H I S T Ó R I A    D E   P E D R A L V A
- c  h  i  n  h  o

Capítulo 3 

JOAQUIM MACHADO DE ABREU (Machado Velho)  Nasceu em Taubaté, por volta de 1817. Foi benemérito na Vila do Carmo, hoje Carmo de Minas. Quando se decidiu a vir para São Sebastião da Capituba, deixou horrorizados os habitantes da "Atenas Mineira", que lhe disseram - onde se viu vosmecê fazer uma coisa dessas?... vai levar suas filhas para o sertão?... terra de índios???!!! Então, o primeiro habitante, com propósito de aqui permanecer foi Joaquim Machado de Abreu, Coronel da Guarda Nacional, possuidor de grande escravatura, Cavalheiro da Ordem de Cristo, nomeado pelo Imperador D. Pedro II, em 21 de dezembro de 1849. A carta de nomeação foi referendada pelo Visconde de Monte Alegre. Foi o Coronel o doador do patrimônio para a formação da freguesia. Joaquim Machado de Abreu, a quem hoje nos referimos como Machado Velho, era, além de grande fazendeiro, capitalista, industrial e proprietário do primeiro estabelecimento comercial do lugarejo. Em seguida vieram outros habitantes como o Sr. Capitão João Moreira Rodrigues, possuidor de muitos escravos e que se dava ao trabalho da mineração e da agricultura. Domingos Pereira do Amaral e João da Cruz, que vieram de Santa Catarina ( Natércia ), sendo que este último era também carpinteiro. Joaquim Carlos de Faria, farmacêutico prático, que aqui instalou a primeira farmácia. José Fernandes de Paiva, conhecido por Furriel, também fazendeiro. Antônio Viana, criador de abelhas. Capitão Martins de Menezes, Manoel Rodrigues da Silva, Capitão Soares, todos sitiantes e Manoel Marcelino, também comerciante. AS FILHAS DO CORONEL : - Maria Delfina Carneiro casou-se com seu tio, Joaquim Carneiro Santiago, irmão de Maria Ignacia Santiago de Abreu, esposa do Coronel Machado. Dona Ignacia de Abreu Macêdo, casou-se com Antônio  José de Macêdo. Ana Cezárea de Paiva casou-se com Cel Gaspar José de Paiva ( o da estátua do jardim). Joaquina Felicidade Ribeiro casou-se em Santa Rita do Sapucaí, com o Cel Joaquim Ignacio Ribeiro. Maria Emília Machado de Azevedo casou-se com Pedro Machado de Azevedo, também em Santa Rita. Joaquim Neto Ribeiro casou-se com Lídia Carneiro de Abreu. Francisca Ribeiro de Abreu casou-se  com Dr. Pedro Leite, advogado. Ficando viúva, casou-se com Dr. Francisco  Antônio Ribeiro ( Dr. Chiquinho ), que era médico, tendo prestado relevantes serviços aos habitantes da localidade. Dados colhidos com João Carneiro de Rezende, Paulo de Tarso Leal de Abreu, Dr. José de Abreu Rezende, publicados no jornal O Centenário e compilados por mim , Antônio Nélcio de Abreu ( chinho ). A fazenda do Coronel, Fazenda Velha ou Floresta, era uma casa enorme, em estilo colonial, com vastíssimos salões e espaçosos quartos. Até uma capela havia, com seu altar bem cuidado, confessionários laterais e todos os paramentos e objetos litúrgicos concernentes ao culto. Ali, uns trabalhavam na cultura da terra. Outros na serraria movida à força hidráulica, outros nos teares, na sapataria, na carpintaria, ferraria, etc. As atividades  da fazenda eram tão grandes que se pensou, na ocasião, em transferir a sede da freguesia para aquele local. Ainda mais quando o Coronel se desentendeu com o vigário de então, por ocasião de um batizado, quando sua esposa Dona Ignacia, sendo madrinha de uma criança, fora desfeiteada pelo padre. O Coronel, então, comunicou-se com o bispado de Mariana, por carta, alegando que, sendo católico, não desejava privar a si e sua família da prática da religião. Por isso pedia a designação de um padre para  atender na Fazenda Floresta, no que foi atendido. O espírito dinâmico do Coronel era extraordinário.  Pela grande dificuldade em fazer escoar a produção agrícola de sua propriedade, ia ele a cavalo, acompanhado por escravos que conduziam tropas, tendo à frente a besta madrinha, com cincerros ao pescoço, todinha enfeitada em fitas vermelhas, seguindo horizontes perdidos, em trilhos abertos em matas fechadas, por muitos dias e muitas noites. Quando a noite chegava, os escravos tropeiros estendiam suas cobertas ao relento, revezando para velar o sono do " Sinhozinho Machado". No Rio as tropas ficavam no Largo do Machado. Figuras respeitáveis e insuspeitas dizem que o local, no Rio, passou a ter esta denominação de LARGO DO MACHADO por esta razão. Honesto será dizer que procuramos comprovar em pesquisas exaustivas. Parece que não se confirma a afirmação pois no Museu Histórico há um livro intitulado HISTÓRIA DAS RUAS DO RIO, de Brasil Gerson, página 352 a 354 e que, graças à boa vontade da querida amiga Maria de Los Angeles  Castelo Lendoiro - Angelita - nos foi transmitida uma longa transcrição que, resumidamente, reproduzimos : "  ... E aqui está, metade do Catete, metade das Laranjeiras, o Largo do Machado, capital do bairro, outrora campo das Pitangueiras e das Laranjeiras e Largo do Machado mais tarde, porque havia um machado de pau, enorme, no primeiro açougue nele instalado..." Deixo a vocês o julgamento. ( Do livrinho " Inolvidável Benfeitor"). 

- NOTAS:  A primeira referência sobre o nome Capituva vem de 1814. Encontra-se em um termo de óbito da capela de Santa Catarina, atual Natércia. Diz ele: " aos 20 de outubro de 1814, falecendo de idade de poucos meses, Joana, branca, filha de Antônio José Pereira, morador na Capituva, foi encomendada e sepultada no adro da capela de Santa Catarina. O vigário: José de Sousa Lima". Antônio José Pereira era casado com Rita Dias. Em 1817, aqui residiam Vicente Pinto e Benedita Maria. Também da mesma época, Manuel Antônio era ribeirinho de Inhaúmas ( o nome do rio Anhumas hoje em dia). Ainda em 1817 morava no Castelhano da Capituva José de Moraes. Todos eles e Vicente Pinto são os primeiros moradores da região. Crescendo a povoação, que se encontra entre as serras da Pedra Branca e do Castelhano, seus moradores alcançaram licença em 1823 sob a invocação de São Sebastião. Pronta em 1825, foi anexada à nova paróquia de Santa Catarina. Eis o primeiro batizado: " Aos vinte dias do mês de janeiro do ano de 1825, na capela de São Sebastião da Capituva, filial desta Matriz, o reverendo padre Bento José Labre Rodrigues, de licença minha, batizou solenemente e pôs os Santos olhos à inocente Ana, filha legítima de Antônio Lopes Monteiro e Esméria Antônia de Oliveira. Foram padrinhos Manuel Marques da Silva e sua mulher Ana Vilela de Magalhães, todos desta freguesia. E para constar fiz este assento que assinei. O Vigário Mariano Accioli de Albuquerque". Ainda neste dia foram batizados: Luciana, filha de Tomás Rodrigues e Francisca de Paula de Jesus. Maria, filha de Francisco Rodrigues dos santos e Maria Vicência da Silva. Custódio, filho de Felipe crioulo e de Tereza crioula. Antônio, filho de Vitoriano Moreira da Silva e de Maria Izabel  da Luz. João, filho de Lourenço Gonçalves de Joana Maria de Jesus. Antônio, filho de Francisco de Paula Tavares e de Maria Bárbara. João, filho de Vicente Pereira Pinto e de Custódia Francisca Pereira. João, filho de Francisco Dias do Prado e de Genoveva da Conceição. Ana, filha de Manuel Gerônimo Corrêa e de Tereza Maria de Jesus. (Do Jornal "O Centenário", agosto de 1991, matéria fornecida pelo grande historiador Monsenhor José do Patrocínio Lefort)  

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(Do Jornal "O Centenário", outubro de 2005, matéria do Ponto de Partida)


                                                                        Arte, Paulo R Faria

TEXTO: Chinho

Muito já se falou sobre Joaquim Machado de Abreu, possuidor de grande escravatura na Fazenda Floresta, deste município. Segundo informações dos mais velhos, ele nasceu em Taubaté. Foi benemérito na Vila do Carmo (Carmo de Minas). Quando se decidiu a vir de mudança para São Sebastião da Capituba, para desbravar as terras recebidas em sesmaria por Antonio Pinto de Castilho, deixou horrorizados os moradores da Atenas Mineira (Vila do Carmo), que lhe disseram: Onde já se viu vosmecê fazer uma coisa dessas? Vai para o sertão? Terra de índios???!!!

Era ele Coronel da Guarda Nacional, Cavaleiro da Ordem de Cristo, nomeado pelo Imperador D. Pedro II, em 21 de dezembro de 1849. A carta de nomeação foi referendada pelo Visconde de Monte Alegre. Segundo dados que nos foram fornecidos pelo saudoso Monsenhor Lefort, da Campanha (carta-arquivo), o chamado Machado Velho morreu em 5 de outubro de 1867, com 50 anos!!! A fazenda – Uma enormíssima casa de estilo colonial, vastíssimos salões e espaçosos quartos. Nela havia até uma capela, altar bem cuidado, confessionários laterais, com paramentos e objetos do culto.

Em uma época até padre fora designado pelo bispado de Mariana. Segundo o poeta e historiador João Carneiro de Rezende a fazenda era muito próspera. Uns trabalhavam na cultura da terra. Outros na serraria hidráulica. Outros nos teares, outros na sapataria, carpintaria, ferraria. O coronel tinha escravos domésticos, para os serviços da casa. Escravos do eito, para as plantações e os escravos do ganho, que prestavam todo o serviço, como transporte de mercadorias. Eram alojados em senzalas. Vovô repetia algumas falas que os negros conversavam entre si, naquele linguajar estranho, mas não me lembro mais.

Agora permitam-me que lhes fale de narrativas ouvidas de meu avô, há muitos anos, e que as guardo, mais ou menos, na lembrança:  Machado Velho era o chefe daquela caravana, que, periodicamente, se dirigia para a Corte, levando mercadorias para vendê-las. Deixava tudo preparado na tarde anterior. Pela madrugada, comandava a tropa em direção ao Império. O Coronel tinha a pele morena, curtida de sol e olhar penetrante. Ia a cavalo. Distanciava-se um pouco da tropa conduzida por alguns escravos de sua confiança, que eram os escravos do ganho, que levavam e vigiavam as mercadorias, em todo o trajeto. No destino, o sinhozinho recebia os pacotes de dinheiro obtido nas transações e os entregava para guarda à seus homens de confiança.

Animais muito bem arreados, tendo à frente a besta madrinha, enfeitada com cincerros no pescoço. Tropel uníssono, barulho das matas, confundindo-se com as vozes dos negros, em cantares lamentosos e incompreensíveis. E a caravana ganhava os trilhos, vencendo montanhas, cruzando riachos e nascentes. De tempo em tempo, paravam para matar a sede na água fresca de uma mina. Venciam a Mantiqueira por trilhas e picadas. À noite, desarreavam os animais. Manhã seguinte, contornavam o Vale do Paraíba, deixando para trás os mistérios da Mantiqueira, com os miados das onças, os uivos dos lobos e muitos perigos à vista.

Depois de dias e noites exaustivos, chegavam à capital, onde muitos outros tropeiros se reuniam. Era um lugar que exalava um mau cheiro muito forte, pois os animais ali urinavam e estrumavam. O lugar foi mais tarde denominado Largo do Machado. Os descendentes do Coronel diziam que o nome era homenagem a seu antepassado ilustre. Não deve ser, porque, segundo o livro “Histórias das Ruas do Rio”, de Brasil Gérson, este nome foi dado porque havia um machado muito grande, no primeiro açougue ali instalado. Até hoje, não consegui descobrir quando ele nasceu. Mas sua morte ocorreu em 5 de outubro de 1867, portanto, há 138 anos passados.

Espero que tenha reconstituído os fatos, “sacarrolhando!” na lembrança as mais longínquas referências ao Coronel. Nem meu avô o conheceu. Talvez ele tenha ouvido as narrativas pelos relatos de sua mãe, Dona Maria Delfina, que era filha do Machado Velho. À medida que me lembrava, ia fazendo meus apontamentos. Com o que me foi dado recordar, parece-me que foi mais ou menos assim.

 

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