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CATEGORIA: COMUNICAÇÃO

Claudionara Pompermayer

Bolsista do CNPq - PIBIC. Universidade Federal de Viçosa.

 

Angela Maria de Carvalho Maffia

Orientadora e Professora do Departamento de Educação da Universidade Federal de Viçosa

 

 

O Impacto do PASES (Programa de Avaliação Seriada para Ingresso no Ensino Superior) no Ensino Médio em uma Escola Pública e outra Particular do Município de Viçosa - MG

 

INTRODUÇÃO:

Um dos problemas da educação brasileira diz respeito ao vestibular, inicialmente porque o modelo adotado pouco favorece os candidatos provenientes das escolas públicas, havendo assim seletividade social. Outra questão diz respeito à sua influência negativa no ensino médio, que direciona uma prática docente caracterizada por planejamentos centralizados em conteúdos prescritos por estes exames, ou seja, por aulas desenvolvidas quase que exclusivamente através de exposições do professor, resoluções de exercícios e estímulo a memorização. Em relação ao ensino de ciências; Química, Física, Matemática e Biologia, KRASILCHIK, 1987 aponta que estas disciplinas têm sido ensinadas como uma coleção de fatos, descrição de fenômenos, enunciados de teorias a decorar. Fazendo uma análise dos principais problemas de química no Ensino Médio, BELTRAM e CISCATO, 1991 apontam como um fator complicador para esse ensino o seu atrelamento ao vestibular. Segundo os autores,

"a pressão para ‘dar a matéria’ e ‘terminar’ o programa, tem resultado na superficialidade da análise dos fenômenos, na má construção dos conceitos e na ausência do relacionamento do assunto com o saber todo da química. Nessas condições este estudo desliza para o seu grau mais baixo e mais inútil: a simples memorização de conceitos e de ‘regrinhas’ para resolver problemas e testes visando passar no vestibular". (p.13)

Todavia o que se propõe hoje é educar os alunos para entender melhor o mundo em que vivem, criando nestes um pensamento democrático, humanístico e científico. Não comportando aí o ensino tradicional e propedêutico como é ministrado em muitas escolas. Como afirma ÁLVARES, 1992 a proposta do ensino das ciências hoje é atuar diretamente na construção e no exercício da cidadania.

Em vista de tais problemas, algumas Universidades como Santa Maria, Brasília, Uberlândia, Viçosa e outras, implantaram uma proposta alternativa de vestibular que consiste basicamente em avaliar ao longo de três anos, o desempenho dos alunos do Ensino Médio. Em Viçosa, implantou-se o PASES (Programa de Avaliação Seriada para Ingresso no Ensino Superior) para o triênio 1998-2000 que se propõe ao final da 3ª avaliação, classificar os alunos para ocupar 30% das vagas oferecidas para cada curso, da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Esta avaliação distribuirá 100 pontos, sendo 20 deles na primeira série, 30 na segunda e 50 na terceira. Nesta última série as provas serão as mesmas do vestibular convencional, porém, será considerada a maior nota proporcionando aos candidatos duas oportunidades de avaliação.

Em estudo recente, MAFFIA e outros, 1999 avaliaram o impacto do PASES em uma escola pública de Viçosa, e seus desdobramentos no ensino de Biologia, na prática do professor, e na organização curricular deste estabelecimento. Dentre outros, tal estudo evidenciou que o PASES pode estar antecipando a seletividade dos alunos do já excludente sistema de ensino, uma vez que constatou baixo número de inscrições ao PASES. Os mesmos autores, também verificaram que devido as alterações curriculares, este programa gerou desorientação no professor que não sabe qual programa seguir; da Secretaria do Estado de Minas Gerais, àquele da escola ou PASES.

 

OBJETIVO:

Portanto, este estudo teve por objetivo conhecer, ampliar, aprofundar e comparar o impacto do PASES em uma escola pública e outra particular de Viçosa-MG. Especificamente procurou conhecer quem e quantos são os estudantes que se submeteriam ao PASES no ano de 1999, e verificar seus desdobramentos no ensino das disciplinas científicas; matemática, física, química e biologia.

 

METODOLOGIA:

Em função dos objetivos apresentados, tal estudo assumiu um caráter analítico descritivo, e foi desenvolvido sob os parâmetros de uma metodologia qualitativa de pesquisa. Segundo Bogdan e Biklen, citados por LÜDKE e ANDRÉ, 1986

"esse tipo de pesquisa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes".

Conforme ANDRÉ, 1995 uma de suas características é a condução de um trabalho de campo onde o pesquisador aproxima-se de pessoas, situações, locais, eventos, mantendo com eles um contato direto e prolongado. Não há pretensão de mudar o ambiente, introduzindo modificações que serão experimentalmente controladas como na pesquisa experimental. Os eventos, as pessoas, as situações são observados em sua manifestação natural, o que faz com que tal pesquisa seja também conhecida como naturalística ou naturalista.

Para a coleta de dados foram utilizadas entrevistas, questionários e análise de documentos. Inicialmente entrevistamos os diretores das escolas, para conhecer a demanda de estudantes da 1ª e 2ª séries que se submeteriam ao PASES; em seguida, os professores de química, física, matemática e biologia para levantar suas percepções em relação à influência deste programa em sala de aula e por último os diretores dos cursos pagos que preparam para o PASES, objetivando verificar o número de estudantes inscritos, preços e qual a metodologia utilizada nas aulas das disciplinas científicas. Para traçar o perfil sócio - econômico dos alunos, aplicamos um questionário. Na análise de documentos, comparamos os programas da Secretaria do Estado de Minas Gerais, ao programa anteriormente usado pelo professor, e o do PASES.

Os sujeitos centrais desta pesquisa foram os alunos da 1ª e 2ª série do Ensino Médio de uma escola pública e outra particular, diretores e professores dessas escolas, e diretores de cursinhos que oferecem preparação para o PASES. Sendo realizada no período de setembro de 1999 a julho de 2000.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Em termos de incrição ao PASES, este estudo reforça que tal programa parece estar antecipando a seletividade social, porque a maioria dos alunos que se submeteriam ao PASES eram provenientes da escola particular, 84% e 81% das 1ª e 2ª séries respectivamente, em contraste àqueles da escola pública, 50% e 52%. Quando interrogamos os alunos da 1ª série à respeito da não inscrição ao Programa, verificamos que, 60% da escola particular e 68% da pública não o fizeram por não se sentirem preparados. Verificamos que destes alunos da escola particular, nenhum justificou por "motivos econômicos", no entanto, na pública, 28 alunos, ou seja 18,7% não o fizeram por falta de dinheiro para as inscrições. Vale ressaltar que o número de desistentes da 2ª série foi maior na escola pública (16) do que na particular (5). Em relação a isto, RIBEIRO,1987 evidencia que a seleção ao Ensino Superior não se restringe ao momento específico do ingresso, ela se inicia muito antes, através da eliminação por antecipação que ocorre na escola de Ensino Fundamental e Médio. A maioria (61,6%) dos alunos da escola pública que desistiram do PASES, afirmaram que se decepcionaram quando receberam os resultados. Já na particular, um estudante decepcionou-se, outro achou as provas difíceis, um terceiro alegou não ter dinheiro para pagar as inscrições e os outros dois justificaram por outras razões ("desistiu de fazer curso superior na UFV"; "a UFV não tem o curso que pretende fazer").

Ao traçar o perfil sócio-econômico dos alunos da rede particular que se submeteriam ao PASES, verificamos que em 199 estudantes, 112 pertencem ao sexo feminino e 87 ao masculino. Apenas onze trabalham desempenhando serviços como bibliotecário, motorista, professor de judô, vendedor e outros. Em sua maioria estes alunos estudam de 1 à 2 horas por dia (60%). Para nossa surpresa vamos encontrar que na escola pública estudada, com exceção do noturno, a porcentagem de alunos que trabalham quase não difere daqueles da rede particular. Os serviços por eles desenvolvidos se concentram em auxiliar de laboratório, balconista, caixa, servente de pedreiro e outros. Dos 210 estudantes da escola pública, 127 pertencem ao sexo feminino e 83 ao masculino. Quanto às horas dedicadas ao estudo, a maior parte destes alunos (36,4%) estudam entre 1 e 2 horas por dia, o mesmo acontece em relação àqueles provenientes da escola particular (60%). O perfil sócio - econômico revelou que a diferença mais marcante entre estes estudantes, está centrada no número de salários recebidos pelas famílias. Àquelas cujos alunos são provenientes da escola pública, a média é de quatro salários em contraste àqueles da escola particular que é de sete. Podemos levantar a hipótese que exista correlação entre a porcentagem de inscritos e as condições sócio - econômicas. Segundo BRANDÃO, 1987: "o vestibular utiliza, portanto o mesmo filtro da nossa velha escola: seleciona os já selecionados socialmente durante a trajetória escolar".

Em relação aos reflexos do PASES nos hábitos de estudo dos alunos, vamos verificar que a 1ª série da escola particular não passou a estudar mais (53,2%). Já na 2ª parece ter aumentado o interesse dos alunos (56,5%). Na escola pública, tanto a 1ª como a 2ª série passaram a estudar mais (76,8% e 64%). No geral, pelas respostas dos estudantes, o Programa parece estar servindo como estímulo nos estudos.

Em relação as percepções dos professores sobre este programa, os dados coletados nos confirmam que o vestibular está muito presente no Ensino Médio. O PASES e o vestibular estão servindo de referencial para a seleção de conteúdos que serão ministrados aos alunos. Os professores estão confirmando e reforçando a tradição do ensino para a prática do exame, ou melhor, ensina-se para avaliar, aprovar ou reprovar. De acordo com os professores, a influência positiva mais relevante no Ensino Médio é que tem levado o aluno a estudar mais pois este quer passar no vestibular. E um aspecto negativo, o mais apontado, foi "a pressão que o vestibular exerce e o aluno fica muito voltado para este". Perguntamos à 17 professores se o processo de seleção do PASES é mais ou menos tenso que o vestibular, treze deles responderam que é menos tenso, pois o PASES é gradativo, avalia em partes, o conteúdo é menor, não é eliminatório, sim somatório, dando aos alunos outras oportunidades; nenhum professor respondeu que é mais tenso e quatro disseram que é tão tenso quanto, porque qualquer avaliação é tensa, o aluno fica preocupado, nervoso e angustiado tanto no vestibular como no PASES.

Portanto, em relação ao impacto desse programa no ensino de ciências, os diretores e professores das escolas envolvidas informaram que o PASES trouxe poucas alterações para seus programas curriculares, a principal delas, foi a inversão de conteúdos de uma série para outra. A maioria dos entrevistados esta voltada para o ensino propedêutico. No que se refere aos seus reflexos na escola, os professores tem procurado adaptar a este programa, e não manifestaram preocupação para um ensino voltado para cidadania, conforme nos apontam os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1999) e outras propostas mais inovadoras.

Em relação aos cursos preparatórios para o PASES, constatamos que na escola que irá oferecer este ano, tem como metodologia de ensino apenas aulas teóricas. Se, o principal objetivo do PASES é a melhoria do Ensino Médio e conseqüentemente uma melhor formação dos alunos, e se estes cursinhos oferecem uma preparação à parte para alunos que podem pagar, questionamos se o objetivo maior do PASES não estaria sendo aviltado pelas escolas empresas. Acreditamos que devido ao fato dos cursinhos cobrarem mensalidades, os alunos de classes mais favorecidas terão maiores chances de ingressar na Universidade.

 

CONCLUSÃO:

O Ensino Médio esta sofrendo o impacto do PASES e este está gerando desorientação no professor, e transformando o Ensino Médio em um cursinho de três anos, e assim voltados para o ensino propedêutico e não manifestando preocupação naquele centrado na aprendizagem significativa e para a cidadania. E em termos de inscrição ao PASES, este estudo reforça que este, parece estar antecipando a seletividade social, do nosso já excludente sistema de ensino.

 

BIBLIOGRAFIA:

ÁLVARES, B. A. Ensino de Ciências: para quem? Extra-Classe em Revista; Ano 1 (0):

11-16,1992.

ANDRÉ, M. E. D. A. Etnografia da Prática Escolar. São Paulo, Papirus, 1995.

ARANHA, M. L. A. História da Educação. 2ª ed. São Paulo: Moderna,1996.

BELTRAM, N. O. e CISCATO, C. A. M. Química. Coleção Magistério 2º grau. São Paulo,

Cortez,1991.

BRANDÃO, Z. O processo de seletividade social e o vestibular. Seminários-Vestibular

Hoje. Coletânea de textos. Brasília, 1987, p. 165-174.

CUNHA, L. A. , GÓES, M. O golpe na Educação. 4ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zarhar,

1985.

CUNHA, M. N. R. Mobilidade Social e Educação: a dualidade no ensino Superior.

Viçosa, UFV, 1998.

DALLAGO, M. L. L. As relações entre o vestibular e o ensino de primeiro grau.

Seminários-Vestibular Hoje. Coletânea de textos. Brasília, 1987, p. 111-115.

DAMASCENO, M. N. O. O processo de seletividade social e o vestibular. Seminários-

Vestibular Hoje. Coletânea de textos. Brasília, 1987, p. 85-96.

HAMBURGER, E. W. Seletividade Social e o vestibular. Seminários-Vestibular Hoje.

Coletânea de textos. Brasília, 1987, p. 153-159.

KRASILCHIK, M. O professor e o currículo das ciências. São Paulo, Edusp, 1987.

LÜDKE, M. e ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São

Paulo, E. P. U. 1986.

MAFFIA, A. M. C., FERNANDES, A. V., MENEGHON, T. V., e SAIKI, M. Y. O

impacto da implantação do PASES no ensino de Biologia. Viçosa, UFV, 199

MORHY, L. Proposta para um novo sistema de acesso à Universidade de Brasília.

Seminários-Vestibular Hoje. Coletânea de textos. Brasília, 1987, p. 53-57.

OLIVEIRA, C. A. S. A avaliação técnica ao longo do 2º grau e o acesso a universidade.

Seminários-vestibular Hoje. Coletânea de textos. Brasília, 1987, p. 41.

RIBEIRO, S. C. A visão de professores e alunos das IES hoje. Seminários-Vestibular

Hoje. Coletânea de Textos. Brasília, 1987, p. 29-40.

STAMBI, A .O. Modelos alternativos de seleção. Seminários-Vestibular Hoje. Coletânea

de textos. Brasília, 1987, p. 85-96.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. Manual do participante do PASES. Viçosa,

1999.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Resumo:

 

CATEGORIA: COMUNICAÇÃO

0 Impacto do PASES no Ensino Médio em uma Escola Pública e outra Particular

Claudionara Pompermayer Angela Maria de Carvalho Maffia

Bolsista do CNPq – PIBIC. Orientadora e Professora do Departamento de Educação

Universidade Federal de Viçosa da Universidade Federal de Viçosa.

O modelo de vestibular adotado, pouco tem favorecido candidatos das escolas públicas. Soma-se a isto, à sua influência negativa no ensino médio, onde a prática docente volta-se para aulas expositivas, com o objetivo de resolver exercícios e memorizar conceitos, para o vestibular. Este estudo teve por objetivo verificar o impacto da implantação de um vestibular seriado (PASES) no ensino de ciências em uma escola pública e outra particular, da cidade de Viçosa–MG. Utilizando a metodologia qualitativa, iniciamos por entrevistar os diretores das escolas para conhecer a demanda de estudantes de 1ª e 2ª séries que se submeteriam ao PASES; aos professores das disciplinas científicas, para levantar suas percepções em relação a influência deste Programa em sala de aula e os diretores dos cursos que preparam para o PASES, objetivando verificar o número de estudantes inscritos, preço e qual a metodologia das aulas. Para traçar o perfil sócio–econômico dos alunos, aplicamos um questionário. Comparamos os programas da Secretaria do Estado de Minas Gerais, com o programa anteriormente usado pelo professor, e o do PASES. A maioria dos alunos que se submeteriam ao PASES eram da escola particular, 84% e 81% das 1ª e 2ª séries respectivamente, em contraste àqueles da escola pública 50% e 52%. O perfil sócio-econômico revelou que a diferença marcante entre estes estudantes, está no número de salários recebidos pelas famílias. Àquelas cujos alunos eram provenientes da pública, a média é de quatro salários em contraste àqueles das escolas particulares que é de sete. Em termos de inscrição ao PASES verificamos que tal Programa parece estar antecipando a seletividade social do nosso já excludente sistema de ensino. Em relação aos cursos preparatórios para o PASES, acreditamos que pelo fato destes cobrarem mensalidades, os alunos de classes mais favorecidas terão maiores chances de ingressar na Universidade. No que se refere aos seus rereflexos na escola, a maioria dos professores está voltada para o ensino propedêutico e tem procurado adaptar a este Programa, não manifestando preocupação para um ensino voltado para cidadania.

 

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