"Os Lusíadas"

Luís Vaz de Camões

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Análise contextualizada

 

Contexto Cultural

 Renascimento / Humanismo

 O Renascimento foi o movimento artístico, científico e literário que floresceu na Itália e espalhou-se pela Europa entre o período que corresponde à Baixa Idade Média e início da Idade Moderna (do século XIV ao XVI). O pensamento medieval, dominado pela religião, cede lugar a uma cultura voltada para os valores do indivíduo. Os artistas, inspirando-se uma vez mais no legado clássico grego, buscam as dimensões ideais da figura humana e a representação fiel da realidade. Opõe-se, portanto, ao Teocentrismo, movimento que o antecedeu.

 O reinado de D. João II marcou o apogeu do Humanismo em Portugal mas assinala igualmente o seu declínio, já que a divisão de idéias na Europa sobretudo devido ao movimento da Reforma protestante, acabaria por levar profundas tensões no seio dos círculos culturais e a um ambiente de intolerância religiosa e de limitação de liberdade de pensamento. O Concílio de Trento e a Reforma Católica viriam a marcar definitivamente a cultura portuguesa a partir de meados do século XVI, impondo regras com as diretivas da Igreja Católica, que não admitiam desvios das normas estabelecidas.

 A influência greco-romana está presente nos Lusíadas, de Luís de Camões. Mescla fatos da história portuguesa às intrigas dos deuses do Olimpo, que buscam ajudar ou atrapalhar Portugal. Sintetiza duas importantes vertentes do renascimento português: as expedições ultramarinas e o humanismo.

  A imprensa

No ano em que Luís de Camões vê publicada a sua epopéia (1572), a descoberta da Imprensa em Portugal e na Europa, era um acontecimento recente. No entanto, a técnica da tipografia divulgou-se rapidamente e as edições proliferaram aos milhares.

 Em Portugal, a difusão da imprensa começou cedo, ainda no final do século XV; no ano de 1489, aparecia em Chaves, o primeiro livro de fabricação nacional. Foram necessárias algumas condições para o florescimento desta arte, por exemplo a manufatura do papel que veio do extremo oriente e permitiu o êxito da arte tipográfica. A nova matéria-prima, chegada à península Ibérica pelas mãos dos árabes, vinha substituir o pergaminho com muitas vantagens: era mais barata, mais leve e mais adequada para receber a impressão.

 

Contexto Histórico

  As descobertas

O príncipe infante D. Henrique, filho do rei D. João I, dinamizou muito as navegações, apoiando-as quando a Corte questionou seu custo.

Nos séculos XV e XVI Portugal não cabia no mundo. Causa espanto que um país tão pequeno tenha conseguido ir tão longe. Os portugueses tinham dois motivos para se enfiar mar adentro: o econômico, de aumentar o comércio com a Europa, e o político, de expandir as terras cristãs na luta contra os mouros.

  

Interesses econômicos

Bem antes da viagem às Índias, já ganhavam bom dinheiro vendendo açúcar plantado nos Açores. Mas queriam vender especiarias. "Naquele tempo não havia geladeira e a conservação da comida era um grande problema", diz o pesquisador Victor Rodrigues, do Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga de Lisboa. "As especiarias melhoravam o gosto dos alimentos deteriorados". Cravo, canela, noz moscada, gengibre e pimenta davam um sabor exótico. Custavam caro e eram apreciadas pelos ricos.

 Com a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, a viagem das especiarias complicara-se. Elas iam de navio para Jedá, na Arábia, em camelos para Damasco, na Síria, e de lá para Alexandria ou Beirute, onde eram embarcadas para Veneza.

 Antes de 1497, os venezianos compravam 10 toneladas de especiarias por ano. No porão das naus, o volume (e o lucro) das cargas disparou: Cabral trouxe 100 toneladas das Índias; Vasco da Gama trouxe 1.500 toneladas, em 1502.

 O comércio português enriqueceu. Em 1520, as especiarias forneciam a metade da receita dos cofres lusitanos. Capitalistas do mundo inteiro abriram o olho: holandeses, alemães, genoveses e ingleses passaram a investir pesado nas viagens pela nova rota do Cabo.

 Quando as navegações começaram, as Cruzadas (1095-1291), ainda estavam na memória de todos. A luta dos cristãos provocara redistribuição de terras árabes entre os nobres. E em Portugal havia muito nobre para muito pouca propriedade. Sua Majestade tinha que se equilibrar para contentar súditos belicosos prontos a traí-lo com os espanhóis.

 "Para expandir a luta contra os mouros", diz Francisco Contente Domingues, "os portugueses buscavam uma aliança militar com o Preste João, o rei cristão da Etiópia. Também estavam de olho nos cristãos nestorianos (uma seita de discípulos de São Tomé, emigrada da Síria para a Pérsia) que supunham existir na India". Seria a glória do rei de Portugal e a riqueza dos nobres.

 

Biografia do Autor

 Origem

 O Homem e o Poeta

Camões (1524? 1580) cresceu às margens do rio Mondego, onde o poeta escreveu os seus primeiros poemas, inspirado na beleza do rio e na beleza das mulheres que por ele passavam. Embora se diga que Camões era um arruaceiro que não ligava para vida acadêmica e que a sua maneira de viver não era própria, ele integrou-se totalmente na vida espiritual de Coimbra e foi tão bom discípulo que mereceu, do sábio alemão Storck o nome de "filho legítimo do Renascimento, e humanista dos mais doutos e distintos do seu tempo", pelos "múltiplos e variadíssimos conhecimentos, em história universal, geografia, astronomia, mitologia clássica, literaturas antigas e modernas, poesia culta e popular, tanto da Itália como da Espanha".

A cultura de Camões mostrava a profundidade dos seus estudos; profundo conhecedor dos clássicos greco-latinos e da língua portuguesa que usou como quis, explorando todos os seus recursos para produzir a grande obra que nos deixou.

 

 No entanto, os conhecimentos de Camões não se limitaram a Portugal, saltando além das fronteiras, chegando até à Itália e à Espanha.

 Este poeta soube equilibrar a tradição literária peninsular e as inovações introduzidas pelos latinos. Foi o melhor poeta português da Escola Petrarquista e o mais acabado artífice da Escola do Cancioneiro Geral. E de entre os vários gêneros clássicos Camões só não se preocupou com a tragédia. Camões era um poeta lírico e épico. Apesar disso, era essencialmente um poeta lírico, soube equilibrar o puro lirismo tradicional com as novas idéias que se espalharam, vindas de Itália.

 Em 1542 Camões teria ido para Lisboa, que para ele era a terra das oportunidades, e construir lá a sua vida. Ao chegar a Lisboa, tornou-se um poeta da corte e um dos chefes do movimento renascentista português.

 O serviço militar na África constituía praxe obrigatório para a juventude fidalga daquela época. E foi justamente durante a guerra de África que Camões perdeu o seu olho direito.

 De regresso à pátria, em 1549, Camões voltou a freqüentar a boêmia de Lisboa. As suas cartas pessoais mencionam vários nomes de mulheres fáceis e de arruaceiros do Bairro Alto. Devido a essas companhias acabou esta fase da sua vida na prisão do tronco por ter agredido a Gonçalo Borges, encarregado dos arreios do monarca. Uma carta-perdão torna possível sua ida para a Índia a serviço de El-Rei. Deixa Lisboa, em 1553, a bordo da nau S. Bento.

 Ao chegar à Índia, Camões participou em várias expedições de caráter militar que passaram por Goa, "terra mãe de vilões ruins, e madrasta de homens honrados", Malabar (onde embarcou, ainda em 1553, para combater o rei da pimenta), Mar Vermelho (onde participou num cruzeiro para interceptar os navios turcos que praticavam o comércio clandestino) e, finalmente, por Macau onde passou de soldado a funcionário público.

 Mas Camões não permaneceu muito tempo como funcionário público, embarcando num navio que naufragou na costa da Conchichina e onde Camões teria perdido tudo o que tinha (inclusive uma jovem indiana chamada Diamene, a quem Camões já se tinha afeiçoado), salvando-se a nado com o manuscrito d´Os Lusíadas.

 De volta a Goa, Camões enredou-se de novo em complicações e foi preso por dívidas, mas rapidamente foi solto. No entanto, o Poeta não permaneceu muito mais tempo em Goa pois estava em má situação financeira e, por isso, voltou para Lisboa em 1568, passando antes por Moçambique. Na sua bagagem trazia Os Lusíadas.

 Em 1570, entra em Lisboa. Vencidas as dificuldades da censura, a obra Os Lusíadas, foi liberada por Fr. Bartolomeu Ferreira e foi publicada em 1572.

 Após a publicação, o Poeta começou a receber uma renda anual de 15.000 réis, concedida por D. Sebastião; e foi com esse dinheiro que Camões se manteve até junho de 1580 quando morreu, provavelmente de peste. Infelizmente, foi enterrado como um indigente e só alguns anos depois enterraram uns ossos, que supostamente eram os seus, numa campa com o seu nome e onde um amigo seu mandou inscrever a seguinte frase: "Aqui Jaz Luís de Camões, príncipe dos poetas do seu tempo. Viveu pobre e miseravelmente e assim morreu".

 

Mitologia

 Algumas Figuras Mitológicas Introduzidas na Obra

Vênus

 Vênus freqüentemente foi infiel ao marido; experimentou os leitos de quase todos os deuses, semideuses, mortais notáveis e, mesmo, simples reis ou príncipes, como por exemplo, Anquises. Do deus Marte teve Eros, Anteros e Harmonia; de Mercúrio , Hermafrodito; de Baco, Priapo; pelo belo Adônis deixou o Olimpo, e desceu o monte Ida para conceder favores a Anquises que a tornou mãe de Enéias.

 Uma das aventuras mais famosas de Vênus é a célebre disputa com Juno e Minerva, a respeito do pomo de ouro, que deveria ser entregue à mais formosa. Páris, que funcionou como juíz nessa demanda, outorgou o prêmio à Vênus, pelo que lhe mereceu eterna gratidão, e a posse da mais bela mulher, Helena.

 Geralmente é representada em companhia de Cupido, sobre um carro puxado por pombas brancas, ou por cisnes, ou por pardais.

 Na obra Os Lusíadas, Vênus representa o apoio divino para enfrentar as dificuldades no mar; uma figura protetora.

 

 Baco

Baco passou toda a infância longe do Olimpo, educado pelas Horas e Ninfas, até a idade de ser instruído pelas Musas e por Sileno. Crescido, efetuou a conquista da Índia, depois esteve no Egito, onde ensinou agricultura e a arte de extrair mel; plantou a vinha e foi adorado como deus do vinho. Em sua honra foram realizadas as primeiras representações teatrais. As Bacantes ou Nênades eram primitivamente as Ninfas ou mulheres que Baco levara consigo para conquistar a Índia.

 Representa a força opositora material na obra Os Lusíadas.

 

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