São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2006
Tooor!!!
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E Euclides finalmente estava
certo!
DEUTSCHLAND -
Como vocês puderam fazer isto conosco? A Alemanha
venceu o Brasil na final do Mundial de 2006 em Berlim! Este era o grande sonho
dos torcedores alemães antes da Copa do Mundo começar. Um sonho, porque não era
possível prever até onde a seleção alemã chegaria. O que parecia claro era que o
Brasil estaria na final. Brasil, o time dos superlativos, o time dos sonhos.
Eu tinha esperança de traçar nesta coluna o caminho paralelo das duas seleções o
mais longe possível. Mas primeiro o Brasil foi eliminado nas quartas-de-final e
depois a Alemanha na semifinal. Euclides finalmente estava certo: linhas
paralelas nunca se encontram.
Acho desnecessário dar os detalhes do jogo Brasil e França, todo o mundo viu
aquilo. O que me chocou foi a total falta de reação, de agressividade, nenhuma
vontade de vencer. E sequer foi feita uma falta!
Os argentinos continuaram a chutar os adversários mesmo depois do final da
partida, como aconteceu após os pênaltis no jogo contra a Alemanha. Isto,
claro, não é aceitável, mas mostra que eles queriam de tal maneira ganhar, que
mesmo já derrotados, não admitiram dar-se por vencidos.
Quem não se lembra da final da Copa das Confederações há um ano atrás, com os
mesmos atores principais e no mesmo lugar - o estádio de Frankfurt? O Brasil
aniquilou a Argentina numa goleada (4 a 1), com agressividade e uma garra
impressionantes, independente da superioridade tática.
Desta vez: nada. Zidane dissecou o time ainda vivo, mas ninguém gritou. Foi "O
Silêncio das Ovelhas", que seguem quietas para o abate. A última partida
importante da equipe brasileira, jogada da mesma maneira, sem qualquer esforço,
foi a final de 98. Na época foi muito divulgado que a vitória francesa foi
comprada. Agora, novamente um jogo impossível de ser entendido e contra a
França. Como vocês puderam fazer isto conosco?
Bem-vindos ao "Campeonato
Europeu 2006" !!!
"Foi um jogo em que os dois times tiveram tanto respeito um pelo outro que quase
não houve ataques. Os dois goleiros ficaram sem ter o que fazer". Este foi o
comentário do técnico Carlos Alberto Parreira sobre o jogo. Mas sobre o jogo
Alemanha e Argentina. Um comentário que, depois do jogo Brasil e França, pareceu
ser uma profecia para o próprio time dele.
Uma pequena retrospectiva sobre a última sexta-feira. Poderia se ter a
impressão de que a Argentina foi o melhor time. E realmente eles mantiveram o
controle do jogo por 50 minutos.
Depois do gol marcado pelo zagueiro Ayala, a superioridade da Argentina acabou.
Os alemães abriram a defesa e ficaram mais ofensivos. Eles foram beneficiados
pelo erro tático do técnico argentino. Pekerman não confiava no segundo goleiro
Franco? Ele tirou Riquelme, o regente da orquestra, e colocou no lugar dele o
zagueiro Cambiasso, na esperança de fechar o gol nos últimos 20 minutos de jogo.
Erro crasso. Porque Klinsmann revidou com uma tacada de mestre. Odonkor entrou
aos 17 minutos do segundo tempo no lugar de Schneider, já que a pressão sofrida
pela defesa alemã era mérito do capitão argentino. Juan Pablo Sorín não foi
apenas zagueiro, mas após cada ataque alemão, deixava a defesa e assumia o
ataque como lateral esquerdo. Uma atuação brilhante do argentino.
Desta maneira Sorín gastou muita energia e ainda encontrou pela frente o jovem
Odonkor. Odonkor, num ataque insistente, tirava a bola sem o menor respeito. Uma
destas bolas do lateral direito alemão foi o passe certo para Ballack mandar uma
bola alta, cabeceada por Borowski, que num prolongamento do lance, passou para
seu colega do Werder Bremen, Klose. E Miroslav Klose marcou de cabeça. Perto
dele, um jogador que não tinha mais força nem concentração suficientes para ter
impedido o empate. Era Juan Pablo Sorín.
O resto é história. A Inglaterra sempre perde nos pênaltis e a Alemanha sempre
ganha. Depois do último final de semana, a Copa do Mundo transformou-se num
Campeonato Europeu.
Itália com medo, Itália com sorte!
Quanto respeito a Itália teve pelo time alemão? Isto pôde ser visto após o jogo.
A mídia italiana tentou eliminar o homem principal da defesa alemã, Torsten
Frings, que jogou este Mundial de maneira fantástica. E conseguiu. Foi um
julgamento absurdo da Comissão da Fifa. Até Julio Cruz, o jogador que
supostamente seria a vítima, não se deu conta de terem batido nele. Ou foi um
ato de violência e Frings teria que ser suspenso por vários jogos e não apenas
um, ou o caso não ficou claro e vale a velha máxima: "In dubio pro reo" (na
dúvida, absolva o réu).
De qualquer maneira, um péssimo precedente. Agora todos os times perdedores
sabem como acabar com os que estão ganhando. É só começar a pancadaria. E se os
vencedores não aceitarem apanhar e saírem quebrados do campo, serão punidos.
De volta ao esporte: a semifinal Alemanha e Itália foi, de novo, futebol no mais
alto patamar, como ocorreu contra a Argentina. Os italianos jogaram
ofensivamente, o que não é o estilo deles. Apesar disto, a Alemanha deixou claro
que poderia ter conseguido a vitória nos 90 minutos de jogo. Especialmente
Schneider - que aos 35 minutos do primeiro tempo, livre em frente a Buffon,
chutou a bola por cima do gol - teve 100% de chance de marcar. Klose, aos 5
minutos e Podolski aos 17 do segundo tempo, perderam os gols na brilhante
atuação do goleiro italiano.
Marcello Lippi, o treinador italiano, é um mestre da tática. Ele sabia que
dificilmente seu time iria vencer na cobrança de pênaltis. Com este abismo nas
costas, a Azurra correu na frente.
Na prorrogação, além de Gilardino e Totti, a equipe italiana passou a contar
com outros dois atacantes, Iaquita e Del Piero.
Eles confundiram a defesa alemã, já cansada, e tiveram boas chances. Trágico foi
Grosso, depois de um passe genial de Pirlo, marcar o gol decisivo um minuto
depois do final da prorrogação; o segundo gol de Del Piero só foi interessante
para estatísticas. No pensamento dos jogadores alemães eles já estavam na
cobrança dos pênaltis e sonhando com a final. Mas desde que se esteja jogando,
não é permitido sonhar. Foi uma vitória sortuda da Itália, mesmo que tenha que
se admitir que a Azurra, no final, foi um pouco mais esperta.
As camisas
Quando se viu no último ano tantas crianças alemãs
jogando futebol? Elas nem usavam a camisa alemã, mas a brasileira. Especialmente
camisetas com os nomes de "Ronaldo" e "Ronaldinho". A partir de agora, isto
mudou. A seleção alemã foi eliminada, mas convenceu em todos os aspectos,
especialmente no ataque rápido e na garra até o último minuto. Um grupo de
carisma!
O time alemão ficou tão abatido após a derrota, que até mesmo o presidente da
Alemanha, que foi cumprimentá-los, teve que deixar o vestiário rapidamente. A
Alemanha inteira está de luto. Mas com a cabeça erguida. O país está orgulhoso
de sua seleção.
A seleção brasileira, com todo respeito, foi tirada de seu pedestal, o que
literalmente aconteceu com Ronaldinho Gaúcho. O mais popular jornal alemão
"Bild" na manchete seguinte à derrota brasileira para a França escreveu:
"Brasilien: Zu fett! Zu faul!
Zu arrogant!" (Brasil tão gordo, tão preguiçosos, tão
arrogantes).
O melhor é que a Copa do Mundo acontece só a cada quatro anos.
A seleção natural vai forçar o
rejuvenescimento necessário da equipe brasileira, independente do técnico que
tenha.
O jovem time alemão vai até 2010 ficar mais maduro e experiente.
Uma frase famosa
de Sepp Herberger, o treinador da equipe alemã que ganhou o Muncial de 1954, diz
"Nach dem Spiel ist vor dem Spiel". (depois do jogo é antes do jogo). Então,
vamos ficar tristes por alguns dias, para em seguida olhar adiante com prazer,
quando nos encontraremos de novo na África do Sul!
[email protected]
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Stefan Kuper, é jornalista alemão, PhD em Filosofia, Línguas e
Literatura Antiga e colunista deste Mandando Pra Rede
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