“Estava um pouco assustado de
submeter-me publicamente aos perigos misteriosos dessa coisa estranha que eles
chamavam de “sua missa”. Sempre fugira dela, tomado de tolo pânico
protestante. E eis que uma voz, suave e forte, me disse interiormente: venha a
missa, venha à missa.”
Thomas não resistiu mais; num Domingo de agosto,
entrou na capelinha atijolada de Corpus Christi, escondida atrás do colégio
dos professores, na rua 121, em Nova York.
“A igreja estava cheia, não de velhos e velhas, com o pé na cova, mas de homens, de mulheres e de crianças de todas as
idades, sobretudo jovens: gente de todas as classes, de todas as condições,
entre as quais havia forte proporção de operários acompanhados de suas famílias.
Uma simples moça rezava com simplicidade,
em impressionante recolhimento, sem “blefe” nem desejo de se mostrar.
Que revelação descobrir todo um povo lado
a lado, mais consciente de Deus que de si mesmo! Depois, todos se levantaram, e
eu não sabia por quê. Soube mais tarde que era por causa da leitura do
evangelho. Um padre moço, seguro de si e desinteressado da impressão que
poderia causar, subiu ao público e pronunciou um breve sermão. Com que
interesse ouvi sua exposição, em linguagem despretensiosa, de um ponto da
doutrina católica! A palavra mostrava não apenas o rigor do evangelho, como
também uma tradição secular, unificada, contínua e consistente. E, acima de
tudo, era uma tradição viva, sem nada de estudado ou de rígido.
Senti que o povo estava familiarizado com
todas essas realidades; que elas faziam parte de sua vida. Que dizia o padre?
Falava de Cristo, de sua natureza divina e humana, da redenção nele, e da
necessidade da graça. Era o sermão que eu mais precisava ouvir naquele dia.
Descobri um mundo novo e saí feliz.”
Thomas volta aos livros: Hopkins, Joyce, Crashaw;
cerca-se de uma atmosfera católica; mas não volta mais à missa.
Nesse labirinto ideológico e moral, leva a mesma
vida exterior, freqüenta amigos e amigas; diverte-se. Entretanto, reza uma
Ave-Maria como oração da noite.
Nesse meio tempo, o clima da política exterior
carrega-se de pesadas nuvens... Hitler, os nazistas, a Tcheco-Eslováquia
ocupada. Ele odeia realmente a guerra; mas logo será incluído no rol de
milicianos.
Num dia chuvoso de Setembro, Thomas lia as Cartas a
Newman, de Hopkins, em vias de conversão, quando se sentiu de novo atraído:
“Que esperas? Que fazes aqui? Sabes o que deves fazer, por que não o fazes?” Thomas não quer decidir-se, mas a voz torna-se mais imperiosa.
É o bastante: ele sai debaixo de chuva e dirige-se
à Broadway, sentindo-se interiormente feliz. Na igreja de Corpus Christi,
solicita o batismo. O instrutor a quem o confiam é o Padre Moore, pregador da
missa...
“O catecismo é uma das
coisas mais prodigiosas que existem. Enraíza a palavra de Deus nas almas de boa
vontade... Eu ardia de desejo do batismo e não perdia uma só aula.”
Seis semanas mais tarde, a 16 de Novembro de 1938,
Thomas Merton é batizado. Seus amigos estão presentes: Gerdy, Lax, Seymour;
Ed. Rice, o único católico entre eles, é o padrinho.
“Foi tudo muito simples. Que montanhas
caíram de meus ombros! Credo! Credo!”
Confessa-se, assiste à missa, faz a primeira comunhão;
aos vinte e três anos, “a paz está com ele”.