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DORA BELTRÃO
A brancura do jaleco
BELÉM (PA) -
A escolha da
profissão é sempre um momento crucial para a maioria dos jovens estudantes.
Dentre as incertezas naturais, como o recebimento de uma boa remuneração e a
própria vocação, também são considerados os sacrifícios pertinentes ao
desempenho da profissão que vá escolher. Dentre outras, a de médico é uma das
que mais exige do profissional. Independentemente do juramento, o Médico tem
como obrigação: a presteza, a solidariedade, o respeito à vida humana e a
contínua batalha contra o sofrimento físico ou mental do seu semelhante.
Evidentemente, tais exigências obrigam a consideráveis sacrifícios pessoais do
Doutor.
No Brasil, muitos querem ser médicos porque acreditam que é uma maneira de fugir
da pobreza, sem saber que os médicos também são mal pagos. O resultado é que já
temos muitos médicos para poucos empregos, além do quê, em geral, as pessoas não
conseguem pagar uma consulta particular.
A par dos sacrifícios
inerentes, a profissão do Médico é um verdadeiro sacerdócio, e não foi “feita”
para os irresponsáveis, indiferentes à pobreza daqueles necessitados da sua
ajuda, ou para os insensíveis ao sofrimento do próximo.
Justamente pela grande exigência que se abate sobre os ombros dos Médicos, ainda
se soma uma “famosa” locução muito usada na Medicina, a qual, quando não
corretamente cumprida, tem gerado inúmeras reclamações e indignações por parte
dos enfermos ou dos seus responsáveis. Trata-se do “sobreaviso médico”, que
caracteriza uma responsabilidade paralela que cerceia bastante a liberdade do
Médico, pois fica impedido de se ausentar da cidade, devendo até permanecer em
sua residência, ou, sempre com o “celular” ligado, estar disponível para
qualquer chamado urgente. Assim, fica obrigado a se deslocar para qualquer local
da cidade onde tenha uma clínica ou hospital, para prestar socorro aos
pacientes.
Dentre as especialidades médicas há uma das mais sacrificadas nesse sentido,
pois está quase permanentemente de “sobreaviso”: a dos anestesistas. Estes ficam
quase sempre submetidos a plantões de 24 horas, e, quando estes não conseguem
atender os chamados, por já estarem ocupados, acionam de imediato um outro
colega para os auxiliar, mesmo que aquele não esteja de “sobreaviso”. E o colega
deve mesmo atender de imediato!!! Tudo isso gera um grande desgaste para o
profissional Médico.
Melhor era não precisar do tal “sobreaviso médico”. Os hospitais, os prontos-socorros,
ou mesmo as clínicas deveriam dispor de todas as especialidades médicas durante
todos os plantões — de qualquer duração —, para poder atender de imediato aos
enfermos que os procurassem, principalmente nas ocasiões especiais, quando a
procura por estabelecimentos de saúde se intensifica, como nas recentes quadra
natalina e comemorações de Ano-Novo, no carnaval, na Semana Santa, nas “Férias
de Julho”, na “Semana da Pátria” e nos feriados prolongados. Mas não é isso o
que se vê.
Cabe perguntar aos estabelecimentos públicos de saúde: O que fazem do dinheiro
que pagamos “suados” com nossos impostos??? O quê fazem com a verdadeira fortuna
que semanalmente o “governo” arrecada com o percentual que retém da renda de
toda a jogatina oficializada neste País??? Responde, Lula!!! Só isso já bastaria
para cobrir o tal de “rombo” provocado pela suspensão da CPMF!!!
Se os nossos governantes dessem maior atenção ao segmento da saúde “nesse país”
(plagiando alguém!), os problemas se resolveriam de pronto, e não haveria o
freqüente amontoamento de pacientes gemendo, muitas vezes com necessidade de
urgente atendimento nos prontos-socorros públicos. E, em uma cidade como Belém,
não se admite possuir só dois prontos-socorros públicos para atender uma
população de quase 2 milhões — sendo a maioria pessoas pobres, e muitos, ainda,
abaixo da chamada “linha de pobreza”. Um dos dois prontos-socorros é pequeno e
insignificante para uma cidade de tal porte. O outro é um pouco maior, mas
sempre está em crise, frente à sua própria falência administrativa, aumentada
pela falta de capacidade e incompetência dos gestores dos municípios próximos (e
até mesmo de lugares mais longe, como do interior do Estado do Maranhão) a
Belém, que, com a chamada empurroterapia, mandam os seus munícipes
enfermos em ambulâncias, para serem atendidos neste pronto-socorro de Belém.
Porém, o problema não reside apenas do lado do “governo”. Como eu havia dito, a
Medicina é um sacerdócio que só deveria ser professado pelos que verdadeiramente
abraçassem tão nobre causa. Infelizmente, no seio de médicos dedicados há muitos
relapsos. Estes envergonham a Medicina, e denigrem a classe ao não atenderem
(mesmo estando de “sobreaviso”) com a presteza necessária as convocações para
atendimento urgente a algum paciente desfavorecido, e só o fazem quando se soma
uma quantidade maior dos pobres sofredores, que lotam os prontos-socorros
públicos, para serem por eles atendidos. “doutores” (com o “d” minúsculo
e com aspas, mesmo), cadê o seu “Eu Prometo!”, do juramento de Hipócrates,
que fizeram ao receber o diploma??? E as promessas vãs de não deixar seus
pacientes sofrerem???
Hipócritas!!! Malta de insensíveis!!! Cabe lembrá-los da obrigação que têm em
cumprir com dignidade e respeito as peculiaridades da profissão que escolheram.
É muito triste e constrangedora esta sua atitude que, de certa forma, atinge
todos os seus colegas, mesmo aos que assim não procedem. Mas, se o atendimento
fosse para algum político ou para alguém que possua recursos financeiros (Que
pena! Estes jamais procuram um pronto-socorro público), seriam atendidos por
vocês sem nenhuma injustificável demora, e jamais ficariam gritando e sofrendo
nos prontos-socorros oficiais.
Eu gostaria de ter feito deste texto uma ode a todos os Médicos, mas como nem
todos merecem, registro o meu protesto e a minha solidariedade pelo desespero
dos pobres coitados que, doentes, sofreram (e sofrem) pelo abandono das
instituições públicas de saúde e pelos “doutores” que desonram a
brancura do jaleco.
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Dora Beltrão, é
Psicóloga em Belém, no
Pará, e colunista deste Mandando Pra
Rede
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DOMINGO
06/01/2008
Dora Beltrão é
Psicóloga em
Belém, no Pará,
e colunista deste
Mandando Pra
Rede
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