Fogo
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CAP�TULO I

 

            A luz nascia no horizonte, acordando a neblina que dormia no ar h�mido da noite; a gentil brisa adormecida pelo doce embalar da noite, brincava com os fr�geis bra�os que bradavam aos c�us por suas l�grimas molhadas, que refrescavam aqueles gigantes verdes. Apesar da manh� ser ainda rec�m-nascida, o calor j� se fazia sentir, tudo indicava que iria ser uma dia de ver�o como muitos outros, e seria se n�o fosse aquele fat�dico acidente... Aquele acidente que mudaria a nossa percep��o acerca da vida e da morte. Vida e morte... conceitos t�o vulgarmente usados, mas conceitos pouco ou nada conhecidos, o que julgamos conhecer � nos desconhecido, negado pelos factos; ningu�m sabe nada acerca deles... Para onde vamos? Donde viemos? Porque existimos? N�o seremos apenas um sonho de um ser que desconhecemos?... Ser� que passamos de pe�as de um jogo, ou de meros fantoches de um teatro que desconhecemos?... Quem nos garante que o sono n�o � vida, e a vida n�o � o sono? Quem nos diz o que � e n�o �? Quem nos dir� que a vida � morte e morrer � viver?... Refugiamo-nos na religi�o para n�o respondermos a estas quest�es, mas o que � a religi�o?... Existir� aquele ser ser supremo, ou n�o passar� de fruto da nossa imagina��o, para nos defendermos do desconhecido, n�o ser� a pr�pria religi�o um refugio para enfrentar o desconhecido, para o que n�o compreendemos, ou para o qeu n�o queremos reconhecer?...

            Tudo come�ou quando o gigante de fogo devorava milhares de quil�metros, e nada que os impotentes guerreiros fizessem parecia matar ou enfraquecer aquele gigante vermelho e rubro. O calor das chamas penetrava como facas afiadas, dilacerando as pobres gargantas dos bravos guerreiros. Cinco homens lutavam extunuadamente para evitar o avan�o das chamas; mas co por infort�nio do destino, as chamas cercaram aqueles cinco homens. Como � trai�oeiro aquele gigante, mas no meio do azar a fortuna sorriu. Comovidos pelas preces dos verdes gigante e pelo triste fado dos bombeiros, os c�us soltaram as suas l�grimas redentoras, l�grimas essas que ajudaram a matar o gigante; tudo estava agora sereno, mas j� era tarde... demasiado tarde para um jovem guerreiro, o �nico dos cinco homens cercados pela trai��o das chamas que tentou lutar contra o infort�nio, se tivesse ficado quieto, n�o tivesse lutado, se tivesse sido um pouco mesmo corajoso, tal n�o teria sucedido. Agora �s doces l�grimas divinas, sucedem as amargas l�grimas da popula��o, que chorava a morte do seu jovem bravo. O funeral seria da� a dois dias, mas at� l� jazeria na cripta do cemit�rio at� l�, para ser tratado pelo agente funer�rio, mas at� l� muitas coisas se passariam...

            A policia tinha iniciado as investiga��es, pois existiam fortes suspeitas de fogo posto, mas quem teria raz�es para tal? S� um louco... Mas quem pode afirmar que � completamente s�o?... N�o ser� a loucura sanidade, e n�o ser� a sanidade loucura? Ser� que queremos ser s�os? Ser� que preferimos viver s�os a conhecer a verdade que insana o esp�rito dos mais temeroso; a verdade que destr�i, a verdade que cria loucos? Sabem... a min tamb�m me chamaram louco, doido e puseram-me acorrentado nestas quatro paredes. Sim... posso ser louco, mas pelo menos eu sei a verdade, e eles, s�os, que vivem na ignor�ncia, v�o sendo dizimados e vivem no medo do desconhecido refugiando-se na sua religi�o, e chamam-me louco!!..... Loucos!!!.....

            A negritude caia calmamente, pequenas gotas de orvalho evadiam-se da verde folhagem, o escuro avan�ava lentamente, o mundo fechava os olhos ao terror da noite, tentando n�o ver o que se passava nos recantos escuros. A rainha da noite reinava rodeada de suas aias, nas escarpas ventosas, erguendo suas vozes aos c�us, reclamando por clem�ncia, os lobos s�bditos da noite oravam � sua mestra, soltando preces g�lidas e tem�veis. O velho e s�bio mocho do moinho sensatamente calara-se, ouvindo a mensageira da morte, a coruja que transporta a mensagem negra da velha dama. No alto da colina o velho sino da igreja, lamentando o seu trabalho centen�rio, solta doze longas badaladas. Sua majestade da noite esconde-se atr�s do seu manto real,  espiando o descuidado viajante, lan�ando-lhe o seu feiti�o. Uma doce neblina brincava com a leve brisa que passeava pela l�grebe floresta, reinava a paz e a quietude...

Sa�do da escurid�o um vulto negro subia a velha estrada, obrigando os cansados gr�os de areia a soltar gemidos de tortura. Que alma se aventuraria �quelas hora, num s�tio daqueles? Quem seria insensato para passar pelo cemit�rio quando os mortos acordam? Era o velho moleiro que voltava para casa ap�s mais um dia de trabalho. Lentamente seguia o seu caminho, quando algo chama a sua aten��o. A cripta do cemit�rio estava iluminada tinha uma aureola purp�rea, no seu interior viam-se vultos negros que se deslocavam, no ar corria um odor f�tido a morte. Curioso avan�ou e espreitou pela vidra�a... o seu cabelo preto, tornou-se neve. O que vira era demais para o comum dos mortais. H� certos segredos da natureza que devemos desconhecer, h� realidades que a nossa realidades n�o suporta...

 

CAP�TULO II

 

            O bar tinha acabado de fechar, e o seu dono arrumava as cadeiras quando a velha porta de madeira soltou leves lamentos de dor por lhe baterem. N�o estando � espera de ningu�m, cautelosamente abriu a porta, atr�s dela encontrava-se o moleiro, cansado e sem for�as...

- Mas que diabo, homem! � exclamou no seu sotaque irland�s � Mas que tens, parece que viste algum fantasma. Est� mais branco que a neve...

- Eu vi-o!!... � disse gaguejando � N�o!! N�o pode ser!!.. Ele... ele.. morreu!!!

- Quem? Fala homem, com um raio... � inquiriu, entanto lhe servia um c�lice de bebida.

- O bombeiro, vi-o levantar-se do caix�o e andar...

- Est�s doido!!! � exclamou retirando o c�lice � Vai para casa que j� est�s b�bado, e andas a ver coisas...

Ao dizer isso, p�s o pobre homem na rua, fechando atr�s de si a pesada porta de madeira.

O dia sucede � noite, a lua vai-se deitar subindo ao seu lugar o astro rei, eternos amantes que apenas se encontram por breves momentos. A leve brisa do dia anterior, dera lugar a um vento forte que obrigava as velhas �rvores a fazer-lhe v�nias, e � neblina sucedeu uma bruma espessa. O padre subia mais uma vez a colina, para preparar o  funeral. Triste fun��o a sua... Ao abrir o port�o de ferro, um longo grito de dor soltou-se das suas dobradi�as. Para supressa do padre a porta da cripta estava aberta, algu�m se esqueceu de a fechar! Pensou. Mas quando penetrou no interior... o choque foi inevit�vel, o corpo do defunto havia desaparecido... quem teria feito tal sacril�gio e roubado o corpo? Pois ele n�o saiu sozinho, ou saiu?....

Pouco conhecemos acerca da vida e muito menos da morte. Ningu�m sabe como apareceu o primeiro ser humano, existem in�meras teorias, mas nenhuma nos oferece uma resposta segura, e mais uma vez para nos refugiarmos do desconhecido criamos a ideia de religi�o, em que um ser superior nos criou � sua imagem, mas se ele � perfeito, porque somos n�s t�o imperfeitos??? E n�o encerrar� essa perfei��o em si a maior imperfei��o, n�o ser� a maior das virtudes o pior dos defeitos?? E depois da morte o que acontece? Mais uma vez ningu�m tem a certeza, e mais uma vez nos refugiamos na religi�o. Ser� que continuamos a sentir... ser� que a dor ainda nos assombra e ouvimos o que nos rodeia e apenas n�o conseguimos comunicar com o exterior; ou ser� que o nosso esp�rito se solta deste suporte material e atinge outro n�vel. Quem sabe...

O c�u azul cede lugar �s trevas, o dourado do sol tornou-se num negro profundo. N�o! N�o se tratava de um eclipse. Era como se um buraco negro tivesse sugado o sol e no seu lugar tivesse ficado um buraco vazio. Os mensageiros da morte elevavam as suas vozes. Subitamente, um raio rasga os coros da morte, fulminando a necr�pole, seguindo-se um sil�ncio ensurdecedor, quer nos feria a alma. Passados alguns momentos um segundo raio desfere o seu beijo fatal no velho moinho. Em breve tudo estaria passado, e o sol voltaria a acariciar todos com os seus quentes raios. O dia caminhava em direc��o � noite e ningu�m se tinha apercebido da trag�dia que havia tido lugar. Por fim a soberana negra sucede ao astro rei, inundando a terra de trevas e caos.

Na noite um vulto escuro pisava avidamente as pedras do pavimento, devorando apressadamente cada gr�o de arei que dava forma � velha estrada que ligava o moinho � aldeia, passando pelo centen�rio cemit�rio. � medida que o vulto se aproximava da luz que circundava aquele ermo distante, a figura aclarava os seus tra�os, o vulto deu forma a uma mulher, chegada � aldeia, leva os seus velhos e cansados joelhos ao solo, esmagando as pedras que lhe suportavam o peso, como se bradasse aos deuses por piedade.

�quela hora, os homens da aldeia reuniam-se num ritual ancestral, dia ap�s dia, todos os anos, sempre os mesmos mon�tonos gestos. As gargalhadas ecoavam na rua, quando sa�do de lugar algum, um grito rasgando o ar da noite, cala as vozes da noite. Um longo grito de ang�stia e de dor, como se o arcanjo da morte anuncia-se o apocalipse, com o seu aug�rio de morte, e muitos jurariam que os quatro cavaleiros do apocalipse se abateram sobre a terra, o ch�o estremeceu debaixo dos p�s dos inocentes cordeiro de Deus. A terra abriu sua garganta engolindo a aldeia, no ar pesava o cheiro de enxofre a arder, a luz da lua escondia-se por tr�s de um n�voa amarela que pairava no ar.

T�o repentinamente como havia come�ara, as fendas fecharam-se e tudo o que restou foi uma aldeia adormecida e deserta. Condenado ao esquecimento, estava aquele ermo de tudo e todos.

 

CAP�TULO III

 

A manh� nasce e com ela a esperan�a renovada. Algu�m bate � porta, acordando o seu jovem dono, algu�m reclamava a sua presen�a.  Era o Bispo que chamava o jovem padre. Algu�m havia escrito ao Bispo que o padre daquela aldeia distante havia falecido, e a par�quia n�o tinha agora ningu�m que o substitui-se, e o velho e s�bio Bispo decidira que caberia a este novo pastor de almas, guardar aquele rebanho.

E foi nesse mesmo dia que o sacerdote partiu. Durante a viagem aproveitou para p�r a sua leitura em dia, e para ver as belas paisagens que passavam furtivamente pela velha janela empoeirada com o passar de cada esta��o. Quando chegou anoitecia. A presen�a do sol estava cada vez mais enfraquecida, as trevas iam aumentando. A leve aragem que se fazia sentir arrastava as folhas ca�das no ch�o, pois apesar de n�o ser Outono, as �rvores estavam despidas das suas verdejantes vestes, no ar sentia-se um cheiro estranho, parecia enxofre...! Apesar das ruas estarem desertas, o padre ouvia o ecoar das gargalhadas que provinha do bar, mas estava cansado, e decidiu procurar a sua dormida, e enfrentar a popula��o pela manh�, com as suas for�ar retemperadas.

A manh� chegava ledamente, a lassid�o envolvia a vida da aldeia, o rec�m-chegado decidiu enfrentar as hostes, mas para sua supressa a aldeia estava mais deserta do que na noite em que chegou. Decidiu ent�o fazer um expedi��o para conhecer o local em que iria viver durante os pr�ximos anos. Ap�s algumas horas de caminhar pelas ruas ao sabor do vento, que cantava doces melodias de embalar, enveredou pela velha estrada que ia dar ao cemit�rio.

Chegado �s velhas grades, do port�o, o padre abre-as vagarosamente, a noite j� caia sobre a aldeia, as arvores tremiam ao som dos gonzos do port�o. O padre ia avan�ado lentamente, ma � medida que ia avan�ando sentia que lhe iam penetrando na alma uma sensa��o de dor e de sofrimento, e que no seu esp�rito uma nuvem negra se tinha instalado no seu esp�rito, desceu cuidadosamente cada degrau que levava ao centro da cripta, onde jazia um caix�o e no seu interior um corpo.. o corpo de um jovem bombeiro. Quando se aproximou do cad�ver, um trov�o silencia o ensurdecedor sil�ncio da noite; o c�u estrelado � ofuscado por um buraco negro, onde alguns minutos antes residira a bela rainha dourada. Mas t�o repentinamente como come�ara tudo acabou, mas a noite � trai�oeira e encerra na sua pessoa mil mist�rios, e subitamente o solo que o sustentava, trai-o fugindo-lhe, fazendo-o cair para o interior do gigante azul.

Inconsciente pela queda quando acordou, viu-se perante um cen�rio inimagin�vel, quem diria... toda a verdade sobre a cria��o revelou-se... � sua frente jazia um gigantesco e complexo mecanismo. Quem diria? A Terra era uma m�quina, tudo o que julgamos ser natural, n�o passava de reac��es mec�nicas programadas por um engenheiro, por um ser inteligente e se a terra � ma m�quina, porque n�o conceber o Universo como tal...

Caminha c�mara por c�mara, descendo cada vez mais, ia ficando maravilhado, at� que encontrou uma placa com uma inscri��o: �Miser�vel daquele que conhecer a verdade, pois daqui n�o sair� com vida.� O jovem sacerdote.. a sua mente ficou envolta em medos, mas medos esses infantis pensava, pois tamb�m os t�mulos dos fara�s continham maldi��es e estas n�o se concretizaram; mas por outro lado, isto tratava-se de algo nunca visto, o ser que construiu este mecanismo poder� ter poder suficiente para cumprir a amea�a, mas... o mundo... a humanidade tinha de saber, n�o tinha medo da sua integridade f�sica, v�rias vezes o havia afirmado, nomeadamente, nas conversas com o Bispo, onde uma vez lhe dissera: �o t�mulo � um s�tio seguro, mas, meu senhor, enquanto vivemos sangramos.� Mas o mais certo seria o mundo exterior consider�-lo louco, vendo-o como um inimigo da ordem da humanidade, mas por vezes � necess�rio, abandonar o nosso ref�gio e caminhar desarmado por entre os nossos inimigos. E com esta resolu��o, resolveu voltar � superf�cie, e mais uma vez a terra tremeu, e mais uma vez uma vida se perdeu...

 

CAP�TULO IV

 

Nem tudo o que temos como certo � verdadeiro, n�o existem dogmas absolutos, pois o que temos como verdadeiro pode n�o o ser. Por vezes a realidade assista mais do que a fic��o em que vivemos, e n�s cegos chamamos loucos aos que sabem essas realidade e se atreveram a cont�-la ao mundo, e n�s desdenhamos deles...

O que sabemos??.. Nem sequer sabemos a nossa origem, nem o nosso destino... Que fic��o vivemos n�s???... Pois... a maior parte de n�s n�o sane o que �... O que sou eu?... Eu sou o ilustre vagabundo, que navega nas ondas do pensamento, saboreando os instantes de loucura e de paix�o. Eu?? Eu n�o sou ningu�m!!!...

Esta quimera em que vivemos, ou melhor a que damos o nome de vida � fugaz e ef�mera, e no c�mputo geral, o que � que verdadeiramente sabemos???... Nada... Nada...



 

�Lord Raven

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