor, a Luiza é excelente nisso. Este momento, de uma pareceria entre Publinter e Rádio Capital, nasceu uma consultoria que virou assessoria por um ano, de contrato assinado. Ao final do contrato nós decidimos não renovar.

RA: Aí o senhor resolveu sair do Brasil?

LFMComecei a preparar as provas da Faap, para dar no final do ano e cheguei à conclusão que devia dar um tempo também como professor. Estava fazendo 50 anos de vida e eu acho que é uma coisa para a gente repensar.E fiz o seguinte: pedi licença sem remuneração da Faap, comprei uma passagem de quarenta e cinco dias, o que não é normal para uma viagem ao exterior e passei o natal lá.

RA: Hum..passagem de ida e volta.

LFM: Lá, um dia, entro numa cidade que não conheço ninguém e o destino me leva a uma Wallgreens, uma loja de departamentos.Estou lá comprando algumas coisinhas e eu vejo um sujeito na minha frente, na fila, pagando uma conta.Eu olhei e achei que conhecia.Perguntei-lhe as horas. Ele, muito mal educado, me ignorou. Olhei pra ele, disse obrigado e fiquei na minha. Aí ele andou uns metros, parou, e quando ele se voltou pra mim eu disse: por um acaso o seu nome é Santiago Maldati?
E ele, com uma cara de sono : "Você é Luis Fernando Maglioca! Ei, amigo!" Era Mister Sam. E falei: onde é que você está? "Trabalhando na Paradox. A gravadora Paradox tem uma filial em Miami. Vamos lá”.
Bem, chego na Paradox e encontro o dono que é meu amigo. Encontro o Peri Ribeiro na porta, querendo conversar sobre a gravação de um disco. Encontro mais duas ou três pessoas com quem eu já tinha tido amizade e trabalhado meio próximo aqui no Brasil, tudo mundo lá dentro. Foi uma maravilha, já me tiraram de onde eu estava hospedado. "Vai ficar lá em casa", "vamos jogar boliche à noite". Ou seja, foi maravilhoso. E eu comecei a gostar da Flórida de um jeito diferente

RA: Passagem de volta rasgada?

LFM: Nada. Acabaram-se as férias: no dia 30 de janeiro eu estava voltando para São Paulo. Voltei e encontrei minha empresa, muito bem cuidada pelo meu gerente, por isso estava tranqüilo. Eu me senti mais gratificado porque defini 45 dias e me desliguei, apaguei todos os problemas da minha cabeça. Nessa, eu chego e encontro um pacote de coisas abertas, pendentes. Numa delas, em minha mesa, um crachá da NAB. NAB é uma convenção anual das novidades do Rádio e TV. Eu não poderia deixar de ir. Mas aí veio aquele breque: "eu acabei de voltar de viagem e tenho que voltar pra lá em março". E falei pra minha mãe: vou ter que voltar pro Estados Unidos de novo. E ela : "de novo?" É, de novo. E acho que desta vez eu vou e não volto mais. E ela disse uma frase que eu guardo até hoje. Abre aspas: "se você for, eu vou junto. Sozinha aqui eu não fico". Eu falei: não fala duas vezes que eu compro duas passagens. Ela falou: "pode comprar".
Resumindo: liguei pra agência de viagens e pedi duas passagens. Em 22 dias eu vendi minha casa, meu apartamento. Minha ex- mulher comprou meu chalé de Ubatuba. E fui. Na louca, com a cara e a coragem, sem emprego, sem pensar exatamente o que eu ia fazer, sabendo que ia dar certo. Eu sempre acho que as coisas que faço tem que dar certo, senão é burrice fazer sabendo que não vai dar certo.

RA: Flórida?

LFM: Fui pra Miami Beach, que é onde eu achei que tinha que ficar. E logo um dos meus amigos me levou pra casa dele. Ele era presidente da Paradox local. Frank Arduine. Na realidade, Fortunato Arduine. E o bom e velho Frank falou: "vem morar com a gente, aqui tá cheio de brasileiro. O filho da Suzana Vieira, que trabalha na Sony Music mora aqui, aqui é a casa da Paradox.

RA: E pegou de cara no batente?

LFM: Resolvi fazer uma coisa que eu gosto muito de fazer. Sou um pouco repórter, um pouco correspondente e tal. Fiz matérias para a Bandeirantes, onde eu tinha amigos. Seu Fernando Vieira de Melo, de saudosa memória, uma pessoa que eu era fã e que aprendi muito com ele quando estava na Pan, me chamou para ser correspondente do jornal dele. Trabalhei para a Rádio Trianon, na Rádio Ubatuba, onde também tenho amigos. Até que um dia, num congresso encontro uma menina, grande amiga minha, a Yara Achoa. “Onde você está? Você sumiu, me dá um cartão seu". Não deu três semanas ela me liga e diz: “temos um serviço pra você.É para fazer texto e foto". Eu disse que foto eu fazia caseiramente, mas não era fotógrafo profissional. Ela tinha verba para fazer uma reportagem sobre Milene Domingues. Fui à PSN, encontrei dona Milene e fiz a matéria. Deu capa de Chiques & Famosos. De repente, virei correspondente de revista .

RA: E a gravação de comerciais para TV?

LFM: Eu fiz uma brochura para uma agência de turismo, texto e umas poucas fotos para ilustrar e tal. Um sujeito chamado Walter Alvares, que é um banqueiro brasileiro que estava lá montando uma espécie de banco americano viu a brochura gostou. Falou: "faz uma pra mim? Estou lançando uma empresa de remessa de dinheiro e queria anunciar..."
Por que você não faz um anúncio na TV Globo? Eu propus. Estava falando da Globo dos Estados Unidos, estava nascendo a TV Globo Internacional. Estavam lá Leila Cordeiro e Eliakin Araújo, que recentemente tinham trabalhado na CBS, Telenotícias do Brasil. Quando eu pensei nessa jogada, falei: vou colocar o casal depois do noticiário, falando "enfim, uma boa notícia" e tal. A gente lançou o “taxa zero”, através de um comercial de um minuto, que foi o primeiro comercial brasileiro da TV Globo por lá.Isso me valeu contato com americanos e hispanos, que pediram para eu traduzir alguns comerciais.

RA: E Tom Gomes, como aparece nessa história?

LFM: Tom é um jornalista. Ele era divulgador de música. Foi compositor, tem música com o Roberto Carlos. Depois, ele entrou um pouco para um lado político da música, sempre foi um batalhador da música latina. Foi diretor do Memorial da América Latina. Era editor de espetáculo do guia que ele fez (Show Business) e de uma revista que passou a ser a bíblia no Brasil, o que a Billboard é nos EUA, uma revista que se chamava "Sucesso CD".Depois passou a ser só "Sucesso", porque veio o DVD e tal. E eu, além de correspondente dele, fui indicado - como ele é um dos membros brasileiros do Grammy - por Tom para fazer tradução do Grammy. E fui me infiltrando ali dentro. Fiz a cobertura dos últimos Grammy Latinos para a revista do Tom. E culminou agora em 2003, o homenageado foi o Gilberto Gil, que, além de músico e compositor, é o nosso ministro.
Voltei para cá depois disso, para uma reunião agendada aqui no Brasil, com pouquíssimo tempo. Voltei mais uma vez para a Flórida e comecei a me cansar. E, com o perdão da expressão, já estava de ficando de saco cheio. Acho que deu o que tinha que dar. Trouxe minha mãe para passar as festas com a família, até porque ela tem idade e gostaria de rever algumas pessoas. Liguei para minha corretora e falei: vende minha casa, vende meu apartamento. E, do mesmo jeito que eu virei a mesa para ir, eu virei a mesa para voltar. E vi que aqui tinha muita coisa pra fazer.

RA: E agora, o que vem por aí?

LFM: Agora estou reerguendo a Publinter, que ficou fechada um ano. E eu recebi do senhor Luis Henrique Romagnoli, que é o dono dessa empresa, os braços abertos, além da alegria de poder trabalhar com ele. E me colocou aqui nessas amplas salas e falou: "põe teu bode na sombra e depois a gente vai ver o que vai fazer". Aqui é uma produtora de áudio e vídeo. 80% áudio. Aqui se faz a campanha do PT e aqui se fez a campanha de Luis Inácio Lula da Silva , candidato, mas a parte de rádio. Hoje o "Café com o Presidente" é feito aqui. E logo mais será feita a campanha do PT para a prefeitura. Então, nessa área, que eu não trabalho diretamente, mas se for requisitado, estarei. A parte de sonoplastia, nem vou dizer que é uma área que dá muito dinheiro, por que lamentavelmente temos a picaretagem. Ainda mais agora com a pirataria. As pessoas me pedem um CD de demonstração - e eu pago por esses CDs que entram no Brasil - pago um dólar e meio por CD, mando para a pessoa, pago às vezes até o sedex, e a pessoa pega esse CD e colocar o ar. Estou inclusive tomando medidas que permitem fechar um pouco esse cerco e achar uma maneira de só trabalhar com gente séria. Tem dono de rádio que compra o CD, aluga o CD, tira cópia e divide com as pessoas. E isso tudo me incomoda, até porque é ilegal. Em paralelo, fui chamado pelo dono da Paradox, Sílvio Caligari, para ser vice-presidente de uma empresa irmã da Paradox Music, que vai trabalhar com licenciamento. O que estou fazendo exatamente agora é bolar, ter idéias, para pegar produtos estrangeiros e trazer para cá.

RA: E o Rádio?

O rádio, por enquanto, espera. Eu tive um aniversário sábado à noite, de madrugada. Na mesa havia três locutores, grandes amigos, dizendo: "Luiz, arruma uma rádio que a gente tá com você" E eu dizendo à eles que eu não mereço, já estou cansado. Existe uma idéia, que não é minha, é de um grupo que se chama Clube da Voz, que tem as melhores vozes do país. Eles tem uma idéia de rádio e me chamara para dirigir essa rádio. Até faria por desafio e por gosto. Mas para começar por gosto e garimpar terreno, a começar pela estrutura, é muito trabalhoso.

RA: Faltou algo a dizer, mestre?

LFM: Mestre. Essa palavra lembra que eu quase não falei da escola. Eu passei a dar aulas assim que eu terminei meu curso da Eca. Passei a ser professor de televisão, depois de rádio. Dou aula há 33 anos: os 14 primeiros na Eca e depois 16 anos na FAAP e depois mais 2 de USP. Na próxima entrevista....

Leia a primeira parte
Voltar para o índice

Hosted by www.Geocities.ws

1