Thomas está com vinte e seis anos. Considera a sua recusa para as forças
armadas como um chamado de Deus. Abriu-se a estrada para o silêncio, e o homem
de letras, participante de todas as lutas do pensamento, artista seduzido por
todas as formas da vida, resolve consagrar-se a Deus. Na véspera de Ramos,
dirige-se à praça do Kentucky.
“Entrei na Trapa como se entrasse em um
abismo”; mas na igreja, enquanto se celebram as missas, ele pensa: “Ó meu
Deus, com que força vossa escolha se impõe a toda criatura humana!”
Dócil, o penitente vive com fidelidade todas as
horas do mosteiro.
“Esses homens, envoltos num anonimato de seus hábitos
brancos fazem por seu país aquele que nenhum Presidente e nenhum Congresso
podem realizar: asseguram-lhe a graça, a proteção e a amizade de Deus”.
Mas ele, pobre coitado, continuará a lutar contra
si mesmo, receando novas incompreensões e considerando seu desejo de vida
religiosa como uma imensa ilusão: foi a sua parte na Paixão de Cristo, naquela
Semana Santa.
As longas horas de oração arrasavam-no: “Ser
monge? Eu morreria!”
Retornando a Nova York, a luta interior continua.
Começa então um trabalho social sob a direção de uma mulher admirável, a
Baronesa Hueck, que se devotara de corpo e alma à melhoria das condições de
vida dos negros dos bairros de Harlem (Nova York).
Essa experiência e essa atividade foram
reconfortantes para o neófito. Durante um momento, pensou que seu dever era
dividir a vida entre a literatura, o ensino e o trabalho social. Mas Deus o
queria em outra parte. Em Outubro do mesmo ano, Merton descobriu a
“Florzinha”, Teresa de Lisieux: o encontro foi maravilhoso:
“Mostra-me o que devo fazer, Teresinha; se eu for
para um mosteiro serei TEU monge!”
Dessa vez a decisão era irrevogável. Jamais
conhecera uma tal sensação de paz e calma, uma certeza tão absoluta.
Thomas Merton parte para a Trapa de Getesemâni.
Estamos no advento; belo período par um nascimento religioso.
-
Desta vez você ficará – diz-lhe o bom Irmão Mateus.
-
Sim, Irmão, se o senhor rezar por mim.
-
Rezar? É o que tenho feito até agora.
A
porta se fecha:
“Estava entre as quatro paredes de minha nova
liberdade. Era livre. Pertencia a Deus e não mais a mim mesmo e pertence-Lhe é
ser livre!”