Thomas Merton, cujo nome verdadeiro é Tom Feverel Merton, nasceu de um casal de artistas - um neozelandês e uma americana. O pai de Thomas, Owen Merton, pintor e músico, dedicava-se à arte em Christchurch, na Nova Zelândia. Gostava de falar ao filho sobre as montanhas da ilha meridional, as fazendas de criação de carneiros, e as florestas onde vivera. Enérgico e independente, teve vontade de acompanhar a expedição antártica que aportara à sua terra. Mas a arte estava acima de tudo. Por isso viajou para Europa, onde residiu em Londres e depois em Paris. Perambulando em Paris, Owen encontrou Ruth Jekens, uma americana muito prendada, sensível, delicada e ávida de perfeição; conheceram num estúdio de pintura: casaram-se.
Fugindo da Primeira Guerra Mundial, encontraram em Prades, na França, numa pequena casa na Rua 4 de setembro, local para se estabelecerem. Foi ali que aguardaram a chegada do seu primeiro filho, Thomas Merton.
O casal viu-se na pobreza; por outro lado, os avós maternos – “Pop” e “Vovó” – viviam chamando a família para morarem com ele; e assim, por volta de 1916, partiram para o Novo Mundo e instalaram-se em Flushing (Long-Island), onde a família Merton passou a viver de pintura e de jardinagem. Um segundo filho, John Paul, nasce em 1918.
“Parece estranho que pai e mãe, que velavam escrupulosamente sobre a honestidade de nossos pensamentos e jamais teriam permitido que fossem contaminados pelo erro e pela mediocridade, não nos tenham dado a menor formação religiosa... Toda religião organizada parecia à minha mãe, que era quaker, abaixo do nível de perfeição intelectual: nunca íamos à igreja de Flushing”.
Foi “Granny”,
avó paterna, que veio dos antípodas para visitar seus filhos, quem ensinou ao
pequeno Thomas o Padre-Nosso.
“Nunca
o esqueci. Mas levei anos sem rezá-lo... Na realidade, eu tinha um desejo
intenso de ir a igreja, especialmente num dia de Páscoa...”
“O som dos sinos vinha de
Saint-Georges até a mim através dos belos campos: eu brincava em frente da
casa e pus-me a escutar: o badalar dos sinos se misturava ao canto dos pássaros
nas árvores. Exclamei: Papai, todos os pássaros estão na igreja deles; por
que não vamos à nossa? – É muito tarde, iremos em outro domingo.”
Thomas, datadíssimo, é um
“milionário espiritual”; adora a geografia e a mitologia grega. É também
um independente, que nada tem de gregário. Em resumo, são grandes suas
disponibilidades, tanto para o bem quanto para o mal.
Tinha apenas seis anos quando sua mãezinha
morreu de câncer: a dor de Tom foi a de um adulto. Mas não rezou pela defunta;
só o fez vinte anos mais tarde. Ruth era "sensível" e
"cerebral", como descreve Merton. A ligação entre os dois foi muito
forte, negativa e positivamente falando, a ponto de Merton responsabilizá-la,
de um lado, por sua impossibilidade de se relacionar com mulheres cultas - que
era o que ele mais desejava - e de outro lado, "pela forte influencia
perfeccionista".
John Paul e Thomas, órfãos de mãe,
são recolhidos à casa de “Pop” e “Vovó”, em Douglaston, enquanto o
artista-pintor Owen viaja pela França e pela África, onde adquire certa
notoriedade.
“Todas as religiões são
boas”, mas na casa de “Pop”, Cavaleiro do Templo, espécie de seita
avessa ao cristianismo, o catolicismo era odiado!