O caminho espiritual do convertido que
permanece solitário é cheio de sombras e emboscadas. Não se deve abandonar
muito cedo o neófito a si mesmo.
Sem diretor, Thomas conhece também a inquietação
e o aborrecimento de um itinerário hesitante, e não tem a simplicidade de
interrogar seu instrutor, de exprimir o seu desejo de comunhão cotidiana, de
oração, de apoio espiritual.
“Depois de ter recebido a imensa graça do
batismo, depois de todas as lutas sustentadas para lá chegar, depois do longo
caminho percorrido através de tanta “terra de ninguém”, próxima ao
inferno, em lugar de transformar-me em ardente e generoso católico, eu
escorregava simplesmente para as fileiras dos milhares de católicos mornos,
preguiçosos e indiferentes, que mal lutam para manter viva em seu íntimo a
chama da graça.”
Não rezava verdadeiramente, e mal conhecia a Santa
Virgem Maria.
“Não temos noção, entretanto, do imenso poder
da Virgem Imaculada... Ela era para mim apenas um símbolo poético no vitral de
nossas catedrais.”
Possuía, contudo o sentimento da vida
sobrenatural, praticava o ascetismo, evitava o pecado mortal. Voltou, porém, a
vida costumeira durante todo o ano de 1939.
“Desejava ser escritor, poeta, crítico e
professor; desfrutar os prazeres da inteligência e dos sentidos. Meu objetivo
era a reputação e o sucesso.”
Acreditava-se inteiramente convertido porque sua
inteligência já se convertera, mas onde estava sua vontade?
Thomas permanece em Perry Street, escreve poemas,
artigos, novelas, às vezes coroadas de êxito, outras vezes malogradas. No verão,
parte para Oléan, onde vive numa casa de campo em companhia de Lax e Rice. Relê
as Confissões e começa a ler Suma; o prazer intelectual, porém, continua
dominante, e não se transforma ainda em amor.
Em Setembro de 1939, regressa a Nova York. Os
acontecimentos na Europa pesavam sobre todos. Setembro passa. Repentinamente, em
meio a uma reunião de amigos, um movimento profundo da consciência mostra
claramente a Thomas que se tornará padre.
-
Sabem? Vou entrar para um mosteiro e ser padre.
Os amigos pensam que lê está brincando. Mas, à tarde,
despede-se de Peggy, sua namorada, dizendo-lhe: “Peggy, vou ser padre.”
Está só. Ao cair da noite, entra na
Igreja de São Francisco Xavier, onde jamais estivera; na cripta, cantava-se o Tantum
Ergo.
“Olhei para a alvura da Hóstia, e
subitamente compreendi que estava em uma encruzilhada da vida, que tudo
dependeria de uma palavra de minha parte, que esta era, de alguma forma, a minha
última oportunidade.”
Das profundezas infinitas da eterna
Providência, uma pergunta lhe era feita de novo: “Queres realmente ser
padre?”
“Contemplando a Hóstia, compreendi
que era Aquele que eu via; interiormente, dirigi-lhe esta prece: Sim, quero ser
padre! Se for de Vossa Vontade fazei que eu me torne padre!”
Seduzido pelo ideal franciscano, obtém
do professor Walsch uma carta de apresentação para o Convento de São
Francisco de Assis, em Nova York. Uma crise de apendicite, porém, retarda os
projetos do futuro postulante. A convalescença decorre em um clima de grande
paz interior: lê o Paraíso, de Dante, e a Introdução à Metafísica, de
Maritain. Comunga diariamente. Acaba de restabelecer-se em Douglaston, em casa
do tio, e depois em Cuba, na Páscoa de 1940.
Diante da pequena Virgem negra, Caridad
Del Cobre, pede ainda graça do sacerdócio e promete a Maria oferecer em sua
honra a pr4imeira missa que celebrar.