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Por uma aprendizagem prazerosa e significativa: O trabalho com História redimensiona a prática escolar.

Angelita A. Azevedo (1)

Marly Tarcísia Ferreira (2)

 

 

O ensino de História em nossas escolas, considerando aqui, as séries iniciais do ensino fundamental, é algo que merece ser analisado profundamente, exigindo sérias e imediatas transformações.

Percebe-se que inúmeros são os problemas que vem fragilizando o trabalho com tal disciplina; a prática pedagógica desenvolvida nas escolas tem geralmente contribuído para que os alunos encarem tal área do conhecimento como algo monótono e desinteressante, já que a metodologia de ensino adotada elimina todo o dinamismo desta área do conhecimento, reduzindo-a na maioria das vezes a um passado estático, com verdades absolutas, construída essencialmente por grandes heróis. Sendo assim, a ênfase recai naturalmente na memorização e reprodução de fatos, não levando-se em consideração a importância da construção/reconstrução do conhecimento histórico.

Analisando o diagnóstico sobre a situação do ensino de História no Brasil, Villalta ( 1994) afirma que

"Aprender História efetivamente passa a significar, na maioria das vezes, apropriar-se de uma série de informações e dados descartáveis, de um conjunto de coisas incompreensíveis e indecifráveis (...). Coisas completamente autônomas e exteriores ao aluno: Um outro, estranho, misterioso, porém, sem atrativos. Uma História que assim, aliena. Uma história fetiche: porque opaca e exterior ao aprendiz". (3)

A pretensão positivista em se atingir a verdade , a essência absoluta dos fenômenos, a partir de uma posição neutra do sujeito conhecedor é algo que se identifica frequentemente na prática pedagógica de História em muitas escolas.

Acreditamos no entanto, considerando a História numa visão dialética, que o trabalho com tal disciplina deve possibilitar aos alunos utilizarem-se de estratégias diversas, construindo e reconstruindo o conhecimento histórico

 

 

(1)- Graduada em História pela UFOP, coordenadora pedagógica do I.B.M.- Prisma, Mariana, MG.

(2)- Professora da 4ª série do Ensino Fundamental do I.B.M.- Prisma, Mariana, MG.

(3)- VILLALTA, Luiz Carlos. O programa curricular de História do estado de MG: uma análise crítica. Cadernos de História, Uberlândia, 5 (5): 5-18, jan/dez, 1994.

 

acumulado, numa relação onde sujeito e objeto se transformam mutuamente. Este é o

caminho de um trabalho inovador, que possibilita a formação íntegra do aluno, desenvolvendo sua capacidade de observação, análise, interpretação, crítica , argumentação, contribuindo também para que este encare a disciplina como algo instigante, vivo, transformador.

Dentro de tal perspectiva, foi desenvolvido pela professora Marly Tarcísia Ferreira, o projeto "Brasil 500 anos" sob orientação da coordenadora pedagógica Angelita Azevedo.

 

 

 

Projeto Brasil 500 anos

 

INTRODUÇÃO

 

O presente relato diz respeito a uma experiência realizada no ano letivo de 1999, com uma turma de 4ª série, do Instituto Bloquinhos Mágicos- Prisma, localizado na cidade de Mariana, Minas Gerais.

A ênfase maior em tal ano era a comemoração dos 500 anos da chegada dos portugueses ao Brasil, devido a influência da Mídia que colocou em tal evento o acontecimento do século, demonstrando uma visão ilusionista de que nosso país só tem motivos para festejar, abandonando na maioria das vezes seus problemas sociais, políticos e econômicos. A professora verificou naquela situação uma oportunidade ímpar de reflexão. Isto justificava-se pelo fato de que as crianças teriam um papel privilegiado de dedicarem-se a pesquisas e produzirem o conhecimento acerca de temas que envolvessem um redescobrir das suas próprias identidades culturais, conhecendo a realidade atual do Brasil e sua evolução histórica, definindo temas significativos que trouxessem transformações em seus esquemas cognitivos , assim como em sua capacidade argumentativa.

Tais objetivos aliavam-se aos previstos no Projeto Político Pedagógico do Instituto que considera que " o ensino da História seja realizado levando-se em conta a situação concreta do desenvolvimento das crianças, bem como a sua realidade

significativa". (2) À medida em que o aluno analisa acontecimentos , interpreta contextos da época em que vive, comparando-o com outros e identificando semelhanças e diferenças, permanências e mudanças, adquire uma visão integrada , relacional e histórica. . Nesta perspectiva, "o aluno faz uma leitura da realidade, compreendendo-a, tendo uma postura crítica frente a ela e um papel de sujeito de sua própria história." (3)

Ao iniciar o trabalho, a professora percebeu que os alunos estavam atualizados frente aos problemas enfrentados pelo país, porém não emitiam julgamentos com argumentações sólidas. Além disso, diante do trabalho com História desenvolvido na escola em anos anteriores, os alunos já encaravam esta área do conhecimento como algo dinâmico, construído por visões diferenciadas e não como um campo de saber cristalizado, imune à transformações.

 

COMO TUDO COMEÇOU...

 

Com o objetivo de possibilitar momentos de reflexões a professora levou para a sala de aula músicas que ilustravam a realidade brasileira. Estas traduziam em suas letras aspectos positivos e negativos do nosso país. Eram elas : Deus é brasileiro

( Grupo Terra Samba), Desordem ( Titãs), Que país é este? / Perfeição ( Legião urbana) e Aquarela do Brasil ( Ary Barroso). A turma dividida em grupos fez análise destas identificando os principais temas abordados. Nesta oportunidade foram discutidas várias questões sociais como desemprego, violência, injustiça, discriminação, além de aspectos geográficos do país . A partir de tal análise, foi proposto à turma a confecção de um mapa do Brasil ,ilustrando-o com tais aspectos. Buscando comprovar afirmações contidas nas músicas, a turma recorreu a textos jornalísticos: notícias, reportagens, charges, artigos de opinião .

Estes momentos vivenciados pela turma provocaram uma série de dúvidas, originando um projeto de trabalho. Os questionamentos, que inicialmente tinham um caráter individual, tornaram-se coletivos transformando-se assim em objeto de estudo. Estes centravam-se nas seguintes abordagens: a- Descobrimento (versões existentes, tribos indígenas, impressões sobre o Brasil,...), b- Alguns aspectos políticos,

 

 

(2)- Projeto Político Pedagógico – I.B.M-Prisma, 1998.

(3)- Coleção Pitágoras – 2000 / Manual do Professor – História , p. 02

 

sociais, econômicos, geográficos na atualidade e no decorrer de sua história. Ainda nesta etapa do trabalho discutiu-se sobre as possíveis fontes de informação, as quais os alunos poderiam recorrer ( livros, jornais, fitas de vídeo, fotografias, etc.) assim como técnicas de trabalho que os auxiliariam ( atividades em grupo, pesquisas, exposições...) .

 

O DESCOBRIMENTO

 

Direcionar o olhar para o descobrimento do país impulsionou uma discussão em relação ao verdadeiro sentido das comemorações, tão presentes naquele momento. Nesta reflexão destacou-se a questão indígena . Analisar a situação dos índios na atualidade, comparando-a à época da chegada de Cabral e ao massacre sofrido por tal população, possibilitou a abordagem de conceitos, como: descobrimento, descoberta, encontro, invasão, aculturação, cruzamento de culturas.

O trabalho com documentos como a carta de Pero Vaz de Caminha, possibilitou a turma perceber a impressão deste em relação aos índios, assim como a das terras recém descobertas. Aliado a tal trabalho os alunos analisaram uma tela do artista francês Debret que mostrava a preparação do chefe de uma tribo indígena para uma festa. Após a discussão de elementos artísticos como cores, formas, linhas, planos, etc., cada criança tentou traduzir através da criação de uma carta, a impressão que tivera Debret acerca dos primeiros habitantes da nossa terra, assim como fizera Caminha. Através deste trabalho questionou-se a visão da História como uma verdade absoluta e concluiu-se que esta baseia-se em interpretações de uma realidade.

Ao assistir filmes que retratavam o descobrimento, também criou-se momentos para discussões e posicionamentos em relação aos fatos e versões históricas. Neste aspecto, reconstruiu-se o conhecimento histórico que baseou-se na produção e na transmissão de uma visão crítica com bases voltadas para a argumentação.

 

 

 

 

 

 

ASPECTOS SOCIAIS, POLÍTICOS, ECONÔMICOS, GEOGRÁFICOS

( atualidade e História)

 

A partir dos questionamentos relacionados ao sentido das comemorações dos 500 anos do Brasil, surgiram reflexões mais profundas sobre as possíveis interpretações da idéia de País e Nação. Neste sentido destacou-se o início da colonização, onde se deu a fixação do homem português ao solo brasileiro, a chegada dos escravos africanos e consequências desta para a nossa história, a chegada de imigrantes não-portugueses, dando início a um processo de integração do Brasil ao mundo.

Nestas abordagens foram discutidas a divisão do território refletindo a miscigenação do povo brasileiro. A turma dividida em grupos responsabilizou-se pela coleta de dados e apresentação de aspectos regionais marcantes, como manifestações artísticas, atividades econômicas, principais cidades, etc. Neste trabalho atividades de cartografia, construção de tabelas e gráficos foram elementos sistematizadores.

Ao buscar a compreensão de diferentes grupos regionais, fez-se necessário um estudo sobre nossas origens. Tal trabalho direcionou-se primeiramente, às raízes familiares com a música Paratodos ( Chico Buarque), analisando migração e imigração, e posteriormente às origens da raça brasileira, verificando grupos estrangeiros que contribuíram com o desenvolvimento do nosso país, assim como influências destes em nosso dia-a-dia. Destaca-se neste estudo o trabalho com a oralidade que surgiu como um instrumento de investigação. Para tal um curso de Metodologia de História Oral foi oferecido por uma graduada em História pela UFOP, para que os alunos compreendessem e analisassem as diferentes técnicas de coleta de dados, bem como a importância do uso de fotografias como estratégia privilegiada de rememoração do depoente, e as etapas de organização do trabalho . Algumas pessoas (estrangeiros e descendentes) foram entrevistadas pela turma , momento do trabalho em que os alunos puderam aplicar os conhecimentos adquiridos no referido curso, com grande entusiasmo, dedicação e competência. Embasados em pesquisas e relatos, a turma compôs uma paródia da música "Paratodos", na qual se traduzia os estudos realizados.

No decorrer deste projeto verificou-se também a importância das manifestações artísticas no cenário da nossa história, que demonstravam situações cotidianas do país. Entre elas a exposição realizada com alguns quadros da artista plástica brasileira Tarsila do Amaral , reproduzidos pelas crianças e a visita ao ICHS numa viagem ao país idealizado pela artista mineira Lúcia Buccini, que oferecia uma alternativa de esperança frente as turbulências do dia-a-dia.

Outra etapa que se destacou foi uma visita ao Museu das Reduções, em Amarantina, MG, onde os alunos com grande prazer apreciavam monumentos históricos do Brasil, conhecendo um pouco a história de cada um.

A relação presente/passado fez-se presente em todos os momentos deste projeto e possibilitou analisar causas e consequências de alguns problemas socias, políticos e econômicos. Temas como desemprego, miséria, racismo, violência foram amplamente discutidos.

Durante este trabalho a avaliação acontecia diariamente através do comprometimento, organização, responsabilidade , argumentações de pontos de vista e sínteses variadas.

O projeto foi encerrado com um debate final recapitulando os temas abordados e realizando um paralelo demonstrando a visão inicial e a atual que a turma possuía do nosso país. Professora e alunos comprovaram através deste que o conhecimento é produzido em conjunto, sendo sistematizado pela troca de experiências e estabelecimento de relações.

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabemos que os temas abordados neste projeto são corriqueiros nos currículos e programas escolares, muitos deles compondo livros didáticos e a realidade do dia a dia de muitas salas de aula. No entanto, o que os distingue e os dá tanta relevância é a forma como foram explorados no referido projeto.

Ao trabalhar com a Pedagogia de Projetos a globalização do conhecimento se fez presente durante todo o processo, visto que as diferentes áreas apresentaram-se inter-relacionadas, de acordo com os temas abordados, em função da necessidade de resolução de determinados problemas, o que fez com que a aprendizagem fosse significativa e prazerosa.

Além disso vale destacar o quanto a História passou a ser mais instigante para os alunos. Ficou visível o seu interesse, que aliás, se intensifica a cada dia com o trabalho desenvolvido na escola.

Faz-se necessário também ressaltar a importância da formação continuada do professor. É através do embasamento teórico acerca das abordagens históricas e sua metodologia que o professor se capacita para desenvolver trabalhos com dinamismo e competência. Este profissional é formado a cada dia, através de suas leituras, estudos e discussões com o grupo no ambiente de trabalho, participação em cursos, congressos, enfim, a formação profissional é algo constante e deve fazer parte das expectativas e dia a dia de qualquer professor em busca de uma melhoria na Educação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Materiais que as autoras possuem para enriquecer o relato:

Fitas cassete com músicas utilizadas na problematização do projeto;

Produções dos alunos, como sínteses variadas, paródia, dentre outras;

Fotografias de etapas do projeto;

Vídeo produzido no decorrer do trabalho, com entrevistas aos estrangeiros e descendentes, debates entre alunos e professora em sala de aula.

 

Obs- Estes materiais poderão ser usados ou não, dependendo do tempo disponível para a apresentação e orientações da equipe organizadora do evento.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Resumo:

 

 

Por uma aprendizagem prazerosa e significativa: o trabalho com História redimensiona a prática escolar.

Angelita A Azevedo (1)

Marly Tarcísia Ferreira (2)

Analisando a prática pedagógica com a História nas séries iniciais do Ensino Fundamental, percebe-se que, na maioria das vezes, esta tem contribuído para que os alunos encarem tal área do conhecimento como algo monótono e desinteressante, já que a metodologia de ensino adotada elimina todo o seu dinamismo reduzindo-a um passado estático, com verdades absolutas, construída essencialmente por grandes heróis.

Acreditamos no entanto, considerando a História numa visão dialética, que o trabalho com tal disciplina deve possibilitar aos alunos utilizarem-se de estratégias diversas, construindo e reconstruindo o conhecimento histórico acumulado, numa relação onde sujeito e objeto se transformam mutuamente. Este é o caminho de um trabalho inovador, que possibilita a formação íntegra do aluno, desenvolvendo sua capacidade de observação, análise, interpretação, crítica , argumentação, contribuindo também para que este encare a disciplina como algo instigante, vivo, transformador.

Nesta concepção de História e de Ensino-Aprendizagem, foi desenvolvido no I.B.M-Prisma em Mariana, MG, em 1999, na 4ª série do Ensino Fundamental, o projeto "Brasil 500 anos", buscando naquele momento de inúmeras comemorações em torno dos 500 anos de chegada dos portugueses a esta terra, com grande presença e influência da mídia, uma oportunidade ímpar de reflexão com os alunos sobre a realidade brasileira e sua história, buscando responder: O que temos a comemorar ?

Neste projeto os alunos conheceram e discutiram sobre as diferentes versões históricas do descobrimento, o contanto do europeu com o indígena, podendo com isso construir conceitos, como: descobrimento, descoberta, encontro, invasão, aculturação, cruzamento de culturas. As questões dos alunos possibilitaram realizar etapas de investigação, com pesquisas diversas, envolvendo técnicas de História Oral, visita a exposições e museu, análise de documentos escritos e iconografia. A globalização do conhecimento se fez presente durante todo o processo, visto que as diferentes áreas apresentaram-se inter-relacionadas, de acordo com os temas abordados, em função da necessidade de resolução de determinados problemas, o que fez com que a aprendizagem fosse significativa e prazerosa. Além disso vale destacar o quanto a História passou a ser a partir deste trabalho, mais instigante para os alunos, cumprindo os objetivos esperados.

 

 

(1)- Graduada em História pela UFOP, coordenadora pedagógica do I.B.M.- Prisma, Mariana, MG.

(2)- Professora da 4ª série do Ensino Fundamental do I.B.M.- Prisma, Mariana, MG.

 

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