A POESIA ETERNA

Por Marco Dias

BERNARDIM RIBEIRO

Biografia

Século XVI

Bernardim Ribeiro

 

Poesias Eternas

Cantiga

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Cantiga

 

Perdido e desterrado,

que farei? onde me irei?

depois de desesperado,

outra mor mágoa achei.

 

Desconsolado de mim,

em terra alheia alongado,

onde por remédio vim

e repairo do meu gado;

mas, ó mal-aventurado

de mim, sem consolação,

temo que há-de ser forçado,

pois que foi tam mal fadado,

matar-me com minha mão.

 

Que conta darei eu agora

a quem não ma há-de pidir?

Que desculpa porei ora

a quem não me há-de ouvir?

Frauta, dom da mais querida

que cobre esta noute escura,

frauta minha, sois perdida!

Façam-me uma sepoultura,

que muito há que estou sem vida. [...]

 

Jano, esta é a cantiga,

ca a derradeira cri que era;

e, por sair da fadiga,

confesso-te que o quisera.

Mas, se a alam e entendimento

não morrem com o corpo, a mágoa

me ficará. Vamo-nos, que sento

que é tempo do gado ir à água;

também tem tempo o tromento.

 

 

ÉCLOGAS, Écloga de Jano e Franco

topo

 

 

 

 

 

 A Poesia Eterna, por Marco Dias . Todos os direitos reservados.

1