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ÉRIKA BENTO GONÇALVES
Chance perdida
SÃO PAULO (SP) -
Era 30 de
março, véspera das comemorações da revolução de 64. Os controladores de vôo
fizeram um motim e calaram o céu por algumas horas. Com o presidente da
república fora do país (viajando, como sempre) eu pensei:
é agora... ou nunca!
Quarenta e nove aeroportos e millhares de passageiros ficaram à mercê das
negociações entre controladores de vôo e o governo. Enquanto os passageiros
esperneavam (com razão), fotos tiradas de dentro da sala de controle mostravam
os militares de braços literalmente cruzados enquanto poucos controladores civis
faziam o monitoramento apenas dos aviões que estavam no céu.
Neste momento, o Brasil parou junto com os controladores. Passageiros exigiam a
presença das autoridades, culpavam o governo pela falta de investimentos.
Rasgavam títulos de eleitores. Xingavam o presidente e apoiavam o motim.
Funcionários e donos das empresas aéreas juntavam-se aos passageiros e exigiam
providências do governo, cuja omissão já lhes causava milhões em prejuízo, em
mais um apagão aéreo.
Assistindo à esta movimentação, policiais militares somaram à revolta.
Espalharam panfletos denunciando privilégios aos bandidos e a humilhação a que
são submetidos por falta de investimento e segurança pública. Oficiais do
exército cercaram o Congresso Nacional exigindo votação imediata das leis que
garantem às famílias dos oficiais mortos por comunistas, indenização igual aos
que recebem as famílias dos “revolucionários”.
Assim que chegou a Camp David (EUA), Lula soube da confusão que se instalara no
país e não demorou muito para saber que era o fim. Fim das atrocidades que vinha
cometendo contra o país. Fim da cegueira e dormência a que pareciam estar
submetidos os brasileiros. Exilado nos EUA, Lula enviou um comunicado oficial
renunciando ao cargo.
Claro que quase tudo é uma grande ficção. Um sonho em que estou mergulhada há
alguns anos. Infelizmente, só o motim dos controladores de vôo e o caos
instalado nos aeroportos é verdade. Uma semana depois, tenho muito mais certeza
de que, entre o “agora ou nunca”, o NUNCA venceu.
A verdade é que Lula, voando tranquilamente entre o Brasil e os Estados Unidos,
anistiou os amotinados, ordenou que fosse amenizada a crise com um acordo que,
dias depois, seria praticamente jogado no lixo. Para o lixo foi, também, a
ousadia dos controladores militares que, dias depois do motim, pediram
"desculpas" à população pelos transtornos causados pelo último apagão.
Dinheiro para atender às necessidades dos controladores de vôo e da segurança
pública em geral, não falta. Temos dinheiro até para mandar pra fora! Os R$ 20
milhões destinados à reforma agráraria NA VENEZUELA só não saíram do papel,
ainda, porque o Senado ainda não aprovou a Medida Provisória assinada pelo
governo, mas
já passou ilesa pela Câmara.
Se tem dinheiro pra os Venezuelanos, para os funcionários da Presidência da
República, também. Sobra tanto que financiamos viagens, hospedagens e locação de
veículos muito acima do normal, pagos com cartões de crédito corporativos do
governo e apontados pelo Tribunal de Contas da União como suspeitos. Em apenas 3
anos (de 2002 a 2005) o TCU encontrou indícios de
irregularidades em 35% das notas fiscais
apresentadas pela Presidência. Estamos falando em R$ 482,5 milhões! Muitas delas
possuem endereços falsos e alteração de valor pelas empresas prestadores de
serviço.
Cartões de Crétido à parte e voltando aos caos aéreo, o major-brigadeiro Renato
Cláudio Costa Pereira, ex-diretor da Organização de Aviação Civil Internacional
– órgão que regulamenta o transporte aéreo no mundo – pede à população que faça
a pergunta certa:
"...para onde foi o
dinheiro arrecadado com as taxas do tráfego aéreo, e porque não foram
direcionadas para o Departamento de Controle, que carecia tanto de equipamentos
e investimentos”.
Em
entrevista ao jornalista Sidney Rezende,
ele vai além. Diz ainda que uma auditoria internacional deveria ser instalada
para averiguar o destino de milhões de reais não empregados no controle aéreo.
Em 2003, o Conselho de Aviação Civil (Conac) alertou sobre um possível apagão
aéreo em pouco tempo, graças à falta de investimento no setor. Mesmo assim, 3
anos depois deste alerta, o governo teimava em
aplicar apenas 53,6% da verba
que seria destinada ao programa “Proteção
ao Vôo e Segurança do Tráfego Aéreo”. Do final de 2006 pra cá, os cofres foram
abertos e, mesmo assim, a burocracia fez com que apenas 17,2% do orçamento anual
fosse efetivamente pagos até o início de abril.
Em 1964 as forças armadas demonstraram para que serve um exército afinal.
Contiveram a tentativa de entrada do comunismo em nosso país (que já durava mais
de 30 anos e contava, naquele momento, com a conivência do presidente João
Goulart).
Não cabe, agora, discutir os fatos seguintes, pois os abusos de ambos os lados
vitimaram cerca de 500 civis e outros 500 militares. Mas, fica uma única
pergunta: 43 anos depois da revolução de 64, como estão os países comunistas
hoje?
Ai, que saudades do Exército!
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Érika Bento Gonçalves.
Jornalista, começou a carreira em 1994, em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais.
Passou de repórter a apresentadora e editora-chefe da emissora de televisão
regional, Tv Poços. Em dez anos de trabalho em Minas atuou também nas áreas de
marketing e jornalismo político. Foi coordenadora dos programas de televisão em
duas campanhas políticas. Há três anos trabalha na Rede Record.
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SEGUNDA
09/04/2007
Érika Bento
Gonçalves é
jornalista da
Rede Record
de Televisão
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