A OPINIÃO QUE FAZ A DIFERENÇA
   

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ÉRIKA BENTO GONÇALVES

Copa, cozinha e outras "bolas"

Hoje, meus filhos me disseram que estou muito "paranóica". Fiquei muda. "Será?", pensei eu....
Falávamos sobre a Copa
(na cozinha), sobre o quanto eu detesto este momento de falso patriotismo. Falávamos do quanto está em jogo, além da bola e do título. Dos patrocínios e do quanto as pessoas ganham e perdem com a Copa. Para mim, a sociedade só perde. Tirando os fabricantes de televisão e o comércio em geral, a sociedade só perde quando os bancos mudam o horário de funcionamento, as repartições públicas fecham as portas duas horas antes dos jogos e assim por diante.

A sociedade só perde quando volta seus olhos para os gramados alemães enquanto outras
"bolas" rolam soltas nos gramados do Congresso. Tentei dizer a eles que se o Brasil vencer ou perder qualquer jogo da Copa, ou o próprio título aos quarenta e cinco minutos do segundo tempo, minha vida continuará a mesma! Mas não adiantou, fiquei de paranóica mesmo. Aquela que não acredita em mais nada e está com o coração duro com a falta de esperança. Se não fosse meu marido dar uma mãozinha e explicar que cada fase tem sua visão da vida e que, antes, pensávamos como eles, assim como amanhã (muitos amanhãs, aliás) eles se lembrarão desta conversa e também pensarão como nós, a conversa teria terminado em dez a zero para eles.

Mas, enfim, é isso aí. Não gosto da Copa, de ver os brasileiros vestindo verde e amarelo - felizes da vida - enquanto deixam de se mobilizar contra a impunidade, a corrupção, a violência, a falta de investimento na educação, transporte e moradia. Brasileiro pára diante da TV para assistir aos jogos da Copa (mesmo que seja Togo x Trinidad e Tobago), mas nem prestaram atenção quando Delúbio, Silvinho, Duda Mendonça, José Dirceu ou Marcos Valério foram às CPIs.

Não gosto de ver os brasileiros ligados nos comentários esportivos, quando nem sabem qual o canal da TV Câmara ou Senado.

Não gosto de ver os brasileros ditando a escalação de Parreira, enquanto mal sabem o nome de meia dúzia dos quarenta da
"organização criminosa".

Sim, não gosto da Copa e da falta de patriotismo real dos brasileiros. Entendo que o povo precise se divertir, se distrair um pouco, explodir diante de um gol, prender a respiração quando Baggio for marcar um pênalti
(ué, o Baggio não é mais da seleção italiana?)... concordo com tudo isso mas, como diz meu pai, primeiro a obrigação, depois a diversão. Vamos fazer o dever de casa, pra depois relaxar no recreio.

Quando a Copa terminar, a campanha eleitoral já estará nas ruas e o Congresso de férias. Se o Brasil vencer, o brasileiro estará nas nuvens, acreditará em tudo o que vir e ouvir. Se perder, o mal humor reinará sobre as mesas de bar e nada fará o torcedor vestir a camisa do país ou parar diante da tv, muito menos para assistir aos programas eleitorais ou aos debates políticos. Portanto, a Copa, ainda por cima, levará o torcedor/eleitor a uma inércia política. Aliás, sejamos realistas, uma característica de grande parte deste povo que precisa da Copa para ter orgulho do seu país.
  
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Érika Bento Gonçalves. Jornalista, começou a carreira em 1994, em Poços de Caldas, sul de Minas Gerais. Passou de repórter a apresentadora e editora-chefe da emissora de televisão regional, Tv Poços. Em dez anos de trabalho em Minas atuou também nas áreas de marketing e jornalismo político. Foi coordenadora dos programas de televisão em duas campanhas políticas. Há três anos trabalha na Rede Record.
    


SEXTA-FEIRA
 16/06/2006

Érika Bento
Gonçalves é
jornalista da
Rede Record
de Televisão
















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