As manias do Homem-Notícia da Pan

Fernando Vieira de Mello está sempre bem informado e sua história se confunde com a da rádio

(Folha da Tarde - 30 de novembro de 1.988)
Ana Maria Leopoldo e Silva

Nunca tirou férias, não conhece o Guarujá, há anos não põe o pé num teatro ou no cinema. Mas é capaz de discutir sobre qualquer peça, dar detalhes sobre um filme nunca visto ou descrever a praia mais badalada do litoral paulista. Trabalha pelo menos 14 horas por dia e não descansa nem no fim de semana. Na ânsia de manter-se sempre muito bem informado, não consegue esperar para ler as edições de domingo dos jornais de São Paulo. Sábado à noite, fica de plantão na banca e não dorme antes de devorar tudo o que os outros só vão ler no dia seguinte.

Manias de Fernando Vieira de Mello, 59 anos, diretor de Jornalismo da Rádio Jovem Pan há 22 e um dos jornalistas mais bem informados da cidade. Tanto é assim que alguns o chamam de "Homem-Notícia" ou então de "Maquininha", apelido que ganhou aos 18 anos, ao iniciar sua carreira como repórter no jornal "A Noite", em São Paulo.

"Eu vivia na frente de uma máquina, escrevendo sem parar, fazendo rápido as coisas. Topava qualquer plantão, desde que fosse pago. Tinha acabado de chegar à cidade, morava em pensão e precisava de dinheiro", explica Fernando. Paulista de Guará, passou a infância em Sorocaba. E, apesar da paixão pelo futebol - sempre se destacou como um bom meio-de-campo -, nunca foi um moleque igual aos outros.

Desde pequeno, Fernando lia tudo o que lhe caía nas mãos e já freqüentava todos os comícios de Sorocaba. Por insistência do pai, um respeitável e abnegado médico, veio para São Paulo estudar direito na Puc. Mas trocava as salas de aulas pelas sessões na Câmara e na Assembléia, onde tinha um lugar garantido nas galerias.

"Sempre quis estar perto das coisas que acontecem, da notícia. Sempre gostei de analisar o comportamento popular nos grandes comícios e aglomerações. Me dá a sensação de ser testemunha da história". E foi correndo atrás dessa paixão pela informação que ele dedicou os últimos 40 anos de jornalismo, 36 dos quais trabalhando lado a lado com Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Tuta, proprietário da Rádio Jovem Pan. Uma parceria que vem dando certo e que começou em 52, na Rádio Record.

A faculdade de direito foi terminada a muito custo, mas Fernando Vieira de Mello nunca exerceu a profissão. " Sempre fui um repórter apaixonado pela notícia", se define. De uma breve passagem pela reportagem geral do jornal " A Noite", ele foi pararno "Tablóide", onde trabalhou sob a direção de Wandick de Freitas, "um jornalista que influenciou profundamente a minha formação profissional e ética".

Em 52, foi com Wandik para a Rádio Record. Um ano depois, com o início das transmissões do Canal 7, do grupo Paulo Machado de Carvalho, passou para a direção do Departamento Unificado de Jornalismo da Record. De lá para cá, mesmo fazendo questão de estar longe do vídeo e do microfone, Fernando sempre brigou para estar o mais perto possível da notícia.

" Sempre vivi de fatos. Nunca deixei de ir pessoalmente ao local das grandes tragédias, das enchentes, das rebeliões, Assisti a todos os grandes comícios do Juscelino, mas foi de Getúlio Vargas quem mais me impressionou como orador. Quando Bob Kennedy, chegou a São Paulo, eu estava lá, no aeroporto, para sentir a reação do povo. Gosto de ver tudo de perto. Nas grandes votações de Brasília, nas greves do ABC, eu estava lá, meio escondido, vendo tudo acontecer", orgulha-se. Numa dessas visitas incógnitas, muitos anos atrás, durante a prisão do Bandido da Luz Vermelha, ele o reconheceu como um dos assíduos frequentadores do programa da Record.

Foi a mesma curiosidade em conhecer de perto a reação das pessoas que o levou a aceitar, em 74, o cargo de subdiretor de propaganda do Mappin e a revolucionar as vendas do varejo no país. Sem largar a Pan, Fernando supervisionava toda a propaganda da loja e fazia questão de percorrer diariamente todos os andares do prédioda Praça Ramos de Azevedo. "Eu queria saber porque algumas coisas vendiam mais do que as outras, porque alguns lançamentos fracassavam, qual a cor do fogão tinha mais saída. Aprendi muito".

Casado pela segunda vez, pai de cinco filhos - um deles, Fernandinho, seuiu os seus passos e traalha como repórter na Pan -, Fernando Viera de Mello adora São Paulo e gosta mesmo de ler, desde os principais jornais até poesias de Fernando Pessoa. "Leio tudo. Não vou ao teatro nem ao cinema, mas leio todas as críticas e sei de tudo que está acontecendo".

Por falta de tempo, ele abandonou dois esportes de que gostava, a natação e o judô. São-Paulino, nunca consegue ir ao campo. Correu uam vez no Ibirapuera e não voltou mais. Pé de valsa, quando tem tempo gosta de sançar sama e bolero. Ouve muita ópera, música clássica e popular brasileira. E, seu maior luxo, nos últimos anos, é assistir aos desfiles das escolas de samba campeãs do Rio de Janeiro. "Mas ainda vou mudar e ainda arrumar minha vida pessoal. Quero ter tempo para fazer oq eu todo mundo faz", promete.

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