|
AS
CHARQUEADAS
Surgimento e importância
econômica
_ O gado foi a base da economia gaúcha
durante um longo período da história do Rio
Grande. Introduzido pelos jesuítas, atraiu os tropeiros
que vinham de São Paulo e Minas para buscar gado e
levá-lo para aquelas províncias. Serviu, também,
de esteio para a fixação de habitantes, na medida
em que permitiu uma atividade econômica para os estancieiros
que aqui se fixaram.
_ Essa base seria ainda mais consolidada com o surgimento
das charqueadas. Elas iriam produzir o charque, um produto
que era a base da alimentação de escravos em
todo o Brasil. E, com essa produção, trariam
riqueza à região de Pelotas, que se tornou uma
espécie de "capital cultural" do Estado.
_ As charqueadas começaram a surgir na região
de Pelotas em torno de 1780. Anteriormente, o charque já
era produzido no sul do continente, mas de maneira artesanal
e em pequena escala. No entanto, uma série de secas
sucessivas no Nordeste, onde estava concentrada a maior produção
de charque do país, criou uma oportunidade para o produto
gaúcho. E o charque começou a ser produzido
em maior escala.
_ A partir desse momento, a produção
de charque se tornou o centro da vida econômica da região
de Pelotas. As charqueadas estavam situadas ao longo de rios
que facilitavam o transporte para o porto de Rio Grande de
onde o charque seguia para o Rio e outros portos brasileiros.
Com o dinheiro gerado por elas, Pelotas se transformou. Essa
renda permitiu que surgisse um grupo de famílias ricas
e que cultivavam hábitos sofisticados.
_ Em 1835, Wolfhang Harnish descrevia a cidade de Pelotas
como um local de opulência extrema: "...já
funcionam 35 charqueadas nos arredores da cidade... A riqueza
que trazem é fantástica... Esses milionários
pelotenses bem que poderiam ter vivido no Rio ou em Nice ou
ainda em Paris, poderiam ter concorrido com os fidalgos russos
no luxo e na dissipação de Monte Carlo".
_ A contraparte dessa opulência
eram as próprias charqueadas, onde os enormes grupos
de escravos eram submetidos a um trabalho exaustivo. E, como
estavam reunidos em grupos muito grandes, os senhores adotavam
a política de extrema intimidação para
mantê-los obedientes. As charqueadas eram verdadeiros
"estabelecimentos penitenciários", como bem
as descreveu o francês Nicolau Dreyf, no livro "Notícia
Descritiva da Provincia de São Pedro do Rio Grande
do Sul".
_ Parte desse tratamento brutal dado aos escravos se devia
ao interesse econômico: quanto mais produzissem, mais
seus donos lucravam. Outra parte, entretanto, vinha do medo:
com uma enorme população escrava, Pelotas era,
potencialmente, um foco de rebeliões. Por isso, ao
menor sinal de revolta eram tomadas providências drásticas.
Para que se tenha uma idéia do tamanho da população
escrava de Pelotas: existiam ali, em 1833, 5.169 escravos,
3.555 homens livres e 1.136 libertos.
_ Não obstante a violência e os métodos
relativamente primitivos usados pelas charqueadas da região
de Pelotas, elas foram capazes de sobreviver e gerar lucros
consideráveis até o final do escravismo. A partir
de então, enfrentaram dificuldades cada vez maiores
e terminaram por se extinguir.
|