130 JOURNAL OF THE ATMOSPHERIC SCIENCES VOLUME 20

Fluxo Determinístico Não-periódico1

EDWARD N. LORENZ 

Instituto de Tecnologia de Massachusetts
(Manuscrito recebido em 18 de Novembro de 1962, na forma revisada em 7 de Janeiro de 1963)

RESUMO

 Os sistemas finitos de equações diferenciais ordinárias determinísticas não-lineares podem ser planejados para representar o fluxo hidro-dinâmico dissipativo forçado. As soluções destas equações podem ser identificadas pelas trajetórias no espaço de fase. Para aqueles sistemas com soluções definidas, encontramos que as soluções não periódicas são geralmente instáveis em relação a pequenas modificações, assim, estados iniciais que diferem levemente podem evoluir em estados consideravelmente diferentes. Sistemas com soluções definidas têm demonstrado possuirem soluções numéricas definidas.
Um sistema simples que representa a convecção celular é resolvido numericamente. Encontramos que todas as soluções são instáveis e quase todas são não periódicas.

A possibilidade de previsão meteorológica de alcance muito longo é examinada à luz destes resultados.


1. Introdução

Certos sistemas hidrodinâmicos mostram padrões de fluxo de estado estacionário, enquanto outros oscilam de forma periódica regular. Ainda outros variam de forma aparentemente aleatória irregular em 3-D, e, mesmo quando observados por longos períodos de tempo, não parecem repetir sua história anterior.
Todas estas formas de comportamento podem ser observadas nos experimentos domésticos de vaso giratório, descritos por Fultz, et al. (1959) e Hide (1958). Nestes experimentos, um tubo cilíndrico contendo água gira sobre seu eixo, aquecido perto da sua borda e resfriado perto do seu centro de forma simétrica e constante. Sob certas condições o fluxo resultante é tão simétrico e constante quanto o aquecimento que lhe dá origem. Sob diferentes condições um sistema de ondas regularmente espaçadas se desenvolve e progride a uma velocidade uniforme sem mudar sua forma. Sob condições ainda mais diferentes se forma um padrão de fluxo irregular, e se movimenta e muda sua forma de maneira irregular não periódica.
A falta de periodicidade é muito comum nos sistemas naturais, e é uma das características distintivas do fluxo turbulento. Como os padrões de fluxo turbulento instantâneo são tão irregulares, a atenção geralmente é restrita às estatísticas da turbulência, que, em contraste com os detalhes da turbulência, geralmente se comportam de maneira regular e bem organizada. O meteorologista de curto alcance, no entanto, é forçado, quer queira quer não, a predizer os detalhes dos redemoinhos turbulentos de grande escala – os ciclones e anticiclones – que continuamente se organizam em novos padrões.


1A pesquisa informada neste trabalho foi patrocinada pela Direção de Pesquisa Geofísica do Centro de Pesquisa de Cambridge da Força Aérea, sob Contrato N° AF 19(604)-4969.
Assim há ocasiões em que o verdadeiro interesse é ter mais do que as estatísticas do fluxo irregular.
Neste estudo trabalharemos com sistemas de equações determinísticas que são idealizações dos sistemas hidrodinâmicos. Estaremos interessados principalmente em soluções não periódicas, isto é, soluções que nunca repetem sua história passada exatamente, e onde todas as repetições aproximadas são de duração finita. Assim estaremos envolvidos com o último comportamento das soluções, em oposição ao comportamento transitório associado a condições iniciais arbitrárias.
Um sistema hidrodinâmico fechado de massa finita pode aparentemente ser tratado matematicamente como uma coleção finita de moléculas – normalmente uma coleção finita muito grande – em cujo caso as leis dominantes podem ser expressas como um conjunto finito de equações diferenciais ordinárias. Estas equações geralmente são altamente intratáveis, e o conjunto de moléculas normalmente é aproximado por uma contínua distribuição de massa. As leis dominantes então são expressas como um conjunto de equações diferenciais parciais, contendo tais quantidades como velocidade, densidade, e pressão como variáveis dependentes.
  As vezes é possível obter soluções particulares dessas equações analiticamente, especialmente quando as soluções são periódicas ou constantes com o tempo, e, realmente, muito trabalho tem sido dedicado a obter essas soluções por um esquema ou outro. Geralmente, no entanto, as soluções não periódicas não podem ser facilmente determinadas exceto por procedimentos numéricos. Esses procedimentos envolvem substituir as variáveis contínuas por um novo conjunto finito de funções do tempo, que podem ser talvez os valores das variáveis contínuas em uma rede selecionada de pontos, ou os coeficientes nas expansões dessas variáveis em séries de funções ortogonais. As leis dominantes então se transfornam em um conjunto finito de equações diferenciais


 
 
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