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ÉRIKA BENTO GONÇALVES
Depois de descobrir o "Brasil", Cabral
vai à Colômbia
SÃO PAULO (SP) -
Sérgio
Cabral, eleito governador do Rio de Janeiro, encontrou na capital do Estado uma
cidade sitiada. Refém da corrupção, do tráfico de drogas, da violência que
desceu o morro e fez dos cariocas – um povo bonito, alegre e confiante – o
retrato do medo urbano. Parecia ter descoberto algo novo. Um Brasil ainda
desconhecido... apenas por ele, não por nós. Muito menos por aqueles que lá
vivem.
Quinhentos anos atrás, ou pouco mais do que isso, um outro Cabral pretendia ir à
Índia. Encontrou outras terras, terras "novas" como seriam chamadas. De "novo",
nada havia. Aliás, nem teria sido ele o primeiro a desembarcar por nossas
terras. Mas ficou a ele o título de descobridor do Brasil.
Amanhã, o nosso Cabral desembarcará num país conhecido por ser o maior
fornecedor de cocaína no mundo. Encontrará na Colômbia muito mais do que isso.
Terá a "surpresa" de ver que a criminalidade tem cura. Nada de novo, de novo.
Qualquer sociólogo de plantão terá todas as fórmulas para devolver ao Rio o
título de "cidade maravilhosa". Cabral irá à Colômbia para descobrir o óbvio:
empenho, seriedade, punição, investimento social, etc.
Álvaro Uribe pode ter todos os defeitos do mundo, como qualquer governante o
tem. E nós, com o governante que temos, não podemos abrir nossa boca miúda para
fazer qualquer crítica que seja. Vale lembrar os últimos escândalos envolvendo
os governos colombiano e brasileiro.
Aliados de Uribe foram acusados de envolvimento com o narcotráfico. Sendo a
Colômbia o segundo país a receber os maiores recursos do governo Bush no combate
ao tráfico de drogas, as pressões internacionais foram grandes o suficiente para
que providências fossem tomadas e talvez tenha sido este o diferencial dos rumos
tomados entre os escândalos daqui e os de lá. Na Colômbia, pelo menos oito
congressistas foram presos e dezenas ainda estão sendo investigados. Aqui... sem
comentários. Uma semelhança, porém, há de ser citada. Tal qual o nosso
governante, Uribe disse que não sabia de nada. Defendia seus aliados até o
último minuto.
Comentários políticos à parte, vamos ao que interessa: a questão da diminuição
da criminalidade, tema central da visita de Sérgio Cabral e Aécio Neves (o que
ele vai fazer lá?) à Colômbia.
Em
entrevista à Folha de São Paulo,
Uribe foi objetivo: combater o narcotráfico requer muitas ações, entre elas uma
ação militar efetiva. Além de oferecer aos agricultores alguma recompensa por
trocar o cultivo da coca por outras culturas. O medo de uma punição mais severa
pode fazer com que os colaboradores dos traficantes troquem mesmo de patrão.
Eles certamente não terão o mesmo lucro, mas terão garantias como segurança,
ajuda do governo e incentivo fiscal. Poucos sabem, mas a Colômbia, hoje, é o
segundo maior exportador de biocombustível da América Latina produzindo etanol
com palma africana, mandioca e cana-de-açúcar, mas também está estudando a
utilização do milho.
Tomando como exemplo, seria mais ou menos oferecer segurança, educação e emprego
aos jovens que, diariamente, se submetem aos traficantes dos morros cariocas.
Ah! Na Colômbia houve também uma "limpeza" na polícia local, além de um empenho
substancial das prefeituras, como declara Uribe, em trecho da entrevista: "...
confiscamos bens adquiridos ilegalmente dos narcotraficantes. Na cidade de
Medellín havia uma série de favelas dominadas pela guerrilha e pelos
paramilitares. Ambos grupos financiados pela coca. Colocamos o Exército e a
polícia nas favelas com toda a determinação. E prendemos quem estava nesses
grupos. Fizemos uma campanha para quem quisesse se desmobilizar. Mais de 40 mil
pessoas entregaram as armas."
Que bons ventos tragam a caravela, ops, a comitiva de Cabral de volta à terrinha
e que ele mostre coragem, determinação e seriedade para reduzir os mesmos 79% na
taxa de homicídio (como em Bogotá) ou, quem sabe, chegar aos 90% como ocorrido
em Medellín.
Cabral tem a chance de marcar seu governo no Rio de Janeiro pela redução da
criminalidade, como o presidente Uribe ou o prefeito de Nova York, Rudy
Giuliani. Basta seguir a rota certa, ao contrário do outro Cabral, e não cair em
Cuba, por exemplo...
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Érika Bento Gonçalves.
Jornalista, começou a carreira em 1994, em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais.
Passou de repórter a apresentadora e editora-chefe da emissora de televisão
regional, Tv Poços. Em dez anos de trabalho em Minas atuou também nas áreas de
marketing e jornalismo político. Foi coordenadora dos programas de televisão em
duas campanhas políticas. Há três anos trabalha na Rede Record.
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QUINTA-FEIRA
22/03/2007
Érika Bento
Gonçalves é
jornalista da
Rede Record
de Televisão
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