A OPINIÃO QUE FAZ A DIFERENÇA
   

São Paulo, segunda-feira, 29 de junho de 2009

Salvador


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Vovô e os netinhos

É mais fácil se compadecer das críticas feitas ao ator Márcio Garcia, por não ter, segundo a imprensa cor-de-rosa, conseguido dar consistência ao papel de galã que lhe fora atribuído pela novelista Glória Perez em Caminho das Índias do que acreditar no papelão de velhinho injustiçado e lamurioso encenado pelo senador José Sarney (PMDB-AP) diante da ribanceira de lama na qual despenca o Senado que ele preside. Na última semana, o eleitor e o cidadão brasileiro levaram mais um coice desses homens castos eleitos para representá-los em Brasília.

Descobriu-se que o Senado contratou, nos últimos anos, mais de 300 pessoas, todas apadrinhadíssimas, através de um mecanismo secreto. Não bastava ser sem concurso público, não bastava se tratar de salários altíssimos para qualificações inversamente proporcionais nem representar um inchaço milionário da folha de pagamento. Além disso tudo, a contratação era escondida, não passava pelo expediente da publicação no Diário Oficial.


FERMENTO
- A coisa em si já era um ingrediente e tannto para mais um escândalo desses que não param de acontecer no Senado desde que gente poderosa da Casa começou a ficar mais vulgar e se deu ao direito até de violar painel de votação. De lá para cá, a produção de lama nunca mais foi estancada: de amante de parlamentar baiano morto ganhando sem trabalhar como mecanismo de compensação para pensão alimentícia de filho não registrado a mônicas velosos e bois de mentira, tem acontecido de um tudo, como se diz na Bahia.

Dessa vez, o fermento do bolo foi o fato de, na turma das tais nomeações secretas, pencas dos beneficiados serem parentes de ninguém menos que do presidente da Casa, José Sarney. No meio do grupo dois netos do dono do Maranhão e do Amapá (onde não mora, mas onde se elege a cada eleição, num processo já difícil de explicar). Netos e muito mais: cunhados, sobrinha de mulher e até um mordomo lotado no Senado e pago por este há anos, com módicos 12 mil reais mensais, para ser o serviçal para tudo da dondoca Roseana Sarney em sua mãnsão do Lago, em Brasília. Na terça, depois de ser bombardeado pela imprensa, pela opinião pública e pelos coleguinhas traidores, que o atacam não por serem éticos, mas para tentar livrar a própria pele irreversivelmente enlameada, Sarney entra em cena na sala dos brasileiros em um discurso torto coberto por todos os telejornais.

DALAI LAMA - Trêmulo, abatido, gaguejante e com um terrno horroroso do tipo jaquetão, Sarney fez um discurso de autodefesa e se disse magoadíssimo com o fato de este ser um país que não respeita seus homens públicos. Alertou os colegas, avisando que forças poderosas querem destruir o Senado. Encerrou a fala dizendo que a crise do Senado não é dele, mas de todos os senadores, não sem antes dizer que foi o único homem público deste país a se manifestar contra a ditadura militar, quando do Ato Institucional n. 5. Ouvir Sarney reivindicando um lugar de destaque na luta contra a ditadura é tão risível quanto imaginar o Dalai Lama posando para a revista G, a mais famosa publicação gay e de nu masculino do país.

Enfim, todo o discurso de Sarney foi uma peça avessada, constituída de argumentos invertidos. Ora, quem não respeita as coisas públicas neste país e muito menos sua população são os homens públicos, contingente do qual o senador Sarney faz parte praticamente desde que nasceu e pelo andar da carruagem continuará fazendo mesmo após morto. E quem quer destruir o Senado não são, como disse o senador em seu discurso trêmulo, nem os grandes grupos econômicos nem os tais segmentos radicais da imprensa. Quem se esforça todos os dias para serem desrespeitados e para que parte da população ache que tanto o Senado quanto a Câmara não passam de casas de tolerância com outro nome são os próprios parlamentares. A sorte das duas casas e das raposas que ocupam suas cadeiras é justamente a ignorância popular sobre tudo o que se relaciona a direitos e deveres neste país. E se a culpa é de todos, em uma instituição composta por 82 senadores, cai-se na pulverização absoluta das responsabilidades cuja sentença é: se todos são responsáveis, ninguém o é.

Sobre os netinhos, o vovô velhinho e bondoso disse exatamente aquilo que o país poderia adivinhar antes de sua fala: não sabia de nada. Senadores amigos, que provavelmente gostam de ter por perto um sarneyzinho para dar sorte, contrataram os pimpolhos, com salários próximos aos 10 mil reais, sem nível superior e sabe-se lá para fazer o quê, sem que o avô soubesse e ainda pediram sigilo, para ele não se aborrecer. Sendo verdade esse desconhecimento, chega-se à conclusão de que, com uns netos traíras desses, que arrumam emprego escondido, embaixo das barbas do avô e sob expedientes que podem comprometê-lo, o capitão donatário do Maranhão está é frito.Já o presidente Lula disse que o Brasil deve respeito sim a Sarney, pela sua contribuição ao País, e, portanto, não pode ser tratado como um homem comum. Ah tá, só resta aos brasileiros, então canonizar o dono do Maranhão, por, após a morte de Tancredo Neves, não ter reconvidado os militares para dar inicio a mais uma ditadura de bananas.


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Malu Fontes é jornalista, doutora em Comunicação e Cultura, professora da Facom-UFBA e colunista do Jornal A Tarde, de Salvador, na Bahia.
    



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