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noite l� fora acaba de nascer, por�m a noite que invade o meu ser parece-me
velha e eterna. Na rua a chuva ca�, molhando o solo �rido e ressequido dos
beijos do sol ardente. Dentro de min, minha alma chora, chora esta solid�o que atormenta
o meu viver, que amargura a minha exist�ncia. No jardim o vento brinca com as
folhas ca�das na relva h�mida, no ar dorme uma ligeira neblina que repousa nos
bra�os invis�veis do seu amado, que agora deixou as tenras folhas para se
dedicar a sua amada. O ver�o passara, e o frio come�ava a fazer-se sentir. ����� Na lareira crepitava um fogo vivo que
devorava, com um apetite voraz, cada tronco que lhe era oferecido. Caminho
lentamente em direc��o � velha estante da biblioteca, tirando o p� a um dos
livros que a� se encontrava. Procuro ler, para afastar o sono, pois com ele v�m
os pesadelos que assolam minhas noites, e as imagens que n�o quero recordar.
Pego cuidadosamente nele e coloco-o numa mesa junto da poltrona perto da
lareira. A� j� se exonerava o copo de brandi, que servia para consolar minha
alma torturada, e para amornar meu esp�rito, nestas noites s�s... ����� L� fora o vento sopra cada vez mais
assustador, varrendo ruas e vielas, e a chuva continua a cair, ledamente
escorrendo pelos beirados, e pelos bra�os das �rvores, correndo em direc��o a
algum lado, fugindo de si pr�pria, tal como eu fujo de min.... ����� Sentado frente ao fogo acolhedor da
lareira desfolho o livro, mas apesar do calor do fogo, minha alma est� gelada,
fria, desde daquele dia nunca mais meu cora��o sentiu o calor de amar. Agora
penando na escurid�o do meu ser, este pobre cora��o navega sem rumo nas �guas
da dor. Esta ang�stia que devora meu ser empurra-me para o abismo do
esquecimento, e assim vou vivendo, em cada dia que passa mergulho cada vez mais
fundo nas �guas do arrependimento. Subitamente o velho rel�gio de cuco solta
doze longas badaladas... devo ter adormecido, pois o tempo por min n�o passou.
Levanto-me e coloco o livro no seu lugar original, e retiro outro. Mas eis que
um som oco e forte solta-se da porta, algu�m batia apressadamente � porta,
algum fugitivo �s intemp�ries do tempo, que louco andaria na rua numa noite
destas, certamente aqui seria bem recebido; sempre me ajudaria a passar a noite
e afogar minhas m�goas numa leva e agrad�vel conversa. Por�m quando abri a
porta apenas o vazio estava na rua, apenas uma rajada de vento procurava for�ar
a entrada para dentro de casa, certamente procurando o calor acolhedor da
fogueira. Retirei-me para dentro de casa fechando a porta atr�s de min; mas
novamente as pancadas fazem-se ouvir, com mais for�a, mais sonoras, zangadas. ����� Vou novamente � porta, por�m desta vez, o vazio fora substitu�do pela doce figura de um anjo, frente � porta, diante de min, estava uma jovem donzela, molhada, em todo o seu esplendor. Desde o primeiro momento a sua beleza capturou meu ser; e agora as nuvens que assombravam minha alma se afastam. Apressadamente mandei-a entrar, e sentei-a junto � lareira. Quando j� se encontrava seca e ap�s uma bebida quente, come�amos a conversar. Esta bela jovem chamava-se Aline e era bibliotec�ria, e aparentemente tinha-se perdido na noite escura, quando passeava sozinha, antes da tempestade, e n�o conseguira achar o caminho de volta, e ao longe tinha visto uma luz na escurid�o e dirigiu-se para ela. A assim aqui chegou. ����� L� fora a noite a noite ia avan�ada, a
chuva n�o parava, e o vento continuava a castigar os fatigados ramos das
�rvores. C� dentro, o calor da lareira s� era ofuscado pelo brilho daquele ser
resgatado �s torturas do� tempo. Seus
olhos verdejantes, quais prados primaveris, brilhando aos primeiros raios da
aurora matinal, iluminavam minha alma escura e s�; o seu cabelo dourado, corria
levemente pelos seus ombros como uma cascata correndo suavemente, para o mar da
sua paix�o; perto seus l�bios rosados, a mais vermelha das rosas tornava-se
p�lida. Tudo bela atraia o meu cora��o. Ao calor da fogueira conversamos
amenamente, at� que me certo momento, atra�dos por um impulso, nossos l�bios
tocam-se num instante eterno, nossos olhos cruzam-se numa olhar divino, nossos
corpos fundem-se num s� existir, e ca�mos noas bra�os da paix�o. Meu ser
exaltou por breves momentos, a m�goa e a dor foram esquecidas, apenas a
felicidade e o amor tinham lugar no meu seio. Envolvidos num abra�o apaixonado,
o doce anjo adormeceu nos meus bra�os exaltando de felicidade, carinhosamente,
fiquei deslumbrando t�o doce flor, passando os dedos pelos seus finos fios de
cabelo. E assim ficamos at� ao amanhecer. ����� Fiquei toda a noite contemplando aquele
doce anjo, ouvindo o seu doce respirar, bebendo cada trago do seu delicado ar.
Por�m toda a felicidade � ef�mera... O sol nasce l� sopra, e c� dentro renasceu
a escurid�o do meu ser, pois... Oh!... Meu Deus... aquela imagem come�ou a
esvanecer-se, perante min fugindo dos meus bra�os, at� finalmente apenas ficar
a recorda��o de seu rosto. Oh! Deus... estarei a enlouquecer, ter� a minha
solid�o tornado-me febril e louco. J� n�o sei... J� n�o sei o que � ilus�o e o
que � real. Apenas sei que naqueles fugazes instantes a tive em meus bra�os.
Mas tive o qu�? Seria real, ilus�o, teria adormecido e sonhado, estaria
acordado e tudo isto tinha sido uma alucina��o doentia do meu cansa�o, da minha
solid�o, ou seria tudo real? N�o sei... sinceramente ignoro a realidade, mas
n�o ignoramos n�s todos? ����� L� fora o dia nasce, o sol brilha, e uma
leve neblina passa despreocupada pelas ruas. C� dentro o sil�ncio... na
escurid�o choro, espero pela morte, olhando o espelho de minha alma, mas j� n�o
reconhe�o a imagem reflectida, sou eu... mas n�o sou eu.... mas no fundo sempre
serei eu; procuro na minha mem�ria ver a sua imagem reflectida, mas apenas
encontro o vazio da sua partida. Mas apesar desta tristeza sou feliz, pois por
ef�meros momentos amei, por breves momentos vivi, pois a vida � amor, e amar �
viver. Ilus�o, sonho ou realidade, amei e foi feliz... Pobre daquele que nunca
nada, nem sonho, nem realidade, nem ilus�o, pois nunca chegou a viver, toda a
sua vida foi uma ilus�o... |
�Lord Raven Last modified: Setembro 02, 2001 |