H I S T Ó
R I A D E P E D R A L V A
- c h i n
h o
Capítulo
1
ANTES DO "DERRUBA
MATAS"
Pondo as palavras
nos lábios do índio
__ Terra boa e farta. Muitos
peixes nas águas. Muita água. Muitos animais nas matas. Muita
mata. Aves no céu. Muitas aves. A floresta era nossa. Só
nossa, os Puri-Coroados. Puri quer dizer gente mansa e tímida.
Coroados, porque usávamos raspar a cabeça no alto, deixando
em torno o cabelo em forma de coroa. Não éramos belicosos.
Só usávamos as armas quando encantoados pelo inimigo. Ou
nas caças dos animais e das aves com os quais nos alimentávamos.
Vivíamos em completa nudez. Sem malícia. Amávamos
as danças realizadas nos terreiros da ocara iluminada pela lua,
ao som dolente do membi e do carimbó. Éramos exímios
nadadores.
__ Assim que percebíamos
a presença de homens, ditos civilizados, nos púnhamos
a correr. Não feríamos nem matávamos por nosso próprio
desejo. No meio dos arvoredos havia uma clareira. Era onde amarrávamos
nossas redes nos troncos. Ao lado, uma cabana, ou uma choça sem
teto. Havia muitos homens, mulheres e crianças na tribo.
__ Um dia um dos nossos
escapuliu para mais longe e voltou falando coisas, assim como " tem homem
branco por aqui. Não sei se é caraíba, não
sei ! Estão chegando e derrubando matas. Vi e ouvi árvores
gemendo e tombando..." Disse isso e chorou. Diante da ameaça próxima,
quase todos foram se afastando e formando outra aldeia. Os primeiros que
chegaram não nos molestaram, mas já se consideravam donos
do lugar. Foi quando apareceu um homem de saia preta, que eles diziam que
era padre, mandou fincar uma cruz no solo e disse palavras em línguas
estranhas. Gesticulou, abriu os braços. Traçou com as mãos
uma cruz no ar. Levantou uma roda branca, depois ergueu um copo dourado
para cima e muita gente caiu de joelhos no chão. Falaram que era
missa. Sei não! Na folhinha deles marcava 13 de dezembro de 1768.
__ Outros indígenas,
cabelos lisos, ficaram onde era possível permanecer, sem riscos,
inclusive eu. Mas quando chegou um homem muito importante, que eles disseram
chamar-se Joaquim Machado de Abreu, tivemos que ceder terreno. Eu, porém,
um pouco mais atento, observei e contei para os meus companheiros.
__ Chegando mais
homem branco por aqui. Com ele, muitos homens de cor preta, beiços
carnudos e cabelos enroladinhos. Também vinham derrubando matas.
Árvores gemendo e tombando. Vi e ouvi. Construíram grandes
ocaras, onde pretendem morar.
__ Daí, nós
que vivíamos em paz, desfrutando dos benefícios das obras
do Criador, perdemos o sossego. Nossos arcos e flechas não podiam
competir com as armas de fogo. Passamos a fugir. E nos dispersamos. Tomaram
nossas terras.
__ Muitas luas mais
tarde, as asas do vento nos deram notícia, contando que um dos genros
do Coronel Joaquim Machado de Abreu enfeitiçou e possuiu uma de
nossas cunhãs.
As informações
me foram dadas pelo grande historiador José Armelim Bernardo Guimarães,
através de seu precioso livro História de Itajubá
e complementação com informações telefônicas
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