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ÉRIKA BENTO GONÇALVES
Que povo é esse?
SÃO PAULO (SP) -
Protestos contra
a vinda do “satã” George Bush mobilizaram as principais capitais do país.
Milhares de manifestantes foram às ruas gritando e exibindo faixas e cartazes
com os dizeres “FORA BUSH”, sem falar na nudez oportunista que aprimorou o
discurso com “OUT” Bush de uma mulher que, com sua loirice extravagente, mais
parecia americana do que tipicamente brasileira.
Em São Paulo o protesto gerou confronto entre a polícia e os manifestantes.
Sabe-se lá de onde começou a pancadaria, mas o fato é que o espetáculo
brasileiro reforçou a imagem de um povo medíocre política, cultural e
economicamente.
Onde estavam estes manifestantes quando os Parlamentares tentaram aumentar em 91% seus
já reforçados salários? Por onde andavam estes corajosos militantes durante os
dois últimos anos de denúncias de corrupção, mensalões, manobras jurídicas e
políticas?
Revivemos um momento político mal explicado para a grande parte da sociedade que
foi a mobilização popular pré-regime militar. Jovens manipulados por um
pré-conceito implantado por movimentos políticos cujos interesses nada mais são
(e eram) do que seus próprios holofotes. Antes, era a implantação do comunismo
disfarçado de "liberdade de expressão". Hoje, na simples exposição da mídia.
São contra um acordo comercial entre o Brasil e os Estados Unidos na troca de
tecnologia da produção do Etanol, a mais nova estrela da nossa economia. Se Bush
quer redução do preço do Etanol fornecido aos Estados Unidos e- de quebra –
livrar-se da pseudo-dependência do Petróleo Venezuelano, faz parte das
negociações. Nada vejo de excepcional nisso. Bush não é o responsável por
décadas de submissão brasileira diante das exigências comerciais norte-americanas.
Protestar contra a guerra no Iraque é ainda mais hilário e nem perderei meu
tempo – nem o seu – comentando este despertar atrasado do nosso povo que nunca
está no lugar certo na hora certa.
Por mim, faria um manifesto “Fora, povo brasileiro!”
Quanto ao Etanol, a ganância de Lula em tornar-se o presidente que fará do
Brasil o principal fornecedor do combustível alternativo, no mundo, terá um
preço muito mais alto do que a pechincha de Bush.
O Ministério
da Agricultura prevê um aumento de 10% na produção de etanol, na safra de
2006/2007 e dobrar a produção até 2012, para garantir o abastecimento dos
mercados da Europa e dos Estados Unidos. Ótimo para a economia do país! Péssimo
para os cortadores de cana, considerados escravos por todas as instituições
ligadas ao setor. Denúncia antiga (e nunca levada em conta) que já chegou ao
conhecimento do exterior. Hoje, o jornal britânico The Guardian publicou o
seguinte artigo, cujo título resume-se a: 'Escravos' sustentam 'boom' do etanol
no Brasil (Brazil's
ethanol slaves: 200,000 migrant sugar cutters who prop up renewable energy boom)
E não é exagero. Apenas no ano passado, o trabalho pesado matou (por exaustão)
17 cortadores de cana, segundo a Pastoral do Migrante ligada à igreja católica.
As condições de trabalho destes “escravos” estão mais detalhadas no site:
http://www.pastoraldomigrante.org.br/artigo01.html.
Mas, em resumo, atualmente um único cortador realiza as seguintes atividades
todos os dias (sem feriado ou fim de semana livres):
Caminha
8.800 metros;
Despende 366.300 golpes de podão;
Carrega 12 toneladas de cana em montes de 15 kg. em média cada um, portanto, ele
faz 800 trajetos levando 15Kg. nos braços por uma distância de 1,5 a 3 metros;
Faz aproximadamente 36.630 flexões de perna para golpear a cana;
Perde, em
média 8 litros de água por dia, por realizar toda esta atividade sob sol forte
do interior de São Paulo, sob os efeitos da poeira, da fuligem expelida pela
cana queimada, trajando uma indumentária que o protege, da cana, mas aumenta a
temperatura corporal.
Com o Brasil prestes a se tornar o rei do Etanol, será que esta triste realidade
de trabalho canavial mudará? Será que os milhões de reais vindos do fornecimento
do Etanol chegará, de alguma maneira, às mãos destes trabalhadores que, hoje,
recebem o farto salário de R$ 413,00 por mês?
Bom, para quem acredita que o PT nunca perdeu o foco de tornar o Brasil no
socialismo disfarçado, vale a pena lembrar que a China anunciou a criação de um
campo socialista de trabalho para incrementar
o PIB daquele país. Entenda,
trabalho escravo em nome da economia.
É... ainda bem que os mais de 10 mil processos por improbidade administrativa
não estão à beira do arquivamento, nem o salário dos juízes estaduais bateu o
teto dos R$ 24,5 mil, nem o violência matou mais de 55 mil brasileiros no ano
passado no Brasil e, muito menos, que o país investiu mais no transporte de
prisioneiros do que na segurança pública, entre outras tantas notícias que não
cabem ao nosso país.
Realmente, nunca tivemos motivo para protestar, exceto pela vinda de Geroge Bush
ao Brasil.
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Érika Bento Gonçalves.
Jornalista, começou a carreira em 1994, em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais.
Passou de repórter a apresentadora e editora-chefe da emissora de televisão
regional, Tv Poços. Em dez anos de trabalho em Minas atuou também nas áreas de
marketing e jornalismo político. Foi coordenadora dos programas de televisão em
duas campanhas políticas. Há três anos trabalha na Rede Record.
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SÁBADO
10/03/2007
Érika Bento
Gonçalves é
jornalista da
Rede Record
de Televisão
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