Na sua jovem independência, Merton se choca inicialmente com as dificuldades práticas da vida: a Cote d’Azur o vê sombrio e desorientado, passa de mau humor por Gênova e Florença, onde sente frio... Tem um abscesso; seu objetivo é Roma... a fim de encontrar um bom dentista.

        Ei-lo agora na Praça Berberini; suas primeiras pesquisas levam-no aos museus, às livrarias, à Roma antiga. Filho de artista, espanta-se de preferir as velhas igrejas aos templos em ruínas; de interessar-se por uma Roma diferente e que lhe desperta sentimentos obscuros.

        Entretanto na Basílica de São Cosme e São Damião, maravilha-se com sua abside. Emociona-se. Esse mosaico, um dos mais perfeitos do tempo do triunfo, muda sua visão interior: eis ai uma arte espiritual, pura e robusta, de eloqüente simplicidade, uma linguagem de alma que ele compreende e que o fascina. Vai de santuário em santuário, à procura de outras semelhantes.

        Pela primeira vez na vida, a grande pergunta se formula também para ele: quem é esse homem chamado Cristo? Problema obscuro, cuja solução lhe parece mais desejável do que ele quer admitir.

        “Foi em Roma que minha convicção se fundamentou: foi lá que primeiro eu O vi, aquele a quem sirvo agora como a meu Deus e a meu rei, e que possui e dirige toda a minha vida.”

        A fim de compreender o sentido do mosaico de São Cosme e são Damião, Thomas comprou um Novo Testamento e leu-o com satisfação. Achou-o superior aos poemas evangélicos de D. H. Lawrence, que tanto o haviam deliciado.

        Não é mais apenas o interesse artístico que o atrai para as igrejas, mas uma espécie de paz interior. Gosta de São Pedro acorrentado, Santa Prudência, São Praxedes, Santa Maria Maior, São João de Latrão...

        Nesse estado de alma, tem, uma noite, o sentimento vivíssimo da presença quase física de seu pai; ao mesmo tempo, penetra-o uma luz sobre sua miserável situação moral: “Penso que pela primeira vez na vida rezei realmente, não com os lábios, a inteligência ou a imaginação, mas do fundo de mim mesmo e da minha vida, e pedi a Deus – que não tinha ainda conhecido – para me arrancar aos mil grilhões da minha escravidão.”

        No dia seguinte a essa experiência, vai a Santa Sabina, com a alma cheia de contrição e com a intenção deliberada de se ajoelhar para adorar a Deus; até então, jamais dobrara joelhos nos santuários. Dessa vez entrou, tomou água benta, foi direto ao altar, ajoelhou-se e rezou o Padre-Nosso com a fé nascente que sentia. Saindo, teve a impressão de um renascimento.

        “Uma coisa que os católicos não compreendem é o terrível embaraço que os convertidos sentem ao rezar em público... eles têm a impressão de que são alvo de zombarias...” Com essa plenitude de paz, Thomas vai à Trapa das “Três Fontes”, ao sul do Tibre; agrada-lhe a pequena igreja sombria e austera, mas não ousa perturbar os monges, que ele imaginara sentados sobre lápides funerárias, fazendo penitência.

        Chegando como turista, é como peregrino que deixa Roma para retornar à Inglaterra.

        De volta a Douglaston, Thomas às escondidas mergulha na leitura bíblica; mas não tem mais a humildade de ajoelhar-se; o fervor religioso esfria e, afinal, desaparece.

            Depois de uma última estada em Cambridge, Thomas Merton deixa para sempre a triste e inquieta Europa. Chegamos ao fim de 1934. Ele está com vinte anos de idade.

 

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