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O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA E A LINGUAGEM DA PROPAGANDA: CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO TEXTUAL

 

Professora Luciana Vanessa Macedo Pereira

Professora Leci Soares de Moura e Dias

Universidade Federal de Viçosa

 

A propaganda é o texto presente em praticamente todos os meios de comunicação. Possui características inerentes como a capacidade de persuasão de um leitor, trabalhando com uma realidade que se pretende harmoniosa e sem defeitos. O foco deste estudo foi o uso da propaganda como material didático alternativo no ensino de Língua Portuguesa. Isto por que o aluno ao visualizar o amplo "mundo" contido na propaganda, descobre novas possibilidades de conhecimento, a partir de elementos que estão presentes em seu cotidiano, aumentando consideravelmente os recursos de uma sala de aula.

Entendo que a escolha da publicidade como material alternativo é pertinente e vai ao encontro da realidade social da maioria das escolas do país. É facilmente coletada (estão em todos os meios de comunicação); geralmente abrange uma linguagem simples (porém rica na relação significante-significado) e promove, na maioria das vezes, a interdisciplinaridade. O processo de ensino-aprendizagem pode ganhar então dinamismo, inovação e poder de comunicação inusitados.

 

A luta que os alunos enfrentam com relação à produção de textos escritos é muito especial. Em geral, eles não apresentam dificuldades em se expressar através da fala coloquial. Os problemas começam a surgir quando este aluno tem necessidade de se expressar formalmente e se agravam no momento de produzir um texto escrito. Na linguagem oral, o falante possui clareza do que fala e em que contexto está situado. O conhecimento da situação facilita a produção oral. O falante pode ainda recorrer a outros recursos, como gestos ou expressões faciais. Na linguagem escrita a falta destes elementos extratextuais precisa ser suprimida pelo texto, que se deve organizar de forma a garantir a sua inteligibilidade.

Escrever não é apenas traduzir a fala em sinais gráficos, já que a escrita tem normas próprias. Entretanto, a simples utilização de tais regras e de outros recursos da norma culta da língua não garante o sucesso de um texto escrito. É preciso que haja estímulo para a produção textual. E é dentro desse contexto que se insere a necessidade de se levar para a sala de aula recursos didáticos que sejam estimulantes à produção escrita.

As tecnologias de comunicação não mudam necessariamente a relação pedagógica e não substituem o professor, mas modificam algumas de suas funções. A tarefa de passar informações pode ser deixada aos livros, vídeos, bancos de dados e programas em CD. O professor se transforma no estimulador da curiosidade do aluno, por querer conhecer, por pesquisar, por buscar informações mais relevantes, por se relacionar com os alunos de uma forma humanizada, o que as máquinas não são capazes de fazer. Soma-se a isso o fato de o professor coordenar o processo ensino-aprendizagem, levando a que, coletivamente, alunos e professores questionem o conhecimento em construção, contextualizando-o em função da realidade dos alunos, estabelecendo uma contínua relação teoria-prática. Isto, por que o processo ensino-aprendizagem, em sala de aula, não se faz por si só. Faz-se necessária a presença do professor (FREIRE & SHOR, 1986), sendo que:

A comunicação publicitária é caracterizada como uma linguagem de ação sobre o mundo, dotada de intencionalidade e veiculadora de modelos vigentes. É justamente nesta configuração que podemos situar nossa concepção de leitura: um processo ativo sócio-político, que incita o leitor a ativar outros textos, outras leituras, outros mundos. É nesta concepção que ressalto o texto publicitário, já que entendemos este como uma expressão simbólica que oferece forma às classes ideológicas de nossa sensibilidade, através da manipulação sedutora e tentadora da idealização dos estilos de vida por uma linguagem poética e figurativa (GOMES, 1999)

 

Partindo-se da citação anterior, podemos perceber que a propaganda é o texto presente em praticamente todos os meios de comunicação (escrito, falado e televisado), possuindo características inerentes, como a capacidade de persuasão de um leitor e trabalhando com uma realidade que se pretende harmoniosa e sem defeitos.

Como professora de Língua Portuguesa, tive interesse em desenvolver uma proposta de trabalho que envolvesse um estudo sobre a possibilidade de a propaganda poder ser utilizada como um recurso auxiliar do ensino do professor. Esta propaganda seria aquela com a qual convivemos no dia-a-dia, em contato com jornais, revistas, folders, rádio, TV e outros veículos de comunicação. Sinto-me movida pelas diferenciadas leituras que a propaganda possibilita. Mas, será que os alunos se sentiriam motivados a participar das atividades desenvolvidas em sala de aula, nas quais textos publicitários fossem utilizados? Estas inquietações vão ao encontro de FARACO (1984) quando diz que, dentre as sete pragas do ensino de Português por ele elencadas, encontram-se os "textos chatos", aqueles desligados da realidade do aluno, distanciados de suas necessidades e interesses.

Como não poderia deixar de ser, os alunos não tomam gosto pela leitura, não se motivando pela construção do conhecimento e, consequentemente dele não participam.

Minha inquietação, aliada à curiosidade já existente, acentuou-se a partir de uma pesquisa por mim desenvolvida de Iniciação Científica, denominada "Levantamento de predileções temáticas e procedimentos pedagógicos de professores de português no estudo de textos em escolas de Viçosa e municípios vizinhos", quando pude obter dados relevantes no que se refere às metodologias de ensino da língua desenvolvidas em sala de aula.

Quando da realização da pesquisa, procurei resposta para algumas de minhas muitas interrogações, que se referiam às preferências textuais de professores e alunos no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa, bem como o nível de dificuldade na obtenção de materiais didáticos. A que práticas está o professor habituado? Que temas lhe despertam mais interesse? Com que tipo de texto está ele habituado a trabalhar? De que recursos dispõe a escola? Quais os métodos utilizados pelo professor na escolha de material didático? Os dados obtidos naquela pesquisa permitiram-me a constatação de que o texto publicitário e letras de música popular brasileira pouco, ou quase nunca, são utilizados em sala de aula, o que nos levou à criação de um "Banco de Letras e Registros Sonoros da Música Popular Brasileira para Utilização em Escolas (PEREIRA et al, 1996), bem como de um "Banco de Letras e Registros Sonoros de Música Popular Brasileira em práticas pedagógicas dinâmicas a serem utilizadas na aprendizagem da Língua Portuguesa (REZENDE et al., 1997).

Ainda no que se refere aos resultados obtidos, ficou evidenciado que os professores têm consciência da importância de métodos diferenciados no desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem mas, contraditoriamente, não se utilizam de tais métodos.

Embora saibam do quanto a aprendizagem, a receptividade e o estímulo aumentariam por parte do alunado, caso estes se deparassem com o uso de métodos alternativos — onde a propaganda se inclui —, alguns professores ainda resistem aos novos métodos de ensino, mas muitos profissionais já saíram do "querer" para o "fazer".

 

Com base em estudos já citados anteriormente, entendo que a escolha da propaganda como material alternativo é pertinente e vai ao encontro da realidade social da maioria das escolas do país. É facilmente coletada — estão em todos os meios de comunicação; geralmente abrange uma linguagem simples (porém rica na relação significante-significado) e promove, na maioria das vezes, a interdisciplinaridade. Neste meu entendimento, dialogo com LIMA (1982:45), para quem:

Os recursos da propaganda valem pelo poder que tem de garantir a atenção (engajamento) mesmo dos que não estão motivados, como acontece com os recursos da televisão. A televisão não ilumina a atividade didática organizadora, pelo menos até que se descubra um processo de feedback imediato entre o espectador e a estação emissora. A propaganda (como os demais recursos audiovisuais) tem por objetivo produzir o impacto engajador e motivador, ficando ao processo didático o trabalho de organização mental.

Como se percebe, o processo de ensino-aprendizagem pode, então, ganhar dinamismo, inovação e poder de comunicação inusitados. Entretanto, isto apenas ocorrerá com qualidade se o educador estiver afinado com o seu tempo, o que significa respeito à quase obrigação dos educadores em geral de conhecer e de se apropriar das novas tecnologias de apoio pedagógico. A solução para essa questão está na possibilidade do uso dos novos métodos de comunicação.

O mundo tem mudado muito nas últimas décadas, mas a educação continua essencialmente inalterada: continuamos a confundir um amontoado de fatos com o conhecimento: muitos professores insistem em permanecer na posição frontal diante de suas classes, transmitindo seus poucos conhecimentos. Como retirar a escola desta posição estática e ajudá-la a se transformar em um ambiente "inteligente", criado para a aprendizagem , um lugar rico em recursos, um lugar onde os alunos possam construir os seus conhecimentos segundo os estilos individuais de aprendizagem que caracterizam cada um; com o uso cada vez menor do livro texto e do quadro – negro e o aumento do uso de novas tecnologias de comunicação? Na tentativa de resolver muitos destes problemas, muitos educadores têm enfatizado o uso dos recursos didáticos alternativos (como a propaganda), como uma das possibilidades para auxiliar os professores a superarem esses obstáculos na sua prática pedagógica. Infelizmente, para a maioria das escolas, cultura é somente livro, não havendo espaço para os meios de comunicação de massa: rádio, cinema, jornal e televisão.

Em uma pesquisa por mim desenvolvida de Iniciação Científica, foram constatados diversos aspectos que vêm ao encontro do interesse da presente pesquisa. A partir dos dados coletados, através de questionários, pude perceber, entre outras coisas, que a maioria dos professores realiza seu trabalho apenas com livros didáticos, embasados em métodos tradicionais, pautando-se na gramática normativa, exacerbando a utilização de textos teóricos geralmente desvinculados da realidade do aluno, sem que haja enriquecimento das aulas com materiais alternativos de ensino, o que leva a resultados insatisfatórios. Também pude perceber a boa aceitação de temas ligados à realidade do alunado, onde encontra-se presente a propaganda como uma temática com mais votos no que se refere às preferências de professores e alunos.

Os recursos da propaganda podem ainda, contribuir para criar um espírito crítico e dar um certo apuro estético para os que assistem a ela. É preciso orientar filhos e alunos, conversando, trocando idéias, ajudando a selecionar os melhores programas para a complementação da educação, oferecida pela família e pela escola. Diante destes pressupostos o resgate da imaginação criadora é fundamental. O ideal seria a escola abrir suas portas para a linguagem da TV, linguagem da imagem e da propaganda e não só da escrita, trabalhando com os alunos programas de televisão e publicidades como recurso didático.

Se analisarmos a situação atual da prática educativa em nossas escolas identificaremos problemas como: a grande ênfase dada a memorização, pouca preocupação com o desenvolvimento de habilidades para reflexão crítica e auto-crítica dos conhecimento que aprende; as ações ainda são centradas nos professores que determinam o que e como deve ser aprendido e a separação entre educação e instrução. A solução para tais problemas está no aprofundamento de como os educandos aprendem, o que lhes desperta a motivação e como o processo de ensinar pode conduzir à aprendizagem.

Ciente da importância do estudo gramatical sistematizado, enquanto "instrumento" para aquisição na variedade lingüística considerada "culta" ou "padrão", a pesquisa alerta sobre a urgente necessidade de uma postura pedagógica que defina ou reveja os objetivos essenciais do ensino da língua portuguesa , tanto no Ensino Fundamental quanto no Ensino Médio. A resposta dos alunos nos sinalizará se os objetivos propostos nas atividades estão sendo alcançados, permitindo-nos optar ou não pela propaganda enquanto material alternativo para a produção de texto.

Para encaminhar nesse sentido, é preciso desenvolver o debate, a investigação e o respeito à posições divergentes.

A partir dos dados coletados e analisados, do embasamento teórico adquirido em leituras e em minha experiência como professora, pude constatar a eficácia do uso da propaganda como um recurso didático alternativo, valioso no tocante ao estímulo no processo de produção textual.

Através das observações e análises dos dados coletados na pesquisa, pude comprovar que a presença da propaganda em sala de aula resultou em um maior interesse por parte dos alunos em participar das aulas, fazer perguntas, produzir textos e, principalmente, na melhoria da produção textual na totalidade dos casos analisados.

A estrutura rígida das escolas dificulta essa visão, uma vez que insiste na organização seriada, determinada por tempos bem definidos e subdividindo as disciplinas em conteúdos escolares, prestigiando o caráter cumulativo do processo. Nesta ótica, o processo avaliativo não está a serviço do processo ensino-aprendizagem mas de um fator externo proveniente das relações existente na sociedade.

O ensino da Língua Portuguesa, no tocante à produção de textos, apresenta dificuldades e a propaganda é um dos meios eficientes de despertar a curiosidade do aluno e fazer com que o mesmo produza textos coerentes e criativos. Também podemos considerar que a propaganda vai ao encontro das expectativas dos corpos docente e discente, é de interesse dos colégios por ser um material que não necessita de investimentos financeiros e de ser facilmente coletado.

A propaganda também é um instrumento seguro de ligação entre um tema-título e o conhecimento de um mundo do aluno. A carga explícita de informação leva o aluno a dialogar com outros textos já do conhecimento dele e o produto final, que é a redação, fica mais bem elaborada.

Sendo assim, concluímos o presente trabalho com indícios promissores à utilização da propaganda em sala de aula, desde a mais tenra idade até o nível superior.

No decorrer das observações em sala de aula e da pesquisa, entre outras coisas, comprovei a eficácia da presença da propaganda entre os alunos não somente com relação a resultados escritos, mas também no tocante ao interesse manifestado pelo corpo discente através de palavras, gestos, sorrisos e comportamentos onde ficavam evidentes o estímulo e o gosto pelas aulas.

Dessa forma, os resultados levaram a crer que a propaganda é um dos recursos com os quais o professor pode trabalhar de forma a que o aluno produza textos de qualidade.

Os resultados desta pesquisa podem se constituir num referencial teórico para todos aqueles professores que buscam alternativas metodológicas para se desenvolver o trabalho de produção de textos em sala de aula.

 

 


 

 

 

 

 

 

Resumo:

 

O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA E A LINGUAGEM DA PROPAGANDA: CAMINHOS PARA A PRODUÇÃO TEXTUAL

 

Professora Luciana Vanessa Macedo Pereira

Professora Leci Soares de Moura e Dias

Universidade Federal de Viçosa

 

A propaganda é o texto presente em praticamente todos os meios de comunicação. Possui características inerentes como a capacidade de persuasão de um leitor, trabalhando com uma realidade que se pretende harmoniosa e sem defeitos. O foco deste estudo foi o uso da propaganda como material didático alternativo no ensino de Língua Portuguesa. Isto por que o aluno ao visualizar o amplo "mundo" contido na propaganda, descobre novas possibilidades de conhecimento, a partir de elementos que estão presentes em seu cotidiano, aumentando consideravelmente os recursos de uma sala de aula.

 

 

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