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O PAPEL DA QUÍMICA: AS MÚLTIPLAS REPRESENTAÇÕES
NA ÓTICA DE SUJEITOS DIVERSOS
Breno Lima Roriguez*
Ângela Maria de Carvalho Maffia**
Ricardo Pereira Baltazar*
Leci Soares de Moura e Dias**
Rita de Cássia de A. Braúna**
- Universidade Federal de Viçosa -
INTRODUÇÃO:
A sociedade e seus cidadãos interagem com o conhecimento químico
fundamentado em um ponto de vista científico ou baseado em crenças
populares. Tais crenças nem sempre correspondem à realidade, podendo
reforçar uma visão distorcida da ciência e do cientista. Soma-se a
isto, o fato das informações veiculadas pelos meios de comunicação
serem freqüentemente superficiais e errôneas, e também, pelo
despreparo da imprensa ao lidar com tais assuntos. De acordo com os
Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1999), a Química é
transformada na grande vilã do final do século, ao se enfatizar os
efeitos poluentes que certas substâncias causam no ar, na água e no
solo. Entretanto, desconsidera-se seu papel no controle das fontes
poluidoras, através da melhoria dos processos industriais, tornando
mais eficaz o tratamento de efluentes.
Este saber, proveniente do senso
comum, deveria ser questionado na escola, que tem por objetivo ampliar
o repertório do aluno e auxilia-lo na construção do conhecimento.
Infelizmente, a abordagem da Química vista em nosso ensino,
prioriza informações desligadas da realidade vivida pelos alunos e
professores. De acordo com Schnetzler, 1992 e Lopes, 1991, seu ensino
fica reduzido à transmissão de informações, definições e leis
isoladas, sem qualquer relação com a vida do aluno exigindo deste
quase sempre a pura memorização, restrita a baixos níveis
cognitivos. Nossa prática com o ensino de química tem mostrado que
geralmente a preocupação dos professores com o excessivo conteúdo,
em detrimento da aprendizagem, está centrada em "cumprir o
programa" ou "preparar para o vestibular". Poucos se
preocupam em preparar os alunos para a vida.
Todavia, o objetivo o ensino de Química é defendido hoje, junto
à função primordial da educação nacional, que visa a educação
para a cidadania.
Diante do exposto perguntamos. Quais as concepções dos cidadãos
e estudantes de ensino médio sobre o papel da química? Seriam as
representações dos estudantes mais cientificamente elaboradas que
àquelas construídas por cidadãos que não concluíram o ensino
fundamental? Estariam as escolas desmistificando as crenças
populares?
A partir dos resultados obtidos neste
estudo, esperamos que possam ser analisados por futuros licenciandos
com o intuito de conhecer um pouco mais sobre a realidade onde irão
atuar.
OBJETIVOS:
Os objetivos centrais deste estudo são: detectar as
representações de cidadãos e de estudantes de ensino médio sobre o
papel da química no mundo contemporâneo; comparar as
representações advindas dos dois grupos e analisar o papel da escola
na construção deste conhecimento.
METODOLOGIA:
Devido ao caráter deste estudo optaremos pela metodologia
qualitativa de pesquisa. Conforme Lüdke (1988), esta abordagem
refere-se a aspectos específicos que não podem ser estudados por
recursos metodológicos de pesquisas tradicionais.
Utilizaremos como instrumento de
pesquisa, a entrevista, que de acordo com o autor supra-citado tem
como vantagem sobre outras técnicas, permitir a captação imediata e
corrente da informação desejada, praticamente com qualquer tipo de
informante e sobre os mais variados tópicos. Em nosso estudo
buscaremos pelas representações dadas ao papel da Química no mundo
contemporâneo.
Tais entrevistas serão semi-estruturadas. De acordo com Lüdke e
André (1986), estas se desenrolam a partir de um esquema básico, mas
que é seguido com flexibilidade, comportando eventuais adaptações
do entrevistador. Os esquemas menos estruturados são os que, na
opinião dos autores, estão mais adequados à pesquisa que se faz
atualmente em educação.
Os sujeitos centrais deste estudo
serão estudantes da 3a série do ensino médio de uma escola da
cidade de Viçosa – MG, e cidadãos que não concluíram o ensino
fundamental.
A partir das entrevistas, faremos uma análise comparativa dos
dados obtidos em relação aos estudantes e aos cidadãos.
RESULTADOS:
Observando a figura 1.1 verificamos que dentre os alunos do ensino
médio predomina a visão da Química como uma disciplina
interessante. Todavia, para eles, ela é dotada de um elevado grau de
complexidade, incompreensão dos cálculos envolvidos. O mesmo
acontece em relação aos conteúdos como o átomo e os diferentes
elementos por serem tópicos abstratos.
Entre os entrevistados que possuem
apenas o ensino fundamental completo muitos deles percebem a Química
como uma ciência importante, mas confessam que é alienígena para
ser plenamente compreendida, na maioria das vezes alegando ser a sua
instrução incompleta o fator para tornar sua compreensão possível.
Sua primeira impressão ao mencionar a palavra Química está ligada
à poluição e venenos dos mais variados tipos, bem com a sua imagem
associada a laboratórios repletos de vidrarias preenchidas por
líquidos coloridos sendo misturados por uma pessoa vestida de branco.
As figuras 2.1 e 2.2 nos revelam que
ambos os grupos entrevistados preferem produtos que "não
contenham química" atribuímos isso aos comerciais que enfatizam
que os produtos naturais são benéficos tanto às pessoas quanto ao
meio ambiente, sendo rotulados como produtos ecologicamente corretos.
Aqueles que discordam argumentam que é necessário conservar todos os
produtos, sendo desse modo impossível haver produtos sem
"química". Não houve posição em relação a reações
que ocorrem para a formação dos produtos desejados, nem mesmo foi
feita menção aos elementos químicos formadores dos referidos
produtos utilizados.
Na vida dos entrevistados, a química
é percebida das mais variadas formas (vide figuras 3.1 e 3.2). Para
os estudantes, as utilizações mais citadas foram alimentação, os
ácidos, produtos de higiene e limpeza, mas principalmente a
poluição e os remédios. Enquanto os cidadãos os ligaram a Química
à poluição e as doenças e aos remédios que curam as enfermidades.
As figuras 4.1 e 4.2 nos mostram que
o ensino de Química nas escolas é considerado importante pela
maioria dos entrevistados. Os estudantes do ensino médio ressaltam
para o vestibular. O outro grupo acredita que de alguma forma a
Química pode auxiliar no futuro do jovem, vêem sua importância na
indústria farmacêutica a fim de desenvolver remédios contra a AIDS
e câncer.
Independente de seu futuro profissional almejado, o ensino de
Química não deve ser restrito àqueles que pretendem seguir uma
carreira científica, a maioria demonstra um desejo instintivo pela
popularização dos conhecimentos científicos, embora os grupos
queixavam-se da postura tanto de professores quanto dos meios de
comunicação para uma abordagem mais didática do assunto. Solicitam
por uma Química mais voltada para seu cotidiano, ou nas palavras de
um dos entrevistados: "uma Química mais palpável para minha
vida", pois o linguajar demasiadamente técnico os inibe e
desestimula. Alguns, entretanto, acreditam que os estudantes do ensino
médio possuem discernimento suficiente para escolher dentre as
disciplinas que desejam cursar, acreditando ser o ensino de Química
insípido para seu futuro e dessa forma desejando que o ensino seja
análogo ao dos EUA que chega a essas pessoas pela televisão.
CONCLUSÃO:
Ao analisarmos os resultados verificamos que as representações
evidenciadas pelos dois grupos quanto ao papel da Química no mundo
contemporâneo divergem em alguns aspectos. No caso dos alunos, pelo
fato de estarem diretamente envolvidos com a aprendizagem dessa
disciplina, as representações ligam-se mais à Química formal
apresentada pela escola, que parece reduzir-se à transmissão de
informações, definições e leis isoladas. Quanto ao outro grupo, as
representações parecem refletir as imagens veiculadas nos meios de
comunicação, tais como: a poluição, os venenos e os remédios, o
que reforça o senso comum dos cidadãos. Com relação à análise do
papel da escola na construção de um ensino de Química científico e
crítico, embora os alunos apresentem concepções diferentes do outro
grupo, parecem ter dificuldade em relacionar a Química que aprendem
na escola com a vida, reduzindo sua importância ao atribuir sua
utilidade principalmente para passar no vestibular. Nesse sentido,
esse estudo aponta que são muitos os desafios a serem superados na
implementação de um ensino de Química, como o estabelecido nos
Parâmetros Curriculares do Ensino Médio, voltado para a formação
de cidadãos com senso crítico e capazes de lidar com informações
que permeiam seu cotidiano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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México: Trillas, 1976.
BRASIL – MEC Parâmetros
Curriculares Nacionais. Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias. Brasília, 1999.
FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia:
Saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra,
1996.
GIORDAN, A & VECCHI, G. As
Origens do Saber. Porto Alegre, Artes Médicas, 1996.
JODELETE, D. Lês Représentations
Sociales. Paris, PUF, 1989.
LOPES, A. O. Planejamento do Ensino
Numa Perspectiva Crítica de Educação. Repensando a Didática.
Campinas, SP, Papirus, 1991.
LÜDKE, M. Como Anda o Debate Sobre
Metodologias Quantitativas e Qualitativas na Pesquisa em Educação.
Cadernos de Pesquisa. (64): 61 – 63, 1988.
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MOREIRA, M. A. & MASINI, E. F. S.
Aprendizagem Significativa: A Teoria de David Ausubel. São Paulo,
Moraes, 1982.
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Função Social: O Que Significa Ensino de Química para Formar o
Cidadão. Química Nova na Escola (4): 28 – 34. 1996.
SCHNETZLER, R. P. Construção do
Conhecimento e Ensino de Ciências. Em Aberto, ano 11, no 55 jul /
set. Brasília: 1992.
....
ANEXO I - ENTREVISTA:
1. O que vem a sua cabea quando você ouve a palavra Química?
2. Como você vê um produto que em seu comercial apresenta os
dizeres: Não contém Química?
3. Onde você vê a Química na sua vida?
4. Para que importante aprender Química?
5. Para você, preciso ensinar Química para uma pessoa que não tem
vontade de ser cientista? Por quê?
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