A PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO ELEMENTO DA FORMAÇÃO CONTINUADA DE
PROFESSORES/AS NA ESCOLA
Geralda Aparecida de Carvalho Pena
Introdução
As discussões sobre a formação de professores/as vem se
ampliando nos últimos anos, considerando as mudanças sociais, culturais
e tecnológicas atuais, que vêm demandar dos/as professores/as novas
formas de abordar o conhecimento na escola. Em um levantamento feito a
partir das dissertações e teses produzidas nos Programas de
Pós-graduação em Educação do Brasil, na década de 90, sobre o tema da
formação docente (período de 90-95), ANDRÉ (1998) mostra que o número de
trabalhos que focalizam essa temática vem crescendo ao longo dos anos em
nosso país. Dentre estas pesquisas, estão aquelas que tem como enfoque a
formação continuada de professores/as, que vem sendo estudada
principalmente a partir de duas vertentes: a formação que abrange
diferentes ações promovidas por diferentes instituições, como
Universidades e Secretarias de Educação e a formação centrada na
escola.
Nos últimos anos tem sido bastante enfatizada a idéia
de que a escola é o locus privilegiado da formação dos/as
professores/as (KRAMER, 1989; NÓVOA, 1992; PERRENOUD, 1993; CANDAU,
1997; MEDIANO, 1997, dentre outros). Esta afirmação se baseia no fato de
que na escola pode-se considerar melhor a sua realidade e problematizar
diferentes aspectos presentes na prática diária dos/as professores/as,
que podem eleger os temas que julgam mais relevantes para serem
discutidos. Existem, ainda, estudos que mostram que a própria prática
pedagógica e a reflexão sobre ela como elemento importante do processo
de formação continuada de cada professor/a. Além disso, pelo fato de
todas os/as professores/as passarem pelos mesmos processos de formação,
discutindo as mesmas questões, cria-se um clima mais propício à
implementação de novas práticas pedagógicas. Para que isso ocorra,
entretanto, é necessário que haja um comprometimento da direção da
escola na coordenação de tal processo, acompanhando e apoiando os/as
professores/as nos momentos necessários.
NÓVOA (1992), citando MCBRIDGE, ressalta que:
"Para a formação de professores, o desafio
consiste em conceber a escola como um ambiente educativo, onde
trabalhar e formar não sejam atividades distintas. A formação
deve ser encarada como um processo permanente, integrado no
dia-a-dia dos professores e das escolas, e não como uma função
que intervém à margem dos projetos profissionais e
organizacionais." (p. 29)
De acordo com CANDAU (1997), a escola é o local
propício à construção de conhecimentos pelos/as professores/as:
"Na experiência dos professores, o dia-a-dia
na escola é um locus de formação. Nesse cotidiano, ele
aprende, desaprende, reestrutura o aprendizado, faz
descobertas e portanto é nesse locus que ele vai
aprimorando a sua formação." (p. 57).
Proponho-me a discutir, neste trabalho, aspectos
relativos à formação continuada de professores/as, direcionando meu
olhar para o desenvolvimento do trabalho do/a professora no cotidiano
escolar, ou seja, pretendo analisar o papel da própria prática
pedagógica como elemento da formação continuada de professores. Essas
análises são desenvolvidas tendo por base a pesquisa de mestrado
intitulada "A formação continuada de professoras e suas relações com a
prática docente" (PENA, 1999), realizada com professoras de três escolas
públicas de uma cidade do interior de Minas Gerais. Esta pesquisa teve
como objetivo conhecer a forma como professores/as analisam seu próprio
processo de formação no decorrer de sua trajetória profissional e a
relação desta formação com sua prática pedagógica. Como instrumentos de
coleta de dados foram utilizadas entrevistas com oito professoras das
séries iniciais de três escolas de Ensino Fundamental, com as diretoras
e supervisoras das escolas em que atuam, bem como com uma representante
da Secretaria Municipal de Educação e uma representante da
Superintendência Regional de Ensino do município. Foram ainda coletados
dados em documentos destes órgãos sobre as atividades de formação
continuada desenvolvidas nos últimos anos.
Neste trabalho, após discutir características da
profissão e da carreira docente, analiso as percepções das professoras
sobre a importância da prática pedagógica e da reflexão sobre ela no seu
processo de formação continuada. Além disso, abordo o papel do contexto
escolar nesse processo e apresento algumas reflexões sobre as
possibilidades e limites do trabalho cotidiano na escola como elemento
formador do/a professor/a.
Características da profissão e da carreira
docente
Ao se pensar na formação de professores/as, torna-se
relevante analisar as condições efetivas da prática docente na escola e
os aspectos que caracterizam a profissão docente, dentre estes a sua
natureza complexa, a inserção social do docente e as diferentes fases
identificadas ao longo da carreira dos/as professores/as.
A complexidade da profissão docente é ressaltada por
PERRENOUD (1993). Para este autor, o trabalho
docente pressupõe uma atuação que não se restringe às tarefas inerentes
ao desempenho do/a professor/a dentro da sala de aula. Uma diversidade
de elementos estão presentes no dia-a-dia dos/as professores/as, como
por exemplo, o planejamento do trabalho a ser realizado, o
relacionamento com os alunos, com os colegas e com os pais. Segundo este
autor, na prática pedagógica atuam constantemente diversas contradições
e conflitos com os quais os/as professores/as se defrontam e as inúmeras
pequenas tarefas que lhe são atribuídas demandam uma série de decisões a
todo momento, pois "a dispersão caracteriza numerosos momentos da
prática pedagógica" (p. 57).
De acordo com GATTI (1997),
"ensinar é uma prática complexa, ainda mais nas condições de
desigualdade social que o profissional enfrenta face a seus alunos e das
diferentes condições de escolarização com que tem que lidar no sistema"
(p. 41). O trabalho dos/as professores/as é, ainda, limitado pelas
condições concretas da instituição escolar em que atuam, pelos programas
de ensino e por outros elementos que acabam reduzindo sua autonomia.
Aliada à complexidade da profissão docente, observa-se
também a desvalorização social dos/as professores/as, que está
relacionada com a feminilização do magistério e com a proletarização da
categoria docente. A degradação das condições de trabalho dos/as
professores/as, os baixos salários e o pouco prestígio da profissão às
vezes desestimulam a permanência no magistério e contribuem para
dificultar o investimento no aperfeiçoamento profissional, visto que
muitos/as professores/as necessitam trabalhar em duas ou até três
escolas para aumentar sua renda mensal e atender às suas necessidades de
sobrevivência.
Outro aspecto que se destaca na análise desta profissão
é a configuração da carreira docente, que segundo estudos de HUBERMAN (1992), caracteriza-se por diferentes fases que
constituem o ciclo de vida profissional dos/as professores/as. Estas
etapas (a entrada na carreira, a estabilização, a diversificação ou
questionamento, a serenidade ou conservantismo, bem como o
desinvestimento, que caracteriza o final da carreira) devem ser
compreendidas numa relação dialética e não de forma linear e estática,
pois dada a complexidade deste ciclo profissional, o mesmo pode sofrer
interferências de uma série de variáveis.
Todas estas características devem ser consideradas
quando analisamos a escola como local de formação do/a professor/a e o
papel da prática docente nesse contexto.
A prática pedagógica como elemento da formação
continuada
A aprendizagem do docente no seu contexto de trabalho,
durante sua atividade profissional, vem ganhando destaque na literatura
atual sobre a formação de professores/as. Uma das idéias que vem sendo
ressaltada é a de que a prática pedagógica dos/as professores/as
possibilita e demanda a eles/as a construção de conhecimentos práticos
em sua atuação diária na escola, durante a qual elaboram saberes a
partir dos desafios colocados pelo ensino enquanto prática social.
Para TARDIF, LESSARD e LAHALE (1991), os saberes
práticos, também chamados de saberes da experiência, constituem-se
em:
"(...) um conjunto de saberes atualizados,
adquiridos e requeridos no quadro da prática da profissão
docente que não provém da formação ou dos currículos. (...)
Eles formam um conjunto de representações a partir do qual os
professores interpretam, compreendem e orientam sua profissão
e sua prática cotidiana em todas as suas dimensões. Eles
constituem, poder-se-ia dizer, a cultura docente em ação."
(p.127)
Sendo estes saberes resultantes da própria prática
pedagógica, a mesma configura-se então como um importante elemento da
formação continuada do/a professor/a. Isto porque o trabalho da
professora no cotidiano da escola e da sala de aula apresenta desafios
constantes e possibilita a construção de saberes que vão sendo
detonadores de mudanças de atitudes tanto em relação aos alunos quanto à
própria maneira de organizar e conduzir o trabalho pedagógico.
Estudos recentes sobre a prática docente salientam seu
caráter complexo e sua importância na formação dos/as professores/as.
Segundo CALDEIRA (1995), a prática docente deve ser
compreendida como prática histórica e social, influenciada por aspectos
amplos e globalizantes como os processos culturais, econômicos, sociais
e políticos. Nesses processos, os/as professores/as enquanto sujeitos
históricos e sociais, constróem a sua prática ao longo de sua história
pessoal e profissional. Dessa forma, constata-se a importância dos
sujeitos sociais na constituição dessa prática, já que pela sua
complexidade, ela não pode ser vista apenas como uma atividade que
envolve a transposição direta de conhecimentos adquiridos nos cursos de
formação. Tendo por base o trabalho de CALDEIRA
(1993), FORTES (1996) afirma que:
"a prática é um processo de construção
permanente no qual se incorporam diversos saberes, valores e
crenças. Nesse processo inúmeros fatores institucionais e
pessoais exercem influência. Assim, a construção da prática
possui uma dimensão individual, determinada pela história de
vida de cada docente e uma dimensão social determinada pelo
sistema educativo, bem como pelo contexto social mais amplo."
(p. 20)
Nos depoimentos das professoras, podemos perceber uma
série de situações que foram ocorrendo em sua prática que propiciaram a
construção de conhecimentos resultantes das experiências que foram
vivenciando durante o desenvolvimento de seu trabalho em diferentes
escolas, com cada turma em que atuaram. SANTOS
(1998) afirma que a atividade docente envolve diferentes tipos de
saberes: os saberes das disciplinas, os saberes pedagógicos e os saberes
práticos ou saberes da experiência. Os saberes das disciplinas são
aqueles adquiridos nos cursos de formação e que versam sobre as áreas
específicas de conhecimento, como Português, Matemática, História, etc.
Os saberes pedagógicos são os que possibilitam aos/às professores/as
conhecer as teorias sobre a aprendizagem, sobre o currículo e o processo
de ensino e são originários do campo da Psicologia, da Didática e do
Currículo. Já os conhecimentos da experiência se referem aos
conhecimentos e habilidades específicas que os/as professores/as vão
adquirindo no seu trabalho diário. Segundo a autora, o saber da
experiência:
"é um saber que é adquirido no fazer, podendo
ser caracterizado como um conhecimento tácito que leva as
pessoas a dar respostas a situações da vida profissional de
forma quase automática, sem conseguir, muitas vezes, explicar
este saber-fazer." (p. 126)
No caso das professoras entrevistadas, esse tipo de
saber se relaciona na maioria das vezes à vivência de diferentes
situações no trabalho diário, que, apresentando novos desafios e
colocando problemas, solicitavam atitudes que se baseavam em sua
experiência prática. Esse saber, construído paulatinamente no exercício
de sua atividade docente, lhes proporcionava segurança para definir
critérios de atuação em cada situação em que se via frente à necessidade
de tomar decisões em relação à forma de ensinar determinados alunos, à
seleção de conteúdos para as aulas, à organização da turma para os
trabalhos diários, dentre outras.
Os conhecimentos da experiência, de acordo com as
professoras entrevistadas, possibilitam também entender melhor os
alunos, saber lidar com as diferenças nos ritmos de aprendizagem e com
as questões de disciplina na sala de aula. Os depoimentos a seguir
mostram a forma como as professoras analisam esse tipo de conhecimento,
construído através da experiência na prática pedagógica.
"Acho que a experiência ajuda a selecionar o
que deu certo, você vai descartando o que não deu certo... e
adquirindo outras maneiras de trabalhar..." (Ana)
"A experiência contribui porque cada ano você
pega uma turma diferente... você vai ganhando experiência e
mais domínio. Eu acho que a experiência me ajudou a saber como
lidar com o aluno, como organizar a sala de aula. Uma coisa
que em um ano não deu certo, no outro a gente já procura fazer
de outra forma, tenta não repetir os mesmos erros."
(Eliane)
Este conhecimento da experiência, que se manifesta na
prática de forma diferenciada em cada situação, conforme vimos nos
relatos das professoras, são reunidos por SANTOS
(1998) em dois grupos: no primeiro deles estão as competências
relacionadas à organização da classe e ao desenvolvimento do trabalho de
modo adequado, o que pode ser associado ao manejo de classe. No segundo
grupo situam-se os saberes relacionados ao conhecimento das normas da
instituição escolar e ao conhecimento das características dos alunos,
que oferecem subsídios para um adequado relacionamento com os alunos.
Esses conhecimentos do segundo grupo é que, segundo a autora,
possibilitam aos/às professores/as a definição de critérios para
reelaborar os saberes das disciplinas e os saberes pedagógicos, ou seja,
aqueles conhecimentos adquiridos nos cursos de formação. Nesse sentido,
os saberes da experiência, construídos na prática diária, auxiliam os/as
professores/as na tarefa de contextualizar os outros tipos de
conhecimentos à realidade de sua escola e de seus alunos. Ainda segundo
a autora, além desses saberes, outros fatores concorrem para subsidiar
os/as professores/as na condução de sua prática pedagógica: são também
seus valores, suas crenças, concepções de ensino, princípios morais e
políticos que lhe servem de referência para tomar decisões no campo do
ensino.
De acordo com TARDIF, LESSARD e
LAHAYE (1991), a prática diária dos/as professores/as possibilita
não apenas o desenvolvimento de aprendizagens oriundas da experiência,
ela favorece também uma "retradução" dos outros saberes em função das
condições da experiência.
"O(a)s professore(a)s não rejeitam em sua
totalidade outros saberes; pelo contrário, ele(a)s os
incorporam à sua prática porém retraduzindo-os em categorias
do próprio discurso. Nesse sentido, a prática aparece como um
processo de aprendizagem através do qual o(a)s professore(a)s
retraduzem sua formação e adaptam à profissão, eliminando o
que lhes parece inutilmente abstrato em relação com a
realidade vivida, e conservando o que pode lhes servir de uma
maneira ou de outra."(p. 231)
Nesse sentido, para estes autores, a experiência
funciona como um meio de avaliar e julgar os outros conhecimentos
adquiridos fora da prática profissional.
"Ela (a experiência) filtra e seleciona os
outros saberes; e por isso mesmo ela permite a(ao)s
professore(a)s retomar seus saberes, julgá-los e avaliá-los, e
então, objetivar um saber formado de todos os saberes
retraduzidos e submetidos ao processo de validação constituído
na prática cotidiana." (p. 231)
Como foi visto, a prática pedagógica dos/as
professores/as lhes possibilita uma série de aprendizagens e, nesse
sentido, pode ser considerada um elemento importante de sua formação
continuada. Conforme colocado anteriormente, é através dos conhecimentos
da experiência em confronto com os conhecimentos adquiridos em outras
instâncias que os/as professores/as constróem um conhecimento próprio.
Dessa forma, a prática pedagógica pode contribuir para que os/as
professores/as construam critérios de análise para a incorporação de
novos conhecimentos ao seu trabalho pedagógico, decorrentes das
atividades de formação que vivencia.
Para TARDIF, LESSARD e LAHAYE (1991), a partir dos
saberes da experiência os/as professores/as podem tentar transformar as
"relações de exterioridade com os saberes em relação de interioridade
com sua prática" (p. 232). Nesse sentido, argumentam que os/as
professores/as, ao submeter este tipo de conhecimento para outros grupos
produtores de saberes poderiam atuar no sentido de construir um novo
profissionalismo docente.
O contexto escolar e a prática docente
Como foi visto anteriormente, a escola enquanto local
onde a prática se concretiza, constitui-se em um espaço fundamental para
a reflexão coletiva sobre o trabalho dos/as professores/as e
conseqüentemente, para a formação continuada desses profissionais. A
importância da escola como um espaço de formação, entretanto, enfrenta
limitações que são decorrentes de sua própria organização e de seu
funcionamento, muitas vezes marcado por determinadas normas que lhe
caracterizam como uma instituição.
Em seu estudo intitulado "A (de)formação da professora
alfabetizadora", BAPTISTA (1996), afirma que existem
certos invariantes estruturais presentes na organização das instituições
escolares que caracterizam o que foi chamado por ela de ortodoxia da
escola. Segundo a autora, o termo ortodoxia ressalta a idéia de
resistência à mudança, ou seja, os invariantes estruturais cumprem a
função de impedir modificações na estrutura escolar e acabam portanto
acentuando e solidificando a ortodoxia da escola.
A autora argumenta que pelo fato de ser uma
instituição, a escola se organiza para cumprir um determinado objetivo,
que é transmitir o saber escolar. A transmissão desse saber
escolar determina o tempo escolar, período no qual este saber
deve ser ensinado e sua aprendizagem verificada através da avaliação
escolar. A partir desta avaliação escolar é que são definidas a
organização e seqüência dos demais conteúdos a serem ensinados e os
níveis de aprendizagem que definirão a organização espacial da escola.
Essas categorias - saber escolar, tempo escolar e avaliação escolar - é
que, segundo a autora, constituem a ortodoxia da escola, que pode
dificultar ou mesmo impedir certas mudanças na prática do/a professor/a.
Nesse sentido, a autora discute a formação/deformação da professora.
Para ela, a escola ao invés de constituir-se em um espaço de formação
para os/as professores/as pode contribuir para um processo de
deformação. A autora argumenta que o termo deformação relaciona-se
a:
"um processo de afastamento da competência
adquirida na trajetória profissional da alfabetizadora
ocasionado pelos conflitos que vivencia ao tentar por em
prática uma ação educativa contrária àquela hegemonicamente
assumida pela escola." ( p. 224)
Essa contradição entre formação/deformação da
professora na instituição escolar parece estar diretamente relacionada à
forma de organização de cada escola. De acordo com NÓVOA (1992) é na instituição escolar que são tomadas
várias decisões sobre diferentes questões educativas. Sua forma de
organização e as relações de poder aí existentes bem como os diversos
elementos que caracterizam o cotidiano escolar certamente produzem
implicações no trabalho diário dos/as professores/as.
A influência da cultura da escola na prática dos/as
professores/as pode ser percebida nos depoimentos das professoras Eliane
e Laura. A primeira, ao ingressar na escola B sentiu-se indecisa sobre
as formas que poderia adotar para realizar seu trabalho e por isso optou
por agir em conformidade com as práticas já vigentes na escola. A
professora Laura também procura agir de acordo com o ambiente
escolar:
"Quando eu comecei a dar aulas, como a escola
era mais tradicional e era o primeiro ano que eu estava
assumindo uma classe, então eu fui seguindo mais ou menos o
que era usual na escola. A partir do segundo ano de trabalho
eu já tive mais autonomia, mais liberdade... então eu pude
fazer algumas mudanças." (Eliane)
"Quando você é nova na escola, você pega
muito o ritmo da escola...você tem medo de fazer suas coisas
próprias (...) A nossa escola é tradicional também, então eu
fico assim, mais ou menos tradicional misturando com tudo."
(Laura)
Segundo as professoras, a tentativa de romper com
determinadas práticas vigentes na escola esbarra em limitações impostas
pelas regulações institucionais. De acordo com SACRISTÁN (1992), a
atuação profissional dos/as professores/as pode se caracterizar tanto
pela adaptação às condições e requisitos impostos pelo contexto quanto
por uma posição crítica pautada pela capacidade de estabelecer
estratégias inteligentes de intervenção neste contexto. No caso das
professoras entrevistadas, o que pode ser observado é que seu trabalho é
conduzido ora pela adaptação às práticas correntes na escola, ora por
tentativas de propor alterações neste contexto.
Considerações finais
A prática pedagógica - com seus desafios e sua demanda
por novas formas de atuação, com a singularidade que lhe é própria e a
necessidade de múltiplas "micro-decisões" a todo momento - proporciona
às professoras a experiência profissional que lhes assegura maior
tranqüilidade e segurança para lidar com o trabalho diário. O
desenvolvimento da prática pedagógica parece representar uma esfera que
abrange as demais instâncias de formação, funcionando como referencial
para as professoras avaliarem as diferentes ações de formação das quais
participam em sua vida profissional. Dessa forma, a própria prática
viabiliza a construção de saberes que funcionam como parâmetro de
análise para a incorporação de novos conhecimentos ao trabalho
docente.
Entretanto, quando consideramos as características da
profissão docente e a influência dos contextos escolares no trabalho
diário dos/as professores/as, devemos ter clareza de que a prática
pedagógica pode ser considerada como elemento importante no processo de
formação continuada dos/as professores/as, mas pode também mostrar-se
com elemento deformador, já que a autonomia dos/as professores/as existe
dentro de regras definidas que os força à acomodações às situações reais
concretas ou à intervenções que busquem produzir alterações no seu
contexto de trabalho.
Bibliografia
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Educação n.º 4. Porto Alegre, RS. 1991. p. 215-233.
Resumo;
A PRÁTICA PEDAGÓGICA COMO ELEMENTO DA FORMAÇÃO
CONTINUADA DE PROFESSORES/AS NA ESCOLA
Geralda Aparecida de Carvalho Pena
Este trabalho tem como objetivo discutir aspectos
relativos à formação continuada de professores/as, enfocando o
desenvolvimento do trabalho do/a professor/a no cotidiano escolar, ou
seja, pretende-se analisar o papel da própria prática pedagógica como
elemento da formação continuada de professores. Essas análises são
desenvolvidas tendo por base a pesquisa de mestrado intitulada "A
formação continuada de professoras e suas relações com a prática
docente", realizada com professoras de três escolas públicas de uma
cidade do interior de Minas Gerais. Sendo assim, após discutir
características da profissão e da carreira docente, analiso as
percepções das professoras sobre a importância da prática pedagógica e
da reflexão sobre ela no seu processo de formação continuada,
abordando ainda o papel do contexto escolar nesse
processo.